Revelações

Luiz desce do carro e se dirige ao café no qual faz o desjejum todos os dias na companhia do amigo, antes de irem para o trabalho. Ele abre a porta e é recebido pelo cheiro de café, o deixando com água na boca. Ele pediu um café e se dirigiu para a mesa de Carlos, que se levantou para cumprimentá-lo.

-Fala Carlos, o que é tão urgente?

-Se você disser eu te avisei acaba a amizade.

-Ein?

-Você tinha razão. Ela não presta, não vale nada. Ela não está grávida. 

-Eu sei . Eu tentei te dizer mas...

-Tá, já sei. Diga-me,o que você sabe?

-Ela não pode ter filhos.

-Isso eu já sei. Quero saber por que e como, sei que é porque fez um aborto mas é só. Quero saber o motivo do aborto e por que ele causou a esterilidade dela, e algo me diz que você sabe.

-E sei mesmo.

-Então fala.

-Ela namorava comigo...

-Com você?- diz Carlos embasbacado. - Como você pôde? 

-Vai me deixar falar ou não? 

-Sim...

-Então...nós namoramos por quase um ano eu estava apaixonado e ela parecia também estar, até que um dia ela ficou muito doente e sua mãe se recusava a me dizer o motivo, então eu juntei algum dinheiro e levei um médico até lá. Nós não éramos sócios ainda, quando cheguei lá com o médico, ela fez um escândalo, mais acabou cedendo, para mais tarde tentar subornar o médico com sabe-se lá que dinheiro. Só que ela não contava, que além de meu amigo ele era muito honesto e me contou tudo.

-Tudo o que? Me diga.

O garçom trouxe o café. 


- Obrigada. Ela estava mal por que havia feito um aborto e por conta da demora em se cuidar, seu útero estava entrando em necrose, então ela teve que tirá-lo para não morrer. 

-Ela não tem útero? 

-Nada, ela não tem nada, útero, trompas, ovário. Nada, eu mesmo paguei para que ele tirasse, com medo de que ela morresse. Hoje me pergunto se não deveria ter deixado.

- Que horror!

- Quero ver se vai pensar assim depois que eu terminar de te contar tudo. Tailla é um monstro Carlos.

-Então me conte.

-Quando ela acordou da cirurgia, me disse que não queria mais me ver, que eu não servia para ela.

Eu inocente, achei que fosse por causa da minha intromissão, porque eu havia levado o médico sem seu consentimento, mas sua mãe ao ver meu sofrimento, teve pena de mim e me contou a verdade. Tailla já estava interessada em você. Quando eu te vi com ela quase infartei. Eu ainda a amava e saber que ela estava com meu melhor amigo me enlouqueceu.

-Você tentou me avisar. Sempre tentou. Eu que nunca ouvi. Fui tao cego.

- Você estava apaixonado. Eu também agi assim. Quando ela viu que eu virei seu sócio ela se revoltou, lembra?

-Lembro, na época não entendi o motivo agora eu entendo. Ela tinha medo de você me contar. Mas você não contou. Por quê?

- Nem eu sei. Eu via você tão apaixonado, e na verdade achava que ela logo te deixaria e voltaria para mim. Os anos foram passando e vi que eu estava errado. Ela não iria te deixar, você era uma mina de ouro.

- Acho que mesmo que você tivesse me dito, eu não teria acreditado. Eu estava cego. 

-Ela te conheceu no dia em que descobriu que estava grávida porque você...

-Eu a socorri quando ela passou mal.

-Isso. Mas também foi planejado. Você levou-a ao hospital, lá ela soube que estava grávida e lá mesmo ela arrumou alguém que a ajudasse no aborto, por que estava decidido que ela não teria um filho meu.

-Mas... por que tudo isso?

-Por quê? Porque o filho dela tinha que ser de um cara rico, tinha que ser seu.

- Ela não podia simplesmente ter dito que o filho era meu?

- Um filho meu se pareceria com um filho seu?

Carlos olhou para o amigo. Sua pele era vários tons mais escura do que a dele. Não. Um filho de Luiz não poderia passar como dele.

-Por isso o ódio dela contra você, ela acha que você é o culpado dela não poder ter filhos.

- Isso. Por muito tempo eu achei que era por ter pago o médico para fazer o procedimento, mas agora sei que nao. Foi porque a engravidei. Como se a culpa fosse apenas minha.

-Meu Deus, como eu vivi dez anos com uma pessoa assim e não vi o monstro que ela era?

- Acha que isso é tudo? Você não viu nada meu amigo.

-Tem mais?

-Tem, só que isso não sou eu quem vai te dizer. 

- E quem vai?

- Você precisa descobrir.

- Como eu pude ser tão cego?

- Amor. Eu também não fui cego?Paguei médico para salvá-la, sendo que ela ficou mal por abortar o meu filho, e quando ela me dispensou ainda sofri horrores. Podia ter te contado mas não o fiz.

- Você tentou.

- Sim. Mas com indiretas. Nunca cheguei a te dizer nada diretamente.

- Mas quando tentou eu te agredi.

- Ainda assim, era minha obrigação te dizer.

-Por isso você não foi ao nosso casamento. 

-Sim. Eu ainda a amava, mesmo depois de dois anos. Só deixei de amar depois que soube o que ela queria fazer. 

-O que?

-Me matar para que eu não pudesse dizer nada. Percebi que ela não era só ambiciosa, era gente ruim.

- E o que você fez para escapar dela?

- Reuni provas e mandei para um amigo, que entregaria uma cópia para você e uma para policia, caso me acontecesse alguma coisa.

- Polícia? 

-Sim, ela não é só uma mãe que aborta um filho, ela já fez coisas muito piores.

-Obrigado meu amigo mais tenho que ir. Não sei se consigo ouvir mais nada.

-Espere, se acalme que é melhor.

- Eu vou me acalmar. Pode ficar sossegado.

- Procure provas. 

- E as que estão com seu amigo?

- Ela conseguiu pegar. Não sei o que fez com elas.

- Eu vou encontrar.

Carlos se despediu do amigo, que ficou ali, mexendo seu café, que já estava frio. 

Luiz sabia que o que ele sabia era apenas a ponta do iceberg. Tailla estava envolvido em algo maior, podre até.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo