Capítulo 3

Acordei com o som suave de risadas e gorgolejos vindo do berço improvisado ao lado da minha cama. Ian, o pequeno enigma que havia virado minha vida de cabeça para baixo, estava acordado e pronto para enfrentar o dia. Sentei-me na cama, sentindo o cansaço das últimas noites mal dormidas, mas também uma onda de carinho ao ver seu rosto sorridente.

— Bom dia, pequeno — murmurei, pegando-o nos braços. Seus olhinhos curiosos me observaram enquanto eu o balançava levemente.

Jonas ainda estava dormindo no sofá da sala, exausto depois de tanto reclamar que Ian não parava de chorar e que não conseguia ficar no quarto com a gente. Tivemos uma breve briga na qual o mandei para casa, mas o sofá acabou sendo um bom meio termo. Levantei-me com cuidado para não o acordar e levei Ian para a cozinha. Precisávamos de um café da manhã reforçado.

Coloquei Ian no cercadinho que havia improvisado com almofadas no chão e comecei a preparar algo para nós. Ian me observava com seus olhos grandes, balbuciando palavras incompreensíveis que me faziam rir.

— Vamos ver se consigo fazer isso direito, pequeno — disse, colocando leite no fogão. Mas, antes que percebesse, o leite começou a ferver e transbordou, criando uma pequena bagunça.

— Ah, não! — exclamei, rindo da minha própria desorganização. Peguei um pano e limpei a bagunça rapidamente, enquanto Ian ria de mim.

Depois de preparar uma mamadeira para ele e um café para mim, sentei-me ao seu lado no chão. Um tanto desajeitada, o apoiei em mim e segurei a mamadeira para ele, que começou a mamar, me olhando de vez em quando com aqueles olhos que pareciam ver tudo.

Jonas apareceu na porta da cozinha, parecendo irritado e cansado.

— Alice, isso está ficando ridículo. Precisamos devolver esse bebê. Isso não é problema nosso.

Suspirei, sentindo a tensão crescer.

— Jonas, já falamos sobre isso. Não vou simplesmente devolver Ian. Ele precisa de mim.

Ele se aproximou, sua expressão severa.

— Ele está atrapalhando nossa vida, Alice. Sua carreira, nossa relação... tudo está sendo prejudicado por essa criança.

Levantei-me, segurando Ian no colo.

— Eu não vou simplesmente entregá-lo para um desconhecido qualquer! Pelo menos comigo eu sei que ele está sendo bem cuidado... Pelo menos... Pelo menos por enquanto.

Jonas balançou a cabeça, frustrado.

— Isso é loucura. Você está colocando tudo a perder por uma coisa que nem sabemos se é verdade.

Apertei Ian um pouco mais forte, sentindo a raiva crescer dentro de mim.

— E se for verdade? O que faremos, Jonas? Não posso ignorar isso.

Eu finalmente tinha contado a ele das minhas suspeitas com relação a clínica de fertilização a qual recorri há anos e como Bernardo também se encaixava nessa história. Mas ele tinha descartado a ideia tão facilmente quanto alguém descarta o papel de um chocolate antes de comê-lo, insistindo na ideia de que tudo não passava de uma piada de muito mal gosto.

Ele suspirou, passando a mão pelo cabelo. E ignorando o que ele sabia que eu estava perguntando: ele iria fazer parte disso comigo? Iria querer Ian na vida dele como se fosse seu filho também? Porque se fossemos morar juntos, se fossemos ficar juntos, eu precisava dessas respostas que ele não estava disposto a me dar.  Mas tudo o que Jonas fez foi murmurou algo, claramente irritado, e sair da cozinha.

Passei o resto da manhã tentando entender a dinâmica de cuidar de um bebê. Cada tarefa era um novo desafio. Assisti vários vídeos na internet tentando aprender coisas que provavelmente mães tinham nove meses para se preparar. Mas eu não tive. Tentei trocar a fralda de Ian, mas ele começou a se contorcer e, antes que eu percebesse, havia me dado um banho de xixi.

— Ai, Ian! — exclamei, rindo enquanto limpava a bagunça. — Você realmente sabe como se divertir, não é?

Apesar dos pequenos desastres, estava gostando de cada momento. Era como se Ian estivesse trazendo de volta para minha vida um tipo de alegria que eu tinha perdido a muito tempo.

— Você é um presentinho, sabia? — murmurei, segurando Ian em meus braços. Seus olhinhos brilhavam de curiosidade, e ele balbuciava sons adoráveis que aqueciam meu coração.

Sentei-me no tapete da sala com Ian e comecei a conversar com ele, mesmo sabendo que ele não entendia exatamente o que eu estava dizendo. Era reconfortante falar e sentir que, de alguma forma, ele estava me ouvindo.

— Ian, hoje vamos conhecer seu possível papai — comecei, sorrindo para ele. — Não me entenda mal, viu, não é como se eu não soubesse quem é o seu pai porque estava ficando com mais de um cara enquanto namoro o Jonas — ri. —  Bernardo é um homem muito inteligente, sabia? Ele é muito importante no mundo da tecnologia. Fez coisas incríveis, que eu nem consigo entender direito.

Ian me olhou com aqueles grandes olhos curiosos, balbuciando algo que soou como uma risada. Isso me fez rir também.

— E sabe, ele também é muito bonito — continuei, tocando levemente no nariz de Ian. — Ele tem olhos bonitos como os seus e um sorriso encantador. Você vai gostar dele, eu acho.

Ian gargalhou, balançando os bracinhos, como se entendesse cada palavra. O som de sua risada encheu a sala e meu coração de alegria.

— Sei lá, é tudo tão louco. Mas ele parecia empolgado em te conhecer. Talvez ele possa ser um bom pai para você. Quem sabe ele não acabe sendo um bom amigo para mim também? — brinquei, sentindo meu rosto aquecer com a possibilidade.

Estava tão envolvida na conversa que não percebi quando Jonas voltou à sala. Ele só pegaria mais tarde no hospital, então tinha aproveitado para dormir mais um pouco. Jonas parou na porta, olhando para nós com uma expressão indecifrável.

— Parece que você está bem animada para encontrar o Orsini — disse ele, a voz carregada de uma leve irritação.

Senti meu rosto corar de vergonha ao perceber que ele poderia ter ouvido minha empolgação.

— Eu estava só conversando com Ian. Tentando me preparar para o que está por vir.

— Como se ele entendesse... — Ele balançou a cabeça e revirou os olhos. — Não demore muito com o Orsini. Quero jantar com você hoje à noite, a gente precisa de um momento. Dê um jeito de deixar o bebê com alguém.

Suspirei, sentindo a frustração crescer dentro de mim.

— Claro, vou ver o que posso fazer.

Jonas saiu da sala, deixando um clima pesado no ar. Fiquei olhando para Ian, tentando absorver tudo. Estava começando a questionar se Jonas realmente fazia sentido na nova fase da minha vida. Ele não parecia entender a importância de Ian para mim e estava cada vez mais irritado.

Peguei Ian nos braços novamente e dei um beijo em sua testa.

— Vamos lá, pequeno. Vamos descobrir como fazer tudo isso funcionar. Vamos conhecer seu papai.

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