Apesar de não estar realmente prestando atenção na palavras de Isabel enquanto ela fazia planos para sua festa de aniversário, Jamie sorria e concordava com tudo que a mãe dizia durante o desejum. Não importava para ele o quanto ela gastaria, desde que estivesse feliz, e pelo jeito isso incluía que ele permanecesse em casa nas próximas horas, fosse para provar seu traje ou para opinar se ela assim o desejasse, mesmo que ele afirmasse que Lyanna era, com certeza, mais capaz do que ele quando se tratava de organização de eventos, o que lhe rendeu um breve sorriso da jovem que parecia anotar mentalmente cada detalhe que a mãe falava sobre a decoração.
A irmã era para Jaime, sua maior responsabilidade, pois mal havia completado dez anos quando foi ao quarto dos pais levar um desenho para o então enfermo Thomas Jordan Bennet, e o encontrou morto. Jamie lembrava com pesar que mesmo depois de ter voltado para casa, Lyanna passou semanas sem dizer uma única palavra. Foram meses até que ela voltasse a falar, mais de um ano para que saísse de casa, e ele tinha certeza, se estivesse ali, seria ele à encontrar o pai e não Lyanna.
― Francamente, Jamie William Bennet ― ele ouviu a voz da mãe que o olhava como se tivesse lha dito algum absurdo, o que era impossível já que ela estava presa em um monólogo naquela manhã agradável ― não ouviu uma palavra do que eu disse!
― Perdoem-me ― ele olhou para a mãe, e sorriu ― mas, como já lhe disse não sou a pessoa indicada para opinar em certos detalhes, mamãe, e tenho certeza que a senhora terá uma linda celebração dos seus cinquenta anos.
― Essa sua distração me preocupa ― ela disse depois de bebericar o chá ― ao menos resolveu o caso do invasor?
― Invasor? ― Jamie olhou com curiosidade da mãe para a irmã, já imaginando que teria que lidar com algum meliante, saqueador que poderia estar ameaçando a segurança de Dorffwest Rise.
― O Sr. Harrison não lhe contou? ― perguntou Lyanna.
― Parece que há alguém entrando na propriedade por onde eram as terras dos Smith, com certa frequência pelo que estamos sabendo ― Isabel explicou, com certo tom de preocupação que alertou Jamie.
― E porque não fui informado? ― ele perguntou, levantando-se e seguindo para seu escritório atrás de David Harrison, seu secretário, e homem de confiança, com Lyanna e Isabel logo atrás dele.
Ele continuava usando o escritório que um dia foi ocupado pelo pai, apesar de ter feito algumas mudanças, mas a antiga mesa em madeira de lei, e as confortáveis e luxuosas cadeiras, o tapete persa e as poltronas de couro continuavam lá. Havia uma janela da onde podia-se ver árvores e o gramado bem cuidado, e uma mesa maior para eventuais reuniões, além de uma lareira. Ao ver o Duque entrar apressado, o Sr. Harrison cumprimentou-o, e ouviu perguntas sobre o suposto invasor, e tranquilizou-o afirmando que já havia enviado homens para tentar encurralar o tal invasor e trazê-lo a presença de Jamie.
― Não ― disse ele se dirigindo a um outro cômodo da casa, dessa vez seu secretário também o seguia sem entender o porque de sua recusa.
― Perdão, milorde, não sei se entendi, devo cancelar a busca pelo invasor? ― Sr. Harrison perguntou enquanto olhava ao redor percebendo onde estavam, era a sala onde o Duque anterior, pai de Jamie mantinha sua coleção de armas.
― Você não está pensando ... ― Isabel olhava enquanto o filho carregava o rifle Winchester 44 ― Jamie, não!
― Não posso permitir que seja lá quem for se sinta à vontade em entrar em nossa propriedade, mãe ― ele então voltou-se para o Sr. Harrison que ajeitava os óculos nervoso com a possibilidade de que o Duque saísse armado para enfrentar sabe-se lá quem ― O que está havendo que ainda não cercaram os limites das terras? As comprei à quase dois meses.
― As chuvas, milorde, creio que nas últimas semanas impossibilitou os homens de terminar o trabalho.
― Parece que o tempo deve manter-se firme, façam isso com urgência ― disse o Duque enquanto dizia para uma criada para que preparassem seu cavalo ― agora vamos dar a esse invasor boas vindas no estilo Dorffwest ― ele sorriu de canto, saindo determinado para o estábulo.
