“Não se acostume com o que não o faz feliz, revolte-se quando julgar necessário.
Alague seu coração de esperanças, mas não deixe que ele se afogue nelas.
Se achar que precisa voltar, volte!
Se perceber que precisa seguir, siga!
Se estiver tudo errado, comece novamente.
Se estiver tudo certo, continue.
Se sentir saudades, mate-a.
Se perder um amor, não se perca!
Se o achar, segure-o!”
(Fernando Pessoa)
– Abre para mim! – gritou.
Estava em meu quarto com a blusa larga e grande do Pokémon, um short qualquer, o cabelo em um coque desarrumado, sem maquiagem e o videogame ligado. Era um sábado qualquer, e eu queria muito poder passar dessa fase.
E o que eu realmente não sabia era porque a mãe recebeu o Vinicius. Que eu tinha a certeza de que soube o meu endereça por causa da minha vizinha.
– Para quê? – sussurrei ao chegar perto da porta.
– Quero falar sobre a Alisson. – respondeu rapidamente.
Mentalizei as possibilidades, deduzindo que poderia acatar seu pedido. Principalmente por já ter conhecimento do meu segredo. Só que o mais importante era a minha amiga, e consequentemente minha imagem também.
– Você é mesmo fã deles. – foi a primeira frase que disse.
Dei de ombros e sentei na cama, cruzando minha perna em seguida.
– Esse jogo é demais! E nunca mais tinha o visto. – exclamou.
A animação dele era tão contagiante que um pequeno sorriso se abriu em minha face.
– Quer competir comigo? – declarei de repente.
Simplesmente saiu, sem nem ao menos pensar.
– Mas não reclame quando perder. – provocou.
– E você vai chorar que nem uma criança, porque sou eu que irei ganhar. – retruquei.
Parei minha língua na parte superior dos lábios para melhorar a concentração e começamos a batalha. Fiquei mexendo o controle e escolhendo o poder mais forte do meu preferido, sendo que apertava muitos botões no desespero.
Resumindo: Não fui a vencedora.
– Acho que alguém precisa de umas aulas. – provocou.
– Foi sorte sua. – devolvi.
– Então quer mais um round para provar que sou ótimo nisso?
– Com toda a certeza.
Infelizmente perdi novamente.
– Que tal me contar o que a Alisson gosta? – perguntou quando nos sentamos.
Recuperei o folego e disparei a falar após dar o meu melhor sorriso. Constatei por fim que realmente jogar videogame é cansativo.
– É melhor anotar. – comecei.
– Tudo bem. – concordou ao pegar um papel e bloco que achou no meu quarto.
– Se for comprar uma roupa para ela tem que ser rosa ou lilás. Adora joias, principalmente quando for um colar.
Quando arranjam um apelido para ela, mas nada constrangedor. Que a elogiem também. – dei algumas dicas.
– E qual a música preferida dela?
Alguém realmente está se esforçando.
– Toxic da Britney Spears. – respondi.
– E chocolate? – continuou.
– De preferência os light.
Primeira vez que eu fazia isso para algum menino, e realmente era até divertido. Apesar de estar mais acostumada dos outros querendo saber sobre mim. Depois disso o silêncio se fez presente, e a minha vontade de quebra-lo crescia cada vez mais.
Para mim era horrível essa sensação.
– Conseguiu tirar o seu grupo para o conselho? – comentei.
– Sim, no entanto infelizmente a Valentina não aprovou a ideia. Então ficou com o meu cargo. – confessou.
Tina, era amiga dele há anos, só que poucas vezes a observei andando com ele. Mas era a primeira vez que a veria concorrendo para o grêmio. A pena é que nem poderia mais pedir a sua ajuda agora, já que agora estamos em lados opostos.
– E mais alguém está com ela? – quis saber.
– A minha antiga equipe. – sentenciou.
Entristeci no mesmo instante ao notar que se ficar conosco poderia perder as amizades que tinha. Só que foi uma escolha dele, e teria de arcar com as consequências.
– E não está com medo deles ficarem brabos contigo por vir para o meu time?
Seu rosto então se tornou tenso.
– Um pouco, mas disse a eles que foi por causa da Alisson. – declarou.
