Emma estava sentada ao lado de Claire e entre um bebericar e outro de chá sorria e concordava com a amiga sobre o cavalheiro que havia demonstrado interesse por ela. Claire, a irmã gêmea de Alex, só tinha em comum com ele alguns traços e os olhos claros. Enquanto o irmão era dissimulado e esnobe, a jovem era conhecida pela discrição e gentileza. Por alguma razão, e Emma desconfiava que tivesse relação com seus irmãos, ela parecia aflita com a chance de fazer como que o interesse virasse de fato uma chance real de compromisso. Emma pensava que talvez fosse somente ela que não se preocupasse com cortejos, ao menos não mais, há algum tempo atrás talvez estivesse tão ou mais esperançosa quanto a amiga, mas de alguma forma havia conseguido superar e o passado para ela havia ficado para trás.
― Estou deixando-a entediada ― disse Claire, de repente colocando a xícara sobre o pires.
― Não, não está ― Emma sorriu para a amiga, aproximando-se dela no sofá ― estou apenas pensando que achei o Sr. Blackwell muito bem-apessoado e que certamente ele deverá encontrá-la nesse evento que você pretende ir.
Não lembraria à qual deles ela se referia, uma vez que ela havia falado quase sem parar sobre o quanto eram importantes. Como não conhecia nenhuma daquelas pessoas, achava que não entenderia e dificilmente seria convidada. Era um dos motivos que mais apreciava quando passava algum tempo com a avó, nunca ficava tempo o suficiente para ser tão conhecida que pudesse ser considerada para determinadas ocasiões, mas tinha tempo o suficiente para que tivesse saudades de casa e da sua vida na América. Logo que retornasse, seus dias voltariam à sua rotina normal, suas aulas de piano, sua caminhada até o consultório do pai com quem voltava conversando animadamente. Os cafés enquanto escrevia e a mãe bordava, numa silenciosa e agradável companhia.
― Mas você certamente irá, não? ― Claire perguntou, os olhos curiosos pareciam ter cintilado e um risinho travesso enfeitou-lhe os lábios ― afinal o Duque de Dorffwest e a senhorita pareciam dançar no mesmo ritmo...
― Hum... claro que não, Claire, que ideia! ― Emma sentiu que corava diante da especulação da outra.
― Bom, é o que estão comentando ― disse Claire, baixando um pouco mais o tom, como se quisesse contar à Emma algum segredo ― que você parece ter encantado o Duque.
Apenas riu divertida, pensando que talvez ele não fosse o tipo que se encantasse tão fácil, já que suspeitava que havia servido de motivo de ciúmes de Kathrine Lawson. A orgulhosa senhora a encontrara naquela mesma semana enquanto acompanhava a avó às compras, e pela maneira como havia olhado em sua direção, já havia deixado claro que tinha por ela certo desprezo. Não que se incomodasse com isso, afinal nem a conhecia, apenas achava esquisito que uma mulher casada, aparentemente feliz com o marido que tinha pouca habilidade como dançarino, mas parecia apaixonado por ela, ficasse enciumada por ter feito companhia à Jamie.
― As pessoas falam demais... ― disse, tentando mudar de assunto mesmo sabendo que seria praticamente impossível.
― Eu não poderia concordar mais, porém em se tratando do Duque eu diria que você se sobressaiu aquela noite ― Claire fez uma pausa, pensando se deveria ou não continuar ― dizem que depois de ter rompido seu compromisso com a Sra. Kathrine Lawson, antes dessa casar-se com o professor, ele fez algum tipo de promessa ou juramento, de que nunca mais se apaixonaria.
― Isso não parece nada com Jamie ― disse Emma, pensativa. Estava certa quando desconfiava que havia algo entre Kathrine e o Duque. Ressentimento, ou talvez ainda se gostassem.
― Bem, acho que devo alertá-la, a lista de mulheres que já se envolveram com ele é interminável, e aparentemente seu interesse não dura mais do que poucas semanas ou meses ― falou Claire num tom dramático que fez Emma conter o riso, pois para ela o charmoso Duque fazia exatamente o que se esperava de um homem em sua posição.
― Agradeço sua preocupação, querida Claire, mas não estou me envolvendo com o Duque. Aliás, não tenho o menor interesse nele ― falou com convicção, bebendo mais um gole do chá sob o olhar ligeiramente malicioso da amiga.
Se na residência da Sra. Clarke tudo parecia tranquilo e calmo como o céu azul daquela tarde, em Dorffwest Rise, o clima parecia estar prestes a mudar. Jamie fazia companhia à Lyanna enquanto ouvia a menina ao violino, muito concentrada, quase como se conseguisse transcender e momentaneamente pairar sobre um mundo só dela. Era comovente como as notas fluíam perfeitamente através de seus dedos, era virtuosa, e a ouvia sempre que ela se dispunha a tocar, já que raramente o fazia.
