Acordei com a determinação de enfrentar Bernardo Orsini e descobrir a verdade sobre Ian. Após uma noite mal dormida, meus pensamentos estavam a mil, mas a necessidade de respostas era mais forte do que o cansaço. Pedi que minha irmã cuidasse do bebê, mesmo sem dar muitas explicações, e sai de casa bem cedinho. Eu sabia que seria difícil conseguir falar com um bilionário famoso e CEO de uma das maiores empresas de tecnologia do país, mas não tinha escolha.
Cheguei ao imponente prédio da Orsini Tech, uma estrutura de vidro e aço que se erguia majestosa no centro da cidade. Do lado de fora, o movimento era constante, com pessoas entrando e saindo, todas com expressões sérias e focadas. Respirei fundo e entrei, meu coração batendo acelerado.
O saguão era impressionante, com paredes de vidro que permitiam a entrada de luz natural, plantas exuberantes e uma fonte moderna no centro. A recepção era minimalista, com balcões de atendimento futuristas e robôs bonitos e ágeis circulando, entregando documentos e orientando visitantes.
Dirigi-me à recepcionista, uma mulher elegante e bem-vestida que parecia combinar perfeitamente com o ambiente high-tech.
— Bom dia. Meu nome é Alice Bianchi. Eu preciso falar com o senhor Bernardo Orsini, por favor — disse, tentando soar confiante.
A recepcionista olhou para mim com um sorriso polido.
— O senhor Orsini está com a agenda cheia. Você tem um horário marcado?
— Não, mas é uma emergência. Preciso muito falar com ele — respondi, meu tom implorando por compreensão.
Ela digitou algo em seu tablet e balançou a cabeça.
— Infelizmente, não temos horários disponíveis. A próxima vaga é daqui há dois meses. Gostaria de agendar?
Dois meses? Eu não podia esperar tanto. Precisava falar com ele hoje. Olhei ao redor, tentando pensar em uma solução. Foi então que notei os robôs de serviço, quase invisíveis na sua eficiência. Uma ideia maluca começou a tomar forma na minha mente.
— Tudo bem, obrigada — disse à recepcionista, saindo da linha de frente, mas sem deixar o saguão.
Enquanto observava os robôs, percebi que eles tinham acesso a todas as áreas do prédio. Se eu pudesse me esconder em um deles... não, isso seria loucura. Ou talvez não. Precisava ser criativa. Disfarçadamente, aproximei-me de um dos robôs que parecia carregar uma bandeja de café e pães de queijo. Com um rápido movimento, agachei-me e me escondi atrás dele, esperando que ninguém notasse minha presença.
O robô começou a se mover, e eu o segui de perto, mantendo-me abaixada. O prédio era um verdadeiro labirinto de tecnologia, com paredes interativas exibindo gráficos e dados, além de salas de reunião com portas transparentes que se opacavam ao toque. Passei por um laboratório onde drones estavam sendo testados e por uma área de descanso que parecia saída de um filme de ficção científica, com cápsulas de descanso e jogos de realidade virtual.
Finalmente, o robô parou em frente a um elevador exclusivo para a diretoria. Esperei que as portas se abrissem e, aproveitando a distração de um grupo de funcionários que saía, entrei no elevador. A cabine subiu suavemente, e eu esperei com o coração na garganta.
As portas se abriram em um andar que claramente era reservado para a alta administração. O ambiente era luxuoso, com móveis de design moderno e uma vista panorâmica da cidade. Vi uma placa indicando a direção do escritório de Bernardo Orsini e me movi rapidamente antes que alguém pudesse me notar.
Cheguei à porta do escritório dele, uma entrada imponente com seu nome gravado em uma placa dourada. Respirei fundo e bati na porta, tentando me preparar para o que viria a seguir. Uma voz firme e autoritária respondeu de dentro.
— Entre.
Empurrei a porta e entrei. Bernardo Orsini estava sentado atrás de uma mesa enorme, rodeado por telas holográficas que exibiam gráficos e relatórios. Ele levantou os olhos para mim, claramente surpreso.
