Capítulo 09

Peter Snow

Quando meu pai me deserdou e me largou ele cortou todos os laços comigo e assim eu mantive. Não quero vê-lo nem mesmo para saber seus motivos. Recebi o sobrenome Snow e tento diariamente honrá-lo, pois se hoje sou alguém, pelo menos por fora é graças a quem me deu esse nome.

Poucas vezes vou até meus pais, mas sempre vou quando é aniversário ou alguma data comemorativa como foi o caso desse final de semana. É o aniversário de casamento dos meus pais e eu deveria estar lá com eles, mas por ironia do destino, no único final de semana que eu estava me sentindo bem estando lá, fui obrigado a voltar às pressas.

O motivo de querer ter ficado lá?  Um anjo. Uma menina doce e em simultâneo, desafiadora. Uma menina mulher que fez meu mundo parar em apenas fitar o seu olhar. Uma jovem dos olhos azuis cristalinos, da face rosada e do cheiro mais doce que já senti. O anjo que viu meu interior e abraçou minha escuridão.

Seu toque, seu sorriso, seu cheiro, tudo nela é um convite para mim. Ícaro ao encontro do sol. Mais uma vez meu coração voltou a bater e o medo me consumiu, mas ao contrário do que pensava, me vi fazendo coisas que, jurei nunca mais fazer!

Tivemos uma noite maravilhosa onde nos divertimos como a muito não me divertia, até que vi algo que me chamou atenção. Já estávamos de saída, mas algo tinha que acontecer.

Meu sangue ferveu, minha visão ficou vermelha, mas antes que eu agisse, o inesperado aconteceu. Vi aquele ser que ao meu ver parecia tão frágil, derrubar um homem que era mais alto do que eu. Sua técnica, sua agilidade me deixaram paralisado e só voltei a reagir quando vi que outros viriam tirar satisfação.

Saímos daquela boate com meu sangue ainda fervendo. Eu estava excitado. Passei toda a noite com meu pau doendo de desejo e no final ver um bastardo qualquer passar a mão em meu anjo, não ajudou em nada.

A volta para casa foi em silêncio total. Cada um preso em seus pensamentos e muitas vezes vi seu olhar para mim. Vi a confusão em seu rosto e por mais que minha cabeça dissesse ser melhor assim, que era o melhor para todos manter à distância, que aquilo tudo veio em um bom momento, na hora que ela desceu da limusine eu não resisti.

Não consegui colocar ali um ponto final em algo que nem começara, não consegui vê-la seguir para seu quarto com todas aquelas dúvidas em sua mente, não resisti a seus olhos, quando me olhou ao tocar em sua mão e aquela decisão que parecia tão errada, tornou-se a mais certa logo após beijar aqueles delicados lábios e provar de sua doce boca.

Vicktória fez-me sentir naquele beijo, o que nunca senti em todos esses anos, mesmo estando com tantas mulheres e fazendo coisas que poucas pessoas fazem. Eu já vi e já experimentei de tudo, mas nada se compara a ela. Se existir um paraíso para cada um de nós, o meu paraíso se chama Vicktória. Minha Vicktória.

Estava tudo perfeito, mesmo com medo, sentindo o aperto em meu peito e o desconforto em meu estômago eu queria mais, eu busquei por mais. Aquele beijo, o seu toque, seus dedos em meus cabelos, tudo grudou em mim, ela está presa em meu sistema e como se fosse uma droga, eu quero mais dela.

Estava deitado ainda tocando meus lábios sentindo seu gosto em minha língua, quando o telefone tocou e o nome da Lauren apareceu no visor. Eu sabia que não era coisa boa aquela ligação, mas nunca pensei se tratar de um incêndio em minha empresa.

Acionei Dereck e mandei agilizar o jato, vesti a primeira roupa que encontrei que no caso era a roupa que acabara de tirar e ainda vestindo meu blasé, desci saltando alguns degraus, as escadas da casa, encontrando meu pai assustado ao ver minha pressa. 

— O que aconteceu?

— Estou voltando para Nova York, pai. Infelizmente não poderei ficar peça desculpas a mamãe, mas o caso é sério, eu juro que se não fosse, se eu pudesse passar para qualquer outra pessoa eu ficaria.

— Vejo que é sério mesmo. Precisa de ajuda?

— Não. Eu mesmo resolvo. — Ele pode pensar que fui grosso, mas além de a tempos eu mesmo resolver minhas coisas, também queria ambos longe da bagunça que sabia que estava me esperando.

Após entrar no jatinho a lembrança dela e seu cheiro ainda impregnado em minha blusa me fez lembrar de algo.

Fiz Dereck descobrir seu telefone, assim que ele conseguiu, liguei para ela contando o motivo de ter partido. Não queria que ela pensasse que não queria mais vê-la e agora estou aqui, no meio dessa bagunça ainda ouvindo suas palavras “acredite Peter. Eu me preocupo, assim faz também seus pais e seus irmãos. Eles te amam”.

Estou com medo, pois sei que ela também vai me deixar, assim como todos vão. É só descobrirem o que me tornei, os lugares que frequento e o que já fiz, desde quando meu coração se quebrou pela última vez decidi não usá-lo, até agora.

Ele sempre me ferra, mas, dessa vez, tenho uma vasta impressão de que não serei eu o único ferido. 

Queria ter forças para deixá-la ir, mas não consigo. Estou a apenas algumas horas sem vê-la e já sinto sua falta. Sei que vou machucá-la, sei que nós dois sofreremos, mas Deus sabe que não tenho forças para negar-me em tê-la.

Olho meu relógio e vejo que as horas não passaram nada. Então, ligo para Lauren, para que ela providencie meu almoço e um advil para aliviar essa dor que só aumenta em minha cabeça.

Eu não sou nada. Sou só a casca vazia de um homem, que nunca foi merecedor de amor nenhum, nem mesmo daqueles que me colocaram nesse mundo. Como ela pode me dizer com toda a certeza que me ama? O que a faz ser diferente dos outros?

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