“Talvez um dia ele me agradeça pelo que fiz, e ao menos talvez eu tenha coragem de perdoa-lo por todo o mal que ele já causou ao povo. No entanto, hoje, o máximo de compaixão que consigo lhe prestar é ser benevolente quanto à sua perda... Antes de monarca e sua noiva eu sou uma filha de Deus com falhas e sentimentos... Não irei vender minha integridade e colocar o futuro do meu povo nas mãos de um assassino!” — Charlotte, Abril de 1468.
O sol já havia saído naquela manhã e todos se perguntavam o que havia acontecido com sua majestade. Como o rei havia morrido? Por que tão de repente? A rainha recusou-se responder, ela estava aparentemente abalada demais para dizer qualquer coisa, mas quando os nobres questionaram quando seria a coroação de Henry, Caterina não se conteve. Ela respirou fundo e convocou uma reunião de imediato, todos os nobres homens presentes na corte foram conduzidos pelos guardas até a corte dos nobres, onde Caterina sentou-se na cadeira que perSentada em sua escrivaninha, debruçada sobre a madeira fria sob a janela entreaberta do quarto, Charlotte segurou a pena e a deslizou pelo papel sem qualquer entusiasmo. No fundo ela sabia qual seria a resposta de sua mãe, todavia ela não descartava as esperanças de receber apoio daquela que lhe deu a vida. Talvez sua empatia tenha aumentado com a morte de seu pai e o seu apreço pela única filha tenha se fortalecido. Em todo caso, Charlotte reconhecia que, apesar dos desejos, ela teria de fazer o que lhe fosse mandado.“Minha mãe, espero que seu coração esteja mais acalentado neste momento. Com a perda de meu pai o mundo caiu sobre meus ombros, mas suportei o fardo da forma com a qual fui ensinada. Todavia, se te envio a carta hoje é por que este fardo se tornou maior do que tenho capacidade de suportar. Peço que seja misericordiosa e me permita retornar à Escóci
“Vejo-me novamente em um caminho sem saída. Diante de mim a forca, a guilhotina e o desespero. Qual eu deveria escolher? Percebo neste momento como sua sabedoria me faz falta, meu pai. Não sei se serei a brava rainha que você um dia você disse que seria, mas farei meu melhor para não o decepcionar... Mesmo que eu tenha de perder minha vida por isso, salvarei a Escócia e mostrarei a todos quem realmente sou.” — Charlotte, abril de 1648.Passaram-se uma semana desde o dia em que Charlotte havia enviado cartas à sua mãe e Charles. Naquele meio tempo, seus dias se resumiram a perder-se entre livros, conversas consigo mesma e admirar o mundo através das janelas. Vez ou outra, Caterina e seu bom humor resolviam visitar a rainha escocesa que era frequentemente incumbida a abandonar a Inglaterra com ameaças nas entrelinhas dos elogios e empatias de Caterina.
Os dias passaram-se sem que Charlotte se colocasse contra Caterina novamente. Mantendo sua pose de submissa aos desejos dela, Charlotte continuou em seus aposentos concentrando-se nos seus objetivos. De um lado havia sua mãe que lhe colocava muita pressão para casar-se com James, enquanto de outro Charles lhe respondia cortando-lhe todas as esperanças de uma saída fácil.Henry estava preso à masmorra e ela não tinha noticias alguma de uma mudança em sua situação. De fato, seus conhecimentos sobre qualquer coisa fora de seus aposentos era nulo. Sua rotina resumia-se a acordar, receber seu café da manhã às seis horas, escrever e ler cartas e seu diário até as oito horas, em seguida passar um tempo no tanque de banha ao lado de seu quarto, onde ela ficava horas apenas submersa na água quente até que o calor derretesse suas preocupaçõe
Charlotte esgueirou-se pelas paredes frias enquanto sentia o seu peito apertar. Talvez ela tivesse se arriscado demais, todavia, o seu coração lhe dizia que valia a pena. Afinal, nem tudo seria fácil, pensou ela. A carta que havia entregue à Robert indicaria claramente à Simon o que ela precisava, bastava ele atentamente o que Charles havia lhe enviado para que ele pudesse investigar Lorenzo por ela. Sua mente estava um turbilhão, girando aleatoriamente enquanto ela tentava conciliar seu raciocínio à uma estratégia para não ser pega em seu retorno e conseguir chegar à Caterina em seguida.— O que faz aqui, senhora?!A voz fina e afiada da criada lhe atingiu as costas fazendo-a congelar onde estava. Não tinha ideia do que faria em uma situação como aquela, afinal, que tipo de desculpa daria para justificar sua escapada?
