“Purifica o teu coração antes de permitires que o amor entre nele, pois até o mel mais doce azeda num recipiente sujo.”
(Pitágoras)
O dia que se passou foi realmente surpreende para mim. Primeiro porque recebi uma declaração do admirador mais tímido que tinha, e segundo porque meu segredo foi descoberto.
E justo no último ano, em que é tão decisivo e tem de ser o melhor de todos. Mas eu, que nunca quis uma mudança, acabei por destruir tudo em um único momento. Só que, felizmente, conseguimos fazer um acordo entre nós.
O que realmente foi novidade.
– Bom dia Eliana. – cumprimentou.
E para novamente me deixar de cabelo em pé e mais preocupada, foi o Taylor, ex namorado da minha melhor amiga, e não alguém que eu gosto de conviver tinha me dirigido a palavra.
– Onde estão seus amigos? – questionei.
Sem nem ao menos cumprimenta-lo ou sequer esboçar um sorriso. Claro, ele foi o cara que partiu o coração da Ally em pedaços.
– Ali. – respondeu simplesmente, apontando para o lugar onde haviam uns meninos.
Quando me viram estufaram o peito e acenaram sem parar para mim, como se eu fosse me apaixonar por eles por esse gesto.
– Então faça o favor de ir até lá, e não fingir que nada aconteceu. – repreendi-o.
Simplesmente riu e se aproximou de mim a passos lentos.
– Sabia que era o meu tipo, e não aquela melosa da sua amiga. – sussurrou.
Eca! Ele está pensando que vai me beijar?
Empurrei-o sem me importar e fui para a sala, sentando-me perto do Patrick e James. Percebi que Vinicius já estava lá, e me olhava com uma expressão mais simpática. Não aquela carranca que sempre dava.
– Diva. – chamou-me com o meu apelido de sempre.
– Que foi amor? – o tom carinhoso.
Ah! Eu amava esse garoto.
– Por acaso está rolando algo entre você e o Mitchell? – questionou.
O quê? Nunca.
– Que pergunta é essa Pat? – esbravejei.
Eu o chamava assim quando ficava brava, apesar dele gostar por soar feminino.
– Não se exalte, estressar-se dá rugas. – respondeu.
Só de pensar nisso me acalmei no mesmo instante.
– Mas não mude de assunto, porque acha isso? – insisti.
– Olharam-se demais hoje. Não é Jammy? – com o biquinho costumeiro.
Pior que é verdade, no entanto nem foi por aquele motivo.
– Até fiquei com ciúmes. – em um tom baixo ao me mirar.
– Eu estava o fulminando por ter dado um fora na Ally ontem! – menti.
Até porque ninguém sabe que eu amo Pokémon.
– Ele é um pedaço de mal caminho, Deus grego, mas muito cruel. Meu tipo preferido. Um bad boy necessita apenas de carinho, e estarei disposto a dar tudo que quiser quando precisar. – deu um gritinho.
Rolei os olhos por saber que fala isso de todos.
Então a professora chegou e começou a falar sobre a reprodução das girafas e os reinos, seja o animal ou outro qualquer. E como ia ser presidente do grêmio teria de fingir que prestava atenção.
Quando o sinal do intervalo tocou notei que o gay estava com um saco de jujubas, e de todas as cores. Sendo que eu era apaixonada, principalmente pela azul.
– Eu quero. – gritei quando fomos no pátio.
Sua careta se tornou tristonha neste momento.
– Não. – negou com maldade.
Simplesmente não implorei mais e puxei o saco, pegando na mão várias da minha cor preferida. Fazendo-o cruzar os braços e ficar com um bico maior que o de uma criança sem o brinquedo que desejava de natal.
– Quem manda ser guloso. – ri.
A Alisson se juntou ao nosso grupo contando que o seu ex ficou reclamando sobre eu não o cumprimentar e ser mal educada. E ao ver o doce ficou feliz de repente e furtou umas vermelhas.
E nem preciso contar como o Patrick ficou né?
– Estou com saudade do meu Tay-Tay! – chorosa.
Como ela pode ainda gostar desse canalha?
