Charlotte esgueirou-se pelas paredes frias enquanto sentia o seu peito apertar. Talvez ela tivesse se arriscado demais, todavia, o seu coração lhe dizia que valia a pena. Afinal, nem tudo seria fácil, pensou ela. A carta que havia entregue à Robert indicaria claramente à Simon o que ela precisava, bastava ele atentamente o que Charles havia lhe enviado para que ele pudesse investigar Lorenzo por ela. Sua mente estava um turbilhão, girando aleatoriamente enquanto ela tentava conciliar seu raciocínio à uma estratégia para não ser pega em seu retorno e conseguir chegar à Caterina em seguida.
— O que faz aqui, senhora?!
A voz fina e afiada da criada lhe atingiu as costas fazendo-a congelar onde estava. Não tinha ideia do que faria em uma situação como aquela, afinal, que tipo de desculpa daria para justificar sua escapada?
Era noite e a luz da lua já atravessava a janela do quarto de Caterina no momento em que ela sentou-se à escrivaninha para ler suas correspondências. O brilho que cruzava as janelas ajudava na leitura, mesmo que a lareira e candelabros já estivessem prontamente acesos. O incenso ao lado queimava lentamente enquanto Caterina abria os envelopes um a um, rasgando os selos com uma adaga pequena. A cera quebrou-se sem muita dificuldade e ao abrir o papel Caterina notou ser apenas outro convite ao qual ela recebia com frequência.— Sanguessugas deploráveis... — murmurou ela.Ao fechar uma das cartas de seus tios ela sentiu seu estômago embrulhar e precisou respirar fundo para se recompor. O cheiro forte de sálvia e lavanda lhe intoxicou de modo que todos os seus sentidos se entorpeceram por alguns segundos. Relaxando a sua expressão antes demasiada tensa, Caterina
Simon abriu a porta de seu quarto e entrou devagar procurando equilibrar a bandeja em uma mão, enquanto segurava uma garrafa na outra. Do lado de dentro o jovem agora com feições cansadas chutou a porta atrás de si com a sola dos sapatos e a ouviu se fechar ao passo em que alcançava a mesa no centro do recinto. O quarto de Simon era quase tão amplo quanto uma casa. Possuía uma janela logo à frente da entrada, cortinas pomposas e vermelhas, estantes com mais livros do que ele podia ler, mais sofás do que ele daria conta de ocupar e uma decoração requintada da qual ele se quer entendia. Muitos dos quadros ali eram de homens e mulheres que ele se quer havia visto na vida, enquanto outros mostravam paisagens que ele nunca imaginou que podia existir. Sobre sua cama, que era maior que seu quarto em sua humilde casinha, havia um grande quadro de moldura banhada a ouro e pintado na tela jazia uma bela mulher que o
“Vejo isso como uma derrota. Em meus conceitos sempre acreditei que um monarca que desistisse de lutar por seu país não o merecia... e veja agora onde eu estou. Talvez a melhor forma seja suportar as consequências disso, me recuperar e tomar outros caminhos para continuar lutando pelo meu povo e por mim. É, talvez não seja uma desistência e sim uma parada para o descanso.” — Charlotte, Abril de 1648.Simon sentia seu coração bater forte contra o peito querendo saltar para fora. Ele não queria demonstrar, mas tremia tanto quanto uma criança diante de um monstro de contos de fada. Ele saiu naquela manhã a caminho das celas onde encontraria o salvador de Charlotte. Embora estivesse sob o disfarce de duque ele sabia que não tinha condições de fazer nada contra qualquer nobre que fosse sem colocar a si e Robert em risco. Para isso dar certo ele p
