Helena estava começando a se familiarizar com sua nova vida no interior. As ruas calmas e as pessoas acolhedoras a faziam sentir que, talvez, esse fosse o recomeço que ela tanto buscava. Mas o destino tinha seus próprios planos, e aquele dia seria o começo de uma nova história.
Ela caminhava pelas ruas da cidade, observando as casas antigas e os jardins floridos, quando seu olhar se deparou com um homem parado em frente a um prédio em construção. Ele estava concentrado nos projetos espalhados sobre uma mesa, com uma caneta na mão e os olhos fixos no que parecia ser uma obra detalhada. Miguel. Esse foi o nome que ela soubera dele, não por uma apresentação formal, mas pelo murmúrio das pessoas que o conheciam como o arquiteto responsável pela renovação da cidade. Mesmo de longe, Helena percebeu algo nele. Havia uma calma inquietante, uma mistura de charme e mistério que parecia chamá-la. Sem perceber, ela deu um passo em falso e esbarrou em uma pilha de papéis que ele havia deixado ao lado. Os planos se espalharam pelo chão, e Helena, apressada, se abaixou para ajudá-lo. Foi quando seus olhares se encontraram pela primeira vez. Miguel a observou, um pouco surpreso, mas com um sorriso tranquilo. "Desculpe, eu... não te vi", Helena disse, tentando se desculpar pela confusão. "Não se preocupe, isso acontece mais vezes do que você imagina", ele respondeu, com um sorriso sutil, como se estivesse mais à vontade do que a situação realmente exigiria. Enquanto recolhiam os papéis, a conversa se iniciou de forma tímida, mas logo ela se viu intrigada pelas palavras de Miguel. Ele falava com paixão sobre sua profissão, sobre os projetos de preservação histórica e a visão que tinha para a cidade. Helena, por outro lado, falava pouco, mas se sentia conectada àquele homem de uma maneira inexplicável. “Você é nova aqui?” perguntou Miguel, levantando o olhar para ela, como se tivesse notado algo nela além da mudança de cidade. “Sim, me mudei recentemente. Estou buscando... algo novo”, ela respondeu, hesitando ao se abrir um pouco. Ele sorriu, entendendo mais do que ela imaginava. “Todos nós precisamos de novos começos, não é?” disse ele, com um tom suave, mas cheio de significado. Eles trocaram mais algumas palavras, mas logo Miguel olhou para o relógio, como se o tempo tivesse passado sem que eles percebessem. “Bem, preciso ir, mas... talvez possamos conversar mais em outro momento”, ele disse, com um sorriso que deixou Helena com a sensação de que aquele encontro não era meramente casual. “Claro, eu adoraria”, respondeu ela, sua voz mais tranquila do que se sentia por dentro. Miguel se afastou, indo em direção à sua próxima tarefa, mas Helena ficou ali, parada, observando-o se afastar. Uma sensação estranha a invadiu, como se aquele encontro fosse o começo de algo que ela não sabia bem o que era, mas que, de alguma forma, a conectava ao seu novo recomeço. Ela seguiu sua caminhada, mas seus pensamentos estavam em Miguel. Ele não era apenas um arquiteto, ele era a promessa de algo mais. Algo que, ela sentia, poderia ser o que ela estava procurando.Helena acordou cedo naquela manhã. O sol ainda não havia se erguido completamente, mas ela já estava de pé, com a sensação de que a cidade a observava silenciosamente. O som suave das aves anunciava o início de um novo dia, mas, dentro de si, um turbilhão de sentimentos a consumia. O trabalho no ateliê estava prestes a começar, e, de alguma forma, ela sentia que esse novo começo exigiria muito mais do que apenas habilidade artística. Seria um confronto com o próprio passado.Com a cabeça cheia de pensamentos, Helena preparou seu café com a mesma precisão de sempre, embora sua mente estivesse longe. A mudança para a cidade pequena tinha sido uma decisão difícil, mas necessária. Ela precisava de um recomeço, e sabia que o ateliê que havia alugado era o primeiro passo para curar as feridas de um casamento fracassado, mas a dor ainda persistia, como uma sombra silenciosa que a acompanhava.Ela vestiu sua roupa de trabalho – um vestido simples e confortável – e caminhou até o ateliê. Era u
O silêncio do ateliê parecia mais profundo do que nunca. Depois da manhã agitada, Helena sentou-se à mesa de trabalho, a mente cheia de pensamentos que não conseguia organizar. O peso do passado ainda a acompanhava, mas agora ela sentia algo novo se formando dentro de si. Algo que ela não conseguia entender completamente, mas que sabia que poderia mudar sua vida para sempre.Ela olhou para a tela à sua frente, agora preenchida com uma série de formas e cores que, para ela, pareciam um reflexo das emoções conflitantes que estavam em sua alma. Embora estivesse tentando afastar-se da dor, o passado insistia em se infiltrar nos momentos mais inesperados. Ricardo, seus erros e o fim de tudo o que ela acreditava, ainda estava presente em cada pincelada, mas ela sabia que precisava avançar. O desafio era exatamente esse: permitir-se caminhar em direção ao que poderia ser.O som de uma batida na porta a tirou dos seus pensamentos. Ela ergueu a cabeça e viu Miguel parado à porta, com um sorris
