Acordei de repente com o som da porta do quarto batendo ruidosamente, o barulho ecoando no silêncio da manhã. Meu coração acelerou, e por um momento fiquei desorientada, tentando entender o que havia acontecido. Ao me virar, vi Bernardo parado perto da porta, sua expressão transtornada e tensa, como se estivesse lutando contra uma tempestade interior. Ele olhou rapidamente para o berço de Ian, verificando se o barulho havia acordado nosso filho. Felizmente, Ian continuava dormindo profundamente, alheio a qualquer tumulto.— Desculpa por te acordar — disse Bernardo, sua voz um tanto áspera, como se ele estivesse tentando manter o controle. — Não queria ter batido a porta. —Ele parecia perturbado, e quando meus olhos desceram até suas mãos, meu coração pulou uma batida ao ver uma delas coberta de sangue.— O que aconteceu? — perguntei, alarmada, me levantando da cama rapidamente e indo até ele.Bernardo balançou a cabeça, tentando minimizar a situação.— Foi só um acidente. Não se preoc
O silêncio no quarto parecia pesar a cada minuto que passava. Bernardo tinha me pedido para ficar aqui, e embora eu confiasse nele, não conseguia evitar a inquietação que crescia dentro de mim. Depois de terminar de tomar o café da manhã, alimentei Ian com a papinha especialmente preparada para ele. Mas apesar de eu tentar me distrair, a atmosfera estava carregada de uma tensão que eu não conseguia dissipar, não importa quantas vezes eu tentasse me convencer de que tudo ficaria bem.Com Ian alimentado e satisfeito, comecei a arrumar nossas coisas para irmos embora. O processo de dobrar e organizar roupas normalmente me acalmava, mas hoje, cada peça de roupa que eu dobrava parecia me deixar mais ansiosa. Meus pensamentos estavam em Bernardo. Ele tinha prometido que voltaria logo, mas o tempo estava passando, e ele ainda não havia retornado. A preocupação começou a se infiltrar em meu peito como uma sombra persistente, difícil de ignorar.De repente, ouvi uma batida na porta. Meu coraçã
~BERNARDO~O sol de verão já estava alto no céu quando me dirigi para a praia, onde o bar ainda estava montado desde a noite anterior. O cenário era sereno, com as ondas suaves do mar beijando a areia branca e o céu se tingindo de cores quentes. Mas dentro de mim, uma tempestade se formava, ofuscando toda a beleza ao meu redor. Sabia que Valentina estaria lá, aproveitando o início do dia para tomar sol e, como sempre, cercada de futilidades e conversas vazias com Cíntia, Clarice e outras de nossas primas.Ao me aproximar, vi que minha suposição estava certa. Valentina estava reclinada em uma espreguiçadeira, com um drink na mão, rindo de algo que Cíntia havia dito. Clarice estava ao seu lado, sorrindo de forma condescendente. Não me aproximei muito, sabia que se o fizesse, acabaria perdendo a pouca paciência que ainda me restava. Em vez disso, fiz um sinal com a cabeça para Valentina, indicando que precisava falar com ela.Ela me viu e, após lançar um olhar de curiosidade, levantou-se
O som suave dos pneus deslizando pela estrada e a brisa que entrava pela janela do carro traziam uma sensação de paz que eu precisava desesperadamente. Depois de tudo o que aconteceu na casa dos Orsini, o retorno ao Rio de Janeiro parecia uma fuga necessária. O céu estava limpo, com poucas nuvens, e o sol brilhava, aquecendo levemente o interior do carro. Olhei para Bernardo, que dirigia com uma expressão séria, mas havia algo em seu olhar que me dizia que ele também estava tentando deixar para trás o caos dos últimos dias.Ian estava no banco de trás, entretido com um brinquedo de dinossauro colorido que emitia sons e luzes a cada toque. O som repetitivo e alegre do brinquedo trouxe um sorriso ao meu rosto, desviando meus pensamentos de tudo o que vinha me assombrando.— Parece que alguém está gostando de voltar para casa — comentei, olhando pelo retrovisor para Ian, que parecia completamente alheio aos problemas dos adultos.Bernardo sorriu, um sorriso leve, mas que me aqueceu por d
Enquanto a noite avançava, o silêncio acolhedor do apartamento era quebrado apenas pelo som baixo da televisão, onde um programa qualquer, bobo e despretensioso, passava em segundo plano. Bernardo e eu estávamos enroscados no sofá, abraçados de uma maneira que era ao mesmo tempo confortável e íntima, como se o mundo lá fora não pudesse nos alcançar ali. A luz suave das lâmpadas criava uma atmosfera tranquila, e Ian dormia serenamente no berço ao lado, o leve movimento de sua respiração quase imperceptível, mas reconfortante. Era como se o tempo tivesse desacelerado, permitindo-nos aproveitar cada segundo daquela paz que tanto precisávamos.Bernardo passou o braço ao redor dos meus ombros, me puxando para mais perto, e eu me aconcheguei nele, sentindo o calor de seu corpo e o ritmo estável de sua respiração. Era nesses momentos simples que eu percebia o quanto aqueles instantes cotidianos eram preciosos.— Sabe, acho que gosto mais desse apartamento do que imaginava — ele disse, rompen
Os dias se passaram de forma silenciosa, como se cada um carregasse consigo um peso de nostalgia e expectativa. Bernardo e eu começamos a arrumar as coisas do nosso apartamento, empacotando lembranças e memórias que, de alguma forma, pareciam estar se multiplicando. Cada objeto que eu colocava em uma caixa trazia consigo uma lembrança, uma história. O quadro que pendurei na sala logo depois de me mudar, as canecas que colecionei ao longo dos anos, até mesmo as pequenas imperfeições nas paredes, todas pareciam ter uma importância que eu não tinha percebido antes.Havia algo de melancólico em deixar para trás aquele espaço que, por tanto tempo, havia sido o meu refúgio. Mas eu sabia que essa mudança era necessária, que estava sendo feita por um bem maior. Ainda assim, o nó na minha garganta só apertava cada vez que eu olhava ao redor e via meu apartamento sendo esvaziado.— Tudo bem? — Bernardo perguntou uma noite, enquanto empilhava caixas no canto da sala.Eu sorri, embora a expressão
~BERNARDO~Ao contrário de Alice, que enfrentava seu primeiro dia no novo hospital com uma mistura de ansiedade e determinação, eu não estava nem um pouco ansioso para voltar ao trabalho na Orsini. Sentia um peso no peito, como se cada passo que eu desse em direção ao prédio da empresa estivesse me levando para dentro de uma tempestade que eu não poderia evitar. Havia uma tensão latente no ar, uma sensação de que algo estava prestes a explodir, e eu sabia que seria o alvo principal.Quando cheguei à Orsini, o ambiente me pareceu mais frio do que nunca. O prédio, com suas paredes de vidro e aço, refletia o céu cinzento daquela manhã. As pessoas que cruzavam comigo nos corredores pareciam estar à espreita, com olhares furtivos e cochichos que cessavam abruptamente assim que eu passava. Era como se todos soubessem de algo que eu não sabia, ou pior, que todos estivessem esperando pelo momento certo para me atacar.Entrei no meu escritório e fechei a porta, tentando criar uma barreira físi
~BERNARDO~Valentina estava se provando muito hábil em manipular situações a seu favor, transformando até o menor deslize em uma arma. Mas eu não estava disposto a ceder. Sentia a pressão, a expectativa de todos ao meu redor, mas precisava mostrar que ainda estava no controle. Não era o momento para hesitar, mas sim para demonstrar que eu ainda tinha total domínio sobre a situação, mesmo que por dentro o caos estivesse se instalando.— É exatamente isso que estou fazendo, estou cem por cento focada no sucesso da empresa — Valentina respondeu, com aquele tom de voz suave e quase inocente, que me dava nos nervos. — Mas você anda tão distraído ultimamente, Bernardo, que acabou cometendo um erro gravíssimo no final do ano. Um erro que resultou em um rombo financeiro significativo para a Orsini.Minha respiração ficou presa na garganta por um momento. Antes que eu pudesse processar completamente o que ela estava dizendo, Valentina estendeu um dossiê em minha direção, como se estivesse ofer