– Se você voltar com esse idiota, sou eu que ficarei sem falar contigo. – revidei.
– Mas ele é... – começou, mas foi interrompida.
– Um bofe que não te merece. – completou o nosso amigo.
James sempre ficava calado quando esses assuntos rolavam. E na maioria das vezes que o fitava notava que estava no celular ou comendo seu lanche – que era o costumeiro sanduiche de peito de peru com tomate e alface.
E eu me surpreendi quando ouvi o outro falando mal de um garoto, o que significava que realmente não prestava.
– Só que me dava presentes. – em um muxoxo.
Observação: além de dramática era um pouco interesseira.
E foi depois de sua fala que vi o Vinicius sentado no banco perto da lanchonete, do qual me fez lembrar de nosso acordo.
– O Mitchell também pode fazer isso para você. – iniciei sem muito êxito.
– Não o quero mais. – declarou.
O que está ocorrendo com essa gente? Primeiro o Patrick critica um aluno da nossa escola e depois ela desiste de alguém bonito?
Será o fim do mundo?
– Mas até que ele é bonitinho. – disse com esforço.
Não sabem o quanto penei para dizer essa última palavra sem engasgar ou gaguejar.
– Eu disse: ela e o Vince tem um caso. – estragou.
– O que você tem na cabeça para falar uma coisa dessas? Eu só estou querendo ver minha amiga feliz! – exclamei.
Foi tão alto que umas pessoas foram ao meu redor.
– Esse cara está te incomodando Lie? – perguntou um fã meu.
– É... – comecei.
– Sim, podem fazer o que quiser comigo, sou de vocês. – animou-se o gay.
E então eles o pegaram rapidamente e o levaram para um canto, fora de nossas vistas. Só que no caminho ele ficava se agarrando neles e pulando em euforia quando um o enlaçou para que não fugisse.
É... esse meu amigo não tem jeito.
O melhor é que o saco com aquelas maravilhas estavam ali. Só que até conseguir um pouco tive que brigar com a minha melhor amiga para isso. E no meio do processo a embalagem rasgou e umas ficaram na grama, sobrando apenas umas dez para repartirmos.
– Chão sortudo. – balbuciou a Ally em chateação.
Com toda a certeza tinha razão.
Ficamos comendo em silêncio e esperando o Patrick voltar, e quando isso ocorreu notamos que seus lábios estavam vermelhos, inchados e o inferior se encontrava com um corte. Sendo que sua roupa estava um pouco amassada.
– Acho que alguém arranjou um boy! – exclamamos nós duas ao mesmo tempo.
Como disse, o quarto integrante pouco falava. E enquanto o nosso sorriso aumentava o outro começou a chorar, parecendo completamente desesperado.
– Não, apanhei mesmo. – confessou.
Consolamo-nos e logo tivemos que ir para a sala, só que eu fui impedida ao ser empurrada para um corredor pouco frequentado. E ao abrir os olhos, depois de me recuperar do susto, notei que era o meu antigo concorrente.
– Conseguiu falar com ela? – sussurrou.
Tão perto de mim que fiquei quase sem ar, até porque eu não tinha me recuperado da pequena corrida e o baque forte e repentino com a parede.
– Depois da aula eu faço isso. – menti.
Sei que ela tinha dito que não queria mais nada com o Mitchell, mas sabia que poderia convencê-la. E se isso não acontecer, ou estou azarada ou meus amigos foram abduzidos.
– Está bem. – o tom rouco e sensual.
Você quer me conquistar ou a Ally? Fiquei com vontade de perguntar ao me sentir arrepiada quando falou pela última vez, todavia quando ia me pronunciar não se encontrava mais ao meu lado.
– Lie. – chamou uma voz conhecida.
E então quando me virei um flash apareceu, só que por sorte consegui sorrir e fazer uma pequena pose. A foto ficou boa e a pessoa me informou que sairia no jornal.
As aulas se passaram lentamente e finalmente conseguimos sair. A minha afobação era porque estava doida para falar com o diretor sobre a possibilidade de guardar uma vaga para o ex rival.
