“Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar. Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando, porque embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu.”
(Sarah Westphal)
Estava praticamente dentro do meu armário ao vasculhar algo para usar para amanhã. Eram aproximadamente sete horas da noite e eu ainda não havia encontrada nada, até porque tinha uma de minha preferência.
– Mãe! – berrei do meu quarto.
Ouvi passos de salto alto até parar na frente do meu cômodo. E quando apareceu eu simplesmente me arrependi de tê-la chamado. Estava com a sua roupa amassada e seu cabelo parecia um ninho de gato, o que realmente dava a certeza de que estava novamente se divertindo com meu pai.
E isso realmente me deixou com vontade de vomitar. O que seria legal até, porque eu estou precisando perder uns quilos por ter comido aquelas jujubas malignas – de tão boas e gorduras que são.
– O que houve? – um pouco irritada.
– Cadê aquela minha blusa bege com renda? – quis saber.
Ela vai ficar linda com a saia branca!
– Dei para a filha da vizinha. – respondeu.
Como assim? Sem a minha permissão? Não, isso não ficará do jeito que está.
– Vou lá pegar. – declarei.
Mesmo com a repreensão da minha progenitora fui à casa do lado, vendo que ela saia com a roupa que queria. E ainda com uma calça que nada combina com essa vestimenta. É um desperdício, e irei concertar isso.
– Valentina. – iniciei.
Seu apelido era Tina, e ela não tinha qualquer senso de moda. Na maioria das vezes andava com aquele cabelo preso e uma cara de que não se importava com isso. Só que é uma ótima aluna, e muitas vezes me dei bem por causa da sua ajuda. Tanto que faz parte do meu comitê do conselho estudantil.
– Boa tarde Eliana. – cumprimentou-me.
Simpática como sempre.
– É que essa blusa é minha. – decidi ser direta.
Aprendi que ficar enrolando quase nunca é a solução.
– Entretanto me deram. – rebateu de maneira nervosa.
Ih! Vai ser mais difícil pegá-la, pois notei que amou o que recebeu.
– A questão é que minha mãe fez isso sem minha permissão. E eu gosto muito dela, então, por favor, devolva. – o tom calmo.
Seu mini sorriso virou uma carranca.
– M-mas... – gaguejou, todavia a cortei.
Até porque não tinha tempo para negociações.
– Devolva a minha blusa Tina. – insisti, não alterando minha voz.
Quando ia entrando para dentro a segui, ao pular o muro, e fui para dentro da sua casa. Lembrei-me que tinha cinquenta no bolso da jaqueta, sabendo que poderia muito bem conseguir o que quero com isso. Apesar de que o que anseio valeu uns R$310,00.
– Eu compro. – gritei ao vê-la indo para o quarto.
Corri em sua direção com algumas notas em minhas mãos, sendo uma de vinte, dois de dez e de cinco.
– Obrigada, porém não. – negou.
Que droga!
– O que deseja então? – implorei.
Eu ia ficar tão mais bonita que com essa camisa.
– Um namorado, ficante ou seja o que for. Não sabe o quanto é ruim ser alvo de piada nos almoços em família – confessou.
E então começou a chorar, na minha frente. Simplesmente senti tanta compaixão que tive novamente fazer uma promessa a alguém. Daqui a pouco tenho de fazer uma lista para cumpri-las. Deixa-a me abraçar antes de responde-la.
– Tudo bem, tentarei arranjar um para ti. – disse rapidamente.
E depois de pegar aquela belíssima vestimenta de cor bege fui para a casa. E ainda tive parte do meu sono de beleza perdida ao pensar em quem poderia fazer esse favor para mim.
☼
Sentando naqueles bancos sem pintura e quase estrebuchados comi o sanduiche que uma pessoa havia me dado. Logo minha boca saboreou o gosto do queijo de ricota, sanduiche e o tomate, além de bebericar o delicioso suco de limão.
E de repente o Patrick chegou com uns curativos no rosto. Percebi também que andava de perna aberta e devagar. E posicionou-se ao nosso lado da mesma maneira.
– O que aconteceu? – curiosíssima.