― Foi maravilhoso, querida ― disse ele, aproximando-se da irmã, que colocava o violino dentro da caixa.
― Obrigada ― disse ela, timidamente, pois ela própria havia composto a melodia ― eu fiz em homenagem ao papai.
― Ele teria adorado ― Jamie beijou as mãos de Lyanna, já sabia que ela estava compondo há cerca de um ano, e que havia esta melodia para o pai, e mesmo querendo ouvir nunca tocou no assunto. Aguardou pacientemente que ela um dia o chamasse para ouvir.
― Às vezes você me lembra muito ele ― Lyanna disse pensativa.
― Não sei se ele estaria muito feliz comigo... ― Jamie resmungou, quase como se tivesse pensando alto.
― Ele estaria, se você parasse de cometer os mesmos erros ― a maneira que ela estreitou os olhos ao dizer isso o assustou, Lyanna nunca se pronunciava a respeito disso, nem sabia se ela sabia do que se tratava.
― Mesmos erros... ― foi a vez dele estreitar os olhos imitando a expressão indignada da menina.
― Posso não falar muito, querido irmão, mas ouço tudo o que se passa ao meu redor ― ela sentou-se à escrivaninha procurando por uma partitura ― e para ser sincera, nunca gostei daquela Kathrine...
Jamie pretendia continuar aquela conversa para saber o real porque de Lyanna ter tocado no assunto, afinal ela e a mãe estavam sempre juntas, e se havia alguém que detestava Kat, era Isabel, mas foi interrompido por uma criada que dizia que o Sr. Harrison pedia sua presença no escritório assim que possível, pois o assunto em questão era algo que somente ele poderia resolver. Tal foi sua surpresa quando ao chegar lá, encontrou Kathrine, e um indeciso Harrison sem saber exatamente como agir, já que a presença dela não era muito bem-vista em Dorffwest mesmo depois de anos da separação dos dois.
― Sra. Lawson ― disse ele formalmente, e em seguida olhou para David que ajeitou os óculos ― nos dê licença, Sr.Harrison, por favor.
Tão logo o homem fechou a porta atrás de si, ele viu surgir nos olhos de Kathrine a paixão que aflorava toda vez que se encontravam. Pensou que ela só poderia estar fora de si, para aparecer ali no meio da tarde. Ela aproximou-se de Jaime ao notar que ele não esboçava nenhuma reação.
― Não pude mais esperar ― ela atirou-se nos braços do Duque, que segurou-a, afastando-a em seguida sem dizer uma única palavra ― Jamie...
― A senhora não deveria ter vindo.
― Não podemos continuar com isso! ― ela sussurrou tentando desvencilhar-se dele ― temos que nos encontrar. Você não pode me ignorar.
― Não tenho a intenção de encontrá-la, Kat ― soltou-a e em seguida afastou-se dela.
― O que fiz para ser tratada assim? ― ela perguntou e ele conhecia bem aquele tom de voz de Kat, ela se faria de vítima, como se ele fosse o único responsável por todos aqueles encontros às escondidas.
― Estou cansado, Kat, são quase quatro anos! ― Jamie voltou-se para ela que parecia, como sempre, pronta para chorar e lhe implorar que reconsiderasse e depois envolvê-lo até arrastá-lo para cama, como sempre acontecia.
― Quatro anos que eu tenho arriscado minha reputação ― agora ela chorava e tudo que Jamie pedia era que Isabel não entrasse porta adentro pois isso sim seria difícil de lidar ― você não tem ideia de quantas mentiras preciso dizer todos os dias para continuar a vê-lo, Jamie!
― Não me lembro de ter pedido para que mentisse.
― Claro que não... tudo o que você fazia era me encontrar e depois voltar para todas as outras ― punhos cerrados e agora ela falava alto.
― Quem é você para exigir qualquer coisa de mim? ― Jamie encarou-a, os olhos azuis gelados fazendo com que Kat se encolhesse ― não gosto de lembrar as pessoas de certos acordos Kat, mas talvez você deva se lembrar de que havia sido reduzida a uma mera dona de casa. Eu tenho certeza que você tem dado ótimas desculpas ao idiota do Peter sobre como de repente pôde fazer novos vestidos, contratar criadas e dedicar-se a tanta caridade que nem ao menos sabíamos que tantas pessoas precisassem de ajuda.
― Como ousa, Jamie Bennett? ― ela estava furiosa ― depois de todo esse tempo... insinua que eu seja como uma dessas mulheres? Como se eu fosse uma qualquer.
― O que vai fazer Sra. Lawson? Vai contar sobre isso a alguém? ― ele sentou-se atrás da mesa que um dia fora de seu pai ― claro que não.
― Você é um cretino!
― Ouvi dizer que sou sim ― ele sorriu de canto ― então, aconselho a senhora que mantenha sua discrição, e aprenda de uma vez por todas que eu não lhe devo nada.
Ele viu Kathrine se dirigir à porta e parar durante alguns longos segundos já com a mão na fechadura. Esperava que ela saísse sem olhar para trás, e já até suspirava aliviado por não ter que encontrá-la novamente como planejava, para terminar com aquela situação. Não que simplesmente tivesse deixado de desejá-la, todos os dias lutava consigo mesmo para não ir encontrá-la, estava até conformado de que poderia muito bem ter uma recaída à qualquer momento, mas se queria terminar com aquele ciclo teria que começar de algum jeito. Então, ela voltou-se e o encarou como se estivesse entendendo algo que nem ele entendia.
― É aquela Emma, não é?
Jamie olhou para Kathrine como se ela estivesse louca, mas deixou que ela continuasse.
― Quando vi vocês saindo para o jardim, era o mínimo esperado depois de vê-lo se exibir com aquela menina tola durante a festa da sua mãe ― ela riu irônica ― francamente Jamie...
― Pelo jeito funcionou ― ele sorriu e deu uma piscadela para Kat ― para você ter nos seguido...
― Eu não os segui!
― Sabe para onde fomos...
― Não seja pedante! Como se fosse a primeira vez que eu presenciasse você agindo como o canalha que de fato é!
― Então aqui vai um aviso desse canalha, Sra. Lawson ― ele levantou-se e apoiou-se na mesa ― minha generosidade acaba agora. Espero que tenha guardado parte dos recursos que lhe tenho proporcionado nos últimos anos, pois a menos que arrume um trabalho que pague tão bem quanto a função de amante do Duque de Dorffwest, voltará a vida que tinha antes.
― Eu o odeio, Jamie! ― ela disse, os olhos lacrimejando, talvez pela primeira vez estivesse a ponto de chorar de verdade.
Ela saiu pisando duro, e finalmente Jamie respirou fundo, certo de que havia tomado a melhor decisão desde sua volta. Mas, sua tranquilidade não durou mais que um ou dois minutos. Isabel entrou esfuziante falando sobre o baile tradicional oferecido por sua tia, todos os anos, enquanto ele se perguntava se tinha tanta sorte que ela nem sequer havia visto Kathrine.
― Ah, claro ― ele assentiu, já certo que não poderia deixar de ir ao tal baile ainda pensando em comemorar o fato de que Kat agora seria passado, de uma vez por todas.
― Querido ― Isabel parou ao lado de Jamie pensativa ― sua tia me enviou uma mensagem em particular e achei melhor que você decida sobre o que fazer.
― Porque estou achando que isso é sério? ― perguntou ele, respirando fundo.
― Ela faz questão da presença da Srta. Lowell nessa ocasião ― disse Isabel olhando para o filho como se tentasse decifrá-lo e tudo que viu foi um sorrisinho maroto surgir em seus lábios.
― Emma...
― Emma? ― Isabel olhou desconfiada para Jamie ― que seja. Você sabe que estão apontando a moça como seu interesse amoroso, não sabe?
― Estão? ― Jamie riu da expressão séria da mãe, que lançou-lhe um olhar de advertência.
― Jamie William Bennett, eu tenho a avó da sua Emma em alta estima, e não permito que você use esse seu tom de deboche para falar de algo sério!
― Não era minha intenção, mas... ― ele ficou pensativo por alguns segundos, poderia usar aqueles boatos a seu favor, se Emma estivesse de acordo, e já sabia exatamente como fazer isso ― porque a senhora não convida a Srta. Lowell para passar a tarde conosco?
― Ora ... ― Isabel sorriu para ele, pensando que se ele realmente estivesse interessado na Srta. Lowell não seria ela a impedir que se encontrasse com ela novamente ― posso fazer isso! Assim, eu e a Sra. Clarke poderemos colocar nossos assuntos em dia!
― Faça isso! ― ele disse ― na verdade, estou ansioso para encontrar a Srta. Lowell!
A tarde estava nublada, e a a brisa gelada que fez com que Emma ajeitasse o mantelete azul de veludo sobre o bonito vestido amarelo-claro. Os cabelos negros estavam presos na parte de cima envolvidos por uma trança enquanto os cachos caiam em cascata pelas costas. A avó sorriu em aprovação quando a viu deixando-a intrigada, achava que a Sra. Clarke estava lhe escondendo algo e enquanto a carruagem parava em frente a mansão Dorffwest decidiu que o que quer que fosse agora não era sua prioridade. Intimamente, torcia para que Jamie não estivesse ali, mesmo sabendo que isso seria improvável, como aquele convite, sua avó havia lhe dito, não era do tipo que se recusava, pensou que o melhor a fazer era aceitar sem reclamar que iria vê-lo mais uma vez. Emma não respondeu. Apenas olhou silenciosa para Jamie, tentando entender o porque daquele inesperado convite, porque podia de fato distrair-se olhando para ele, estremecer ao escutar sua voz, e quem diria, ela, Emma Beatrice Lowell corava perto daquele homem. Mal se reconhecia. Poderia estar enfeitiçada pelos olhos azuis do Duque, mas não era surda, ele havia dito claramente a palavra “favor”.— E porque eu estaria lhe fazendo um favor, milorde?Ele pensou por um momento, havia vários motivos, no c9
O Duque de Dorffwest nem percebeu que a carruagem passava pelos portões da suntuosa residência onde vivia Lady Georgina Bennett, que seria a anfitriã do tradicional evento anual da família. Entretido com a bela jovem que ia ao seu lado, acertando com ela que iriam realmente cumprir com o que haviam combinado, completamente distraído com o interrogatório de Emma sobre Georgina. Ele sabia que sua tia poderia ser intensa quando se tratava da família, e por algum motivo ele era sempre alvo de suas preocupações quando se tratava de arrumar-lhe uma esposa. Achava que um dia ela se daria por vencida, mas como era esperado de todo Bennett, a persistência parecia fazer parte de suas características, assim como a teimosia e o temperamento.
Emma não pode deixar de notar a beleza do homem a quem foi apresentada, os olhos castanhos esverdeados, cabelos escuros levemente cacheados e tão alto e atlético quanto Jamie.— Srta. Lowell — ele beijou a mão de Emma respeitosamente.— Sr. Silverstone — ela respondeu edu
Ao ouvir batidas suaves na porta do quarto, já estava diante do espelho se vestindo. A noite passada para ela ainda era uma lembrança vívida e Emma mal disfarçava seu sorriso. O sono custou a chegar devida agitação situações as quais havia sido submetida. Jamie havia deixado-a em casa depois de exibir se com ela por mais alguns minutos no baile de Georgina, e mesmo com a certeza de que para ele não era mais do que uma encenação, seu coração acelerou novamente ao lembrar-se dele.Est
Empolgada com o sucesso que havia sido o baile anual dos Bennett, Lady Georgina reuniu poucos convidados para um jantar, e Jamie fora praticamente convocado para essa ocasião. Havia enviado uma mensagem à Emma para que estivesse pronta para acompanhá-lo, e ela havia respondido a missiva apenas com duas palavras "ok, milorde". "Ok, milorde?", pensava ele, enquanto vestia a camisa em frente ao espelho, um tanto irritado para que o camareiro tentasse se aproximar, afinal conhecia bem o temperamento do Duque.Haviam ido à casa dos Silverstone, e talvez por isso ela estivesse indócil, se a levara
Os dias seguintes foram para Jamie de um silêncio pesaroso, por algum motivo que ele desconhecia, Lyanna se refugiou em sua solidão, e sempre que pensava em Emma, tinha a sensação de que havia cometido um erro. Era evidente que não tinha mais a intenção de vê-lo, e ainda que não fosse impossível devido à como as situações os aproximavam, e como eram atraídos um pelo outro, custava a acreditar que a Srta. Lowell, tão confiante e determinada tivesse se apaixonado. Mulheres como ela, em sua opinião, mereciam algo melhor do que um homem que fora dominado, e muito provavelmente ainda fosse, por uma mulher que não amava ninguém além de si mesma.
Emma fazia companhia à Isabel, que dedicava-se à uma lindo bordado e falava sobre Lyanna estar animada para o passeio à cavalo, enquanto recusava o chá pela segunda vez, dizendo que não queria atrasar a menina, que deveria entrar na sala à qualquer momento. Viu Jamie entrar e esboçar um meio sorriso enquanto lhe dirigia um olhar travesso. Fez o possível para ignorar que tal gracejo não era mais do que um sinal que ainda lhe devia uma resposta. Não havia falado sobre o assunto com a avó, não tinha certeza se queria mesmo correr o risco de iludir-se ainda mais com o duque, e mesmo que ele tivesse deixado claro que queria sua companhia. Ela sabia que ainda havia algo que não estava resolvido entre ele e Kathrine, e tinha a impressão de estar sempre entre os dois. Parecia-lhe que Jamie a havia colocado entre eles,