Parte 2...
— Tudo bem, deixa comigo que me viro - fez uma cara engraçada — Acho que ainda me recordo.
— Não tem tanto tempo assim que deixou de ser secretária.
— Não muito, mas me envolvi mais com minhas coisas pessoais da confeitaria e raramente mexo em computadores agora.
— E como vai a confeitaria?
— De vento em popa - sorriu orgulhosa — Você nunca esteve lá também.
— Eu nem sei onde fica.
Na verdade ele sabia, só não tinha dado atenção porque estava concentrado em sua própria vida e no casamento que infelizmente acabou antes do que ele imaginava.
Passou boa parte do tempo tentando organizar a vida após a separação e isso o tirou do ritmo com relação às pessoas. Apesar de não ter sofrido, ficou muito decepcionado com o final e isso o deixou devagar.
— Então posso te levar lá depois.
— Combinado.
Não sabia se era o certo. Natália estava tão diferente que ele sentiu um formigamento gostoso nos dedos. Isso indicava problema. Para ele.
Já bastava o erro do passado. Não deveria se sentir atraído assim pela melhor amiga de sua prima, ainda mais que ela agora trabalhava para ele. Tinha aprendido de forma difícil que confiar não é para todos.
Quando se casou achou que seria para o fim da vida, mesmo não sendo um grande amor, ele tinha uma paixão grande pela mulher. Só que ela terminou tudo e ainda levou quase tudo o que ele tinha. Teve que se recuperar desse rombo financeiro e emocional. Os dois foram bem pesados.
— O que precisa Júlio? - abriu o notebook — E não pense que eu vou te chamar de chefe.
— Ok - riu — O básico como sempre. Anotar recados, responder e-mails, me avisar dos compromissos e atender alguém que venha com um novo processo.
— Certo - assentiu — Nada demais. Como nunca trabalhei para um advogado, se tiver dúvidas eu te falo.
— Agradeço, vai me ajudar. Estou atolado.
— Espero que encontre alguém logo - fez uma cara engraçada — Porque realmente vou embora assim que acabar meu prazo e nem adianta pedir pra continuar.
— Até parece que eu vou querer você, sua chatinha, em meu escritório por muito tempo.
— Não comece - apontou o dedo — Agora eu revido.
Natália não podia deixar de notar que agora Júlio não era mais o rapaz de antes que implicava com ela e lhe fazia raiva até ela explodir. Continuava bonito, mas antes ela não notava isso como estava notando agora.
O cabelo castanho estava em um corte moderno e tinha algumas mechas mais claras. O corpo parecia bonito. Ele sempre tinha sido magro, mas agora parecia ter músculos por baixo da camisa cara de seda verde escura. As pernas compridas pareciam maiores também. Ele com certeza se exercitava mais.
— Pior que eu acredito nisso - tocou seu ombro — Mas ainda assim fico muito agradecido que tenha tirado um pouco de seu tempo para me ajudar. Claro que vou te pagar a mais pela urgência.
— Hum...Isso é bom - sorriu apertando os olhos.
Não quis dar atenção ao tom de voz dele que antes não havia percebido, mas agora era suave ao seu ouvido. Isso não era bom. Estava notando coisas demais nele.
— Vai ser bom acrescentar uma grana a mais que eu não esperava na Doce Vida.
— O que é isso?
— Ai - ela suspirou — Minha confeitaria, seu tonto - gesticulou — E estou querendo abrir uma filial. Todo valor a mais vai me ajudar. Tonto - repetiu.
Ele segurou o riso. Se inclinou para ela.
— Só pra te lembrar - falou baixo — Aqui eu sou o chefe e tenho outros funcionários, então se puder evitar me xingar na frente deles vai ser bom. Não quero que percam o respeito por mim.
— Ok - falou baixo também — Então seja mais atento e não diga bobagens.
— Não tem site pra conhecer? Posso dar uma olhada.
— Tem sim - acessou a net e puxou o endereço do site para ele — Daqui dá para comprar também. Tenho dois rapazes que fazem entrega. É só pedir.
— Bom saber. Acho que vou experimentar algo.
— É só pedir o que quiser - disse orgulhosa — Somos eficientes e não vai se arrepender. Minha receitas são exclusivas em sua maioria.
— Suas receitas? - riu e fez uma careta.
— Claro. Está por fora do meu talento.
— E como secretária? Tem talento?
— Até sou muito boa, mas não quero mais isso pra mim. Aqui é só por um amigo.
— Ah, então somos amigos? - cruzou os braços.
— Não, senhor - segurou o riso — Você era um demônio que me enchia o saco quando menor. Quis dizer por um amigo de minha tia.
