O dono da casa 64 havia comprado a garota depois de uma noite intensa, se apaixonou pelo que ela tinha a oferecer, mas em especial pela personalidade.
— Como é seu nome, menina?
— Jane
A loira mascarada respondeu ajoelhando em frente a Omar e oferecendo o que foi apenas o início de uma noite sensacional, no entanto assim que ele tentou tirar do pescoço delicado a coleira que ela usava, Jane segurou a mão masculina e o encarou com ódio.
— Não, milorde. Está aí para te lembrar, que para você sou um brinquedo emprestado. Tenho um dono.
Omar não estava ali buscando conversas, então apenas aproveitou cada parte do corpo feminino, no entanto, quando já não tinha mais forças, se encontrou com um outro lado da mulher que o serviu.
— Qual o seu luto, milorde?
O dono do melhor núcleo de diversão masculina da Índia achava não possuir lutos, estava acostumado ao poder e a pegar absolutamente tudo o que queria, quando queria.
— Gosta de conversar, Jane?
— Um dia, um homem sem coração disse que a vida deveria ser feita apenas de tristezas, assim ninguém sofreria ou sentiria falta de nada, não dá para querer o que não se conhecer. Eu conheço essa verdade, mas você me chamou de Priya.
Omar tentou se levantar, mas a menina o segurou no lugar e passou a língua em seu peito. Continuou com a sua história.
— Visão! O nome do homem que não tinha coração era Visão, ele tinha tanto poder que era capaz de destruir toda a humanidade, mas não sabia sentir. O que significa estar vivo, senhor Omar?
Ele refletiu por alguns instantes até responder o que acreditava ser real. Se colocou sobre o corpo pequeno e apertou o pescoço da menina que continuou olhando para ele como se a morte não a assustasse.
— Poder! Estar vivo é ser tão livre ao ponto de ser capaz de comprar qualquer coisa. Você, por exemplo. Eu sou seu dono senhorita Jane, posso te matar e nada vai acontecer comigo.
Ela sorriu enquanto o encarava, o olhar tão intenso que o fez afrouxar os dedos e se levantar.
— Pode me matar e ainda não será meu dono. Se isso significa estar vivo, então está mais morto do que eu.
Omar a deixou sozinha e tomou um banho demorado, quando saiu apenas com a toalha enrolada na cintura encontrou Jane sentada na janela do quarto em que servia seus clientes.
As pernas cruzadas, os seios cobertos apenas pelos cabelos loiros que caiam nas laterais do corpo esguio. Jane fumava enquanto o vento às vezes revelava a pele macia para os amantes da madrugada de Delhi.
— Quem é Visão? Ele descobriu o que significa estar vivo?
Jane passou as pernas de volta para dentro do quarto e se deitou para fora deixando os cabelos criarem uma cachoeira dourada que era levada pelo vento.
Ela segurava apenas as laterais da janela enquanto o corpo pendia para o vazio de uma queda mortal.
Omar correu até ela e a puxou de volta, abraçou a menina e apesar de ter passado mais de duas horas desfrutando dos serviços dela, foi a primeira vez que a sentiu pequena e frágil.
— Você viria comigo, Jane? Me deixaria ser seu dono?
— Não sou livre senhor Omar e mesmo que pudesse me comprar, jamais seria meu dono.
— E se fosse uma mulher livre, qual seria o preço para me servir?
— Se eu fosse livre jamais serviria ao senhor.
E foi assim que um dos homens mais poderosos da Índia caiu de encantos por uma menina que usava coleira, mas não se submetia, nem a ele, nem a ninguém.
Pagou uma verdadeira fortuna pela Guerreira como o dono da sétima casa em que Jane prestava seus serviços costumava anunciá-la ao público. Por meses foi o único a desfrutar dos favores de Jane, mas depois, como acontecia com todas as garotas, uma proposta financeira fez Omar ceder, ainda assim, ela era a única que podia escolher com quem se deitar.
Naquela noite, aparentemente, Nick também tinha sido enfeitiçado pelos encantos de Jane e Omar talvez pudesse tirar algum proveito disso.
— Queria falar comigo?
— A dançarina, a última da noite. Preciso dela! Qual o preço?
— Mais do que pode pagar. Ela é uma joia cara, intensa e tem uma boca que já levou vários homens ao paraíso!
Nick quis matar o homem à sua frente, detestou a forma como Omar se referiu a garota, podia ser só um devaneio, uma ilusão que se desfaria assim que a encontrasse frente a frente, mas precisava. E por precisar, Omar não morreu naquela noite.
— Vamos ver, diga o preço e se ela for tudo o que diz, vai ter uma surpresa quando eu terminar.
