Parte 3...
Só que se acabasse se envolvendo com Natália, depois teria a tia dela e sua família o enchendo se por acaso ela fizesse alguma reclamação ou comentário ruim sobre seu comportamento. Isso era complicado.
Houve um breve silêncio em que os dois ficaram apenas se olhando e se admirando em seus pensamentos.
— Bom - ele quebrou o silêncio — Acho que já podemos começar.
— Por mim tudo bem - se ajeitou na cadeira e pegou os óculos de dentro da bolsa — Pode ver se encontra outra secretária enquanto estou aqui.
— Com pressa, quatro olhos? - provocou.
Ela o olhou séria e depois aos poucos deixou o riso sair. Mexeu na armação colorida.
— Não comece uma batalha, você vai perder a guerra dessa vez. Estou avisando logo - ergueu a mão.
— Veremos - piscou o olho e saiu.
Não tinha ideia do que o fez mexer com ela assim de novo. Talvez o velho hábito tivesse retornado ao ver que agora usava óculos e veio a vontade súbita de brincar provocando-a.
— Sério Júlio - ela disse antes dele fechar a porta e ele colocou a cabeça para fora — Veja se pode achar outra pessoa. Não vou poder ficar mesmo.
— Não estou conseguindo uma boa secretária.
— Já ligou para as agências de emprego?
— Liguei para algumas, mas não gostei de nenhuma das que me enviaram.
— Será que não é você o problema? - cutucou.
— Creio que não - fez uma careta.
— E por que não treinou alguém antes de sua secretária sair? Seria o óbvio.
— Eu sei disso, mas não tive tempo e deixei que Marcela visse isso, mas ela estava com a cabeça nas nuvens.
— Não seja machista - ralhou — Ela com certeza estava mais atolada do que você. Sabe o que é estar grávida e ter um monte de coisas para organizar em casa e no trabalho?
— Lá vem você com defesa feminista.
— Não é feminismo, é a verdade. Vocês homens acham que é fácil ter um ser crescendo dentro da gente dia após dia enquanto a vida continua. Muda tudo sabia?
— Eu imagino - suspirou — Mas não tenho culpa se ela escolheu ficar grávida. Reclame com o marido dela.
— Vou reclamar com você por não ter colocado outra pessoa para treinar enquanto ela ainda estava aqui.
— Sério? - fez careta franzindo o nariz.
— Claro. Não é fácil ser uma mãe que trabalha. E muitas mulheres precisam trabalhar, mas se pudessem ficariam em casa com seus filhos.
— Ei - levantou a mão — Eu não faço as regras.
— Ainda bem - torceu o nariz.
— E você? Se estivesse grávida ficaria em casa?
— Poderia e gostaria - deu de ombros — É muito bom para a criança no começo que os pais possam lhe dar atenção. E tenho minha confeitaria que não é um trabalho pesado, apesar de ser cansativo às vezes, mas ficaria sim em casa por um tempo.
— Não sabia que a quatro olhos queria ser mãe.
— Nunca pensei à sério sobre isso, mas se encontrasse o homem certo, gostaria.
— E quem é o homem certo? - questionou curioso.
— Com certeza não seria você - provocou — Vai trabalhar e me deixa em paz - abanou a mão.
— Você é tão madura - riu balançando a cabeça.
— Tanto quanto você - mexeu na gaveta — Não estou achando lápis, caneta... Que bagunça - balançou a cabeça — Você mexeu aqui? Não acredito que sua secretária fosse assim relaxada.
Ele girou os olhos e foi até ela.
— Aqui - entregou uma chave — Vai encontrar tudo o que precisa no depósito onde Marcela organizava as coisas. Lá tem todo material de escritório.
— Obrigada - sorriu zombando — Chefinho.
— Está adorando isso não é?
— Adorando não - piscou o olho — Mas vai ser bom infernizar você um pouco como fazia comigo.
— Jesus - ergueu os braços — Isso foi há séculos.