Era noite e a luz da lua já atravessava a janela do quarto de Caterina no momento em que ela sentou-se à escrivaninha para ler suas correspondências. O brilho que cruzava as janelas ajudava na leitura, mesmo que a lareira e candelabros já estivessem prontamente acesos. O incenso ao lado queimava lentamente enquanto Caterina abria os envelopes um a um, rasgando os selos com uma adaga pequena. A cera quebrou-se sem muita dificuldade e ao abrir o papel Caterina notou ser apenas outro convite ao qual ela recebia com frequência.— Sanguessugas deploráveis... — murmurou ela.Ao fechar uma das cartas de seus tios ela sentiu seu estômago embrulhar e precisou respirar fundo para se recompor. O cheiro forte de sálvia e lavanda lhe intoxicou de modo que todos os seus sentidos se entorpeceram por alguns segundos. Relaxando a sua expressão antes demasiada tensa, Caterina
Simon abriu a porta de seu quarto e entrou devagar procurando equilibrar a bandeja em uma mão, enquanto segurava uma garrafa na outra. Do lado de dentro o jovem agora com feições cansadas chutou a porta atrás de si com a sola dos sapatos e a ouviu se fechar ao passo em que alcançava a mesa no centro do recinto. O quarto de Simon era quase tão amplo quanto uma casa. Possuía uma janela logo à frente da entrada, cortinas pomposas e vermelhas, estantes com mais livros do que ele podia ler, mais sofás do que ele daria conta de ocupar e uma decoração requintada da qual ele se quer entendia. Muitos dos quadros ali eram de homens e mulheres que ele se quer havia visto na vida, enquanto outros mostravam paisagens que ele nunca imaginou que podia existir. Sobre sua cama, que era maior que seu quarto em sua humilde casinha, havia um grande quadro de moldura banhada a ouro e pintado na tela jazia uma bela mulher que o
“Vejo isso como uma derrota. Em meus conceitos sempre acreditei que um monarca que desistisse de lutar por seu país não o merecia... e veja agora onde eu estou. Talvez a melhor forma seja suportar as consequências disso, me recuperar e tomar outros caminhos para continuar lutando pelo meu povo e por mim. É, talvez não seja uma desistência e sim uma parada para o descanso.” — Charlotte, Abril de 1648.Simon sentia seu coração bater forte contra o peito querendo saltar para fora. Ele não queria demonstrar, mas tremia tanto quanto uma criança diante de um monstro de contos de fada. Ele saiu naquela manhã a caminho das celas onde encontraria o salvador de Charlotte. Embora estivesse sob o disfarce de duque ele sabia que não tinha condições de fazer nada contra qualquer nobre que fosse sem colocar a si e Robert em risco. Para isso dar certo ele p
Após deixar as celas, Simon percorreu o palácio falando com criados e guardas fazendo as perguntas mais variadas. Seu tom curioso o delatava como curioso, já que todas as suas duvidas surgiam a partir de um rumor, mesmo que inventado. Para uma criada que passava segurando uma cesta com roupas de cama ele questionou se a regente Caterina realmente estava tendo um caso com um nobre da corte. Os olhos da garota se arregalaram de surpresa, afinal, ela jamais havia ouvido tal boato antes. Em resposta ela desculpou-se tentando fugir do assunto, mas Simon estava tão completamente munido de determinação que sua persuasão não permitiu à garota escapar.— Senhor, só sei que ela fica frequentemente em seu quarto com sua criada. Dificilmente alguém entra em seus aposentos e quando entra é sempre Bessie. Agora, se me dá licença, preciso ir.À pa