Eu não estava tão surpresa. Lembrava-me perfeitamente do garoto babaca, seis anos atrás, na clínica de fertilidade. Jamais seria capaz de esquecer aqueles olhos azuis profundos e penetrantes, mesmo durante todas as vezes que os vi apenas por fotos nos anos seguintes.
— Quem é você e como entrou aqui? — Perguntou, sua voz fria e controlada. Antes que eu pudesse responder, ele franziu o cenho e seus olhos se arregalaram levemente, reconhecendo-me. Um sorriso malicioso surgiu em seus lábios. — Eu me lembro de você. A garota da clínica de fertilidade. — Ele se recostou na cadeira, seus olhos brilhando de interesse. — Sabia que eventualmente todas acabam voltando para mim, mesmo depois de anos. Aposto que veio dizer que nunca esqueceu a nossa "primeira vez”.
Senti meu rosto queimar de raiva e constrangimento.
— Isso não é uma brincadeira — disse, tentando manter a calma. — Eu preciso falar com você sobre algo muito sério. Sobre Ian.
— Quem é Ian?
Deslizei o bilhete pela mesa em direção a ele.
— Sou eu quem deveria fazer essa pergunta.
Bernardo pegou o bilhete, leu rapidamente e franziu a testa.
— Isso é algum tipo de piada?
— Não, senhor Orsini. Eu realmente não sei o que está acontecendo, mas preciso de respostas — respondi, tentando manter a calma.
Ele ficou em silêncio por um momento, ainda segurando o bilhete. Finalmente, levantou-se e veio até mim, sua expressão séria.
— Tudo bem, er... — ele tentava buscar meu nome pela memória.
— Alice Bianchi.
— Comece me contando tudo o que sabe, Alice — disse, desconversando, claramente ainda sem acreditar na situação.
O escritório de Bernardo era um ambiente impressionante, com janelas do chão ao teto oferecendo uma vista deslumbrante da cidade. As paredes estavam adornadas com arte moderna e prateleiras cheias de livros e objetos de design. A tecnologia era onipresente, desde a mesa de trabalho até as telas holográficas que não paravam de exibir gráficos e mais gráficos.
Mesmo sem um convite, sentei-me, tentando acalmar os nervos.
— Eu estava voltando para casa ontem à noite quando encontrei uma cesta na minha porta. Dentro estava um bebê, Ian, junto com este bilhete. — Repeti a história, sentindo a tensão aumentar a cada palavra.
— E você achou que seria mais adequado invadir o meu escritório ao invés de procurar o conselho tutelar ou a polícia para lidar com essa piada?
— Como pode ter tanta certeza de que é uma piada?
— Você não saberia se fosse mãe, senhorita Bianchi? — Ele pergunta, sua voz carregada de sarcasmo. — Quero dizer, toda a parte da gestação deve ser memorável, não? A parte que vem antes com certeza é bem divertida. Eu me lembraria dessa, se tivéssemos compartilhado.
— Se sua memória é assim tão boa, senhor Orsini, talvez se lembre se uma aposta idiota que fez com seus amigos onde doou seu esperma! — Acuso.
— Isso foi há anos! — Ele baixa a voz, como se desesperado que alguém pudesse ouvir.
— Eles podem manter nossos... materiais... congelados por anos!
— Mas era só para alguns estudos... — ele tenta refutar novamente.
— Bom, parabéns! Parece que o resultado do nosso estudo tem seis meses e se chama Ian!
