Quando Bernardo abriu a porta de vidro que levava ao terraço, no terceiro andar do triplex, fui recebida por uma brisa fresca que trouxe consigo o cheiro salgado do mar. O terraço era enorme, com uma piscina infinita que parecia se fundir com o horizonte. Havia espreguiçadeiras confortáveis e um bar elegante, tudo rodeado por plantas verdes que davam um toque de natureza ao ambiente luxuoso.— Uau! Este lugar é incrível — murmurei, admirada.— Fico feliz que tenha gostado — respondeu Bernardo, seu sorriso suave.Começamos a caminhar pelo terraço, retomando a conversa que havíamos começado no almoço.— Então, Alice, você ainda não me contou por que escolheu medicina — disse ele, olhando para mim com curiosidade.Suspirei, lembrando-me das dificuldades que enfrentei.— Sempre quis ajudar as pessoas — respondi, sorrindo levemente. — Quando eu era pequena, houve um incidente que... foi bobeira, mas... Sabe quando algo te marca? Nós tínhamos ido visitar meus avós no sítio deles no interior
A noite chegou trazendo uma sensação de cansaço físico e psicológico de ter que encarar um dia tão atípico para mim. Depois do beijo inesperado e intenso na piscina, havia um leve desconforto entre Bernardo e eu. Tentávamos manter a conversa casual, mas a tensão estava ali, como um elefante na sala.Em certo ponto, levei Ian para o quarto e o coloquei no berço. Comecei a cantar uma canção de ninar para ele. Enquanto ele começava a fechar os olhos, eu aproveitava para refletir sobre tudo o que tinha acontecido.Pouco depois, ouvi um choro vindo do berço. Ian estava acordado novamente e parecia inconsolável. Tentei acalmá-lo de todas as formas que sabia, mas ele continuava chorando. Meu coração se apertou, e comecei a sentir o desespero tomar conta.— O que foi, meu amor? Eu estou aqui! Você está limpinho, já comeu e...Foi então que Bernardo apareceu na porta do quarto, parecendo tão preocupado quanto eu. Fiquei surpresa ao vê-lo ali tão rápido.— Como você soube? — perguntei, tentando
~BERNARDO~Acordei na manhã seguinte com a luz do sol entrando pelas enormes janelas do quarto. Espreguicei-me lentamente, sentindo uma leve dor na lombar pela noite dormida no sofá. Tinha valido a pena.Levantei-me e caminhei até a área da cama. O espaço estava silencioso, e percebi que Alice e Ian já tinham saído. Foi só quando reparei em uma mensagem de Alice no meu telefone: "Bom dia! Encontre-me na cozinha".Curioso e levemente intrigado, vesti minha camiseta e fui até a cozinha. Ao entrar, a cena que encontrei me fez sorrir. Alice estava completamente às avessas, tentando lidar com as várias máquinas modernas que compunham minha cozinha. Ela parecia perdida entre botões e instruções, enquanto uma máquina de suco parecia prestes a explodir.— Bom dia, Alice. Tudo bem por aqui? — perguntei, segurando o riso.Ela olhou para mim com um sorriso exasperado.— Seria mais fácil espremer laranjas na mão, sabia? Quem precisa de tanta tecnologia assim?Ian, sentado no carrinho em um canto
O restante do domingo passou entre risos e responsabilidades, como se estivéssemos vivendo uma realidade paralela onde Bernardo e eu formávamos uma equipe natural e eficiente. Entre trocas de fraldas, mamadeiras e cochilos interrompidos por Ian, descobríamos um ritmo próprio. A cada momento compartilhado, sentíamos a crescente intimidade que se formava entre nós.Foi durante uma dessas trocas de fraldas que eu me dei conta de como a vida havia mudado drasticamente em tão pouco tempo. Bernardo, normalmente tão sério e controlado, agora fazia caretas engraçadas para Ian, arrancando risadas gostosas do bebê. Eu observava, encantada, enquanto ele lidava com as fraldas com uma habilidade recém-adquirida de quem — como ele mesmo me disse — passou horas assistindo vídeos sobre o assunto na internet. Era uma visão surreal e reconfortante ao mesmo tempo. Ver Bernardo, um homem tão poderoso e reservado, se dedicando com tanto carinho a Ian me enchia de uma admiração que eu não conseguia express