Seu sorriso pareceu se iluminar neste instante.
– Minha noite foi estupenda! – exclamou com animação.
Quem foi o bofe dessa vez?
– Conte-nos o nome do cara que alegrou sua noite. – sussurrou a Ally.
Os olhos dela chegaram a brilhar, talvez porque se sentia carente.
– O Ben Sullivan. – disse rapidamente.
A pessoa que me mandava bilhetinhos e é tímido?
– O quê? – praticamente gritei.
Quando uns meninos chegavam perto de mim os parei, mandando-os se afastar.
– Veio na minha casa para falar sobre você e como te conquistar, pois é meu vizinho. Então resolvi consolá-lo, mas quando o abracei senti uma atração tão forte que o beijei a força e sem pensar. Percebi que correspondeu no começo, mas logo se afastou e foi embora sem nem se despedir. – explicou.
Isso não se faz!
– Ele nunca tinha beijado alguém Pat! – repreendi-o.
– Desculpa Lie, mas demorou demais para tomar a iniciativa. – devolveu.
Infelizmente tem razão.
– E por que quase não anda? – de novo a Alisson.
Sua expressão se tornou sombria.
– O meu ex entrou depois e nós transamos, mas após isso ocorrer discutimos novamente, então o mandei sair. – declarou.
– O Gary? – questionei.
– Não, o Paul. Mas não me importo, ontem foi maravilhoso mesmo assim. – continuou.
Sim, já teve muitos namorados. Tantos que nem lembro o nome de alguns. E o pior é que são bonitos os que nos apresentou.
– E eu só querendo alguém para chamar de meu, já você teve dois em uma só noite. – murmurou a minha amiga desesperada.
Notei que o meu admirador passava pelo pátio, e ao nos olhar, principalmente para o gay, ficou vermelho e correu para sumir da nossa vista.
– Você não tem o Vinicius porque não quer. – um pouco irritada.
– Ele me deu um fora, agora tem que correr atrás.
Anseia por um namorado e ainda fica escolhendo? Assim não dá.
– Nem digo mais nada. – disse simplesmente.
O silêncio então reinou o ambiente, se não fosse pelo chiclete que estava mascando.
– Viu que fofo o B? Todo envergonhado. – um novo assunto reinou no ambiente.
Simplesmente me desliguei e fiquei olhando para os que estavam ao meu redor, notando o Mitchell no banco mais próximo. Alimentando-se de seu sanduiche enquanto seu único escudeiro ao seu lado. E neste momento percebi que a garota que sempre vivia ao meu lado não se encontra mais ali, provavelmente estava indo ao banheiro.
Tomei coragem e fui em direção ao meu antigo rival.
– Acho que a gata da Dalton quer falar contigo. – falou o amigo.
Rolei os olhos com o comentário costumeiro e me posicionei ao lado do novo membro do meu grupo do grêmio.
Percebi que virou sua face em minha direção, mas sua expressão em nada pareceu mudar.
– O que foi? – soou por entre seus lábios.
O outro pareceu entender ao ir para outro local.
– É que eu preciso que cancele a inscrição do seu grupo para entrar no meu. – comecei.
– Está bem, o farei. – declarou com indiferença.
Estava saindo quando me puxou, novamente dando de cara com seu peitoral, e levantou meu queixo. Para depois fazer uma trilha do meu rosto até a orelha direita, de forma lenta e provocadora.
– Tudo certo em relação a Alisson? – sussurrou com a voz grossa.
Não se pode fazer uma coisa dessas do nada, achando que em nada afetara. Poxa, é o meu ponto fraco do corpo. Tanto que fiquei arrepiada.
– Na verdade não, acho melhor conversar com ela primeiro e mostrar interesse. Só assim poderá ter uma chance com ela e começar a andar conosco. Agora me solta, pois todos estão nos olhando. – respondi ao me recuperar.
Levantou uma sobrancelha neste momento.
– Como se não gostasse de atenção não é? Ou melhor, de aparecer. – acusou.
Minha mão neste instante estava formigando para bater nele.
– Não me conhece mesmo Sr. Vinicius. – declarei.
