Por essa eu não esperava

—Bom dia, Maria Tereza .

—Bom dia, Sr., eu fiz café.

—Salvou o dia, quase não preguei os olhos esta noite.-Ele passa as mãos entre os cabelos bocejando em seguida.

—Alguma preocupação??-Ela arrisca perguntar.

—Ainda pergunta o porquê? – Ele agarra a xícara de café como se fosse dissolver suas questões.—Onde está Beatrice? Não há vi gritando hoje!

—Gritando? Mas por qual motivo?

—Sei lá! Só sei que as seis da manhã essa menina corre pelos corredores aos berros como um búfalo.

—Não entendo; mas pode ter sido só uma fase que já passou. Por enquanto Ela está na sala de brinquedos desenhando.

—Você por acaso trouxe de sua cidade alguma poção magica? -Ele a olha surpreso.—Pois, manter essa pirralha quieta logo cedo deve haver um mistério.

—O mistério é deixar o ambiente propício para uma garotinha enérgica escolher como deseja ficar.

—Então devo deixá-la tocar fogo enquanto observo. Tudo em prol do seu bem estar.-Ele aguarda uma resposta sensata.

—Não foi o que disse! Apenas não dar comandos contrários a cada minuto em tudo o que ela fizer. É uma fase de mudanças, de descobertas. O senhor passou por isso, eu também. Sem erros não há acertos.

—Hum, acho que me equivoquei ao lhe contratar como secretária. Daria uma boa gerente de creche.-Ele ri por dentro, esboçando através do olhar.

—Interessante Sr., mas ainda uma creche não chegou nos meus planos. Por acaso não o agrado como secretária?- ela o encara desta vez com audácia.

—Não foi o que quis dizer...

Beatrice aparece correndo trazendo em mãos um desenho. Tereza pega a folha de papel, ela se emociona ao ver as cores usadas, havia somente o cinza nas roupas dos bonecos, na nuvem e nas janelas fechadas que a pequena menina se empenhou em mostrar.

—Gostou Terê? Você é essa boneca do cabelo grande, eu sou a pequena e o papai é o do celular. Tá lindo?

Tereza passa o desenho para Jordan que olha sem nada dizer. Apenas espera que Tereza o salve dessa saía justa.

—Óo eu estou muito linda, até pareço a Rapunzel. Você desenhou muito bem, Beatrice.-Ela faz uma breve pausa esperando o pai dizer algo.

—Ée, realmente está lindo. O celular está igualzinho ao do papai.- Tereza tenta conter a insatisfação pela resposta dele..

—Eu estou feliz no desenho; porque você não é minha a babá, parece a mamãe. Não é papai?- Tereza emite um sinal com os olhos que ele não responda nada.

—Minha princesa, seu desenho é muito bonito. Da próxima vez ponha as cores que eu, você e seu pai apreciamos; pode ser : o amarelo, azul, verde.

—Como o arco íris?

—Sim, feito o arco íris.

—Mas minha casa tem paredes cinza, a cozinha a roupa do papai é cinza e na escola também tem muito cinza nos corredores.

—Bem, que tal pedir ao papai para levar você no parque, lá teremos muitas cores, podemos desenhar bastante colorido.

Jordan a olha repressivo. Não estava nos seus planos sair com Beatrice e sim mergulhar em alguns relatórios, depois ir ao bar drinks tomar algo com um amigo.

—Podemos ir Papai? – ele não tem outra alternativa.

—Okay, mas se vistam rápido, não quero tostar feito um hambúrguer ao sol.

Tereza arruma a pequena Beatrice e correm para a sala, Jordan está esperando com a chave nas mãos segurando a porta, ele não faz a mínima idéia de como se comportar num passeio ao ar livre. Não se lembra de ter levado a garota a lugar algum; sua irmã Fabíola sempre muito ocupada, deixava a garotinha sob os cuidados das babás que mal a levavam no playground .

—Então, para onde vamos?

—Há um parque próximo daqui algumas quadras. Tem um belo lago, dá para fazer um piquenique. Que tal Beatrice?

—Eu queeeroo!!

—Mas não temos cesta de piquenique, não temos nada aqui!?

—Não seja por isso! Pare por favor no primeiro mercado, compraremos água, frutas, bolinhos e sucos. Acho que dá pra parecer um piquenique.

—Ah não! Nem inventa de me fazer entrar num mercado em pleno domingo a essa hora do dia. Eu nunca fiz isso!

—Sr. Jordan, não vai doer, será rápido. -Ele contrai os lábios, segura firme no volante sem acreditar no que vai fazer.