— 200.000 rúpias
Mais uma vez o rapaz teve vontade de matar o homem à sua frente, ele estava vendendo uma menina, por pouco mais de treze mil reais.
— Fechado
— A hora
— Fechado
— Pagamento adiantado!
— Fechado
Omar sabia que Jane estava atendendo, já tinha feito a sua escolha da noite, o acordo entre eles era simples. Atenderia pelo menos um cliente por noite e não seria obrigada a receber quem não desejasse em sua cama.
O preço real era de 500 rúpias indianas e Nick pagaria três vezes mais.
Negócios são negócios, o dono da casa 64 se levantou apressado.
— Prepare a carteira, vou buscar a garota!
Entrou no quarto de Jane sem pedir licença, tirou o cliente de cima da garota, o homem já estava suado, mas reclamou.
— O que é isso!?
— Fim da festa para você!
— Eu paguei por uma hora!
Jane se levantou e acendeu um cigarro, não se importou com a interrupção, aquele homem era só mais um que estava recebendo em seu corpo.
Já nem se lembrava quantas vezes precisou tomar antibióticos para as mais diversas doenças que adquiriu servindo aqueles homens. Nada importava, nada mesmo.— Está aqui o seu dinheiro, agora some volta para o salão e escolhe outra menina.O homem saiu satisfeito, tinha provado a joia da casa e teria dinheiro para usufruir de pelo menos outras quatro garotas, se quisesse.— Com ciúme, Visão?Jane perguntou sorrindo para Omar, não imaginava o que estava por trás daquela reação exagerada do seu benfeitor.Ela era a única que tinha um quarto no último andar, a cama de casal enfeitada, banho quente e comida fresca. O dono da atual casa em que estava trabalhando representava proteção e ela fazia questão de pagar por isso.Beijou o pescoço de Omar e colocou uma das pernas na cintura masculina.— Quer brincar com a sua Priya?Era assim que ele a chamava quando estava tomado pela lascívia.— Tem um cliente novo, vai gostar dele.— Não quero atender seus amigos, Omar. Temos um acordo.Jane se r
E mulheres como elas nunca seriam vistas com amor, ainda tinha nítido em sua mente as palavras de Nick sobre Olívia, a menina que não existia mais.— Acho que amo tudo em você, mas entre todas as coisas o que mais me fascina é que pura como um anjo.E Olívia realmente era pura, mas Jane não! Tinha se tornado mulher no chão, sentindo as costas serem cortadas pelas agulhas deixadas por usuários de heroína. Aquela foi a sua primeira vez, mas houve outras, tão dolorosas e desesperadoras quanto a primeira.Lembrava dos detalhes, do barulho da cama de ferro que rangia com o movimento do outro homem que usufruía do corpo de outra garota. No mesmo quarto sujo de dois por dois, três garotas foram oferecidas como pagamento de uma dívida de Ibrahim.O indiano estava negociando várias toneladas de haxixe e precisava pagar pelo transporte.Muitas rotas secundárias podiam ser usadas, contudo Dawood Ibrahim nunca foi conhecido por sua paciência, gostava de manter suas casas de diversão abastecidas c
Sentiu, sentiu muitas coisas, mas o que mais a feriu foi se deixar morrer. Demorou muito até entender que a morte de Olívia podia dar vida a outra pessoa, assim como a morte de Jane, trouxe a poderosa Thor.Assumiu esse nome e aceitou o destino exatamente como Jane aceitou o câncer, porque na verdade, tanto uma quanto a outra estavam condenadas a uma doença sem esperança de cura.Foram várias casas, vários homens, muitos corpos. Durante a noite era a Guerreira, durante o dia a faxineira. Era acordada com chutes para que pudesse lavar o chão e trocar os lençóis muitas vezes sujos de sangue, fezes e outras imundices humanas.Ainda assim, todas as manhãs olhava o sol e se enchia de esperança, a primeira vez que recebeu a visita de um médico foi quando bolhas estranhas se espalharam justamente na parte do corpo que era comercializada por aquelas casas. Já estava suportando a dor e a febre há meses quando um dos clientes apareceu para reclamar que tinha sido contaminado por ela.Foi espanca
Omar abraçou a garota e a levou de volta para o quarto, precisaria se justificar com o cliente que estava esperando, mas apesar disso, Jane tinha o dom de deixá-lo encantado, em alguns momentos ela era forte como Durga e em outros tão frágil e assustada que dono da casa 64 sentia vontade de protegê-la.— O que aconteceu, Jane? Preciso saber ou não posso te ajudar.Ela estava com a mão no pingente que ganhou, segurou com tanta força que a argola se desprendeu da coleira e Jane ficou com aquela pequena marreta na mão. As lágrimas caíram sobre o metal deixando um brilho diferente.Jane fechou a mão e segurou a única coisa que a lembrava da sensação de ser humana, de ter uma vida, do sonho que viveu e que foi tão lindo que, às vezes, ela sentia como se realmente tivesse sido beijada por um Deus.Os soluços da garota eram tão desesperados que Omar se assustou, Jane era forte, tão forte que ela cuidava das meninas que chegavam, as fazia entender que não era uma escolha e que lutar seria pior
Havia um homem, alguém que entre todos, Nick confiaria a sua vida, alguém que esteve com ele nos momentos mais dolorosos da sua vida, e como tal, também não o abandonou naquela noite.— Que você fez moleque?Sombra não era apenas o padrinho de Nick, ele era o início, a raiz da máfia americana. O homem que traiu o primeiro capô e se aliou a um desconhecido para criar uma era, onde o código realmente fosse seguido e eles pudessem esquecer o tempo em que o medo gritava antes da lealdade.O senhor de meia idade chegou até a casa 64 procurando pela menina que Nick chamava de ratinha, uma pista o levou até aquele lugar, não imaginou que o rapaz que foi treinado pelos melhores, agiria como uma criança.Os passos relaxados de Sombra não geraram desconfiança, mas a tentativa de entrar em um bordel, sim.— O que você quer aqui?— Não é conversar com você!O segurança da casa 64 avaliou cada um dos detalhes do homem que se aproximou, o conhecia! No submundo, todos se conhecem, mas ninguém fala so
Nick estava sentado no banco do passageiro, não sentia doer, ao menos não os cortes e hematomas. A incerteza é muito mais dolorida do que qualquer surra.Entrou na hospedagem sem olhar para os lados, sem se incomodar com nada. Passou na frente de Sombra, olhou para o lugar precário, tudo naquele país parecia ser um encontro bizarro de extremos, os pobres não tinham nada e os ricos tinham muito mais do que precisavam.Uns, tomavam banho com água suja que escoava dos telhados, outros em banheiras de hidromassagem e usavam tantas joias que chegava a ser difícil erguer os braços.Nick foi até um móvel de madeira entalhada, pegou uma garrafa de destilado e virou na boca.Gargarejou, jogou o líquido de um lado para o outro sentindo o álcool queimar os cortes. Cuspiu no chão como se já fizesse parte daquele universo sem alma. Virou a garrafa de novo e dessa vez engoliu o líquido que se misturou ao sangue.Se sentou no pequeno sofá ainda segurando a garrada, justamente ele que nunca poderia te
O rapaz saiu do banho ainda zonzo, desde que Olívia foi levada, Nick nunca mais tomou os remédios, nem se preocupou com a alimentação ou qualquer outra coisa que não fosse a culpa que sentia. Estava fraco, sabia disso!Parou em frente ao espelho, a dor o lembrava do que encontraria ali, no banho, a cada vez que tentava se limpar, mais a água se tingia de um vermelho vivo.Olhou, mas não se reconheceu, nada naquele reflexo se parecia com ele, os olhos estavam escondidos o inchaço o fazia parecer outra pessoa.Colocou a mão no canto da boca, tentou abrir, mexer o maxilar para os lados, mas a dor o fez parar e quando franziu o rosto, tudo latejou.Pensou que a sua Ratinha teria ouvido, se fosse ela naquele palco ela teria ido, Olívia nunca o deixaria sozinho, sabia disso, mesmo antes de se conhecerem direito, ela havia o salvado.Dia após dia, por meses, ela o visitou.Nick conhecia as regras da máfia, mas se deixou vencer pelo ódio, cometeu um erro e foi punido com a morte. Não uma ex
O estrondo trouxe Nick de volta para a realidade, mas os pensamentos se misturaram e ele chamou por Olívia. Lembrou do dia em que a conheceu.Ela havia caído das escadas, uma queda boba, mas o barulho o acordou, estava dormindo do sofá da casa da irmã quando a garota tropeçou.O barulho, o mesmo barulho que o apresentou a sua ratinha, o fez chamar por ela.— Olíe!Bode entrou e quando Nick o olhou não conseguiu nem mesmo me mover antes do chute que o jogou no chão.— Parece que gosta mesmo de apanhar. Vou levar a sua cabeça para o chefe!O rapaz tentou se levantar, mas Bode usou todo o peso do corpo ao se ajoelhar sobre o peito de Nick.— Quietinho, valentão! O chefe quer você inteiro.O americano não conseguiu responder, sentia o pulmão ser esmagado, mas o que realmente o impediu de falar era uma dor muito maior. Estava cansado, um ano procurando por alguém que parecia ter se desintegrado, não eram homens comuns, não deveria ser difícil daquela forma, mas estava impossível!Pensou em