Ainda bem que não contou da minha paixão.
– Não sei o que faria se não tivesse mais os meus ao meu lado. – sussurrei.
Ao mirá-lo percebi que estava surpreso.
– Se são verdadeiros vão ficar contigo, seja em qual situação for. E nem precisa se preocupar com isso, pois se um se afasta há milhares querendo tomar esse lugar. – consolou-me com rispidez.
Foi como levar um soco.
– Está me chamando de vazia? – explodi.
– Não é isso, você que entendeu errado.
Fiquei mais irritada ainda.
– Além de me chamar de fútil agora diz que eu sou burra?
– Não sou eu que uso minha popularidade para ganhar a eleição do conselho.
Foi a gota da água para mim.
– A culpa não é minha se fracassou em todas as vezes. – fui ríspida.
– Só que eu sei que o que fez de bom para a escola foi ideia da Tina. Não fica com receio de ser derrotada sem a ajuda dela? – questionou.
Acalmei-me um pouco, tanto que não queria mais discutir.
– Acho melhor ir embora agora não? Já que te passei algumas dicas sobre a Ally.
Então simplesmente coloquei o meu casaco e fiquei o observando pela janela do meu quarto, até para ter a certeza de que ia embora. Vendo-o ir até a casa da minha nova concorrente, do qual eu sabia que não seria tão fácil assim para ganhar dela.
E apesar da sua visita ao meu quarto acabar de uma maneira ruim, confesso que foi a primeira vez que pude ser eu mesma. Sem precisar pesar minhas palavras ou colocações.
☼
Patrick ficou emburrado por duas aulas, mas no intervalo ele ia contar o que aconteceu para ficar tão chateado.Seria um ex o azucrinando?– Lie, você é tão sortuda! – começou quando nos sentamos no nosso local habitual.Pior que isso é verdade na maioria das vezes.– Só agora percebeu? – questionei em um muxoxo.– É que o Ben foi falar comigo ontem, mas para afirmar que te ama e que não é mais para eu ficar o beijando.Disse com todas as letras ainda. Meu coração doeu por sua causa vadia. – disse em tom de brincadeira, mas ainda assim parecia triste.Ah, é isso!– Não tenho culpa se todos os homens me querem. – devolvi ao mexer no cabelo.– E eu ainda sem namorado. – sussurrou ao outro enquanto comia uma barra de cereal.Já o quarto integrante continua
“Ah, se eu pudesse abrir a minha cabeça, colocar tudo para fora. Arrumar tudo direitinho como quem arruma uma gaveta. Ou tomar um banho de chuveiro por dentro.”(Caio Fernando Abreu)Abri o armário, em uma terça-feira chuvosa, e me deparei com algo que me deixou completamente chateada e irada. Sabia que provavelmente meu rosto estava em chamas neste instante, legado que tenho por ser ruiva.“Vinicius e Eliana estão juntos? Ontem o dito cujo disse que estava namorando a melhor amiga dela, Alisson. Só que pela foto que vimos abaixo a popular de cabelos de fogo está furando o olho ao estar tão próxima do Mitchell na semana passada. Ela se agarrando nele enquanto segredavam algo parece cena de novela, mas não seria nada emocionante sem um possível triangulo amoroso. Seria digna de novela mexicana não? Pamela&rdquo
– Amor. – berrou a Alisson.Minha animação diminuiu e eu dei espaço, fazendo-a abraça-lo enquanto ficava espremida no canto. E fiquei pior por ter desejado que ela não viesse neste instante, apenas para que continuássemos com o que estávamos fazendo.– Vejo que estão se entendendo. – fez uma observação.– Falávamos sobre o jornal. – escondi a verdade.Senti-me mal por isso e engoli em seco.– Logo se ocuparão com outro assunto. – devolveu com calma.Ela sabia do que eu era capaz de fazer.Pisquei para ela e o silêncio reinou. Depois só o que houve foram beijos e carinhos, sem contar os apelidos melosos. E em alguns momentos o Vinicius me encarava de maneira decepcionada. Com