— Ah...Certo.
Se ele tivesse imaginado que ela ficaria tão linda quando maior, teria sido seu amigo desde sempre. Natália estava outra e se sentia atraído, o que não era bom. Misturar trabalho com paixão não dava certo.
“Paixão?”
Estava pensando besteiras já.
Sentiu que seu coração pulou uma batida e isso já era demais. Não podia se envolver com alguém que trabalhasse para ele, não era adequado. Mas por outro lado ele já a conhecia há anos.
Parte 3...Só que se acabasse se envolvendo com Natália, depois teria a tia dela e sua família o enchendo se por acaso ela fizesse alguma reclamação ou comentário ruim sobre seu comportamento. Isso era complicado.Houve um breve silêncio em que os dois ficaram apenas se olhando e se admirando em seus pensamentos.— Bom - ele quebrou o silêncio — Acho que já podemos começar.— Por mim tudo bem - se ajeitou na cadeira e pegou os óculos de dentro da bolsa — Pode ver se encontra outra secretária enquanto estou aqui.— Com pressa, quatro olhos? - provocou.Ela o olhou séria e depois aos poucos deixou o riso sair. Mexeu na armação colorida.— Não comece uma batalha, você vai perder a guerra dessa vez. Estou avisando logo - ergueu a mão.— Veremos - piscou o olho e saiu.Não tinha ideia do que o fez mexer com ela assim de novo. Talvez o velho hábito tivesse retornado ao ver que agora usava óculos e veio a vontade súbita de brincar provocando-a.— Sério Júlio - ela disse antes dele fechar a p
Parte 1...Júlio se recostou na cadeira e ficou observando Natália logo em frente. Ela estava concentrada lendo algo no notebook e estava de cabeça baixa. Seu cabelo escuro caía por seu rosto e cobria seus olhos. Lindos por sinal e ele tinha notado demais isso desde que ela chegara no escritório.Nesse pouco tempo em que ela estava ali, ele se sentiu frustrado. Não sabia bem o motivo, mas achou que talvez ela fosse ser mais solta com ele. Para fazer piadinhas era com ela mesma, parecia querer lhe dar o troco pelo passado, mas até que ele gostava. Além disso nada. Não lhe dava bola.Era muito organizada e rapidinho ajeitou as pendências que Marcela havia deixado. Realmente cumpriu o que disse e só levou uma xícara de café para ele e nada mais. Na hora do almoço teve que sair porque ela disse que não iria comprar nada para ele e realmente não foi.Ela estava diferente da Natália de anos atrás. Ele jamais iria achar que ela era tão organizada e competente assim. O escritório voltou a f
Parte 2...— Essa Odete é mais uma namorada?— Não. Amiga de Simone - Mexeu a cabeça — A que ligou antes. Com certeza queria me convencer a sair com ela de novo. Ando um pouco distante.— Ixi - fez careta — Está se metendo com coisa ruim assim? Tem que alguém o animar a sair? Ficou velho? - gargalhou.— Não - ele coçou o queixo — Talvez, nem sei. É só um caso que começou devagar e acabou rápido - a encarou — Vem cá, você é sempre ousada assim com seus chefes?— Quando trabalhava como secretária não, mas com você é divertido. É bom dar o troco.De verdade era divertido essa interação com Natália e não tinha porquê se preocupar com o que Odete e Simone diriam dele. Não dava mesmo importância às suas opiniões.Simone serviu para distraí-lo um tempo, mas acabou e os amigos dela eram todos fúteis como ela e não acrescentavam nada a ele. Logo estaria esquecida.— E faz tempo que eu sou a chefe - piscou o olho.— Mas ainda se lembra como é um escritório.— Claro que me lembro e até que o seu
Parte 3...— Não tire proveito - levantou o dedo.— Qual sua onda com essa Simone?Ele a encarou um instante. Estava falando solto com ela como se fossem amigos. Eram conhecidos, mas não tinham uma amizade de verdade, era muito mais nova do que ele, mas ainda assim se soltava. E o interessante é que nem com sua ex ele se soltou rápido dessa forma.— Não foi nada demais - estava se explicando, coisa que não fazia — Foi algo para curtir, passar o tempo.— Ah, tá... E ela sabia disso?— Se não sabe é porque quer se enganar. Eu nunca fiz promessas - disse seco.— Mas às vezes tem gente que precisa de mais dicas sabia? - ergueu as sobrancelhas de modo cínico.Ele era um que precisava de dicas. Se tivesse sido mais atento não teria nem mesmo se casado. Só perdeu tempo e dinheiro. Lívia só aproveitou de sua posição e o fez de passatempo, mas cobrou caro.Agora o que ele menos queria era se envolver e acabar se apaixonando de novo. Por isso estava só de curtição com Simone.— Isso aí não é pr
