02

“A vida limita os sonhos. O medo de arriscar a popularidade dos seres detém nas sombras do social a angustia de viver, Assim a alma torna-se semelhante a tua sombra. Nem mesmo a escuridão das noites e a clareza dos dias serão flexíveis para a realização do teu ser.”

(Latumia – W.J.F)

 Hora do intervalo

No primeiro do dia é realmente um tumulto, porque muitas pessoas nos rodeiam para nos mimar ou fazer perguntas.

- Eliana, o que vai querer de lanche? – questionou um menino.

 Seus olhos pareciam brilhar ao ver o que o mirava.

- Que tal um sanduiche natural com suco de maracujá? – devolvi com calma.

Então ele e mais outro garoto começaram a se brigar e correr para ver quem ia na cantina primeiro e me traria a comida desejada.

- Como você é má Lie, mesmo sendo diva. – Patrick com uma voz afeminada.

- Fazer o que se eles querem? – respondi aos risos.

 Percebi que a Ally estava aérea enquanto olhava para o outro lado.

- Como o Vinicius está lindo! – disse de repente.

 O quê? Eu ouvi direito produção?

- Pare! Você deve estar muito desesperada para achar isso. – devolvi.

 Eu posso até o achar belo, mas nunca admitiria em voz alta.

- Não, e eu o quero para mim. E a minha amiga vai me ajudar não vai? – com um sorriso sacana nos lábios.

 Ah não! O pior que é quando decide algo vai até o fim.

- Nunca. Dessa vez vai ter que tentar sozinha. – declarei.

- Está bem. – finalizou.

Percebi que ia em direção ao Mitchell com uma expressão sensual e envergonhada ao mesmo. Não sei como sabia fazer isso, pois nem eu conseguia. Só que infelizmente não se valor o suficiente.

- O que compra para ter um cabelo tão perfeito? – perguntou uma morena.

- Hidrato duas vezes por semana e passo um produto antes de secar. – contei.

Não era segredo, e nem tinha receio de dizer a alguém e a pessoa aparecer com um penteado melhor. Se foi por conta dos meus truques fico feliz por melhorar a autoestima de alguém.

 Está bom, confesso, mais ou menos me importo com isso.

Percebi que mais um entrou na luta para conseguir meu lanche, tanto que pareciam estar apostando uma corrida, mas com direito a carrinhos, derrubadas e entre outros golpes baixos.

- Vamos dançar docinho. – disse um castanho de maneira rouca.

Pegou-me pelo meu braço sem minha permissão e começou a me rodar no meio do jardim. Sendo que eu não sabia nem sequer me remexer direito, tanto que estou tendo aulas para conseguir pelo menos dar alguns passos com o garoto que escolherei para o baile da escola.

- Por favor, pare. – sussurrei.

Só que não me obedeceu e deu um sorriso sacana em minha direção, pensando que estava me agradando com isso. Agarrou em minha cintura com força e me balançou sem parar, o que me deixou tonta. E por fim ainda tentou me beijar, mas por sorte consegui me soltar e o James o afastou para que não viesse novamente em minha direção.

- Ah se eu tivesse um bofe desses para mim. Faria um estrago. – confessou o meu amigo gay.

Rolei os olhos e ri pelo seu comentário. E foi nesse instante que a Alisson chegou com um semblante triste e muito inconformado. O que não significava boa coisa.

- O que aconteceu? – questionei quando se sentou do meu lado.

- Me deu um fora. – notei que estava assustada.

 Como assim aquele idiota a dispensa?

- Tem pessoas bem melhores que ele, até o Taylor é. – declarei.

Foi o estopim para sua face se avermelhar e seus olhos ficarem marejados. Sim, eu falei besteira e me arrependo por isso.

- Eu arranjo um para você, pode deixar. – prometi.

 E ela sabe que quando faço é porque eu cumpro.

- Obrigada. – a expressão fofa enquanto secava as lágrimas.

Peguei o sanduiche e fiquei comendo junto com o suco que um deles me deu com esforço, a roupa dele estava um pouco amassada e larga na gola, como se tivesse acabado de sair de uma garra. Dei um sorriso em sua direção e agradeci.

 Quando o sinal tocou e eu ia para a sala alguém me parou, mais precisamente Ben S.

- Oi. – cumprimentou-me.

- Olá. Mas o que te deu para vir falar comigo? – quis saber.

 Seu rosto então ficou rubro e tremia de nervoso.

- Não é exagero meu, eu amo você Eliana Dalton. – criou coragem.

 Por um tempo fiquei constrangida, contudo logo me recompus.

- E-eu... – nem sabia o que responder.

- Sei que não corresponde e entendo, só quis dizer o que sinto e o quanto é amada por mim, mas estou conformado de não tê-la ao meu lado. – declarou e pegou em minha mão.

Foi até a nossa turma e se sentou na frente, comigo do outro lado. Apesar de ser um pouco frequente eu ouvir essas três palavras de um garoto é como se nunca me estivesse acostumada. Eu queria poder amar algum deles, pois sabia que seria feliz. Entretanto um dia isso ocorrerá, e espero ardentemente que seja antes da formatura.

Era o dia de comprar algo do Pokémon, sendo que uma vez por semana ou mês eu o fazia. Peguei o R$20,00 que tinha na mochila e fui até a loja mais afastada da cidade em que quase ninguém vinha. Havia várias coisas da animação que gostava e outros utensílios.

A dona já me conhecia e a atendente também, tanto que me cumprimentaram quando apareci na porta.

Fui até a prateleira preferida e olhei um chaveiro do Pikachu de bicho de pelúcia. E ainda quando apertava ele falava coisas fofas, como “I like you”. Com toda a certeza queria para mim.

 Fui saltitando de felicidade até o caixa e percebi que haviam pessoas atrás de mim.

- É para quem Lie? – escutei uma voz rouca e grossa.

 Que droga! Era o Vinicius.

- Essa garota é nossa cliente número um. Sempre vem aqui comprar algo do desenho, mas não é para outra pessoa, e sim para ela. – se meteu a mulher.

Fiquei com tanta raiva e vergonha que sai do local sem o objeto e com o dinheiro no bolso ainda.

Caminhei a passos fortes e com uma vontade imensa de chorar. Logo eu que me esforcei tanto para esconder, acabei sendo descoberta pelo meu concorrente.

 Não sabia o que ia fazer agora.

- Eliana! – berrou.

 Não, não, não.

Estou arruinada, acabada, frita. A imagem vai para o lixo e eu não serei mais adorada e nem idolatrada pelo outros alunos. Tudo por causa de um garoto que sempre perdeu de mim. Continuei a caminha mais depressa pelo medo.

- Espera. – desesperado.

E então parei ao desistir. Eu não poderia fugir, mas sim enfrentar. Foi o que minha mãe me ensinou, e não ia decepcioná-la agora.

- O que foi? – soei quando o senti perto de mim.

Nem me virei, mas nem precisei, já que ele me virou em poucos segundos ao me pegar pelo braço e me rodopiar até chegar no 180 graus.

- Esqueceu o seu chaveiro. – disse, sem me soltar.

- Mas nem o comprei. – confessei, a cabeça baixa.

Mordi os lábios para estancar a vontade de chorar. Sentia tanta vergonha que nem queria mais ficar ali, na sua frente, e tendo que me submeter a isso.

- É um presente. – o sorriso presunçoso.

- Não quero algo de você. Tenho certeza que veio aqui só para esfregar na minha cara e ficar rindo de mim depois. – fui sincera.

Sua mão ficou em formato de punho nessa hora. Mas ele só colocou suas grandes mãos em meu queixo, fazendo-me olhá-lo diretamente. Sem conseguir desviá-los.

- Não, o que eu tenho em mente é algo totalmente diferente. – balbuciou.

Vendo-o tão de perto me deixa completamente envergonhada. Tanto por conta da sua beleza e por não querer demonstrar o que eu acho de maneira alguma.

- O quê? – com um fio de voz que restara.

- Quero participar do seu comitê para o conselho estudantil. – foi direto.

 Isso realmente foi surpreendente.

- Por quê? – estava curiosa.

- Cá entre nós: sei que não irei vencer, todavia se eu participar a minha carta de recomendação será mais extensa. E é por esse motivo que quero ficar no seu time, em troca não contarei o que vi hoje na loja. – explicou.

 Estou salva!

- Só que tem um detalhe, não pode se aproximar tão repentinamente. – opinei.

- Como faremos então? – questionou sem saber.

 E então minha amiga veio na minha mente neste instante.

- Que tal se mostrar interessado na Alisson e começar a andar conosco por causa disso?

 Se ele aceitar vai ser ótimo para mim, e para ela.

- Mas até lá as inscrições para o seu grupo vai acabar. – levantou umas sobrancelhas.

- É simples Vinicius. Irei falar com o diretor e peço para ele guardar uma vaga para você. Entendeu?

- Fechado. – finalizou.

Apertamos a mão e eu dei um sorriso sem graça em sua direção enquanto ele correspondia com um torto.

Ia embora quando ele me parou de me novo ao me puxar pelo pulso.

- Lie, façamos assim: quando confiar em mim te darei esse chaveiro, até lá ficará comigo. – a voz rouca e calma.

- C-claro. – gaguejei e me afastei rapidamente.

Não se o porquê de ter ficado nervosa. Acho que é por ser a primeira vez que tivemos uma conversa civilizada, tanto que nunca o ouvi falar dessa maneira comigo. Naquele tom sussurrado, calmo e nada provocador.

 “Pai, pode vir me buscar” – Eliana.

E foi desta maneira que meu dia se sucedeu, com acordos, promessas e um momento muito desastroso.

Tudo isso só serviu para me avisar de que tenho de ficar mais atenta daqui para a frente para não cometer outro furo.

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