Normalmente os dias no hospital eram bem intensos, mas hoje estava particularmente agitado. Aparentemente tinha acontecido um acidente de trânsito grave perto dali, o que resultou em corredores repletos de pacientes, médicos e enfermeiras se movendo de um lado para o outro. Eu mal tive tempo de respirar entre um atendimento e outro. Cada segundo contava, e a pressão era constante. Estava no meio de uma avaliação de um paciente quando o alarme do pronto-socorro soou, indicando mais um caso urgente.— Alice, precisamos de você na sala de emergência! — gritou uma das enfermeiras.Corri até lá, colocando minha máscara e luvas rapidamente. Uma mulher idosa estava tendo uma crise respiratória grave. A equipe já estava a postos, esperando por mim. Trabalhamos juntos para estabilizá-la, administrando medicamentos e monitorando seus sinais vitais. Após um período tenso, finalmente conseguimos estabilizá-la.— Bom trabalho, pessoal — disse, sentindo o alívio misturado ao cansaço. — Vamos mantê-
Fiquei parada por alguns segundos, tentando processar as palavras de Bernardo. "Alice, vou providenciar para que você e Ian se mudem para o meu apartamento. E também vamos nos casar." Aquelas palavras ecoavam na minha mente, cada sílaba parecendo mais absurda que a anterior. Quando finalmente consegui me mover, vi Bernardo se afastando pelo corredor, suas costas retas e postura confiante.— Belas costas... — murmurei enquanto mordia o lábio inferior, me perdendo por um segundo. — Merda, foco Alice!O corredor parecia se estender infinitamente enquanto eu corria atrás dele, meu coração martelando no peito. As paredes brancas do hospital, os rostos desconhecidos e a iluminação fria criavam um ambiente surreal, quase opressivo. Cada passo que dava em direção a Bernardo parecia me afastar mais da realidade que conhecia.— Bernardo! — chamei, minha voz tremendo levemente. Quando ele finalmente parou e se virou para me olhar, sua expressão impassível e os olhos brilhando com determinação me
Sorri para Liz através da parede de vidro que nos separava, enquanto eu observada a sala calma, cheia de berços. Alguns deles com crianças tranquilas que pareciam aproveitar o momento para dormir. Eu tinha a sorte de minha irmã mais velha trabalhar como cuidadora em uma creche, assim ela havia conseguido uma vaga para Ian, sem problemas, e eu ainda tinha a segurança de ter a pessoa mais responsável do mundo cuidado dele enquanto eu estava trabalhando.Ela fez um sinal para que eu esperasse por um momento e trocou algumas palavras breves com uma das outras cuidadoras, saindo discretamente da sala logo em seguida. Seguimos juntas até a cozinha onde ela preparou duas canecas de café fumegante.— Então, Alice — começou Liz, servindo-nos com alguns biscoitos. — Quero ouvir essa história direito. Como assim você vai passar o fim de semana com o tal Bernardo?Suspirei, mexendo no café com a colher.— É uma longa história, Liz. Tudo começou quando recebi aquela cesta com Ian...Liz assentiu,
Entrei no hospital, ainda sentindo o peso da conversa com Liz. Precisava falar com Jonas, esclarecer algumas coisas e tentar entender o que realmente sentia. Minha mente estava uma confusão de pensamentos, e o ar pesado do hospital parecia amplificar meu estado emocional.— Você viu o Jonas? — perguntei a uma das enfermeiras na recepção.Ela olhou para a tela do computador e assentiu.— Sim, ele está na salinha de descanso.Agradeci e caminhei em direção à sala. Minhas mãos estavam suadas, e meu coração batia mais rápido a cada passo que dava. Quando cheguei à porta, ouvi vozes abafadas. Puxei a maçaneta devagar, tentando não fazer barulho, e entreabri a porta.O que vi me deixou paralisada. Jonas estava sentado no sofá, e Clarice estava ao seu lado, rindo e tocando o braço dele de forma íntima. Em troca, ele acariciava seus cabelos. Não havia nada explícito, mas o jeito como ela olhava para ele e a proximidade dos dois me fez sentir uma pontada de traição. Senti meu estômago revirar.
