Parte 3...
— É verdade, não era só implicância porque eu era pequena. Ele realmente não bateu o santo com o meu.
— Você é teimosa. Ele nunca teve nada contra você, era só pra mexer mesmo, implicar, sabe como é.
— Não sei não e aposto que ele já contratou alguém.
— Bem - ela deu um risinho de lado — Na verdade ele já ligou pra agradecer que você vai ajudá-lo.
— O que? - abriu bem os olhos — Tia!
— Ah, minha linda - mexeu a cabeça rindo — Eu não pude deixar de oferecer quando falei com ele.
— E quando a senhora o viu?
— Não o vi propriamente. Eu estava conversando com a Ana Maria e ela me contou, então eu disse que você estava parada e poderia ajudar.
— Não estou parada tia - bateu o pé.
— Seja como for, ele me ligou depois para agradecer. Queria falar com você, mas não tinha seu número, então me disse que poderia começar logo.
— Ah, claro - ela torceu o nariz — E a senhora tinha que me oferecer ao sacrifício?
— Credo, como você exagera em tudo.
Ela não o via há muito tempo e realmente nem mesmo lembrava dele. Depois que a amiga se mudou ele não apareceu mais, então aos poucos ela foi esquecendo dele, o que foi bom porque Júlio a fazia ter sentimentos contraditórios.
Ao mesmo tempo que gostava dele, sentia raiva pelo modo como a aborrecia. E isso a confundia um pouco.
— Não acho legal trabalhar para ele. Júlio Morales - resmungou — Não mesmo.
A tia sorriu e se debruçou sobre a mesa segurando o rosto entre as mãos e isso acendeu um alarme vermelho na cabeça de Natália. A encarou sério.
— Pois é... Você lembra que a senhorinha saiu de casa econdida pela porta da cozinha para ir a um show?
— E o que tem isso? Eu tinha quase dezoito anos, já podia sair. Não era nenhuma surpresa.
— Mas não para um show em um local longe e com gente que eu não sabia quem era. Você me prometeu que faria qualquer coisa que eu pedisse se não a colocasse de castigo por um ano - ergueu a sobrancelha rindo — Esqueceu da promessa?
— Ah, não - negou com o dedo pra cima.
— Ah, sim. Agora estou cobrando a promessa e vai ter que cumprir. Quero que vá trabalhar para o Júlio por esse tempinho até a secretária dele retornar.
— Não vale me cobrar agora tia.
— Ah, então tem tempo para a promessa perder a validade? Pensei que tivesse palavra.
Natália bufou e fez um som engraçado com a boca. Sabia bem que a chantagem não iria parar até que ela dissesse que sim. Tinha caído que nem um patinho na armadilha dela.
— Você não tem jeito não é? - gesticulou agitada — Sempre com esse seu jeitinho e vai até conseguir o que quer. Tá bom dona Célia, eu vou trabalhar pra esse chato - levantou as mãos em rendição — Mas nem um dia a mais do que eu tenho para terminar minha folga. Sabe que preciso voltar ao meu próprio trabalho.
Natália teve um trabalho enorme para organizar tudo e não ter problemas na confeitaria ao voltar. Passou todas as direções e ordens de como cada um deveria fazer seu trabalho e pensou que estaria em uma praia linda do México a essa altura, mas não.
Suspirou. Só faltava essa mesmo para estragar de vez os seus planos. Trabalhar como secretária de Júlio.
— Que bom, minha linda - sorriu animada — Eu disse ao Júlio que você estaria no escritório dele amanhã logo cedo.
— Sabia que eu iria acabar caindo na sua armadilha, né?
— Eu? - colocou a mão no peito — Só fiz o que achei certo e contei com sua boa intenção - fez cara de inocente.
— Sei, me engana que eu gosto tá - franziu o nariz.
Célia levantou rindo muito e foi até ela e a abraçou apertado. As duas eram muito unidas.
— Nem vem com essa de querer dizer que não se importa. Eu sei que sim. Júlio é um bom rapaz e você o conhece de antes. É ótimo. Logo vão relembrar a amizade de antes.
— Que amizade? - perguntou crítica.
— Ah, não seja teimosa. Duas semanas passam rapidinho. Depois se não quiser mais vê-lo é só dizer adeus e pronto. Continua com sua vida e ele com a dele. Pronto.
— Sei não... - torceu a boca de um lado para outro.
Ficou pensando se seria mesmo assim tão fácil esse trabalho provisório. Mais do que dúvida, estava com receio desse reencontro com Júlio.