Após deixar as celas, Simon percorreu o palácio falando com criados e guardas fazendo as perguntas mais variadas. Seu tom curioso o delatava como curioso, já que todas as suas duvidas surgiam a partir de um rumor, mesmo que inventado. Para uma criada que passava segurando uma cesta com roupas de cama ele questionou se a regente Caterina realmente estava tendo um caso com um nobre da corte. Os olhos da garota se arregalaram de surpresa, afinal, ela jamais havia ouvido tal boato antes. Em resposta ela desculpou-se tentando fugir do assunto, mas Simon estava tão completamente munido de determinação que sua persuasão não permitiu à garota escapar.— Senhor, só sei que ela fica frequentemente em seu quarto com sua criada. Dificilmente alguém entra em seus aposentos e quando entra é sempre Bessie. Agora, se me dá licença, preciso ir.À pa
O sol já havia surgido ao horizonte quando Simon acordou. Deitado sobre os panos velhos atrás da saída de empregados do palácio ele adormeceu, escondido sob o lixo e a sujeira onde ninguém o notaria. Ele levantou-se poucos segundos antes de ouvir uma voz se aproximar e em seguida correu em direção ao monte de palha e madeira que se acumulava próximo às cercas de grama.Tratava-se de Bessie. Como ele suspeitava, Bessie sairia logo cedo para fazer o que lhe foi mandado. Mesmo sendo arriscado e correndo o risco de ter dormido ao relento por nada, ele se expos para ter a chance de segui-la sem ser notado. Afinal, quem se importaria com um maltrapilho quando havia trabalho a ser feito? Então, dedicado em sua empreitada, Simon ouviu Bessie murmurar algo com alguém antes de se despedir e sair andando calmamente.Quando ergueu o olhar pelas bordas da parede de pedra, Simon
Uma panela de latão amassada esquentava sobre a fogueira montada sobre um mal construído quadrado de pedra onde a lenha ficava para evitar incendiar a casa. Um buraco na parede evacuava a fumaça enquanto a panela fervia o chá de cascas de arvore que o velho homem havia colhido há dois dias atrás. Aquela era uma das únicas coisas que ele ainda tinha a oferecer, a melhor delas, e com muito capricho ele pegou um de seus copos de barro para servir Simon.— Perdão não ter nada melhor a lhe oferecer, senhor. É pouco mas é bom.— Não se preocupe, eu gosto de chá, muito obrigado pela gentileza. Então, pode me contar qual a relação do senhor com aquela mulher?— A morena que saiu agora? Bom, você já deve saber quem ela é se a seguiu, e pelo que me disse conhece a rainha também...Si
“É dia 24 de abril de 1648 e pela primeira vez vejo um monarca herdeiro sendo condenado em seu próprio reino por uma usurpadora estrangeira que nem mesmo tinha o direito de fazer o que faz. Embora eu não me considere inglesa, aprendi e cresci em torno deles e aprendi a amar este país como se fosse meu também. Sinto pena e receio pelo futuro desta nação que terá de se estabelecer sob o controle italiano e absurdo dos Médici...” — Charlotte, Abril de 1648.O dia amanheceu conturbado para a rainha escocesa. Logo cedo duas empregadas lhe serviram o banho e o café da manhã enquanto arrumavam e preparavam as vestimentas da rainha para assistir o julgamento de seu noivo. Como não havia se casado com Henry ela era isenta do julgamento dos nobres, mas não da corte. Charlotte sentiu os olhares curiosos das servas enquanto sentiam receio de toca-la como se
Tudo o que Charlotte sabia sobre Caterina era básico. Era uma filha de um nobre e mercador italiano que vivia em Siena. Nasceu por lá em 1593 e cresceu como princesa toscana que mais tarde tornou-se duquesa de Mântua e de Monferrato ao casar-se com o duque Fernando I Gonzaga em 1617. Charlotte lembrou-se das palavras de sua mãe sobre o dia em que toda a Europa descobriu sobre o noivado de Caterina com George. Segundo Mary, Caterina havia se tornado governadora de Siena pouco após a morte de seu marido, quando conquistou grande influência sobre a Toscana e chamou a atenção de George. Charlotte ainda se lembrava de como a mãe torceu o nariz ao citar o então casamento deles, dizia ela jamais ter visto situação mais vergonhosa na vida. Todos ainda sentiam falta de Dorothea quando Caterina tomou seu lugar ao lado de George à cama.Charlotte nunca gostou de sua postura, mas nunca