O hospital escolhido por Bernardo era um dos mais renomados da cidade. Ao entrar, fiquei impressionada com a modernidade e a eficiência do lugar. Era claro que ele não tinha medido esforços para garantir que o exame de DNA fosse realizado nas melhores condições possíveis. As paredes de mármore brilhavam com um luxo que parecia inatingível, e tudo ao redor exalava uma atmosfera de perfeição clínica. Eu teria preferido ter feito o exame no hospital onde trabalhava, mas também não queria dar motivos para Bernardo desconfiar que eu poderia manipular o resultado de alguma forma, devido aos meus contatos.
Jonas tinha se oferecido para me acompanhar, mas antes eu não tivesse aceitado. Ele estava visivelmente tenso e agitado, seus passos rápidos e gestos nervosos revelando sua irritação. Podia sentir o calor de seu desconforto irradiar.
— Eu ainda não acredito que você está levando isso a sério, Alice — disse, tentando manter a voz baixa, mas o tom de desdém era inconfundível. — Já deveríamos ter nos livrado desse bebê chorão.
Senti um aperto no coração ao ouvir aquelas palavras. Apesar de toda a confusão, eu estava me apegando a Ian, que descansava tranquilo no carrinho próximo a gente. Ele era mais do que apenas um fardo inesperado, ele era um ser humano frágil e inocente.
— Jonas, ele é só um bebê — respondi, tentando manter a calma. — E se for meu filho de verdade? Não posso simplesmente ignorar isso.
Jonas revirou os olhos, a frustração evidente em seu rosto.
— Você está se prejudicando, Alice. Já faltou vários dias no trabalho por causa disso. E aquela nova função que você tanto queria? Não vai conseguir!
Suspirei, sentindo a exaustão mental e emocional se acumularem. Era verdade, eu estava sacrificando muito, mas sentia que era algo que precisava ser feito.
— Eu sei, mas posso recuperar o tempo perdido assim que resolver as coisas. Isso é importante demais para ignorar.
Jonas balançou a cabeça, claramente desaprovando minha determinação.
— Só espero que saiba o que está fazendo.
O procedimento para o exame foi rápido. As amostras foram coletadas e encaminhadas para análise. Os profissionais do hospital eram eficientes e não demoraram mais do que alguns minutos para concluir a coleta.
Quando estávamos prestes a sair do hospital, avistei Bernardo se aproximando. Tentei ignorá-lo e continuei andando, mas ele interceptou nosso caminho, um sorriso confiante nos lábios. Seu andar era decidido, e ele exalava uma confiança que parecia dominar qualquer ambiente.
— Alice — disse ele, sua voz suave e envolvente. — E aí, garotão? — Se abaixou rapidamente para cumprimentar Ian no carrinho. — Vejo que já cuidou de tudo.
Fiquei sem graça com a intensidade de seu olhar, mas tratei de manter a compostura.
— Sim, está feito. Agora é só esperar.
Bernardo olhou para mim com um brilho malicioso nos olhos.
— Sabe, Alice, você fica ainda mais bonita quando está determinada. — Ele deu um passo à frente, invadindo meu espaço pessoal. — Eu não consegui parar de pensar em você desde a última vez em que nos vimos.
Antes que eu pudesse responder, Jonas, visivelmente irritado, deu um passo à frente, posicionando-se ao meu lado.
— E quem é este? — Bernardo perguntou, voltando seu olhar para Jonas.
— Este é Jonas, meu namorado — respondi rapidamente, sentindo a tensão aumentar. Jonas se aproximou mais de mim, envolveu-me com um braço em um gesto possessivo, como se quisesse marcar seu território.
— Ah, namorado — repetiu Bernardo, com um tom levemente provocativo. — Que sorte a sua, Jonas. Alice realmente sabe escolher bem.
Jonas apertou minha cintura um pouco mais forte.
— Sim, somos muito felizes juntos. E você, Bernardo, como está lidando com toda essa situação?
O sorriso de Bernardo não vacilou.
— Estou lidando como posso. Claro, é um pouco complicado, mas nada que Alice e eu não possamos resolver.
A tensão no ar era pesada. Tentei amenizar a situação, mas os dois homens estavam claramente em um confronto silencioso. Era como se cada palavra fosse um movimento em um jogo de xadrez, onde cada um tentava mostrar o quanto mais dominante era.
— Bem, foi bom vê-lo, Bernardo. Temos que ir agora — disse, tentando encerrar a conversa.
Bernardo, no entanto, não parecia disposto a deixar a situação passar.
— Mal posso esperar pelo resultado do exame, Alice. E, claro, para ver você e nosso filho novamente.
Jonas franziu o cenho, visivelmente irritado.
— Não vai ser necessário quando esse exame der negativo.
Bernardo deu um passo à frente, seu olhar fixo em mim.
— Claro, claro... A não ser que você queira.