Mas a tia era esperta e de um modo ou de outro, a fazia ir pelo caminho que quisesse.
— Espertinha!
Apertou os lábios e ela riu alto.
Autora Ninha Cardoso.
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Parte 1...Júlio sabia que não deveria ter aceitado a proposta de Célia em deixar que Natália o ajudasse enquanto estava sozinho. Boa coisa não sairia daí.— Só pra você saber, eu não te perdoei pela brincadeira do bolo - ela disse — E nem do assassinato da minha foca.— Meu Deus! - ele riu — Faz tanto tempo. Você tinha o que? Uns treze anos quando foi visitar sua tia e eu fiz isso? E a foca era coisa de menina e você já tinha dezoito anos.— Não interessa a idade - ela cruzou os braços — E você já era adulto quando matou minha foquinha de pelúcia afogada.Ele deu uma risada gostosa. Tinha visto Natália a primeira vez quando ela estava visitando a tia e tinha ficado amiga da prima dele. Era uma menina linda, mas uma peste que vivia aprontando no prédio toda vez que aparecia.Ele gostou dela de cara. Estava com doze anos e ele tinha dezenove. Natália vivia grudada com Marina e como ele aparecia muito na casa dos tios acabaram ficando amigos também e Célia era maravilhosa com ele e toda
Parte 2...— Tudo bem, deixa comigo que me viro - fez uma cara engraçada — Acho que ainda me recordo.— Não tem tanto tempo assim que deixou de ser secretária.— Não muito, mas me envolvi mais com minhas coisas pessoais da confeitaria e raramente mexo em computadores agora.— E como vai a confeitaria?— De vento em popa - sorriu orgulhosa — Você nunca esteve lá também.— Eu nem sei onde fica.Na verdade ele sabia, só não tinha dado atenção porque estava concentrado em sua própria vida e no casamento que infelizmente acabou antes do que ele imaginava.Passou boa parte do tempo tentando organizar a vida após a separação e isso o tirou do ritmo com relação às pessoas. Apesar de não ter sofrido, ficou muito decepcionado com o final e isso o deixou devagar.— Então posso te levar lá depois.— Combinado.Não sabia se era o certo. Natália estava tão diferente que ele sentiu um formigamento gostoso nos dedos. Isso indicava problema. Para ele.Já bastava o erro do passado. Não deveria se senti
Parte 3...Só que se acabasse se envolvendo com Natália, depois teria a tia dela e sua família o enchendo se por acaso ela fizesse alguma reclamação ou comentário ruim sobre seu comportamento. Isso era complicado.Houve um breve silêncio em que os dois ficaram apenas se olhando e se admirando em seus pensamentos.— Bom - ele quebrou o silêncio — Acho que já podemos começar.— Por mim tudo bem - se ajeitou na cadeira e pegou os óculos de dentro da bolsa — Pode ver se encontra outra secretária enquanto estou aqui.— Com pressa, quatro olhos? - provocou.Ela o olhou séria e depois aos poucos deixou o riso sair. Mexeu na armação colorida.— Não comece uma batalha, você vai perder a guerra dessa vez. Estou avisando logo - ergueu a mão.— Veremos - piscou o olho e saiu.Não tinha ideia do que o fez mexer com ela assim de novo. Talvez o velho hábito tivesse retornado ao ver que agora usava óculos e veio a vontade súbita de brincar provocando-a.— Sério Júlio - ela disse antes dele fechar a p
Parte 1...Júlio se recostou na cadeira e ficou observando Natália logo em frente. Ela estava concentrada lendo algo no notebook e estava de cabeça baixa. Seu cabelo escuro caía por seu rosto e cobria seus olhos. Lindos por sinal e ele tinha notado demais isso desde que ela chegara no escritório.Nesse pouco tempo em que ela estava ali, ele se sentiu frustrado. Não sabia bem o motivo, mas achou que talvez ela fosse ser mais solta com ele. Para fazer piadinhas era com ela mesma, parecia querer lhe dar o troco pelo passado, mas até que ele gostava. Além disso nada. Não lhe dava bola.Era muito organizada e rapidinho ajeitou as pendências que Marcela havia deixado. Realmente cumpriu o que disse e só levou uma xícara de café para ele e nada mais. Na hora do almoço teve que sair porque ela disse que não iria comprar nada para ele e realmente não foi.Ela estava diferente da Natália de anos atrás. Ele jamais iria achar que ela era tão organizada e competente assim. O escritório voltou a f