— Eu hein - ela tocou o pescoço — Você está me chamando de velha?
— Você era e ainda é uma peste - apontou.
— Ah, antes que eu me esqueça - levantou o dedo — Não sou garçonete, portanto não me peça para te servir nada. Se vire.
— Mas minha secretária sempre fez isso. Ela até comprava meu almoço.
— Comigo não, bebê - negou com o dedo em riste — Posso ser boazinha e te levar um café hoje por ser meu primeiro dia e talvez caso receba algum cliente, por educação, mas nem pense que vou sair por aí atrás de comida para você. É só pedir que eles entregam aqui.
— Já começo a duvidar que esse acordo com Célia foi bom pra mim - soltou o ar.
— Não fui eu quem me ofereci - deu de ombros.
— Tem certeza de que não quer ir embora logo?
— Posso? - ergueu uma sobrancelha.
— Ah, vá - abanou a mão — Está só me enchendo.
— Viu só o que eu passava com você? - riu.
Ele riu lhe dando razão, mas pensou em como iria se virar com ela durante esse tempo. Seria difícil não prestar atenção ao quanto estava bonita e atraente. Uma grande mudança.
E não tinha certeza se seria bom ter essa nova Natália em sua vida de novo.
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No segundo dia, Natália já estava certa de que tinha feito a melhor coisa da vida ao trocar um escritório por sua paixão que era fazer doces. Mil vezes passar o dia enfiada em sua cozinha na confeitaria do que ali, presa entre quatro paredes e atolada de papel.
O lado bom era poder se arrumar mais porque na confeitaria passava o dia de uniforme e com um avental enorme na frente.
Só que ela não iria admitir isso para Júlio. Já tinha dito que não queria estar ali. Porém não poderia negar que até que foi bom fazer algo diferente pra variar, ainda que fosse só papelada e tivesse o lado chato, que era ficar respondendo aos muitos e-mails e atendendo telefone sem parar.
Isso quando Júlio não jogava algo em sua mesa para ela corrigir. Era muito papel. Uma burocracia grande.
Não era um trabalho difícil, era chato. Como só ficaria pouco tempo dava pra levar, mas o pior mesmo era observar Júlio passando por sua mesa. Não tinha reparado como ele ficava bem, arrumado assim.
Quando ele aparecia antes geralmente estava de jeans e camiseta, ainda assim era bonito e ela já tinha notado isso, mas nunca a sério. Até porque ele vivia enchendo a paciência dela que era curta.
Não era nada bom que ficasse reparando como ele ficava sexy usando gravata. Nada bom mesmo.
Estava reparando até em seu perfume. Só podia ser porque estava tempo demais sem namorado. Júlio não era alguém por quem deveria se interessar, não de verdade.
Quando mais nova ela até que ficou de olho nele um tempinho, mas foi tipo uma paixonite de adolescente que está se descobrindo, nada demais e depois isso passou com o tempo. Agora não era hora dessa paixonite retornar.
Só faltava essa!
Parte 1...Júlio se recostou na cadeira e ficou observando Natália logo em frente. Ela estava concentrada lendo algo no notebook e estava de cabeça baixa. Seu cabelo escuro caía por seu rosto e cobria seus olhos. Lindos por sinal e ele tinha notado demais isso desde que ela chegara no escritório.Nesse pouco tempo em que ela estava ali, ele se sentiu frustrado. Não sabia bem o motivo, mas achou que talvez ela fosse ser mais solta com ele. Para fazer piadinhas era com ela mesma, parecia querer lhe dar o troco pelo passado, mas até que ele gostava. Além disso nada. Não lhe dava bola.Era muito organizada e rapidinho ajeitou as pendências que Marcela havia deixado. Realmente cumpriu o que disse e só levou uma xícara de café para ele e nada mais. Na hora do almoço teve que sair porque ela disse que não iria comprar nada para ele e realmente não foi.Ela estava diferente da Natália de anos atrás. Ele jamais iria achar que ela era tão organizada e competente assim. O escritório voltou a f
Parte 2...— Essa Odete é mais uma namorada?— Não. Amiga de Simone - Mexeu a cabeça — A que ligou antes. Com certeza queria me convencer a sair com ela de novo. Ando um pouco distante.— Ixi - fez careta — Está se metendo com coisa ruim assim? Tem que alguém o animar a sair? Ficou velho? - gargalhou.— Não - ele coçou o queixo — Talvez, nem sei. É só um caso que começou devagar e acabou rápido - a encarou — Vem cá, você é sempre ousada assim com seus chefes?— Quando trabalhava como secretária não, mas com você é divertido. É bom dar o troco.De verdade era divertido essa interação com Natália e não tinha porquê se preocupar com o que Odete e Simone diriam dele. Não dava mesmo importância às suas opiniões.Simone serviu para distraí-lo um tempo, mas acabou e os amigos dela eram todos fúteis como ela e não acrescentavam nada a ele. Logo estaria esquecida.— E faz tempo que eu sou a chefe - piscou o olho.— Mas ainda se lembra como é um escritório.— Claro que me lembro e até que o seu
Parte 3...— Não tire proveito - levantou o dedo.— Qual sua onda com essa Simone?Ele a encarou um instante. Estava falando solto com ela como se fossem amigos. Eram conhecidos, mas não tinham uma amizade de verdade, era muito mais nova do que ele, mas ainda assim se soltava. E o interessante é que nem com sua ex ele se soltou rápido dessa forma.— Não foi nada demais - estava se explicando, coisa que não fazia — Foi algo para curtir, passar o tempo.— Ah, tá... E ela sabia disso?— Se não sabe é porque quer se enganar. Eu nunca fiz promessas - disse seco.— Mas às vezes tem gente que precisa de mais dicas sabia? - ergueu as sobrancelhas de modo cínico.Ele era um que precisava de dicas. Se tivesse sido mais atento não teria nem mesmo se casado. Só perdeu tempo e dinheiro. Lívia só aproveitou de sua posição e o fez de passatempo, mas cobrou caro.Agora o que ele menos queria era se envolver e acabar se apaixonando de novo. Por isso estava só de curtição com Simone.— Isso aí não é pr
Parte 1...Júlio encheu a boca com a carne acebolada e o macarrão. Fazia tempo que não comia comida chinesa e quando Natália pediu, ele não recusou.A comida estava ótima, mas ele estava gostando mais da companhia, o que era até algo inusitado. A garota que antes ele irritava para se divertir agora o deixava intranquilo, meio sem jeito e cheio de imaginação.Ele encarava sua boca enquanto ela falava sobre a doceria.— Tem um cliente que vai literalmente todos os dias e compra a mesma coisa - encheu a boca de macarrão e cenoura.— Vai ver ele só gosta desse doce.— Não, eu já dei outros de amostra ele gostou de todos, mas diz que esse é especial. A mulher dele está grávida e só quer comer essa torta.— Nossa, deve ser uma delícia então.— Passa lá e eu te dou uma fatia pra provar.— Gosta do que faz Natália? - bebeu um pouco de vinho.— Amo - sorriu orgulhosa — Foi a melhor coisa que fiz. Trocar de profissão.— Pelo menos você sabe que está ajudando a uma mulher grávida - brincou.— As
Parte 2...— Eu sei...— Então a gente se vê na segunda-feira.— Natália - falou mais firme — Espera.— O que? - se voltou para ele.— Vou precisar de você esse fim de semana.Ela sentiu a perna ficar bamba. Como assim? Ele precisava dela? Em que sentido? Meu Deus!— Preciso de uma secretária sem falta.“Ah tá, só isso”.— Minha folga é fim de semana - foi saindo.— Espera - levantou — Tenho duas reuniões e preciso demais de você... Como secretária.— Iihh... Não vai dar - acenou.— Por favor, eu te pago hora extra.Ela parou. O salário estava ótimo para duas semanas apenas. Aumentar isso seria bom.— Depende.— Do que? - ergueu uma sobrancelha.— Essa hora extra vai ser normal, boa ou ótima?— Olha só, querendo tirar proveito de mim?— Claro, ué - riu segurando a bolsa — Você tem grana e precisa, precisa, precisa de mim - fez um biquinho.— Peste! - segurou o riso — Isso não é certo.— É sim, você é advogado, sabe como funciona.— Certo, pago hora extra dupla. Tá bem assim?— Está ót
Parte 3...Ela cruzou os braços e o encarou cerrando os olhos. Sentiu o calor retornar.— Olha aqui Júlio, se vier com gracinhas pra cima de mim você vai levar. Já digo logo.— Que gracinhas? - segurou o riso.— Sei lá - bateu as mãos na lateral do corpo — Eu me lembro bem das palhaçadas que você aprontava comigo quando eu era mais nova.— E quem disse que eu vou aprontar?— Júlio, Júlio...Ele deu uma risada. Natália era muito mais interessante do que ele recordava. Deveria ter prestado mais atenção a ela desde sempre.— Acredite, será apenas trabalho. Não vou aprontar nada contra você. — Se tentar vai levar - apontou — Já aviso.— Ok - abanou a mão — Vai logo pegar essas reservas por favor. Aqui está o nosso horário - entregou um papel com as anotações.— Credo, parece um hieróglifo.— Minha letra é perfeita - reclamou.— É sim. Uma perfeita... - calou-se. Ia dizer uma bosta, mas ficaria feio — Já vou - saiu da sala.Ela ficou um instante com o telefone na mão. Não deveria, mas est
Parte 4...A entrada para o hotel já era linda. Cheia de flores e árvores no caminho até a entrada. O sol já estava de pé mostrando as belezas do lugar. O jeito como os raios de luz passavam entre as árvores deixava tudo muito romântico. E o cheiro que vinha do mar era delicioso, convidativo a um mergulho.Natália esperava poder ter tempo para isso, nem que fosse uma vez só. Estar em um lugar lindo como esse e não aproveitar seria até um crime.O hotel era famoso e agora entendia porquê. A paisagem se misturava com a imponência do lugar em estilo mediterrâneo. Era uma construção antiga, mas com traços modernos mesclados, talvez em uma reforma ou ampliação. Eram dois prédios grandes modernos e seguindo pela lateral várias casinhas com acesso ao mar, três piscinas enormes, parque aquático com brinquedos infantis e um restaurante no centro.Tudo muito bonito. Seria ótimo se fossem férias mesmo e pudesse aproveitar tudo ali. Júlio já conhecia o lugar, mas ela nunca tinha estado ali. Marc
Parte 5...— Sinto muito - segurou sua mão — Ela te chifrou?— O que? - ele quase engasgou.— Sei lá, de repente... Você encheu o saco dela também como fazia comigo.— Nada disso... Ela não foi legal comigo, mas eu não tive culpa da separação.— Isso é o que você diz - torceu o nariz — Quando um casal se separa sempre é culpa dos dois, não só de um - mexeu o garfo na frente do rosto dele.— Eu fiz o meu melhor.— Será? - mordeu o melão.— O que você sabe sobre casamento?— Nada - deu de ombro.— Então não fale bobagem.— Talvez você a tenha idealizado e isso é um caminho para a destruição sabia?— Meu Deus - riu — De onde isso saiu?— Daqui - bateu o dedo na cabeça — Sou muito inteligente - piscou o olho.— Estou começando a ver - e muito mais.— Eu prefiro ser fiel a mim mesma e reconhecer minhas imperfeições, assim não me engano e nem engano a ninguém.Por essa Natália ele não esperava. Diferente, sexy, divertida e inteligente. Algo fora do que ele lembrava da menina sapeca de antes