Sentiu, sentiu muitas coisas, mas o que mais a feriu foi se deixar morrer. Demorou muito até entender que a morte de Olívia podia dar vida a outra pessoa, assim como a morte de Jane, trouxe a poderosa Thor.Assumiu esse nome e aceitou o destino exatamente como Jane aceitou o câncer, porque na verdade, tanto uma quanto a outra estavam condenadas a uma doença sem esperança de cura.Foram várias casas, vários homens, muitos corpos. Durante a noite era a Guerreira, durante o dia a faxineira. Era acordada com chutes para que pudesse lavar o chão e trocar os lençóis muitas vezes sujos de sangue, fezes e outras imundices humanas.Ainda assim, todas as manhãs olhava o sol e se enchia de esperança, a primeira vez que recebeu a visita de um médico foi quando bolhas estranhas se espalharam justamente na parte do corpo que era comercializada por aquelas casas. Já estava suportando a dor e a febre há meses quando um dos clientes apareceu para reclamar que tinha sido contaminado por ela.Foi espanca
Omar abraçou a garota e a levou de volta para o quarto, precisaria se justificar com o cliente que estava esperando, mas apesar disso, Jane tinha o dom de deixá-lo encantado, em alguns momentos ela era forte como Durga e em outros tão frágil e assustada que dono da casa 64 sentia vontade de protegê-la.— O que aconteceu, Jane? Preciso saber ou não posso te ajudar.Ela estava com a mão no pingente que ganhou, segurou com tanta força que a argola se desprendeu da coleira e Jane ficou com aquela pequena marreta na mão. As lágrimas caíram sobre o metal deixando um brilho diferente.Jane fechou a mão e segurou a única coisa que a lembrava da sensação de ser humana, de ter uma vida, do sonho que viveu e que foi tão lindo que, às vezes, ela sentia como se realmente tivesse sido beijada por um Deus.Os soluços da garota eram tão desesperados que Omar se assustou, Jane era forte, tão forte que ela cuidava das meninas que chegavam, as fazia entender que não era uma escolha e que lutar seria pior
Havia um homem, alguém que entre todos, Nick confiaria a sua vida, alguém que esteve com ele nos momentos mais dolorosos da sua vida, e como tal, também não o abandonou naquela noite.— Que você fez moleque?Sombra não era apenas o padrinho de Nick, ele era o início, a raiz da máfia americana. O homem que traiu o primeiro capô e se aliou a um desconhecido para criar uma era, onde o código realmente fosse seguido e eles pudessem esquecer o tempo em que o medo gritava antes da lealdade.O senhor de meia idade chegou até a casa 64 procurando pela menina que Nick chamava de ratinha, uma pista o levou até aquele lugar, não imaginou que o rapaz que foi treinado pelos melhores, agiria como uma criança.Os passos relaxados de Sombra não geraram desconfiança, mas a tentativa de entrar em um bordel, sim.— O que você quer aqui?— Não é conversar com você!O segurança da casa 64 avaliou cada um dos detalhes do homem que se aproximou, o conhecia! No submundo, todos se conhecem, mas ninguém fala so
Nick estava sentado no banco do passageiro, não sentia doer, ao menos não os cortes e hematomas. A incerteza é muito mais dolorida do que qualquer surra.Entrou na hospedagem sem olhar para os lados, sem se incomodar com nada. Passou na frente de Sombra, olhou para o lugar precário, tudo naquele país parecia ser um encontro bizarro de extremos, os pobres não tinham nada e os ricos tinham muito mais do que precisavam.Uns, tomavam banho com água suja que escoava dos telhados, outros em banheiras de hidromassagem e usavam tantas joias que chegava a ser difícil erguer os braços.Nick foi até um móvel de madeira entalhada, pegou uma garrafa de destilado e virou na boca.Gargarejou, jogou o líquido de um lado para o outro sentindo o álcool queimar os cortes. Cuspiu no chão como se já fizesse parte daquele universo sem alma. Virou a garrafa de novo e dessa vez engoliu o líquido que se misturou ao sangue.Se sentou no pequeno sofá ainda segurando a garrada, justamente ele que nunca poderia te