Acordei com o som suave de risadas e gorgolejos vindo do berço improvisado ao lado da minha cama. Ian, o pequeno enigma que havia virado minha vida de cabeça para baixo, estava acordado e pronto para enfrentar o dia. Sentei-me na cama, sentindo o cansaço das últimas noites mal dormidas, mas também uma onda de carinho ao ver seu rosto sorridente.— Bom dia, pequeno — murmurei, pegando-o nos braços. Seus olhinhos curiosos me observaram enquanto eu o balançava levemente.Jonas ainda estava dormindo no sofá da sala, exausto depois de tanto reclamar que Ian não parava de chorar e que não conseguia ficar no quarto com a gente. Tivemos uma breve briga na qual o mandei para casa, mas o sofá acabou sendo um bom meio termo. Levantei-me com cuidado para não o acordar e levei Ian para a cozinha. Precisávamos de um café da manhã reforçado.Coloquei Ian no cercadinho que havia improvisado com almofadas no chão e comecei a preparar algo para nós. Ian me observava com seus olhos grandes, balbuciando
Respirei fundo antes de entrar no suntuoso Hotel Milani. Nunca me senti tão deslocada na minha vida. Cada detalhe, desde o lustre de cristal até os funcionários impecavelmente vestidos, exalava uma elegância que parecia um mundo à parte do meu. Os lustres pendiam do teto como cascatas de diamantes, refletindo a luz de maneira encantadora. Sentindo o peso do olhar curioso de alguns hóspedes, empurrei o carrinho de Ian, tentando ignorar o desconforto que crescia dentro de mim.Cada passo que eu dava parecia ecoar nos corredores decorados com mármore polido e tapetes exuberantes. A grandiosidade do lugar me fazia sentir ainda mais fora de contexto. Os olhares dos funcionários impecavelmente vestidos eram educados, mas inevitavelmente curiosos, como se não conseguissem entender o que uma pessoa como eu fazia ali. Ou talvez fosse só impressão. Dirigi-me à recepção, onde uma recepcionista sorriu de maneira educada.— Boa tarde. Tenho uma reunião marcada com o senhor Bernardo Orsini.Ela ass
O hospital escolhido por Bernardo era um dos mais renomados da cidade. Ao entrar, fiquei impressionada com a modernidade e a eficiência do lugar. Era claro que ele não tinha medido esforços para garantir que o exame de DNA fosse realizado nas melhores condições possíveis. As paredes de mármore brilhavam com um luxo que parecia inatingível, e tudo ao redor exalava uma atmosfera de perfeição clínica. Eu teria preferido ter feito o exame no hospital onde trabalhava, mas também não queria dar motivos para Bernardo desconfiar que eu poderia manipular o resultado de alguma forma, devido aos meus contatos.Jonas tinha se oferecido para me acompanhar, mas antes eu não tivesse aceitado. Ele estava visivelmente tenso e agitado, seus passos rápidos e gestos nervosos revelando sua irritação. Podia sentir o calor de seu desconforto irradiar.— Eu ainda não acredito que você está levando isso a sério, Alice — disse, tentando manter a voz baixa, mas o tom de desdém era inconfundível. — Já deveríamos
Normalmente os dias no hospital eram bem intensos, mas hoje estava particularmente agitado. Aparentemente tinha acontecido um acidente de trânsito grave perto dali, o que resultou em corredores repletos de pacientes, médicos e enfermeiras se movendo de um lado para o outro. Eu mal tive tempo de respirar entre um atendimento e outro. Cada segundo contava, e a pressão era constante. Estava no meio de uma avaliação de um paciente quando o alarme do pronto-socorro soou, indicando mais um caso urgente.— Alice, precisamos de você na sala de emergência! — gritou uma das enfermeiras.Corri até lá, colocando minha máscara e luvas rapidamente. Uma mulher idosa estava tendo uma crise respiratória grave. A equipe já estava a postos, esperando por mim. Trabalhamos juntos para estabilizá-la, administrando medicamentos e monitorando seus sinais vitais. Após um período tenso, finalmente conseguimos estabilizá-la.— Bom trabalho, pessoal — disse, sentindo o alívio misturado ao cansaço. — Vamos mantê-