O tom de sua voz, embora educado, era claramente uma provocação. Senti minhas bochechas corarem e dei um passo para trás, tentando manter a calma.
— Até logo, Bernardo — disse, tentando soar firme.
Enquanto Jonas e eu nos afastávamos, pude sentir os olhos de Bernardo em mim, e o calor daquela troca de palavras ainda queimava em minha mente. A presença dele, seus olhares e sorrisos, e a situação em si estavam começando a me afetar mais do que eu gostaria de admitir.
Jonas estava furioso.
— Não acredito na audácia desse cara! Ele acha que pode simplesmente aparecer e se meter na nossa vida?
Suspirei, tentando processar tudo.
— Ele só está confuso, Jonas, assim como eu. Vamos esperar os resultados e resolver isso da melhor maneira possível.
Ele parou, virando-se para me olhar diretamente nos olhos.
— Alice, eu estou com você, mas você precisa decidir o que é mais importante. Sua carreira e nossa relação ou essa confusão toda.
Assenti, sabendo que ele tinha razão, mas ao mesmo tempo sentindo que havia mais em jogo do que qualquer um de nós podia prever. Eu tinha sido jogado no meio de algo pelo qual não pedi, pelo qual não desejava, mas... Isso estava fazendo eu me perguntar o quanto eu realmente desejava todo o resto.
— É claro que eu vou priorizar a gente e a minha carreira... — respondi, mas as palavras não me soaram verdadeiras.
Normalmente os dias no hospital eram bem intensos, mas hoje estava particularmente agitado. Aparentemente tinha acontecido um acidente de trânsito grave perto dali, o que resultou em corredores repletos de pacientes, médicos e enfermeiras se movendo de um lado para o outro. Eu mal tive tempo de respirar entre um atendimento e outro. Cada segundo contava, e a pressão era constante. Estava no meio de uma avaliação de um paciente quando o alarme do pronto-socorro soou, indicando mais um caso urgente.— Alice, precisamos de você na sala de emergência! — gritou uma das enfermeiras.Corri até lá, colocando minha máscara e luvas rapidamente. Uma mulher idosa estava tendo uma crise respiratória grave. A equipe já estava a postos, esperando por mim. Trabalhamos juntos para estabilizá-la, administrando medicamentos e monitorando seus sinais vitais. Após um período tenso, finalmente conseguimos estabilizá-la.— Bom trabalho, pessoal — disse, sentindo o alívio misturado ao cansaço. — Vamos mantê-
Fiquei parada por alguns segundos, tentando processar as palavras de Bernardo. "Alice, vou providenciar para que você e Ian se mudem para o meu apartamento. E também vamos nos casar." Aquelas palavras ecoavam na minha mente, cada sílaba parecendo mais absurda que a anterior. Quando finalmente consegui me mover, vi Bernardo se afastando pelo corredor, suas costas retas e postura confiante.— Belas costas... — murmurei enquanto mordia o lábio inferior, me perdendo por um segundo. — Merda, foco Alice!O corredor parecia se estender infinitamente enquanto eu corria atrás dele, meu coração martelando no peito. As paredes brancas do hospital, os rostos desconhecidos e a iluminação fria criavam um ambiente surreal, quase opressivo. Cada passo que dava em direção a Bernardo parecia me afastar mais da realidade que conhecia.— Bernardo! — chamei, minha voz tremendo levemente. Quando ele finalmente parou e se virou para me olhar, sua expressão impassível e os olhos brilhando com determinação me
Sorri para Liz através da parede de vidro que nos separava, enquanto eu observada a sala calma, cheia de berços. Alguns deles com crianças tranquilas que pareciam aproveitar o momento para dormir. Eu tinha a sorte de minha irmã mais velha trabalhar como cuidadora em uma creche, assim ela havia conseguido uma vaga para Ian, sem problemas, e eu ainda tinha a segurança de ter a pessoa mais responsável do mundo cuidado dele enquanto eu estava trabalhando.Ela fez um sinal para que eu esperasse por um momento e trocou algumas palavras breves com uma das outras cuidadoras, saindo discretamente da sala logo em seguida. Seguimos juntas até a cozinha onde ela preparou duas canecas de café fumegante.— Então, Alice — começou Liz, servindo-nos com alguns biscoitos. — Quero ouvir essa história direito. Como assim você vai passar o fim de semana com o tal Bernardo?Suspirei, mexendo no café com a colher.— É uma longa história, Liz. Tudo começou quando recebi aquela cesta com Ian...Liz assentiu, j
Entrei no hospital, ainda sentindo o peso da conversa com Liz. Precisava falar com Jonas, esclarecer algumas coisas e tentar entender o que realmente sentia. Minha mente estava uma confusão de pensamentos, e o ar pesado do hospital parecia amplificar meu estado emocional.— Você viu o Jonas? — perguntei a uma das enfermeiras na recepção.Ela olhou para a tela do computador e assentiu.— Sim, ele está na salinha de descanso.Agradeci e caminhei em direção à sala. Minhas mãos estavam suadas, e meu coração batia mais rápido a cada passo que dava. Quando cheguei à porta, ouvi vozes abafadas. Puxei a maçaneta devagar, tentando não fazer barulho, e entreabri a porta.O que vi me deixou paralisada. Jonas estava sentado no sofá, e Clarice estava ao seu lado, rindo e tocando o braço dele de forma íntima. Em troca, ele acariciava seus cabelos. Não havia nada explícito, mas o jeito como ela olhava para ele e a proximidade dos dois me fez sentir uma pontada de traição. Senti meu estômago revirar.