O rapaz saiu do banho ainda zonzo, desde que Olívia foi levada, Nick nunca mais tomou os remédios, nem se preocupou com a alimentação ou qualquer outra coisa que não fosse a culpa que sentia. Estava fraco, sabia disso!Parou em frente ao espelho, a dor o lembrava do que encontraria ali, no banho, a cada vez que tentava se limpar, mais a água se tingia de um vermelho vivo.Olhou, mas não se reconheceu, nada naquele reflexo se parecia com ele, os olhos estavam escondidos o inchaço o fazia parecer outra pessoa.Colocou a mão no canto da boca, tentou abrir, mexer o maxilar para os lados, mas a dor o fez parar e quando franziu o rosto, tudo latejou.Pensou que a sua Ratinha teria ouvido, se fosse ela naquele palco ela teria ido, Olívia nunca o deixaria sozinho, sabia disso, mesmo antes de se conhecerem direito, ela havia o salvado.Dia após dia, por meses, ela o visitou.Nick conhecia as regras da máfia, mas se deixou vencer pelo ódio, cometeu um erro e foi punido com a morte. Não uma ex
O estrondo trouxe Nick de volta para a realidade, mas os pensamentos se misturaram e ele chamou por Olívia. Lembrou do dia em que a conheceu.Ela havia caído das escadas, uma queda boba, mas o barulho o acordou, estava dormindo do sofá da casa da irmã quando a garota tropeçou.O barulho, o mesmo barulho que o apresentou a sua ratinha, o fez chamar por ela.— Olíe!Bode entrou e quando Nick o olhou não conseguiu nem mesmo me mover antes do chute que o jogou no chão.— Parece que gosta mesmo de apanhar. Vou levar a sua cabeça para o chefe!O rapaz tentou se levantar, mas Bode usou todo o peso do corpo ao se ajoelhar sobre o peito de Nick.— Quietinho, valentão! O chefe quer você inteiro.O americano não conseguiu responder, sentia o pulmão ser esmagado, mas o que realmente o impediu de falar era uma dor muito maior. Estava cansado, um ano procurando por alguém que parecia ter se desintegrado, não eram homens comuns, não deveria ser difícil daquela forma, mas estava impossível!Pensou em
Sombra deixou Nick sozinho porque sentia que aquela ação os levaria a uma guerra, precisava estar pronto, tinha pessoas a quem queria proteger, não podia perder mais ninguém, principalmente depois do que viu na boate.Organizou tudo o que pode, no começo pensou que saírem da índia fosse o melhor caminho, por fim, terminou sendo convencido a ficar.— Teimosa como uma mula!Falou sozinho enquanto pensava sobre Lara, a mulher era um verdadeiro furacão e dos mais perigosos. As filhas da máfia, diferente do que o mundo acreditava, costumam ser doces e gentis, na maioria das vezes, mulheres que frequentavam a alta sociedade com uma elegância que despertava a inveja de muitos, mas Lara não, ela era diferente.Incontrolável, a palavra que mais se encaixava aquela mulher, não foi a primeira vez que Lara enfrentou Sombra e ele sabia, não seria a última. Principalmente se a ordem dada fosse para que se afastasse de Muralha. O marido não era apenas um homem de confiança, as habilidades dele seria
Nick foi chamado para um encontro estratégico com Omar e Dawood, no mundo poucas coisas se movimentam tão rápido quanto duas organizações criminosas em busca de evitar uma guerra que ninguém queria, mas que estava beirando o inevitável.Os passos estavam tranquilos, diferentes do que Sombra esperava que fossem.Na mesa, uma moça loira extremamente bonita estava segurando a mão de Omar quando o rapaz a viu o coração bateu forte no peito, sentiu como se o mundo desaparecesse e só os cabelos daquela menina existissem.Se apressou, mas assim que olhou para a garota os olhos se prenderam na coleira, a réplica perfeita da marreta de Thor, o Deus do trovão que Olíe dizia que ele se parecia. Os olhos se encheram de lágrimas imediatamente, mas sorriu.Apesar da dor que sentiu, da vontade de arrancar aquela joia do pescoço da garota e gritar que ela não tinha o direito. A risada dolorida veio em meio a um pensamento bobo. Duas réplicas e nenhuma verdade. Aquela garota era tão falsa quanto a fo