Soltei-me sozinha e voltei ao local onde meus amigos estavam. E notei que o Patrick estava com um cara que representava a malicia.
– Qual o motivo de parecer tão intima ao lado do Mitchell? – começou.
Sorte que a Ally não estava ali no momento.
– Quero os dois juntos. – respondi apenas.
– Por quê? – insistiu.
– Quando minha amiga se faz de difícil é porque quer mesmo o rapaz. – menti.
Deu de ombros e ficou observando o Ben S., assim como eu também. Ele parecia tão relaxado perto da fila da cantina. Só que notei que estava concentrando também, pensando sobre algo.
No momento da minha companheira diária desesperada por alguém chegou para ouvir o resto da conversa, mas felizmente puxaram outro assunto assunto.
– Acho que estou apaixonado. – suspirou o gay.
Como o Pat sempre fala isso não liguei, mas com o pensamento de que isso poderia ocorrer. Pior é que não saberei se o outro o corresponderá ou não. E eu constatei que realmente meu admirador mais tímido não havia me mandado um recado hoje, nem o seu costumeiro “olá”.
– O amor é lindo! - a animação da Ally foi contagiante.
Ficaram batendo papo, todavia nada falei. Assim como o meu querido James, que sempre me acompanha em momentos como esse. As vezes até ficamos trocando mensagens nesse meio tempo, o que não ocorreu nesse intervalo.
É, as coisas estão mudando de um tempo para cá.
“Não se acostume com o que não o faz feliz, revolte-se quando julgar necessário.Alague seu coração de esperanças, mas não deixe que ele se afogue nelas.Se achar que precisa voltar, volte!Se perceber que precisa seguir, siga!Se estiver tudo errado, comece novamente.Se estiver tudo certo, continue.Se sentir saudades, mate-a.Se perder um amor, não se perca!Se o achar, segure-o!”(Fernando Pessoa)– Abre para mim! – gritou.Estava em meu quarto com a blusa larga e grande do Pokémon, um short qualquer, o cabelo em um coque desarrumado, sem maquiagem e o videogame ligado. Era um sábado qualquer, e eu queria muito poder passar dessa fase
Patrick ficou emburrado por duas aulas, mas no intervalo ele ia contar o que aconteceu para ficar tão chateado.Seria um ex o azucrinando?– Lie, você é tão sortuda! – começou quando nos sentamos no nosso local habitual.Pior que isso é verdade na maioria das vezes.– Só agora percebeu? – questionei em um muxoxo.– É que o Ben foi falar comigo ontem, mas para afirmar que te ama e que não é mais para eu ficar o beijando.Disse com todas as letras ainda. Meu coração doeu por sua causa vadia. – disse em tom de brincadeira, mas ainda assim parecia triste.Ah, é isso!– Não tenho culpa se todos os homens me querem. – devolvi ao mexer no cabelo.– E eu ainda sem namorado. – sussurrou ao outro enquanto comia uma barra de cereal.Já o quarto integrante continua
“Ah, se eu pudesse abrir a minha cabeça, colocar tudo para fora. Arrumar tudo direitinho como quem arruma uma gaveta. Ou tomar um banho de chuveiro por dentro.”(Caio Fernando Abreu)Abri o armário, em uma terça-feira chuvosa, e me deparei com algo que me deixou completamente chateada e irada. Sabia que provavelmente meu rosto estava em chamas neste instante, legado que tenho por ser ruiva.“Vinicius e Eliana estão juntos? Ontem o dito cujo disse que estava namorando a melhor amiga dela, Alisson. Só que pela foto que vimos abaixo a popular de cabelos de fogo está furando o olho ao estar tão próxima do Mitchell na semana passada. Ela se agarrando nele enquanto segredavam algo parece cena de novela, mas não seria nada emocionante sem um possível triangulo amoroso. Seria digna de novela mexicana não? Pamela&rdquo