Quando o fim de semana finalmente chegou, eu estava parada na entrada do prédio luxuoso onde Bernardo morava. O porteiro me cumprimentou com um sorriso formal e me indicou o caminho até o elevador privativo. Eu nunca tinha visto um lugar tão opulento. O mármore brilhante, os lustres de cristal e as obras de arte nas paredes davam ao lugar uma sensação de grandeza que me deixava desconfortável.Chegando ao andar do triplex, fui recebida por uma funcionária impecavelmente vestida, que se apresentou como Marta. Ela sorriu educadamente e nos levou até o interior do apartamento. Fiquei impressionada com cada detalhe. Era um triplex gigante e superchique, com uma vista panorâmica do mar que parecia tirada de um filme. As janelas do chão ao teto permitiam que a luz do sol iluminasse cada canto da sala de estar decorada com móveis de design.— Bem-vinda, senhorita Bianchi — disse Marta, com um sorriso suave. — Vou levá-la ao quarto.Seguimos Marta escadas acima, e um outro funcionário logo tra
Depois de deixar Ian no quarto com a babá, desci para encontrar Bernardo na sala de jantar. Quando entrei, fui recebida por uma visão que parecia saída de um filme. A mesa estava posta com uma elegância impecável, digna de um restaurante três estrelas Michelin. Havia velas acesas, flores frescas e uma seleção de pratos requintados que me deixaram sem palavras.— Uau — murmurei, sentindo-me um pouco deslocada naquele cenário de luxo. — Você realmente não poupou esforços.Bernardo sorriu, levantando-se para puxar a cadeira para mim.— Quero que se sinta à vontade aqui. E achei que um bom almoço poderia ajudar.Sentei-me, ainda deslumbrada com a atenção aos detalhes.— Bom, você definitivamente conseguiu causar uma impressão.Ele se sentou à minha frente, pegando uma taça de vinho e oferecendo uma para mim.— Saúde, Alice. A novas experiências e novas possibilidades.Toquei minha taça na dele, sorrindo.— Saúde.Rapidamente o silêncio se abateu sobre nós. Desconcertada, me peguei brincan
Quando Bernardo abriu a porta de vidro que levava ao terraço, no terceiro andar do triplex, fui recebida por uma brisa fresca que trouxe consigo o cheiro salgado do mar. O terraço era enorme, com uma piscina infinita que parecia se fundir com o horizonte. Havia espreguiçadeiras confortáveis e um bar elegante, tudo rodeado por plantas verdes que davam um toque de natureza ao ambiente luxuoso.— Uau! Este lugar é incrível — murmurei, admirada.— Fico feliz que tenha gostado — respondeu Bernardo, seu sorriso suave.Começamos a caminhar pelo terraço, retomando a conversa que havíamos começado no almoço.— Então, Alice, você ainda não me contou por que escolheu medicina — disse ele, olhando para mim com curiosidade.Suspirei, lembrando-me das dificuldades que enfrentei.— Sempre quis ajudar as pessoas — respondi, sorrindo levemente. — Quando eu era pequena, houve um incidente que... foi bobeira, mas... Sabe quando algo te marca? Nós tínhamos ido visitar meus avós no sítio deles no interior
A noite chegou trazendo uma sensação de cansaço físico e psicológico de ter que encarar um dia tão atípico para mim. Depois do beijo inesperado e intenso na piscina, havia um leve desconforto entre Bernardo e eu. Tentávamos manter a conversa casual, mas a tensão estava ali, como um elefante na sala.Em certo ponto, levei Ian para o quarto e o coloquei no berço. Comecei a cantar uma canção de ninar para ele. Enquanto ele começava a fechar os olhos, eu aproveitava para refletir sobre tudo o que tinha acontecido.Pouco depois, ouvi um choro vindo do berço. Ian estava acordado novamente e parecia inconsolável. Tentei acalmá-lo de todas as formas que sabia, mas ele continuava chorando. Meu coração se apertou, e comecei a sentir o desespero tomar conta.— O que foi, meu amor? Eu estou aqui! Você está limpinho, já comeu e...Foi então que Bernardo apareceu na porta do quarto, parecendo tão preocupado quanto eu. Fiquei surpresa ao vê-lo ali tão rápido.— Como você soube? — perguntei, tentando