Fiquei parada por alguns segundos, tentando processar as palavras de Bernardo. "Alice, vou providenciar para que você e Ian se mudem para o meu apartamento. E também vamos nos casar." Aquelas palavras ecoavam na minha mente, cada sílaba parecendo mais absurda que a anterior. Quando finalmente consegui me mover, vi Bernardo se afastando pelo corredor, suas costas retas e postura confiante.— Belas costas... — murmurei enquanto mordia o lábio inferior, me perdendo por um segundo. — Merda, foco Alice!O corredor parecia se estender infinitamente enquanto eu corria atrás dele, meu coração martelando no peito. As paredes brancas do hospital, os rostos desconhecidos e a iluminação fria criavam um ambiente surreal, quase opressivo. Cada passo que dava em direção a Bernardo parecia me afastar mais da realidade que conhecia.— Bernardo! — chamei, minha voz tremendo levemente. Quando ele finalmente parou e se virou para me olhar, sua expressão impassível e os olhos brilhando com determinação me
Sorri para Liz através da parede de vidro que nos separava, enquanto eu observada a sala calma, cheia de berços. Alguns deles com crianças tranquilas que pareciam aproveitar o momento para dormir. Eu tinha a sorte de minha irmã mais velha trabalhar como cuidadora em uma creche, assim ela havia conseguido uma vaga para Ian, sem problemas, e eu ainda tinha a segurança de ter a pessoa mais responsável do mundo cuidado dele enquanto eu estava trabalhando.Ela fez um sinal para que eu esperasse por um momento e trocou algumas palavras breves com uma das outras cuidadoras, saindo discretamente da sala logo em seguida. Seguimos juntas até a cozinha onde ela preparou duas canecas de café fumegante.— Então, Alice — começou Liz, servindo-nos com alguns biscoitos. — Quero ouvir essa história direito. Como assim você vai passar o fim de semana com o tal Bernardo?Suspirei, mexendo no café com a colher.— É uma longa história, Liz. Tudo começou quando recebi aquela cesta com Ian...Liz assentiu, j
Entrei no hospital, ainda sentindo o peso da conversa com Liz. Precisava falar com Jonas, esclarecer algumas coisas e tentar entender o que realmente sentia. Minha mente estava uma confusão de pensamentos, e o ar pesado do hospital parecia amplificar meu estado emocional.— Você viu o Jonas? — perguntei a uma das enfermeiras na recepção.Ela olhou para a tela do computador e assentiu.— Sim, ele está na salinha de descanso.Agradeci e caminhei em direção à sala. Minhas mãos estavam suadas, e meu coração batia mais rápido a cada passo que dava. Quando cheguei à porta, ouvi vozes abafadas. Puxei a maçaneta devagar, tentando não fazer barulho, e entreabri a porta.O que vi me deixou paralisada. Jonas estava sentado no sofá, e Clarice estava ao seu lado, rindo e tocando o braço dele de forma íntima. Em troca, ele acariciava seus cabelos. Não havia nada explícito, mas o jeito como ela olhava para ele e a proximidade dos dois me fez sentir uma pontada de traição. Senti meu estômago revirar.
Quando o fim de semana finalmente chegou, eu estava parada na entrada do prédio luxuoso onde Bernardo morava. O porteiro me cumprimentou com um sorriso formal e me indicou o caminho até o elevador privativo. Eu nunca tinha visto um lugar tão opulento. O mármore brilhante, os lustres de cristal e as obras de arte nas paredes davam ao lugar uma sensação de grandeza que me deixava desconfortável.Chegando ao andar do triplex, fui recebida por uma funcionária impecavelmente vestida, que se apresentou como Marta. Ela sorriu educadamente e nos levou até o interior do apartamento. Fiquei impressionada com cada detalhe. Era um triplex gigante e superchique, com uma vista panorâmica do mar que parecia tirada de um filme. As janelas do chão ao teto permitiam que a luz do sol iluminasse cada canto da sala de estar decorada com móveis de design.— Bem-vinda, senhorita Bianchi — disse Marta, com um sorriso suave. — Vou levá-la ao quarto.Seguimos Marta escadas acima, e um outro funcionário logo tra