Ele seguiu para onde seus empregados disseram ter visto o tal invasor passando, segundo eles próximo à um pequeno riacho, que ficava onde antes eram terras dos Smith. Ninguém havia visto de fato que tivesse adentrado mais do que isso a propriedade, o que ele achava no mínimo estranho, mas segundo seus relatos, se não chovia o invasor era visto por lá. Enquanto cavalgava, sentia a brisa da manhã e pensava em como aquele dia seria diferente se o pai estivesse vivo, talvez ele próprio já tivesse surpreendido o tal inconveniente que persistia em aparecer em suas terras sem ser convidado. Escondeu -se entre as árvores e olhou cuidadosamente ao redor, e para sua satisfação não demorou muito para que visse a figura que usava uma capa que a tornava incógnita embaixo do tecido aveludado. Já havia carregado o rifle, não tinha a intenção de atirar para matar, mas o sujeito não se atreveria a passar por ali novamente, e quando chegou próximo do riacho, o Duque atirou, acertando mais perto do que realmente tinha intenção. Controlou seu cavalo enquanto o outro disparou por entre árvores e alguns metros depois, encontrou o outro cavaleiro no chão. De cima do cavalo, Jamie observou a cena, uma voz feminina praguejando mais palavrões do que já havia ouvido uma mulher dizer em algum ambiente que não fosse tão indigno quanto suas palavras. Ela revirou os olhos e pode ouvi-la respirar fundo enquanto apeava.
― Mas o que temos aqui? ― Jamie colocou-se sobre um dos joelhos, ainda segurando a arma, e afastou o capuz para poder olhar melhor com quem falava, deparando-se com olhos castanhos intensos e lábios rosados cheios.
Mechas do cabelo levemente cacheado soltaram-se aos poucos do coque improvisado, eram longos e ele podia sentir o perfume delicioso que vinha dela. Ele estreitou os olhos tentando entender o que aquela linda jovem fazia ali, já que pelo que fora informado tratava-se de um invasor, a quem todos estavam temendo e alguns já estavam até acreditado que houvesse algo de sobrenatural em suas aparições já que ele nunca ultrapassava o riacho. Aquela garota mais lhe parecia uma fada, do que um invasor.
― Quem é você? ― ela perguntou com certa impaciência, já que ela parecia considerar o que fazer com ela, não lhe parecia realmente perigoso, mas estava armado, e aquilo a assustava.
― Consegue levantar? ― ele estendeu a mão, e ela aceitou sua ajuda. Em pé ela ainda não parecia ameaçadora, sua altura mal chegava ao seu ombro. Reparou que havia arranhões, e que muito provável a capa que ela usava tivesse ficado presa à algum galho enquanto o cavalo seguia desabalado, rasgando inclusive a camisa que ela usava, deixando a mostra parte de seu corselete ― Preciso que me acompanhe, senhorita...
― Emma ― ela disse, tentando cobrir-se, puxando a capa ― e porque eu deveria, eu nem sequer conheço o senhor.
― Deveria me acompanhar porque não me lembro de tê-la convidado para passeios em minhas terras, senhorita Emma. Permita-me que me apresente, sou o Duque de Dorffwest.