A luz suave da tarde começava a desaparecer, transformando o céu em uma tela de tons quentes. Helena se encontrava na cozinha do ateliê, preparando uma simples refeição para si mesma. A rotina dos últimos dias parecia ter criado um ritmo confortável, mas sua mente ainda estava cheia de incertezas. Desde o dia em que conhecera Miguel, algo havia mudado. Ela sentia que o futuro estava se reconfigurando, como uma tela em branco, pronta para ser preenchida com algo novo. Mas ela ainda tinha medo de pintar nas linhas certas.O cheiro de comida no ar trouxe um pouco de alívio para seus pensamentos turvos. Ela não era uma chef, mas cozinhar era uma forma de se reconectar com sua própria essência, algo que ela sentia ter perdido ao longo dos últimos anos. Enquanto mexia na panela, ouviu uma batida suave na porta. Ela se virou, surpresa, mas sabia quem era. Mesmo assim, hesitou por um momento antes de abrir.— Boa noite. — Miguel estava parado à porta, com um sorriso descontraído e um pequeno
A manhã seguinte ao jantar com Miguel foi marcada por uma sensação de inquietação. Helena se viu acordando mais cedo do que o habitual, como se algum tipo de mudança estivesse no ar. A noite anterior ainda estava fresca em sua memória, mas não de forma desconfortável. Ao contrário, ela sentia que algo dentro de si começava a se alinhar de uma maneira que ela não podia explicar. Talvez fosse o fato de ter compartilhado mais de si mesma com Miguel, ou talvez fosse a forma como ele a fizera sentir algo que ela não sentia há muito tempo — uma sensação de esperança. Mas a paz que ela experimentava foi rapidamente interrompida.Assim que pegou o celular, uma notificação de mensagem apareceu na tela. Ela hesitou por um momento antes de abrir a caixa de entrada, temendo que fosse algo relacionado a trabalho ou alguma outra questão trivial. No entanto, ao ver o nome que estava na tela, um frio percorreu sua espinha. Era uma mensagem de Ricardo."Helena, sei que faz um tempo, mas preciso falar
Helena ficou sentada por alguns minutos depois de enviar a mensagem para Ricardo, sentindo o peso da decisão. Embora tivesse se convencido de que precisava resolver as coisas com o passado, seu coração estava inquieto. Era como se cada passo que ela dava em direção ao encerramento de um ciclo a afastasse mais de algo que ainda tinha dentro de si. Ela sabia que havia tomado a decisão certa, mas não podia evitar a sensação de que algo estava prestes a desmoronar.Após o encontro com Miguel na manhã anterior, sua mente estava dividida. O simples sorriso de Miguel e a forma como ele a tratava com respeito e carinho parecia ser tudo o que ela precisava. Ele era diferente, e isso a atraía de uma maneira que ela não podia negar. Mas, ao mesmo tempo, a lembrança de Ricardo sempre vinha à tona quando ela menos esperava, especialmente agora que ele havia reaparecido, tentando reacender uma chama que, talvez, nunca tivesse se apagado completamente.Helena levantou-se da mesa, deixando o celular
O dia estava claro, com o sol brilhando forte no céu, e o calor do verão era suavizado pela brisa suave que se infiltrava pelas ruas da pequena cidade. Helena sentiu uma sensação de paz ao caminhar pelas ruas tranquilas, mas sua mente ainda estava distante, dividida entre o passado e o que estava começando a surgir em seu coração.Miguel a convidara para um passeio pela cidade. A ideia parecia simples, mas Helena sabia que esse encontro, mesmo sem grandes promessas, era uma oportunidade para ela descobrir mais sobre o misterioso arquiteto que havia entrado em sua vida de uma maneira inesperada.Ao chegar na praça central, Miguel a aguardava, com seu sorriso amigável e o olhar atento. Ele estava vestido de maneira simples, mas elegante, com uma camisa de linho clara e calças escuras. Seus olhos, sempre intensos, estavam focados nela, mas havia algo mais, uma curiosidade misturada com uma suavidade que ela não havia visto antes.— Helena, que bom que conseguiu vir. Eu sabia que você iri
A manhã seguinte chegou com uma sensação de desconforto para Helena. Ela estava de volta à sua rotina, ao trabalho no ateliê, mas sua mente estava longe dali, perdida nas lembranças do passeio pela cidade com Miguel. O que antes parecia ser apenas um passeio inocente se transformou em algo mais. Algo que ela não sabia se estava pronta para enfrentar.Nos dias seguintes, ela tentou se manter ocupada, mas as dúvidas sobre os sentimentos que começavam a florescer em seu coração a perseguiam. Era como se sua alma estivesse dividida entre dois mundos: o passado que ainda a assombrava e o futuro, cheio de promessas que ela não sabia se merecia.Helena sabia que seu casamento fracassado ainda a afetava profundamente. O ex-marido, Ricardo, havia sido uma grande parte de sua vida. As mentiras, os erros e o abandono emocional deixaram cicatrizes que demorariam a cicatrizar. Mesmo com as tentativas de seguir em frente, a dor ainda se fazia presente. Ela ainda se sentia culpada, como se de alguma
Helena acordou cedo no dia seguinte, o coração acelerado. O compromisso com Miguel parecia ser o único ponto de calma em meio ao turbilhão de pensamentos e emoções que a consumiam. Ela ainda não sabia o que esperar desse encontro, mas algo em sua intuição dizia que, de alguma forma, as coisas estariam diferentes. Afinal, ela estava prestes a ir contra os próprios medos e inseguranças.Ela se preparou com cuidado, escolhendo uma blusa simples, mas elegante, que a fizesse se sentir confortável, mas também confiante. Quando se olhou no espelho, percebeu que, apesar de ainda carregar vestígios da dor, havia algo mais em seus olhos, uma chama sutil de esperança. Era como se o convite de Miguel para o almoço tivesse acendido uma pequena luz em seu interior, uma luz que ela acreditava ter se apagado com o fim de seu casamento.No restaurante, Miguel a esperava com um sorriso caloroso. Ele estava mais casual do que o normal, com uma camisa azul claro e jeans, mas a maneira como o olhar dele a