Fechei a porta atrás de nós e coloquei Ian no berço improvisado na sala. Ele ainda estava chorando, então me agachei ao lado dele, tentando acalmá-lo com palavras suaves.— Shhh, está tudo bem, meu amor. Mamãe está aqui. Está tudo bem.Minha mente estava a mil, preocupada com o choro de Ian e a condição de Bernardo. Cada segundo parecia uma eternidade enquanto tentava lidar com a situação.Voltei minha atenção para Bernardo, que estava sentado no sofá, pressionando um lenço contra os ferimentos. As manchas de sangue no lenço me fizeram tremer.— Deixe-me ver — pedi, sentando-me ao lado dele.Bernardo hesitou por um momento, mas então começou a desabotoar a camisa. Ajudei-o a tirar a peça de roupa, tentando ser o mais profissional possível, lembrando a mim mesma que eu era médica e que tinha visto muitos ferimentos antes. No entanto, quando seus músculos definidos ficaram expostos, senti uma onda de desejo incontrolável. Meu coração acelerou, e minha respiração ficou um pouco mais rápi
~BERNARDO~Acordei antes do sol nascer, o sono interrompido pela expectativa do dia que me aguardava. Peguei meu celular e mandei uma mensagem para minha secretária avisando que iria me atrasar:"Bom dia, Cláudia. Vou me atrasar um pouco hoje, reorganize minha agenda. Preciso ir ao Hospital São Lucas para um check-up. Avisa a equipe e me mantenha informado sobre qualquer urgência. Obrigado."Finalmente levantei-me e segui o cheiro do café. Encontrei Alice já acordada, na cozinha, preparando Ian para o dia. Ela parecia tranquila, mas eu sabia que estava preocupada com tudo o que aconteceu na noite anterior. Seus olhos mostravam uma determinação silenciosa, como se ela quisesse garantir que tudo ficasse bem.— Pronta para o hospital? — perguntei, tentando manter o tom leve.— Sim. Vamos deixar Ian na creche primeiro — respondeu ela, sorrindo. — E você, está pronto?Ela tinha um leve sorriso nos lábios, provocativo. Claramente não deixando passar o fato de que eu tinha vestido a camisa d
~BERNARDO~As sirenes de polícia já eram visíveis ao me aproximar do hospital, piscando freneticamente. A cena era caótica, com jornalistas, policiais e curiosos se amontoando em frente ao prédio. Estacionei o carro de qualquer maneira e corri em direção à entrada, apenas para ser bloqueado por um policial.— Senhor, não pode entrar. O hospital está em lockdown — disse ele, firmemente.— Minha... — Parei apenar por um segundo tentando compreender: o que Alice era minha? — A mãe do meu filho está lá dentro. Ela é médica — expliquei, tentando manter a calma.O policial me olhou com simpatia, mas balançou a cabeça.— Sinto muito, senhor. Estamos fazendo o possível para resolver a situação e garantir a segurança de todos.Tentei argumentar, mas não havia nada que eu pudesse fazer. Fiquei parado ali, impotente, observando a movimentação frenética enquanto minha mente voltava repetidamente para Alice. As palavras de Cláudia ecoavam em minha cabeça: reféns, caos, invasão.Peguei o celular e
Desde o momento em que fui forçada a entrar na sala de cirurgia, minha mente estava um turbilhão de pensamentos e emoções. O medo era esmagador, mas tinha que ser controlado. As armas apontadas para mim e os olhares ameaçadores dos homens armados e mascarados faziam meu coração bater em um ritmo frenético. Eu me perguntava se sairia viva dali, se veria minha família e Ian novamente. Mas no fundo, sabia que precisava manter a calma e usar todo o meu conhecimento e habilidade para salvar aquela vida. Cada segundo contava, e o erro não era uma opção. Era uma situação de vida ou morte, não só para o paciente, mas para mim e todos ali presentes.O ambiente na sala de cirurgia estava impregnado de tensão. O líder da gangue, um homem corpulento com tatuagens intimidantes, estava deitado na mesa de operações, inconsciente e gravemente ferido. Uma troca de tiros com rivais, pelo que entendi. Ao meu redor, homens armados mantinham seus olhos fixos em mim, prontos para agir ao menor sinal de pro