Emma sentiu as mãos fortes do Duque de Dorffwest erguendo-a do chão e colocando-a sobre a montaria sem qualquer dificuldade, e montar em seguida, enquanto ela passava a perna esquerda por cima do animal. Sentiu o corpo dele atrás do seu e um ligeiro constrangimento ao se ver cercada pelos braços daquele homem que lhe parecia perigoso e muito arrogante. Tinham avançado poucos metros de onde ele a tinha encurralado e viu outros homens se aproximando, também armados, olhando para ela com certa desconfiança. Não podia ver, mas tinha certeza que a expressão do Duque colocou-os em seus devidos lugares antes que qualquer um tivesse a infeliz ideia de lhe fazer um gracejo. Eles haviam contrariado suas ordens quando ouviram o tiro, pensando que poderia estar ferido, o homem apenas
Jamie interrompeu seu momento com Emma ao ouvir insistentes batidas na porta e aguardou que ela ajeitasse os cabelos e se sentasse em uma das poltronas antes de abrir a porta, e para sua surpresa, havia um Smith bem na sua frente. Não que conhecesse o rapaz, que não parecia ter mais que vinte anos, mas pelas sardas e cabelo castanho claro, o mesmo nariz fino e olhar que demonstrava certa prepotência do irmão mais velho, que agora cuidava dos recursos da família. O jovem empertigou-se diante de Jamie, e este notou que seu secretário e mais dois homens que pareciam não esconder o tédio que o rapaz causava a eles.― Milorde, o Sr. Smit
Quando Emma se viu diante da mansão Dorffwest novamente, pensou que mesmo que tivesse a intenção de voltar lá algum dia, não esperava que fosse tão rápido. Podia ouvir o burburinho animado enquanto acompanhava a avó, perguntando-se o quanto a anfitriã gostaria de vê-la por ali depois que ligasse seu nome aos acontecimentos do dia anterior. Porque não tinha dúvidas de que ela estava à par de tudo que havia acontecido. A avó ouvira seu relato quase em silêncio, se não fossem pelas expressões, horas divertidas, acompanhadas de um riso discreto, horas confusa antes de algo como "hum..."ou "Santo Deus, Emma!" No entanto, ela lhe garantia que Lady Isabel era uma mulher bastante ponderada e que também tinha um excelent
Jamie estava entretido com um agradável grupo de senhoritas, mas não deixou de notar os olhares de Kathrine em sua direção. Era uma tortura vê-la ao lado de Peter, mas definitivamente não era seguro ficar perto dela. E além do mais, não devia a ela fidelidade, aliás não devia nada. Entre uma bebida e outra, algumas insinuações veladas e flertes descarados notou que Emma estava novamente no seu campo de visão.Não pode deixar de notar quando ela chegou à Dorffwest, seria quase impossível diante do quanto ela lhe pareceu incomparável diante de
O Duque trocava algumas palavras com Richard Elington quando viu que Peter e sua esposa se aproximavam de Isabel. Tentava ignorar que falavam sobre o quanto Kat estava bonita, e como Peter parecia envaidecer-se disso enquanto olhava apaixonado para a esposa. Pensou que ao menos havia alguma beleza naquele casal. Peter não era exatamente belo, mas era o tipo sonhador e romântico que costumava encantar as mulheres com suas boas maneiras, solicitude e cavalheirismo. O mais jovem dos Lawson não tinha vocação para os negócios da família, e tornou-se professor, pelo que ouvia falar, excelente. Não dava a Kathrine o mesmo padrão de vida ao qual ela foi acostumada na casa dos pais, mas ao menos em público a impressão que davam era que viviam bem e continuavam apaixon
Emma estava sentada ao lado de Claire e entre um bebericar e outro de chá sorria e concordava com a amiga sobre o cavalheiro que havia demonstrado interesse por ela. Claire, a irmã gêmea de Alex, só tinha em comum com ele alguns traços e os olhos claros. Enquanto o irmão era dissimulado e esnobe, a jovem era conhecida pela discrição e gentileza. Por alguma razão, e Emma desconfiava que tivesse relação com seus irmãos, ela parecia aflita com a chance de fazer como que o interesse virasse de fato uma chance real de compromisso. Emma pensava que talvez fosse somente ela que não se preocupasse com cortejos, ao menos não mais, há algum tempo atrás talvez estivesse tão ou mais esperançosa quanto a amiga, mas de algum
A tarde estava nublada, e a a brisa gelada que fez com que Emma ajeitasse o mantelete azul de veludo sobre o bonito vestido amarelo-claro. Os cabelos negros estavam presos na parte de cima envolvidos por uma trança enquanto os cachos caiam em cascata pelas costas. A avó sorriu em aprovação quando a viu deixando-a intrigada, achava que a Sra. Clarke estava lhe escondendo algo e enquanto a carruagem parava em frente a mansão Dorffwest decidiu que o que quer que fosse agora não era sua prioridade. Intimamente, torcia para que Jamie não estivesse ali, mesmo sabendo que isso seria improvável, como aquele convite, sua avó havia lhe dito, não era do tipo que se recusava, pensou que o melhor a fazer era aceitar sem reclamar que iria vê-lo mais uma vez. Emma não respondeu. Apenas olhou silenciosa para Jamie, tentando entender o porque daquele inesperado convite, porque podia de fato distrair-se olhando para ele, estremecer ao escutar sua voz, e quem diria, ela, Emma Beatrice Lowell corava perto daquele homem. Mal se reconhecia. Poderia estar enfeitiçada pelos olhos azuis do Duque, mas não era surda, ele havia dito claramente a palavra “favor”.— E porque eu estaria lhe fazendo um favor, milorde?Ele pensou por um momento, havia vários motivos, no c9