Helena olhou pela janela do carro enquanto a paisagem passava rápida e suavemente, como se estivesse deixando para trás não apenas uma cidade, mas uma parte de si mesma. A estrada sinuosa e as colinas verdes à sua frente pareciam prometer um novo começo, mas dentro de seu peito, o peso da dor antiga ainda era forte, mesmo que ela tentasse ignorá-lo.
A última década de sua vida havia sido construída em torno de um casamento que agora parecia uma lembrança distante, algo que ela preferia não relembrar. Ricardo, seu ex-marido, ainda era uma sombra persistente em sua mente, embora ela soubesse que era ele, e não ela, quem tinha se perdido em algum lugar entre promessas não cumpridas e palavras vazias.
“Eu não posso continuar vivendo assim”, ela pensava, mais uma vez. O silêncio do carro, intercalado pelo som suave do motor, era quase terapêutico, mas os pensamentos sobre os últimos meses, o término do casamento e o processo doloroso de recomeçar ainda estavam presentes. O medo de se enganar novamente, de cair nos mesmos erros, ainda a assombrava.
Helena havia decidido, enfim, que era hora de recomeçar. A oportunidade surgiu de maneira inesperada, com a proposta de um novo emprego em uma pequena cidade no interior. Ela não pensou duas vezes. Era a chance que ela precisava para deixar para trás as cicatrizes do passado e dar um passo em direção ao desconhecido. O que a aguardava ali, ela não sabia. Mas algo dentro de si dizia que não havia como seguir em frente sem esse corte definitivo.
O som da buzina a trouxe de volta à realidade. Ela olhou para o retrovisor e viu o carro de Ricardo se distanciando, como uma última tentativa de lembrar-lhe do que ela deixava para trás. Ele havia tentado tudo, até mesmo prometer que mudaria, mas Helena sabia que o que ele oferecia era apenas uma sombra do que ela precisava. As promessas de Ricardo já não significavam mais nada. Ela já não acreditava em suas palavras. O que ela precisava agora era de um novo começo, de uma nova vida.
Quando chegou à cidade, o ar fresco e a tranquilidade da paisagem rural pareciam um alívio bem-vindo para sua alma cansada. Ela estacionou o carro e olhou para o lugar onde, esperava, começaria um novo capítulo de sua vida.
“Não vou mais olhar para trás”, ela murmurou para si mesma.
Ela respirou fundo e pegou suas malas do banco de trás do carro. O caminho à frente era incerto, mas, pela primeira vez em muito tempo, ela se sentia pronta para enfrentá-lo.
Com o coração apertado, mas a mente decidida, Helena deu o primeiro passo em direção ao que seria seu novo lar. A cidade pequena, com suas ruas tranquilas e casas simples, parecia acolhedora e segura. Talvez fosse exatamente o que ela precisava para curar suas feridas.
A partir daquele momento, Helena sabia que o processo de reconstruir sua vida seria lento, doloroso e, em alguns momentos, assustador. Mas ela não estava mais disposta a viver à sombra de um passado que a destruiu. Estava pronta para o futuro. E, talvez, para o amor novamente.
Helena sentia que a cidade a observava com um olhar curioso e gentil, como se, desde o momento em que ela pisou naquelas ruas silenciosas, algo estivesse começando a mudar em sua vida. As casas simples, mas bem cuidadas, com seus jardins coloridos e cercas brancas, transmitiam uma sensação de acolhimento que ela não sentia há muito tempo. Cada rua parecia ter uma história, cada esquina parecia ser uma promessa de algo novo. E, naquele momento, Helena sabia que o novo havia finalmente chegado.Ela caminhava lentamente pela calçada, com o peso das malas ainda nos braços, mas sua mente já começava a se libertar das memórias pesadas do passado. Seu coração batia de maneira diferente, como se estivesse se ajustando ao ritmo daquela cidade tranquila. O vento suave do campo acariciava seu rosto, e ela não podia deixar de sentir um pequeno sorriso surgir, quase como uma reação instintiva. Ali, naquele lugar, ela sentia que poderia finalmente respirar.Mas, apesar de toda a beleza ao seu redor
Helena estava começando a se familiarizar com sua nova vida no interior. As ruas calmas e as pessoas acolhedoras a faziam sentir que, talvez, esse fosse o recomeço que ela tanto buscava. Mas o destino tinha seus próprios planos, e aquele dia seria o começo de uma nova história.Ela caminhava pelas ruas da cidade, observando as casas antigas e os jardins floridos, quando seu olhar se deparou com um homem parado em frente a um prédio em construção. Ele estava concentrado nos projetos espalhados sobre uma mesa, com uma caneta na mão e os olhos fixos no que parecia ser uma obra detalhada.Miguel. Esse foi o nome que ela soubera dele, não por uma apresentação formal, mas pelo murmúrio das pessoas que o conheciam como o arquiteto responsável pela renovação da cidade. Mesmo de longe, Helena percebeu algo nele. Havia uma calma inquietante, uma mistura de charme e mistério que parecia chamá-la.Sem perceber, ela deu um passo em falso e esbarrou em uma pilha de papéis que ele havia deixado ao l
Helena acordou cedo naquela manhã. O sol ainda não havia se erguido completamente, mas ela já estava de pé, com a sensação de que a cidade a observava silenciosamente. O som suave das aves anunciava o início de um novo dia, mas, dentro de si, um turbilhão de sentimentos a consumia. O trabalho no ateliê estava prestes a começar, e, de alguma forma, ela sentia que esse novo começo exigiria muito mais do que apenas habilidade artística. Seria um confronto com o próprio passado.Com a cabeça cheia de pensamentos, Helena preparou seu café com a mesma precisão de sempre, embora sua mente estivesse longe. A mudança para a cidade pequena tinha sido uma decisão difícil, mas necessária. Ela precisava de um recomeço, e sabia que o ateliê que havia alugado era o primeiro passo para curar as feridas de um casamento fracassado, mas a dor ainda persistia, como uma sombra silenciosa que a acompanhava.Ela vestiu sua roupa de trabalho – um vestido simples e confortável – e caminhou até o ateliê. Era u
O silêncio do ateliê parecia mais profundo do que nunca. Depois da manhã agitada, Helena sentou-se à mesa de trabalho, a mente cheia de pensamentos que não conseguia organizar. O peso do passado ainda a acompanhava, mas agora ela sentia algo novo se formando dentro de si. Algo que ela não conseguia entender completamente, mas que sabia que poderia mudar sua vida para sempre.Ela olhou para a tela à sua frente, agora preenchida com uma série de formas e cores que, para ela, pareciam um reflexo das emoções conflitantes que estavam em sua alma. Embora estivesse tentando afastar-se da dor, o passado insistia em se infiltrar nos momentos mais inesperados. Ricardo, seus erros e o fim de tudo o que ela acreditava, ainda estava presente em cada pincelada, mas ela sabia que precisava avançar. O desafio era exatamente esse: permitir-se caminhar em direção ao que poderia ser.O som de uma batida na porta a tirou dos seus pensamentos. Ela ergueu a cabeça e viu Miguel parado à porta, com um sorris
A luz suave da tarde começava a desaparecer, transformando o céu em uma tela de tons quentes. Helena se encontrava na cozinha do ateliê, preparando uma simples refeição para si mesma. A rotina dos últimos dias parecia ter criado um ritmo confortável, mas sua mente ainda estava cheia de incertezas. Desde o dia em que conhecera Miguel, algo havia mudado. Ela sentia que o futuro estava se reconfigurando, como uma tela em branco, pronta para ser preenchida com algo novo. Mas ela ainda tinha medo de pintar nas linhas certas.O cheiro de comida no ar trouxe um pouco de alívio para seus pensamentos turvos. Ela não era uma chef, mas cozinhar era uma forma de se reconectar com sua própria essência, algo que ela sentia ter perdido ao longo dos últimos anos. Enquanto mexia na panela, ouviu uma batida suave na porta. Ela se virou, surpresa, mas sabia quem era. Mesmo assim, hesitou por um momento antes de abrir.— Boa noite. — Miguel estava parado à porta, com um sorriso descontraído e um pequeno
A manhã seguinte ao jantar com Miguel foi marcada por uma sensação de inquietação. Helena se viu acordando mais cedo do que o habitual, como se algum tipo de mudança estivesse no ar. A noite anterior ainda estava fresca em sua memória, mas não de forma desconfortável. Ao contrário, ela sentia que algo dentro de si começava a se alinhar de uma maneira que ela não podia explicar. Talvez fosse o fato de ter compartilhado mais de si mesma com Miguel, ou talvez fosse a forma como ele a fizera sentir algo que ela não sentia há muito tempo — uma sensação de esperança. Mas a paz que ela experimentava foi rapidamente interrompida.Assim que pegou o celular, uma notificação de mensagem apareceu na tela. Ela hesitou por um momento antes de abrir a caixa de entrada, temendo que fosse algo relacionado a trabalho ou alguma outra questão trivial. No entanto, ao ver o nome que estava na tela, um frio percorreu sua espinha. Era uma mensagem de Ricardo."Helena, sei que faz um tempo, mas preciso falar
Helena ficou sentada por alguns minutos depois de enviar a mensagem para Ricardo, sentindo o peso da decisão. Embora tivesse se convencido de que precisava resolver as coisas com o passado, seu coração estava inquieto. Era como se cada passo que ela dava em direção ao encerramento de um ciclo a afastasse mais de algo que ainda tinha dentro de si. Ela sabia que havia tomado a decisão certa, mas não podia evitar a sensação de que algo estava prestes a desmoronar.Após o encontro com Miguel na manhã anterior, sua mente estava dividida. O simples sorriso de Miguel e a forma como ele a tratava com respeito e carinho parecia ser tudo o que ela precisava. Ele era diferente, e isso a atraía de uma maneira que ela não podia negar. Mas, ao mesmo tempo, a lembrança de Ricardo sempre vinha à tona quando ela menos esperava, especialmente agora que ele havia reaparecido, tentando reacender uma chama que, talvez, nunca tivesse se apagado completamente.Helena levantou-se da mesa, deixando o celular
O dia estava claro, com o sol brilhando forte no céu, e o calor do verão era suavizado pela brisa suave que se infiltrava pelas ruas da pequena cidade. Helena sentiu uma sensação de paz ao caminhar pelas ruas tranquilas, mas sua mente ainda estava distante, dividida entre o passado e o que estava começando a surgir em seu coração.Miguel a convidara para um passeio pela cidade. A ideia parecia simples, mas Helena sabia que esse encontro, mesmo sem grandes promessas, era uma oportunidade para ela descobrir mais sobre o misterioso arquiteto que havia entrado em sua vida de uma maneira inesperada.Ao chegar na praça central, Miguel a aguardava, com seu sorriso amigável e o olhar atento. Ele estava vestido de maneira simples, mas elegante, com uma camisa de linho clara e calças escuras. Seus olhos, sempre intensos, estavam focados nela, mas havia algo mais, uma curiosidade misturada com uma suavidade que ela não havia visto antes.— Helena, que bom que conseguiu vir. Eu sabia que você iri