Parte 1...Júlio encheu a boca com a carne acebolada e o macarrão. Fazia tempo que não comia comida chinesa e quando Natália pediu, ele não recusou.A comida estava ótima, mas ele estava gostando mais da companhia, o que era até algo inusitado. A garota que antes ele irritava para se divertir agora o deixava intranquilo, meio sem jeito e cheio de imaginação.Ele encarava sua boca enquanto ela falava sobre a doceria.— Tem um cliente que vai literalmente todos os dias e compra a mesma coisa - encheu a boca de macarrão e cenoura.— Vai ver ele só gosta desse doce.— Não, eu já dei outros de amostra ele gostou de todos, mas diz que esse é especial. A mulher dele está grávida e só quer comer essa torta.— Nossa, deve ser uma delícia então.— Passa lá e eu te dou uma fatia pra provar.— Gosta do que faz Natália? - bebeu um pouco de vinho.— Amo - sorriu orgulhosa — Foi a melhor coisa que fiz. Trocar de profissão.— Pelo menos você sabe que está ajudando a uma mulher grávida - brincou.— As
Parte 2...— Eu sei...— Então a gente se vê na segunda-feira.— Natália - falou mais firme — Espera.— O que? - se voltou para ele.— Vou precisar de você esse fim de semana.Ela sentiu a perna ficar bamba. Como assim? Ele precisava dela? Em que sentido? Meu Deus!— Preciso de uma secretária sem falta.“Ah tá, só isso”.— Minha folga é fim de semana - foi saindo.— Espera - levantou — Tenho duas reuniões e preciso demais de você... Como secretária.— Iihh... Não vai dar - acenou.— Por favor, eu te pago hora extra.Ela parou. O salário estava ótimo para duas semanas apenas. Aumentar isso seria bom.— Depende.— Do que? - ergueu uma sobrancelha.— Essa hora extra vai ser normal, boa ou ótima?— Olha só, querendo tirar proveito de mim?— Claro, ué - riu segurando a bolsa — Você tem grana e precisa, precisa, precisa de mim - fez um biquinho.— Peste! - segurou o riso — Isso não é certo.— É sim, você é advogado, sabe como funciona.— Certo, pago hora extra dupla. Tá bem assim?— Está ót
Parte 3...Ela cruzou os braços e o encarou cerrando os olhos. Sentiu o calor retornar.— Olha aqui Júlio, se vier com gracinhas pra cima de mim você vai levar. Já digo logo.— Que gracinhas? - segurou o riso.— Sei lá - bateu as mãos na lateral do corpo — Eu me lembro bem das palhaçadas que você aprontava comigo quando eu era mais nova.— E quem disse que eu vou aprontar?— Júlio, Júlio...Ele deu uma risada. Natália era muito mais interessante do que ele recordava. Deveria ter prestado mais atenção a ela desde sempre.— Acredite, será apenas trabalho. Não vou aprontar nada contra você. — Se tentar vai levar - apontou — Já aviso.— Ok - abanou a mão — Vai logo pegar essas reservas por favor. Aqui está o nosso horário - entregou um papel com as anotações.— Credo, parece um hieróglifo.— Minha letra é perfeita - reclamou.— É sim. Uma perfeita... - calou-se. Ia dizer uma bosta, mas ficaria feio — Já vou - saiu da sala.Ela ficou um instante com o telefone na mão. Não deveria, mas est
Parte 4...A entrada para o hotel já era linda. Cheia de flores e árvores no caminho até a entrada. O sol já estava de pé mostrando as belezas do lugar. O jeito como os raios de luz passavam entre as árvores deixava tudo muito romântico. E o cheiro que vinha do mar era delicioso, convidativo a um mergulho.Natália esperava poder ter tempo para isso, nem que fosse uma vez só. Estar em um lugar lindo como esse e não aproveitar seria até um crime.O hotel era famoso e agora entendia porquê. A paisagem se misturava com a imponência do lugar em estilo mediterrâneo. Era uma construção antiga, mas com traços modernos mesclados, talvez em uma reforma ou ampliação. Eram dois prédios grandes modernos e seguindo pela lateral várias casinhas com acesso ao mar, três piscinas enormes, parque aquático com brinquedos infantis e um restaurante no centro.Tudo muito bonito. Seria ótimo se fossem férias mesmo e pudesse aproveitar tudo ali. Júlio já conhecia o lugar, mas ela nunca tinha estado ali. Marc