“Por que que todo amor não dura eternamente e quando tudo acaba a gente sente?”(Belo)- Quer o que hoje Lie? – disse um garoto, com um sorriso aberto.Meu apelido de novo, que não me faria esquecer do que sou.Será que um sanduiche natural? Não, não agora!- Um doritos de chilli pepper. – sussurrei.Sua alegria cresceu enquanto me olhava de forma abobalhada.- Está bem? – questionei em preocupação.Pareceu se recompor ao me ouvir.- Não, é que seu sotaque inglês é tão fofo. – declarou.- Obrigada. – a vergonha me abateu com fúria.Olhei ao redor e só estavam Ally, James e Patrick ao meu lado. Mesmo que o quarteto esteja presente o namorado da minha amiga não se encontrava aqui, e nem nas cadeiras da cantina.- A
Ainda bem que era um dia de sol. Assim eu poderia colocar o meu óculos de sol, permitindo com que não me vissem com a face abatida, e deixando o meu cabelo como estava. Vesti uma blusa rosa e saia.Vou com o pai até a escola e o vejo partir com o carro depois de me dar um beijo terno no rosto. Como sempre me desejando sorte. E ao passar pelo pátio vejo muitas pessoas fazendo uma roda.- O que aconteceu? – pergunto para um garoto que estava do meu lado.Seu rosto ficou vermelho e ele tremeu.Ah, a reação Eliana.- Parece que alguém está brigando com um professor. – declarou depois de um tempo.Simplesmente agradeci com nervosismo e fui em direção a multidão. Querendo conferir o que pensava.Que provavelmente era o de biologia que estava lá apanhando. Só que ao imaginar não sentia pena, mas como se estivesse novament
“Eu gosto de olhos que sorriem, de gestos que se desculpam, de toques que sabem conversar e de silêncios que se declaram.”(Machado de Assis)Quando tive a chance fui olhar o jornal, e me surpreendi com o que vi. Todavia felizmente foi para o lado bom. Nem eu esperava que iam escrever dessa maneira. E nada como uma vingança bem feita para aterrorizar os outros.Resumindo: o jornal elogiou o meu look de antes e falou do novo casal, Vinicius e Ally, ao desmentir a notícia de ontem.Mostrei para a minha amiga, junto com o seu namorado, e ela deu um sorriso enorme em resposta. Nunca contei para ela sobre esse meu lado, no entanto sabia que eu poderia passar por cima das pessoas que tentam nos destruir.Sempre foi assim.- Hoje é o teste para a escolha dos novos membros? – questionou.Amassei o papel que estava em mãos e a olhei.- É na sexta. – declarei.
Uau! Ele acertou mesmo.- Só isso? – questionou.- Por R$10,00 apenas poderei revelar o que ouviu. – revidou.Depois foi a minha.- Tadinha de você! Esconde muitos segredos e não quer contar de qualquer jeito com medo de perder a popularidade. É uma mentirosa de carteirinha. – disse.Assustei-me e ao nos liberar eu praticamente tremi com a verdade em suas palavras. O Vinicius estava um pouco machucado, mas não tanto quanto eu, e por isso me levou em seu colo até a minha bicicleta um pouco amassada, deixando-me na garupa.- Segura bem para não cair. – exclamou.Enlacei meu braço em sua cintura e me encostei nele, sentindo seu perfume invadir minhas narinas. Sem falar do cabelo, que ficava cada vez mais desarrumado por conta do vento, deixando-me com vontade de tocá-lo.- É-é... você escutou o que ele disse? &Eacu
– Tenho pegar um livro que emprestei. – dei uma desculpa.– Mas você nem...Nem ouvi sua resposta e corri para a porta que dava para as salas, e ao passar por uma parte do corredor ouvi umas risadas. E ao chegar mais perto notei que era nada menos que Ben e o meu amigo gay.– Pelo jeito estão se entendendo. – intervi.E então sorri por vê-los sem brigar.– Mas se ele me querer eu pego. – comentou ao dar uma piscadela.– Você prometeu que não ia mais insistir. – devolveu.– É porque é tão lindo e meigo que não resisto. – continuou.– Ele tem razão. – concordei.Percebi que neste instante ficou mais vermelho e nervoso.– Obrigado. – sussurrou.– Vai na festa da redatora? – mudei de assunto.Voltou ao normal com essa pergunta.