Capítulo 4

Respirei fundo antes de entrar no suntuoso Hotel Milani. Nunca me senti tão deslocada na minha vida. Cada detalhe, desde o lustre de cristal até os funcionários impecavelmente vestidos, exalava uma elegância que parecia um mundo à parte do meu. Os lustres pendiam do teto como cascatas de diamantes, refletindo a luz de maneira encantadora. Sentindo o peso do olhar curioso de alguns hóspedes, empurrei o carrinho de Ian, tentando ignorar o desconforto que crescia dentro de mim.

Cada passo que eu dava parecia ecoar nos corredores decorados com mármore polido e tapetes exuberantes. A grandiosidade do lugar me fazia sentir ainda mais fora de contexto. Os olhares dos funcionários impecavelmente vestidos eram educados, mas inevitavelmente curiosos, como se não conseguissem entender o que uma pessoa como eu fazia ali. Ou talvez fosse só impressão. Dirigi-me à recepção, onde uma recepcionista sorriu de maneira educada.

— Boa tarde. Tenho uma reunião marcada com o senhor Bernardo Orsini.

Ela assentiu e verificou rapidamente em seu sistema.

— Claro, senhorita Bianchi. O senhor Orsini está aguardando no quarto 501. O elevador está à sua esquerda.

Agradeci, tentando manter a voz firme, e segui em direção ao elevador. O chão de mármore brilhava impecável sob os meus pés, e as paredes eram decoradas com obras de arte que eu jamais conseguiria decifrar. O cheiro de flores frescas invadia meus sentidos, aumentando a minha sensação de inadequação. Quando as portas se fecharam, uma sensação de náusea me invadiu. Será que isso era mesmo uma boa ideia? E se Jonas estivesse certo e eu fosse acusada de querer tirar proveito da situação?

Finalmente, as portas se abriram no quinto andar e eu saí, empurrando o carrinho de Ian pelo luxuoso corredor até o quarto 501. O corredor era decorado com obras de arte e tapetes que pareciam tão caros quanto confortáveis. Cada passo ecoava levemente, ressaltando o silêncio quase reverente do lugar. Parei em frente à porta, respirei fundo mais uma vez e bati suavemente. A porta se abriu quase que imediatamente, revelando Bernardo com uma expressão que oscilava entre a expectativa e a dúvida.

— Alice, entre — disse ele, dando um passo para trás para nos deixar passar.

Empurrei o carrinho de Ian para dentro, sentindo meu coração acelerar. O quarto era tão elegante quanto o resto do hotel, decorado com móveis de alta qualidade e uma vista deslumbrante do mar através de janelas do chão ao teto. Havia uma leve fragrância adocicada, e o som suave da música clássica tocava ao fundo. O ambiente era acolhedor, mas intimidante ao mesmo tempo, com seu luxo opulento. Bernardo estava ali, vestido casualmente, mas ainda assim exalando aquela aura de poder que o acompanhava.

Ele olhou para Ian e parou, como se o tempo tivesse congelado. Ian, deitado no carrinho, olhou curiosamente para Bernardo também, seus grandes olhos brilhando com inocência. Bernardo se ajoelhou lentamente, aproximando-se do carrinho.

— Ele... ele tem meus olhos — murmurou, visivelmente abalado. Seus olhos azuis estavam fixos nos de Ian, que refletiam a mesma cor intensa.

Senti um nó se formar na minha garganta.

— Eu sei. É difícil negar, não é?

Bernardo ficou ali, em silêncio, observando cada detalhe do pequeno rosto de Ian. Seus olhos se encheram de uma emoção que ele parecia estar lutando para controlar. Vi a mão dele tremendo levemente quando ele a estendeu para tocar a mãozinha de Ian. Os dedos de Bernardo roçaram levemente a mãozinha de Ian, como se temesse que o toque pudesse quebrar aquele momento frágil e precioso. Finalmente, ele se levantou e olhou para mim.

— Precisamos fazer um exame de DNA — disse ele, com a voz firme, mas com um leve tremor que traía sua insegurança. — Precisamos ter certeza.

Assenti, tentando manter a calma.

— Concordo. E se der positivo, precisamos formalizar a certidão de nascimento de Ian.