Parte 2...— Essa Odete é mais uma namorada?— Não. Amiga de Simone - Mexeu a cabeça — A que ligou antes. Com certeza queria me convencer a sair com ela de novo. Ando um pouco distante.— Ixi - fez careta — Está se metendo com coisa ruim assim? Tem que alguém o animar a sair? Ficou velho? - gargalhou.— Não - ele coçou o queixo — Talvez, nem sei. É só um caso que começou devagar e acabou rápido - a encarou — Vem cá, você é sempre ousada assim com seus chefes?— Quando trabalhava como secretária não, mas com você é divertido. É bom dar o troco.De verdade era divertido essa interação com Natália e não tinha porquê se preocupar com o que Odete e Simone diriam dele. Não dava mesmo importância às suas opiniões.Simone serviu para distraí-lo um tempo, mas acabou e os amigos dela eram todos fúteis como ela e não acrescentavam nada a ele. Logo estaria esquecida.— E faz tempo que eu sou a chefe - piscou o olho.— Mas ainda se lembra como é um escritório.— Claro que me lembro e até que o seu
Parte 3...— Não tire proveito - levantou o dedo.— Qual sua onda com essa Simone?Ele a encarou um instante. Estava falando solto com ela como se fossem amigos. Eram conhecidos, mas não tinham uma amizade de verdade, era muito mais nova do que ele, mas ainda assim se soltava. E o interessante é que nem com sua ex ele se soltou rápido dessa forma.— Não foi nada demais - estava se explicando, coisa que não fazia — Foi algo para curtir, passar o tempo.— Ah, tá... E ela sabia disso?— Se não sabe é porque quer se enganar. Eu nunca fiz promessas - disse seco.— Mas às vezes tem gente que precisa de mais dicas sabia? - ergueu as sobrancelhas de modo cínico.Ele era um que precisava de dicas. Se tivesse sido mais atento não teria nem mesmo se casado. Só perdeu tempo e dinheiro. Lívia só aproveitou de sua posição e o fez de passatempo, mas cobrou caro.Agora o que ele menos queria era se envolver e acabar se apaixonando de novo. Por isso estava só de curtição com Simone.— Isso aí não é pr
Parte 1...Júlio encheu a boca com a carne acebolada e o macarrão. Fazia tempo que não comia comida chinesa e quando Natália pediu, ele não recusou.A comida estava ótima, mas ele estava gostando mais da companhia, o que era até algo inusitado. A garota que antes ele irritava para se divertir agora o deixava intranquilo, meio sem jeito e cheio de imaginação.Ele encarava sua boca enquanto ela falava sobre a doceria.— Tem um cliente que vai literalmente todos os dias e compra a mesma coisa - encheu a boca de macarrão e cenoura.— Vai ver ele só gosta desse doce.— Não, eu já dei outros de amostra ele gostou de todos, mas diz que esse é especial. A mulher dele está grávida e só quer comer essa torta.— Nossa, deve ser uma delícia então.— Passa lá e eu te dou uma fatia pra provar.— Gosta do que faz Natália? - bebeu um pouco de vinho.— Amo - sorriu orgulhosa — Foi a melhor coisa que fiz. Trocar de profissão.— Pelo menos você sabe que está ajudando a uma mulher grávida - brincou.— As
Parte 2...— Eu sei...— Então a gente se vê na segunda-feira.— Natália - falou mais firme — Espera.— O que? - se voltou para ele.— Vou precisar de você esse fim de semana.Ela sentiu a perna ficar bamba. Como assim? Ele precisava dela? Em que sentido? Meu Deus!— Preciso de uma secretária sem falta.“Ah tá, só isso”.— Minha folga é fim de semana - foi saindo.— Espera - levantou — Tenho duas reuniões e preciso demais de você... Como secretária.— Iihh... Não vai dar - acenou.— Por favor, eu te pago hora extra.Ela parou. O salário estava ótimo para duas semanas apenas. Aumentar isso seria bom.— Depende.— Do que? - ergueu uma sobrancelha.— Essa hora extra vai ser normal, boa ou ótima?— Olha só, querendo tirar proveito de mim?— Claro, ué - riu segurando a bolsa — Você tem grana e precisa, precisa, precisa de mim - fez um biquinho.— Peste! - segurou o riso — Isso não é certo.— É sim, você é advogado, sabe como funciona.— Certo, pago hora extra dupla. Tá bem assim?— Está ót