– Amor. – berrou a Alisson.Minha animação diminuiu e eu dei espaço, fazendo-a abraça-lo enquanto ficava espremida no canto. E fiquei pior por ter desejado que ela não viesse neste instante, apenas para que continuássemos com o que estávamos fazendo.– Vejo que estão se entendendo. – fez uma observação.– Falávamos sobre o jornal. – escondi a verdade.Senti-me mal por isso e engoli em seco.– Logo se ocuparão com outro assunto. – devolveu com calma.Ela sabia do que eu era capaz de fazer.Pisquei para ela e o silêncio reinou. Depois só o que houve foram beijos e carinhos, sem contar os apelidos melosos. E em alguns momentos o Vinicius me encarava de maneira decepcionada. Com
“Por que que todo amor não dura eternamente e quando tudo acaba a gente sente?”(Belo)- Quer o que hoje Lie? – disse um garoto, com um sorriso aberto.Meu apelido de novo, que não me faria esquecer do que sou.Será que um sanduiche natural? Não, não agora!- Um doritos de chilli pepper. – sussurrei.Sua alegria cresceu enquanto me olhava de forma abobalhada.- Está bem? – questionei em preocupação.Pareceu se recompor ao me ouvir.- Não, é que seu sotaque inglês é tão fofo. – declarou.- Obrigada. – a vergonha me abateu com fúria.Olhei ao redor e só estavam Ally, James e Patrick ao meu lado. Mesmo que o quarteto esteja presente o namorado da minha amiga não se encontrava aqui, e nem nas cadeiras da cantina.- A
Ainda bem que era um dia de sol. Assim eu poderia colocar o meu óculos de sol, permitindo com que não me vissem com a face abatida, e deixando o meu cabelo como estava. Vesti uma blusa rosa e saia.Vou com o pai até a escola e o vejo partir com o carro depois de me dar um beijo terno no rosto. Como sempre me desejando sorte. E ao passar pelo pátio vejo muitas pessoas fazendo uma roda.- O que aconteceu? – pergunto para um garoto que estava do meu lado.Seu rosto ficou vermelho e ele tremeu.Ah, a reação Eliana.- Parece que alguém está brigando com um professor. – declarou depois de um tempo.Simplesmente agradeci com nervosismo e fui em direção a multidão. Querendo conferir o que pensava.Que provavelmente era o de biologia que estava lá apanhando. Só que ao imaginar não sentia pena, mas como se estivesse novament
“Eu gosto de olhos que sorriem, de gestos que se desculpam, de toques que sabem conversar e de silêncios que se declaram.”(Machado de Assis)Quando tive a chance fui olhar o jornal, e me surpreendi com o que vi. Todavia felizmente foi para o lado bom. Nem eu esperava que iam escrever dessa maneira. E nada como uma vingança bem feita para aterrorizar os outros.Resumindo: o jornal elogiou o meu look de antes e falou do novo casal, Vinicius e Ally, ao desmentir a notícia de ontem.Mostrei para a minha amiga, junto com o seu namorado, e ela deu um sorriso enorme em resposta. Nunca contei para ela sobre esse meu lado, no entanto sabia que eu poderia passar por cima das pessoas que tentam nos destruir.Sempre foi assim.- Hoje é o teste para a escolha dos novos membros? – questionou.Amassei o papel que estava em mãos e a olhei.- É na sexta. – declarei.
Uau! Ele acertou mesmo.- Só isso? – questionou.- Por R$10,00 apenas poderei revelar o que ouviu. – revidou.Depois foi a minha.- Tadinha de você! Esconde muitos segredos e não quer contar de qualquer jeito com medo de perder a popularidade. É uma mentirosa de carteirinha. – disse.Assustei-me e ao nos liberar eu praticamente tremi com a verdade em suas palavras. O Vinicius estava um pouco machucado, mas não tanto quanto eu, e por isso me levou em seu colo até a minha bicicleta um pouco amassada, deixando-me na garupa.- Segura bem para não cair. – exclamou.Enlacei meu braço em sua cintura e me encostei nele, sentindo seu perfume invadir minhas narinas. Sem falar do cabelo, que ficava cada vez mais desarrumado por conta do vento, deixando-me com vontade de tocá-lo.- É-é... você escutou o que ele disse? &Eacu