—Êbaaaa!! Quero chocolate, yougurtes, patê de amendoim.

—Mas desde quando a mocinha come essas porcarias?

—As babás me davam papai, tia Fabíola falava assim: dê isso tudo para ela que fica quietinha.

—Eu não acredito que ela teve essa coragem!

—Sr. , também não é caso para se desesperar, ela é saudável.

—Chegamos. Eu fico no carro, tome meu cartão, me tirem dessa enrascada.

—Nada disso! Não posso ver os preços e olhar a Beatrice ao mesmo tempo.

—Não economize, apenas compre.

—Vamos papai. Quero que me empurre no carrinho. -Jordan decide entrar.

—Então, eu vou para um lado e o Sr. Fica com a Beatrice na parte dos bolos, volto logo.

—Não podemos ir juntos? Posso me perder de você.

—Eu lhe encontrarei.

Jordan está perdido sem saber por onde começar. Ele olha as prateleiras, pela primeira vez percebe a diferença do que pode levar e o que os demais não conseguem. Beatrice sai pegando tudo que vê pela frente, ele retira de volta um a um dos produtos. A menina se j**a ao chão e cria uma situação de constrangimento, nada a fazer parar, a não ser Tereza que chega a tempo de acontecer uma comoção de transeuntes olhando a cena. Jordan pega o cartão de crédito e entrega a secretária, ele sai dalí rapidamente se escondendo no carro. Tereza senta-se ao lado da menina que logo percebe que o pai saiu, ela se cala abraçando Tereza.

—Calma amor. Tudo está bem. O papai não está acostumado com lugares grandes como este.

A menina soluça agarrada ao seu pescoço; logo os curiosos vão se dispersando. Tereza pega tudo que precisam e vão para o carro. Jordan está ao celular enchendo os ouvidos da irmã. Ele desliga assim que elas entram no carro.

—Sabe qual é a vontade agora que me deu?- Ele fala virando-se para Beatrice ao fundo. — Por causa da sua cena vergonhosa eu vou te levar para casa.

—NÃOOO PAPAAAII!!

—CHEGA BEATRICE! PARE DE GRITAR!

—Calma, o Sr. Está gritando também. Por favor, sigamos ao parque para ela se acalmar.- Jordan está furioso mas segue em frente.

—Escuta aqui Maria Tereza! Eu sei como cuidar da minha filha. Essa idéia foi estapafúrdia, ela está mimada por causa de pessoas como você.

Tereza engole a resposta para um momento mais oportuno. Jordan logo percebe que pegou pesado. Ele não estava preparado para uma mudança tão inesperada; sua filha era sinal de confronto com seu ideal de vida. Seu desejo no passado de ter uma criança para perpetuar o amor por Clarice havia dado errado. Ele não teria apoio da sua mãe; sua irmã apesar de prestativa não parava as sua vida em prol da sobrinha. Ele percebe que fez a coisa errada por precipitação.

Eles chegam ao parque. Tereza está triste porém não deixa a menina perceber. Logo Beatrice tira as sandálias e sai correndo pela grama, era uma sensação de liberdade. Jordan fica de pé olhando, Tereza senta-se ao chão arrumando os lanches. Beatrice grita pelo pai, ele vai ao seu encontro. A menina quer que ele brinque de pega pega, mas o empresário olha para a secretária pedindo ajuda.

Tereza vai ao encontro da criança e ambas saem correndo atrás de pássaros e borboletas. Finalmente Jordan decide tirar o tênis e senta-se na grama, ele toca sentindo uma sensação agradável, cheira sua mão que tem odor de terra úmida, ele gosta dessa memória efetiva de quando seu pai ainda era um homem bom. Mas logo seu silêncio é quebrado com um abraço que o leva ao chão. Beatrice se j**a ao seu pescoço rindo. Tereza também vai vindo a ficar lado a lado do chefe. Por frações de segundos, eles se perdem mapeando olhos, lábios e o mundo parece parar alí. Beatrice está com seu rosto colado ao do pai, ele sente algo bom nisso e à abraça contra o corpo. Tereza sorri, ele também.

—Não sabia que você era tão pesada Beatrice!

—Deixa só eu montar no seu pescoço pra ver.

—Espera filha...

—Vamos papai, levanta e corre comigo. VAMOS PÔNEI BRAVO, CORRE!!

Jordan faz o que a menina pede, ambos saem pelo parque correndo. Beatrice abre os braços feliz, Tereza vê naquela cena algo perfeito, nunca deveria ter fim. O cinza de Beatrice agora se mescla com diversas cores.

...

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