Bernardo franziu o cenho, a defensiva imediatamente tomando conta de sua expressão, enquanto refletia brevemente sobre minhas palavras.

— Isso é muito conveniente para você, não acha? Formalizar a certidão de nascimento... você conseguiria uma pensão enorme.

A acusação me atingiu como um soco no estômago. Minha visão ficou turva e o pânico começou a tomar conta.

— Você acha que eu tenho algo a ver com isso? — Minha voz saiu tremida, quase inaudível.

— Você é médica — diz, quase como se me acusando daquilo. — Pesquisei sobre você. E você também teria como pesquisar sobre mim facilmente. Você sabia o que eu fiz seis anos atrás. Seria fácil...

— CALA A BOCA! — Grito. — Tudo o que eu menos queria no momento era ser mãe! Isso está atrapalhando minha carreira! Já faltei dois dias seguidos, e isso vai pesar na mudança de cargo que estou esperando! — Minhas mãos tremiam descontroladamente e comecei a hiperventilar. As lágrimas escorriam pelo meu rosto enquanto minha voz ficava cada vez mais desesperada. — Eu não estou fazendo isso por dinheiro! Eu só... eu só quero entender o que está acontecendo! E enquanto isso você quer que eu faça o quê? Entregue essa criança para o conselho tutelar? Quer que ele vá parar em um orfanato? Em um lugar pior?

Bernardo ficou atordoado por um momento, claramente surpreso com minha reação. Ele se aproximou, hesitante, e colocou as mãos nos meus ombros.

— Alice, calma. Eu... eu sinto muito. Não queria insinuar que você está atrás do meu dinheiro.

— Não queria? Porque foi exatamente o que você fez!

Eu soluçava descontroladamente, incapaz de controlar minhas emoções. Até aquele momento eu ainda não tinha me dado conta do quanto estava assustada com toda aquela situação, mas eu estava.

Bernardo me puxou para um abraço, seus braços fortes me envolvendo de uma maneira surpreendentemente reconfortante. Lentamente, comecei a me acalmar, meus soluços diminuindo gradualmente. O calor do corpo dele era estranho e reconfortante ao mesmo tempo. Senti a textura do tecido da camisa dele contra meu rosto, e o cheiro leve de sua colônia era quase tranquilizante.

— Eu só... — continuei, minha voz um sussurro. — Eu só... Eu não sei o que fazer. Se essa criança... Se ele realmente for meu filho... Eu não sei o que fazer. Só quero o melhor para ele. Mas... Mas ao mesmo tempo, eu...

Bernardo me soltou, mas manteve as mãos nos meus ombros, olhando nos meus olhos com uma intensidade que me fez tremer.

— Vamos fazer o exame de DNA e, se ele for meu filho... nosso filho... vamos resolver isso da melhor maneira possível.

Ian, sentado no carrinho, começou a balbuciar e bater as mãozinhas, chamando nossa atenção. Bernardo e eu nos viramos para ele, e um sorriso involuntário surgiu em meus lábios. Ian era tão inocente e alheio a toda a confusão ao seu redor.

— Olha só, ele quer participar da conversa — disse Bernardo, rindo levemente, sua expressão suavizando.

Ian continuou a bater as mãozinhas, um sorriso encantador em seu pequeno rosto. Aquele momento de leveza parecia aliviar um pouco a tensão no ar. Bernardo se aproximou do carrinho e pegou Ian no colo, levantando-o com cuidado. Ian riu, estendendo as mãozinhas para tocar o rosto de Bernardo.

— Ei, campeão — disse ele suavemente, olhando nos olhos de Ian. — Vamos cuidar de você, ok?

Observei Bernardo segurando Ian com tanto cuidado e ternura. Meu coração disparou, e uma onda inesperada de emoções me atingiu. Ver aquele homem, de quem eu apenas me lembrava como sendo um garoto babaca, demonstrar tanta delicadeza e carinho despertou algo profundo dentro de mim. Era como se, naquele momento, toda a tensão se dissolvesse, deixando uma conexão inesperada e intensa entre nós. Senti uma atração avassaladora, uma força que me puxava para ele, desejando entender mais sobre quem Bernardo Orsini realmente era. Desejando estar em seus braços novamente.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo