O Duque trocava algumas palavras com Richard Elington quando viu que Peter e sua esposa se aproximavam de Isabel. Tentava ignorar que falavam sobre o quanto Kat estava bonita, e como Peter parecia envaidecer-se disso enquanto olhava apaixonado para a esposa. Pensou que ao menos havia alguma beleza naquele casal. Peter não era exatamente belo, mas era o tipo sonhador e romântico que costumava encantar as mulheres com suas boas maneiras, solicitude e cavalheirismo. O mais jovem dos Lawson não tinha vocação para os negócios da família, e tornou-se professor, pelo que ouvia falar, excelente. Não dava a Kathrine o mesmo padrão de vida ao qual ela foi acostumada na casa dos pais, mas ao menos em público a impressão que davam era que viviam bem e continuavam apaixonados.
Tornaram-se próximos ainda crianças, e até aquele instante ainda não havia compreendido quando exatamente perdeu sua noiva para aquele sujeito. A fala tranquila e o sorriso aberto o irritava, e Jamie evitava sua companhia sempre que possível. Sabia que ele tinha certo receio ao seu respeito, pois ele e Kathrine haviam sido julgados pela grande maioria das pessoas que os conheciam, apesar dos esforços dela em fazer parecer que Jamie a havia deixado às vésperas de seu casamento.
― Deveriam ter trazido as crianças ― disse Isabel, amavelmente ― ficaria feliz em vê-los.
― Kathrine achou que não seria conveniente, milady ― Peter falou, obviamente concordando com a decisão da esposa ― são bem travessos!
― Devo dizer que gostaria de ter crianças fazendo travessuras por aqui novamente ― ela olhou de canto para Jamie, que esboçou um sorriso. Em seguida ela pediu licença ao grupo, pois haviam convidados com os quais ainda não havia trocado nem sequer algumas palavras.
― Quem sabe um dia ― se suas palavras soaram confiantes, ele pensava que dificilmente aconteceria.
― Para isso, teremos que lhe arranjar uma noiva ― Lorde Elington observou, divertido ― e todos sabemos que a possibilidade de se tornar uma competição seria grande.
― Obrigado pela preocupação, mas posso cuidar disso sozinho ― Jamie não duvidava que Richard seria capaz de espalhar a notícia só para vê-lo fugir das possíveis candidatas à sua esposa.
― A menos que ele já tenha alguém em vista ― Peter concordou ― o Duque certamente seria um pai excepcional!
― Concordo ― Jamie pensou por um instante, gostava de crianças, costumava ser popular com as da família.
― Ora, esse assunto é um tanto íntimo ― disse Kathrine, apertando carinhosamente o braço do marido ― e mesmo que Jamie tivesse algum interesse amoroso, ele certamente seria discreto.
― Eu tenho, de fato ― ele disse, aceitando a taça de vinho que lhe era servida, e piscando para Kat logo em seguida fazendo-a corar, pois acreditava que era uma forma de desculpar-se pela maneira que haviam se despedido da última vez que haviam se encontrado ― mas, talvez não estejam preparados para conhecê-la.
― E ela está aqui, presumo ― o Visconde disse, olhando discretamente para Kathrine, afinal sabia bem o que acontecia entre os dois.
― Talvez ― ele deu os ombros, mesmo notando que Peter parecia aguardar que fizesse algum tipo de anúncio.
― Não sou de fazer apostas, mas desconfio que seja a Srta. Miller ― Peter parecia querer tirar aquela informação de Jamie, que percebeu certa tensão da parte de Kathrine.
Por um instante, pensou que ele podia saber de tudo, sobre ele e Kat. Mas, então percebeu que não era esse o motivo. O professor queria sim uma comprovação de que não pensava mais em Kathrine, talvez porque os anos para ele estivessem passando mais rápido com todas suas responsabilidades, o casamento e a família. Justo ele, o professor admirável, incrivelmente culto e na opinião da maioria das pessoas comedido, ainda tinha consigo o orgulho de ter lhe tomado noiva. Ele estava sim, curioso para saber quem era supostamente a mulher por quem sentia-se atraído, para compará-las.
― Sinto desapontá-lo, Peter, mas acho que no momento ela está mais interessada em cercar-se de possibilidades ― disse ele procurando entre as convidadas alguém que pudesse fazer Peter Lawson considerar que estivesse ao menos em pé de igualdade com sua esposa.
― Em minha humilde opinião, muito velha para o Duque ― Kat comentou, fazendo o marido arquear a sobrancelha afinal deviam ter quase a mesma idade, e não achava que ela poderia ser considerada “muito velha”.
Pensou então que teria que ser jovem, e não havia uma que não fosse jovem demais, pelo menos das que estavam mais próximas, então viu Emma. Ela seria perfeita! A beleza da jovem era de tirar o fôlego, e mesmo um homem como Peter não poderia ignorá-la, não importava o quanto fosse vaidoso quando se tratava de Kathrine. Viu um discreto revirar de olhos de Lorde Elington, enquanto ele citava um trecho de algum poema que obviamente o fazia lembrar-se da cor dos olhos da esposa. E ela claro, docemente constrangida, como se não gostasse da tola adulação que ele lhe dispensava.
― Srta. Lowell ― Jamie voltou-se para ela que estava com em companhia da Srta. Smith e um cavalheiro que parecia interessado em Emma ― gostaria de apresentá-la a alguns amigos.
Ela olhou em sua direção, e sorriu timidamente, então apoiou suavemente a mão um pouco abaixo de seu ombro trazendo-a consigo. Não surpreendeu-se quando viu que mais alguns cavalheiros conhecidos seus se aproximaram enquanto ele fazia as apresentações. Notou que Peter parecia estar negando à si mesmo os encantos da Srta. Lowell, ou era apenas impressão que sua esposa tenha envolvido seu braço, segurando-o como se quisesse impedi-lo de algo que Jamie não atinava. Ela por acaso achava que Peter fugiria com Emma? Quando as apresentou, pode pode observar certo desdém no sorriso de Kat, que rapidamente arrumou o pior pretexto possível para sair da presença de Emma, insinuando graciosamente ao marido que gostaria de dançar. Ele então olhou para Kathrine como se ela estivesse fora de si, pois não era segredo que ele não sabia levar um cachorro para um passeio, então conduzir uma dama ao som melodioso que fazia outros pares parecerem flutuar parecia-lhe uma tarefa ingrata. Teve que esforçar-se para não olhar para o Visconde, que já havia esticado o pescoço em busca de uma melhor visão do casal, e então olhou novamente para Emma. Ela deixou claro pela maneira que retribuiu seu olhar, que sabia que havia algo implícito na maneira que ele estava agindo.
― Srta. Lowell, me daria a honra dessa dança? ― ele perguntou, enviando a ela um sorriso galanteador.
Ela assentiu, graciosa enquanto seguia com o duque para o centro do salão, e antes dos primeiros acordes ele sussurrou divertido: ― A senhorita sabe dançar, não?
― Decerto que sim, apesar de não ser realmente o que faço de melhor ― ela disse, encarando-o com aqueles olhos castanhos que agora lhe pareciam profundos.
― Tenho uma vaga ideia do que a senhorita faz de melhor ― Jamie não pode deixar de comentar enquanto dançavam, e a viu rir discretamente.
― Parece-me que também tenho alguma habilidade para ser o motivo pelo qual uma senhora ultrajada olha-me com crescente antipatia enquanto tenta evitar que o marido pise em seus pés ― Emma novamente olhava-o como se deixasse claro que havia notado suas intenções.
― Devo lhe assegurar que não foi o único motivo ― ele disse, um meio sorriso brincou em seus lábios ― a senhorita é sem dúvida, a mulher mais bela aqui presente, eu não perderia a oportunidade de exibir-me.
― O senhor não pode achar que acreditarei em tal absurdo ― Emma sorriu timidamente, e sentiu o rosto corar, e Jamie não pode ignorar que apesar de manter a postura confiante ela estremeceu.
― Não é nenhum absurdo ― ele respondeu galanteador ― nada que a senhorita já não esteja cansada de ouvir, presumo.
Jamie a viu respirar fundo, e ela negou discretamente, fazendo-o questionar se havia algo de errado com os americanos. Entendia também que talvez a sensação de ser alvo de curiosidade de grande parte dos presentes também não lhe fosse habitual, então aos acordes finais da música pediu a Emma que o acompanhasse, e ela parecia grata por isso. Sua intenção era providenciar bebidas para ambos e fazer com que a Emma espirituosa e insolente voltasse a se manifestar e então ele observou, a apenas alguns passos de onde estavam, Kathrine sorrindo para Peter. Não era o mesmo sorriso de sempre, ela parecia iluminada enquanto ele beijava sua mão, e aquilo causava-lhe náuseas. Sentiu-se irritado, fazendo o possível para que Emma não notasse o que estava acontecendo, afinal ela não era tola. Antes que o casal percebesse sua presença, saiu pela porta que levava ao jardim respirando o ar fresco da noite, amaldiçoando Kat mentalmente. Levava Emma pela mão, pela trilha entre árvores que levava até uma fonte e nem reparou por onde estava indo até que ela parou repentinamente.
― Jamie? ― ele ouviu a voz de Emma, tirando-o de uma série de pensamentos sobre o como odiava o dia em que pusera os olhos em Kathrine, e estacou repentinamente.
― Poderia repetir, Srta. Lowell? O que a senhorita disse?
― Eu apenas o chamei ― ela disse, pensando se ele havia achado estranho ser chamado pelo nome, mas afinal fora ele mesmo que havia pedido.
― Eu receio que não tenha ouvido ― ele continuava olhando para ela de maneira curiosa.
― Jamie? ― ela repetiu, estreitando os olhos depois de alguns instantes, sem entender porque ele a olhava como se estivesse pensando a respeito, então pensou que talvez fosse a pronúncia ou o sotaque.
― É completamente diferente... ― ele falou pensativo, ouvi-la pronunciar seu nome não somente o havia resgatado de seus pensamentos, como abrandou sua irritação.
― Talvez o senhor não esteja preparado para ser tratado pelo nome, milorde ― ela falou achando graça da situação.
― Emma ― disse ele com aquele tom de voz perigoso e quente, aproximando-se dela.
Ela tentou afastar-se, havia repetido a si mesma dezenas de vezes que não deveria ceder ao encantador Duque. Ele parou ao perceber que ela havia recuado dois passos, mas estava certo que ela não faria isso novamente, alcançou-a a tempo de evitar que ela caísse depois de tropeçar em uma raiz. Segurando-a junto à si, Jamie tomou seus lábios com urgência, sentindo que Emma estremecera em seus braços. Ele suavizou o beijo e afastou os lábios dos dela, que ainda ofegava quando perguntou quase sussurrando como se fosse possível alguém flagrá-los: ― Vamos continuar nos beijando toda vez que nos encontrarmos?
― Não vejo problema nisso ― ele sorriu malicioso ― acho até que a senhorita estava esperando por isso.
Teve a impressão que ela protestaria, mas tudo que Emma fez foi rir antes de surpreendê-lo ao ficar nas pontas dos pés e lhe dar um beijo rápido antes de sumir pelo jardim apressada. Seguiu-a tranquilamente, e observou-a sair da noite para as luzes que vinham de dentro da casa, parou e percebeu que ela o esperava. Só tinha que sair da escuridão.
Emma estava sentada ao lado de Claire e entre um bebericar e outro de chá sorria e concordava com a amiga sobre o cavalheiro que havia demonstrado interesse por ela. Claire, a irmã gêmea de Alex, só tinha em comum com ele alguns traços e os olhos claros. Enquanto o irmão era dissimulado e esnobe, a jovem era conhecida pela discrição e gentileza. Por alguma razão, e Emma desconfiava que tivesse relação com seus irmãos, ela parecia aflita com a chance de fazer como que o interesse virasse de fato uma chance real de compromisso. Emma pensava que talvez fosse somente ela que não se preocupasse com cortejos, ao menos não mais, há algum tempo atrás talvez estivesse tão ou mais esperançosa quanto a amiga, mas de algum
A tarde estava nublada, e a a brisa gelada que fez com que Emma ajeitasse o mantelete azul de veludo sobre o bonito vestido amarelo-claro. Os cabelos negros estavam presos na parte de cima envolvidos por uma trança enquanto os cachos caiam em cascata pelas costas. A avó sorriu em aprovação quando a viu deixando-a intrigada, achava que a Sra. Clarke estava lhe escondendo algo e enquanto a carruagem parava em frente a mansão Dorffwest decidiu que o que quer que fosse agora não era sua prioridade. Intimamente, torcia para que Jamie não estivesse ali, mesmo sabendo que isso seria improvável, como aquele convite, sua avó havia lhe dito, não era do tipo que se recusava, pensou que o melhor a fazer era aceitar sem reclamar que iria vê-lo mais uma vez. Emma não respondeu. Apenas olhou silenciosa para Jamie, tentando entender o porque daquele inesperado convite, porque podia de fato distrair-se olhando para ele, estremecer ao escutar sua voz, e quem diria, ela, Emma Beatrice Lowell corava perto daquele homem. Mal se reconhecia. Poderia estar enfeitiçada pelos olhos azuis do Duque, mas não era surda, ele havia dito claramente a palavra “favor”.— E porque eu estaria lhe fazendo um favor, milorde?Ele pensou por um momento, havia vários motivos, no c9
O Duque de Dorffwest nem percebeu que a carruagem passava pelos portões da suntuosa residência onde vivia Lady Georgina Bennett, que seria a anfitriã do tradicional evento anual da família. Entretido com a bela jovem que ia ao seu lado, acertando com ela que iriam realmente cumprir com o que haviam combinado, completamente distraído com o interrogatório de Emma sobre Georgina. Ele sabia que sua tia poderia ser intensa quando se tratava da família, e por algum motivo ele era sempre alvo de suas preocupações quando se tratava de arrumar-lhe uma esposa. Achava que um dia ela se daria por vencida, mas como era esperado de todo Bennett, a persistência parecia fazer parte de suas características, assim como a teimosia e o temperamento.
Emma não pode deixar de notar a beleza do homem a quem foi apresentada, os olhos castanhos esverdeados, cabelos escuros levemente cacheados e tão alto e atlético quanto Jamie.— Srta. Lowell — ele beijou a mão de Emma respeitosamente.— Sr. Silverstone — ela respondeu edu
Ao ouvir batidas suaves na porta do quarto, já estava diante do espelho se vestindo. A noite passada para ela ainda era uma lembrança vívida e Emma mal disfarçava seu sorriso. O sono custou a chegar devida agitação situações as quais havia sido submetida. Jamie havia deixado-a em casa depois de exibir se com ela por mais alguns minutos no baile de Georgina, e mesmo com a certeza de que para ele não era mais do que uma encenação, seu coração acelerou novamente ao lembrar-se dele.Est
Empolgada com o sucesso que havia sido o baile anual dos Bennett, Lady Georgina reuniu poucos convidados para um jantar, e Jamie fora praticamente convocado para essa ocasião. Havia enviado uma mensagem à Emma para que estivesse pronta para acompanhá-lo, e ela havia respondido a missiva apenas com duas palavras "ok, milorde". "Ok, milorde?", pensava ele, enquanto vestia a camisa em frente ao espelho, um tanto irritado para que o camareiro tentasse se aproximar, afinal conhecia bem o temperamento do Duque.Haviam ido à casa dos Silverstone, e talvez por isso ela estivesse indócil, se a levara
Os dias seguintes foram para Jamie de um silêncio pesaroso, por algum motivo que ele desconhecia, Lyanna se refugiou em sua solidão, e sempre que pensava em Emma, tinha a sensação de que havia cometido um erro. Era evidente que não tinha mais a intenção de vê-lo, e ainda que não fosse impossível devido à como as situações os aproximavam, e como eram atraídos um pelo outro, custava a acreditar que a Srta. Lowell, tão confiante e determinada tivesse se apaixonado. Mulheres como ela, em sua opinião, mereciam algo melhor do que um homem que fora dominado, e muito provavelmente ainda fosse, por uma mulher que não amava ninguém além de si mesma.