– Espere-me ai fora. – disse para a minha companheira desde o jardim de infância.
Bati na porta e entrei rapidamente, encontrando um senhor com a boca toda suja por conta das rosquinhas recheadas que comia.
– O que deseja? – pronunciou após terminar de se alimentar.
– É... eu queria saber se poderia deixar uma inscrição do meu comitê reservada para um aluno. – comentou.
– Quem seria? – questionou ao pegar a lista com o meu nome.
– O Vinicius Mitchell. – sussurrei.
– Não poderei o fazer sem que fale comigo sobre o cancelamento da liderança do seu grupo. – finalizou.
Sai bufando por ter de encará-lo e falar com aquele garoto novamente, mas era obrigada. Sei que pode ser exagero, mas é ruim ter de encarar uma pessoa que sabe seu segredo e que a todo instante pode te exigir algo a mais.
– Conseguiu falar com ele? – sussurrou.
– Sim. – disse sem deixar a preocupação de lado.
Neste instante o Patrick passou por nós.
– Olha as rugas. – repetiu, mesmo com a cara chorosa ainda se importava comigo.
– Obrigada meu amor. – berrei quando estava saindo.
Bem, ele ia ir no shopping com sua mãe.
– Alisson, pensou sobre o que eu disse no intervalo? – iniciei com cautela.
– Só ficarei com ele se mostrar interesse e me convencer a namorá-lo, antes disso não retirarei o que tinha comentado. – sentenciou.
Que droga! Mais um assunto para conversar com esse provocador e chantagista.
Então só espero que o destino esteja ao meu favor, porque se ele não aceitar, deixar seu orgulho de lado e ir atrás daquela garota que resolveu dar uma de difícil de uma hora para a outra estou ralada. E darei adeus a popularidade e o chaveiro do Pikachu.
“Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar. Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando, porque embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu.”(Sarah Westphal)Estava praticamente dentro do meu armário ao vasculhar algo para usar para amanhã. Eram aproximadamente sete horas da noite e eu ainda não havia encontrada nada, até porque tinha uma de minha preferência.– Mãe! – berrei do meu quarto.Ouvi passos de salto alto até parar na frente do meu cômodo. E quando apareceu eu simplesmente me arrependi de tê-la chamado. Estava com a sua roupa amassada e seu cabelo parecia um ninho de gato, o que realmente dava a certeza de que estava novamente se divertindo com meu pai.E isso realmente me deixou
“Não se acostume com o que não o faz feliz, revolte-se quando julgar necessário.Alague seu coração de esperanças, mas não deixe que ele se afogue nelas.Se achar que precisa voltar, volte!Se perceber que precisa seguir, siga!Se estiver tudo errado, comece novamente.Se estiver tudo certo, continue.Se sentir saudades, mate-a.Se perder um amor, não se perca!Se o achar, segure-o!”(Fernando Pessoa)– Abre para mim! – gritou.Estava em meu quarto com a blusa larga e grande do Pokémon, um short qualquer, o cabelo em um coque desarrumado, sem maquiagem e o videogame ligado. Era um sábado qualquer, e eu queria muito poder passar dessa fase
Patrick ficou emburrado por duas aulas, mas no intervalo ele ia contar o que aconteceu para ficar tão chateado.Seria um ex o azucrinando?– Lie, você é tão sortuda! – começou quando nos sentamos no nosso local habitual.Pior que isso é verdade na maioria das vezes.– Só agora percebeu? – questionei em um muxoxo.– É que o Ben foi falar comigo ontem, mas para afirmar que te ama e que não é mais para eu ficar o beijando.Disse com todas as letras ainda. Meu coração doeu por sua causa vadia. – disse em tom de brincadeira, mas ainda assim parecia triste.Ah, é isso!– Não tenho culpa se todos os homens me querem. – devolvi ao mexer no cabelo.– E eu ainda sem namorado. – sussurrou ao outro enquanto comia uma barra de cereal.Já o quarto integrante continua
