05

“Não se acostume com o que não o faz feliz, revolte-se quando julgar necessário.

Alague seu coração de esperanças, mas não deixe que ele se afogue nelas.

Se achar que precisa voltar, volte!

Se perceber que precisa seguir, siga!

Se estiver tudo errado, comece novamente.

Se estiver tudo certo, continue.

Se sentir saudades, mate-a.

Se perder um amor, não se perca!

Se o achar, segure-o!”

(Fernando Pessoa)

– Abre para mim! – gritou.

Estava em meu quarto com a blusa larga e grande do Pokémon, um short qualquer, o cabelo em um coque desarrumado, sem maquiagem e o videogame ligado. Era um sábado qualquer, e eu queria muito poder passar dessa fase.

E o que eu realmente não sabia era porque a mãe recebeu o Vinicius. Que eu tinha a certeza de que soube o meu endereça por causa da minha vizinha.

– Para quê? – sussurrei ao chegar perto da porta.

– Quero falar sobre a Alisson. – respondeu rapidamente.

Mentalizei as possibilidades, deduzindo que poderia acatar seu pedido. Principalmente por já ter conhecimento do meu segredo. Só que o mais importante era a minha amiga, e consequentemente minha imagem também.

– Você é mesmo fã deles. – foi a primeira frase que disse.

Dei de ombros e sentei na cama, cruzando minha perna em seguida.

– Esse jogo é demais! E nunca mais tinha o visto. – exclamou.

A animação dele era tão contagiante que um pequeno sorriso se abriu em minha face.

– Quer competir comigo? – declarei de repente.

Simplesmente saiu, sem nem ao menos pensar.

– Mas não reclame quando perder. – provocou.

– E você vai chorar que nem uma criança, porque sou eu que irei ganhar. – retruquei.

Parei minha língua na parte superior dos lábios para melhorar a concentração e começamos a batalha. Fiquei mexendo o controle e escolhendo o poder mais forte do meu preferido, sendo que apertava muitos botões no desespero.

Resumindo: Não fui a vencedora.

– Acho que alguém precisa de umas aulas. – provocou.

– Foi sorte sua. – devolvi.

– Então quer mais um round para provar que sou ótimo nisso?

– Com toda a certeza.

Infelizmente perdi novamente.

– Que tal me contar o que a Alisson gosta? – perguntou quando nos sentamos.

Recuperei o folego e disparei a falar após dar o meu melhor sorriso. Constatei por fim que realmente jogar videogame é cansativo.

– É melhor anotar. – comecei.

– Tudo bem. – concordou ao pegar um papel e bloco que achou no meu quarto.

– Se for comprar uma roupa para ela tem que ser rosa ou lilás. Adora joias, principalmente quando for um colar.

Quando arranjam um apelido para ela, mas nada constrangedor. Que a elogiem também. – dei algumas dicas.

– E qual a música preferida dela?

Alguém realmente está se esforçando.

– Toxic da Britney Spears. – respondi.

– E chocolate? – continuou.

– De preferência os light.

Primeira vez que eu fazia isso para algum menino, e realmente era até divertido. Apesar de estar mais acostumada dos outros querendo saber sobre mim. Depois disso o silêncio se fez presente, e a minha vontade de quebra-lo crescia cada vez mais.

Para mim era horrível essa sensação.

– Conseguiu tirar o seu grupo para o conselho? – comentei.

– Sim, no entanto infelizmente a Valentina não aprovou a ideia. Então ficou com o meu cargo. – confessou.

Tina, era amiga dele há anos, só que poucas vezes a observei andando com ele. Mas era a primeira vez que a veria concorrendo para o grêmio. A pena é que nem poderia mais pedir a sua ajuda agora, já que agora estamos em lados opostos.

– E mais alguém está com ela? – quis saber.

– A minha antiga equipe. – sentenciou.

Entristeci no mesmo instante ao notar que se ficar conosco poderia perder as amizades que tinha. Só que foi uma escolha dele, e teria de arcar com as consequências.

– E não está com medo deles ficarem brabos contigo por vir para o meu time?

Seu rosto então se tornou tenso.

– Um pouco, mas disse a eles que foi por causa da Alisson. – declarou.

Ainda bem que não contou da minha paixão.

– Não sei o que faria se não tivesse mais os meus ao meu lado. – sussurrei.

Ao mirá-lo percebi que estava surpreso.

– Se são verdadeiros vão ficar contigo, seja em qual situação for. E nem precisa se preocupar com isso, pois se um se afasta há milhares querendo tomar esse lugar. – consolou-me com rispidez.

Foi como levar um soco.

– Está me chamando de vazia? – explodi.

– Não é isso, você que entendeu errado.

Fiquei mais irritada ainda.

– Além de me chamar de fútil agora diz que eu sou burra?

– Não sou eu que uso minha popularidade para ganhar a eleição do conselho.

Foi a gota da água para mim.

– A culpa não é minha se fracassou em todas as vezes. – fui ríspida.

– Só que eu sei que o que fez de bom para a escola foi ideia da Tina. Não fica com receio de ser derrotada sem a ajuda dela? – questionou.

Acalmei-me um pouco, tanto que não queria mais discutir.

– Acho melhor ir embora agora não? Já que te passei algumas dicas sobre a Ally.

Então simplesmente coloquei o meu casaco e fiquei o observando pela janela do meu quarto, até para ter a certeza de que ia embora. Vendo-o ir até a casa da minha nova concorrente, do qual eu sabia que não seria tão fácil assim para ganhar dela.

E apesar da sua visita ao meu quarto acabar de uma maneira ruim, confesso que foi a primeira vez que pude ser eu mesma. Sem precisar pesar minhas palavras ou colocações.

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