Quando o fim de semana finalmente chegou, eu estava parada na entrada do prédio luxuoso onde Bernardo morava. O porteiro me cumprimentou com um sorriso formal e me indicou o caminho até o elevador privativo. Eu nunca tinha visto um lugar tão opulento. O mármore brilhante, os lustres de cristal e as obras de arte nas paredes davam ao lugar uma sensação de grandeza que me deixava desconfortável.Chegando ao andar do triplex, fui recebida por uma funcionária impecavelmente vestida, que se apresentou como Marta. Ela sorriu educadamente e nos levou até o interior do apartamento. Fiquei impressionada com cada detalhe. Era um triplex gigante e superchique, com uma vista panorâmica do mar que parecia tirada de um filme. As janelas do chão ao teto permitiam que a luz do sol iluminasse cada canto da sala de estar decorada com móveis de design.— Bem-vinda, senhorita Bianchi — disse Marta, com um sorriso suave. — Vou levá-la ao quarto.Seguimos Marta escadas acima, e um outro funcionário logo tr
Depois de deixar Ian no quarto com a babá, desci para encontrar Bernardo na sala de jantar. Quando entrei, fui recebida por uma visão que parecia saída de um filme. A mesa estava posta com uma elegância impecável, digna de um restaurante três estrelas Michelin. Havia velas acesas, flores frescas e uma seleção de pratos requintados que me deixaram sem palavras.— Uau — murmurei, sentindo-me um pouco deslocada naquele cenário de luxo. — Você realmente não poupou esforços.Bernardo sorriu, levantando-se para puxar a cadeira para mim.— Quero que se sinta à vontade aqui. E achei que um bom almoço poderia ajudar.Sentei-me, ainda deslumbrada com a atenção aos detalhes.— Bom, você definitivamente conseguiu causar uma impressão.Ele se sentou à minha frente, pegando uma taça de vinho e oferecendo uma para mim.— Saúde, Alice. A novas experiências e novas possibilidades.Toquei minha taça na dele, sorrindo.— Saúde.Rapidamente o silêncio se abateu sobre nós. Desconcertada, me peguei brincan
Quando Bernardo abriu a porta de vidro que levava ao terraço, no terceiro andar do triplex, fui recebida por uma brisa fresca que trouxe consigo o cheiro salgado do mar. O terraço era enorme, com uma piscina infinita que parecia se fundir com o horizonte. Havia espreguiçadeiras confortáveis e um bar elegante, tudo rodeado por plantas verdes que davam um toque de natureza ao ambiente luxuoso.— Uau! Este lugar é incrível — murmurei, admirada.— Fico feliz que tenha gostado — respondeu Bernardo, seu sorriso suave.Começamos a caminhar pelo terraço, retomando a conversa que havíamos começado no almoço.— Então, Alice, você ainda não me contou por que escolheu medicina — disse ele, olhando para mim com curiosidade.Suspirei, lembrando-me das dificuldades que enfrentei.— Sempre quis ajudar as pessoas — respondi, sorrindo levemente. — Quando eu era pequena, houve um incidente que... foi bobeira, mas... Sabe quando algo te marca? Nós tínhamos ido visitar meus avós no sítio deles no interior
A noite chegou trazendo uma sensação de cansaço físico e psicológico de ter que encarar um dia tão atípico para mim. Depois do beijo inesperado e intenso na piscina, havia um leve desconforto entre Bernardo e eu. Tentávamos manter a conversa casual, mas a tensão estava ali, como um elefante na sala.Em certo ponto, levei Ian para o quarto e o coloquei no berço. Comecei a cantar uma canção de ninar para ele. Enquanto ele começava a fechar os olhos, eu aproveitava para refletir sobre tudo o que tinha acontecido.Pouco depois, ouvi um choro vindo do berço. Ian estava acordado novamente e parecia inconsolável. Tentei acalmá-lo de todas as formas que sabia, mas ele continuava chorando. Meu coração se apertou, e comecei a sentir o desespero tomar conta.— O que foi, meu amor? Eu estou aqui! Você está limpinho, já comeu e...Foi então que Bernardo apareceu na porta do quarto, parecendo tão preocupado quanto eu. Fiquei surpresa ao vê-lo ali tão rápido.— Como você soube? — perguntei, tentando