“Ah, se eu pudesse abrir a minha cabeça, colocar tudo para fora. Arrumar tudo direitinho como quem arruma uma gaveta. Ou tomar um banho de chuveiro por dentro.”(Caio Fernando Abreu)Abri o armário, em uma terça-feira chuvosa, e me deparei com algo que me deixou completamente chateada e irada. Sabia que provavelmente meu rosto estava em chamas neste instante, legado que tenho por ser ruiva.“Vinicius e Eliana estão juntos? Ontem o dito cujo disse que estava namorando a melhor amiga dela, Alisson. Só que pela foto que vimos abaixo a popular de cabelos de fogo está furando o olho ao estar tão próxima do Mitchell na semana passada. Ela se agarrando nele enquanto segredavam algo parece cena de novela, mas não seria nada emocionante sem um possível triangulo amoroso. Seria digna de novela mexicana não? Pamela&rdquo
– Amor. – berrou a Alisson.Minha animação diminuiu e eu dei espaço, fazendo-a abraça-lo enquanto ficava espremida no canto. E fiquei pior por ter desejado que ela não viesse neste instante, apenas para que continuássemos com o que estávamos fazendo.– Vejo que estão se entendendo. – fez uma observação.– Falávamos sobre o jornal. – escondi a verdade.Senti-me mal por isso e engoli em seco.– Logo se ocuparão com outro assunto. – devolveu com calma.Ela sabia do que eu era capaz de fazer.Pisquei para ela e o silêncio reinou. Depois só o que houve foram beijos e carinhos, sem contar os apelidos melosos. E em alguns momentos o Vinicius me encarava de maneira decepcionada. Com
“Por que que todo amor não dura eternamente e quando tudo acaba a gente sente?”(Belo)- Quer o que hoje Lie? – disse um garoto, com um sorriso aberto.Meu apelido de novo, que não me faria esquecer do que sou.Será que um sanduiche natural? Não, não agora!- Um doritos de chilli pepper. – sussurrei.Sua alegria cresceu enquanto me olhava de forma abobalhada.- Está bem? – questionei em preocupação.Pareceu se recompor ao me ouvir.- Não, é que seu sotaque inglês é tão fofo. – declarou.- Obrigada. – a vergonha me abateu com fúria.Olhei ao redor e só estavam Ally, James e Patrick ao meu lado. Mesmo que o quarteto esteja presente o namorado da minha amiga não se encontrava aqui, e nem nas cadeiras da cantina.- A
Ainda bem que era um dia de sol. Assim eu poderia colocar o meu óculos de sol, permitindo com que não me vissem com a face abatida, e deixando o meu cabelo como estava. Vesti uma blusa rosa e saia.Vou com o pai até a escola e o vejo partir com o carro depois de me dar um beijo terno no rosto. Como sempre me desejando sorte. E ao passar pelo pátio vejo muitas pessoas fazendo uma roda.- O que aconteceu? – pergunto para um garoto que estava do meu lado.Seu rosto ficou vermelho e ele tremeu.Ah, a reação Eliana.- Parece que alguém está brigando com um professor. – declarou depois de um tempo.Simplesmente agradeci com nervosismo e fui em direção a multidão. Querendo conferir o que pensava.Que provavelmente era o de biologia que estava lá apanhando. Só que ao imaginar não sentia pena, mas como se estivesse novament
“Eu gosto de olhos que sorriem, de gestos que se desculpam, de toques que sabem conversar e de silêncios que se declaram.”(Machado de Assis)Quando tive a chance fui olhar o jornal, e me surpreendi com o que vi. Todavia felizmente foi para o lado bom. Nem eu esperava que iam escrever dessa maneira. E nada como uma vingança bem feita para aterrorizar os outros.Resumindo: o jornal elogiou o meu look de antes e falou do novo casal, Vinicius e Ally, ao desmentir a notícia de ontem.Mostrei para a minha amiga, junto com o seu namorado, e ela deu um sorriso enorme em resposta. Nunca contei para ela sobre esse meu lado, no entanto sabia que eu poderia passar por cima das pessoas que tentam nos destruir.Sempre foi assim.- Hoje é o teste para a escolha dos novos membros? – questionou.Amassei o papel que estava em mãos e a olhei.- É na sexta. – declarei.