Corajosa

Liz estava atordoada, variava entre a consciência e a inconsciência, mas ela pôde ouvir partes de conversas. Ela estava assustada. Esperava uma oportunidade para se levantar e sair correndo, mas ela sabia que não seria fácil. 

-Sim senhora...ela está conosco...não a garota... não a encontramos...sim...claro senhora...me desculpe...sim vamos pegá-la...até mais senhora, qualquer informação ligarei.

O homem colocou o aparelho no bolso.

-Cleiton? 

-Sim?

-Vamos deixá-la e voltar para pegar a garota.

Garota...que garota?...Alexia...minha...filha...meu Deus eles vão pegá-la. 

Era só isso que Liz conseguia pensar. Que sua filha seria pega e provávelmente elas nunca mais se veriam.

Enquanto isso Alexia ainda tentava ligar para Carlos. Mas depois de muitas tentativas, finalmente ela obteve sucesso.

-Alo, pai?

-Alexia?

-Eles a levaram, levaram a mamãe e agora o que eu...

-Calma. - cortou - assim você não ajuda em nada. Onde você está? 

- Em casa. 

- Sai daí, eles podem ir atrás de você. Você viu algo estranho quando estava na aula? 

- Para falar a verdade, vi um cara me observando, achei estranho e tratei de dar um perdido nele, mas não achei que pudesse ter ligação. Tem sempre alguém vigiando a gente.

- Alexia, sai daí agora! Pegue um táxi e venha para cá você sabe onde estou não é? 

-Sei sim...

Um barulho fez com que Alexia se sobressaltasse.

- Pai tenho que desligar agora, tchau. 

Alexia desligou e correu para a saída da cozinha, que dava  para a garagem bem a tempo de ver o mesmo brutamontes que levou sua mãe acompanhado de outro maior ainda, se é que isso era possível, meter o pé na porta e entrar na casa. Ela se manteve escondida até que eles entraram. Ela podia ouvir os dois revirando a casa. A garota se manteve escondida. Não podia arriscar sair e dar de cara com um deles.

-Encontrou? 

-Nada, não está na casa.

-Vamos! Ela não deve estar longe eu a vi pela janela.

Pegaram o carro e foram seguindo pela rua bem devagar para ver se a viam. 

Alexia saiu de seu esconderijo e foi para o lado contrário ao que os capangas foram, se dirigiu até a avenida principal e parou um táxi. O taxista achou estranho mas parou mesmo assim.

- Avenida Paulista. Quando chegar lá te mostro onde é.

- Você não é muito jovem para pagar um táxi.

- Meu pai...

-Aaaahh.

- Vai me levar ou vou ter que pegar outro táxi? 

- Sim, mais quem vai pagar a corrida?

- Meu pai! Ele está me esperando lá.

- Quem me garante? 

Alexia bufou. Ligou para o pai que falou com o taxista, que finalmente saiu.

Ao passar pelo carro que havia levado sua mãe, se abaixou disfarçadamente. Eles não podiam vê-la.

Chegando ao hotel, Carlos aguardava na recepção,  pagou o táxi e os dois seguiram para uma locadora de veículos próxima dali. Não dava para ficar andando de táxi.

Eles saíram com um carro e Carlos parou na frente do hotel.

- Melhor você ficar aqui.

- De jeito nenhum, eu vou junto.

- É perigoso. 

- Do mesmo jeito que é eu ficar sozinha no hotel.

- Não vou conseguir nada com você, não é? 

- Não, é a minha mãe e eu vou também. 

- Tá bom, mas me promete que se eu disser para correr, você corre?

- Prometo.

Carlos não notou quando Alexia cruzava os dedos atrás das costas. Ela não fugiria. Não se pudesse evitar.

- Então vamos.

- O que vamos fazer primeiro? 

- Temos que ir ao banco pegar a documentação que sua mãe falou.

- Será que a Tailla já sabe que você descobriu?

- Não sei. Vou ligar para ela. Agora que me lembrei.

-Deixa que eu ligo.

- Enlouqueceu?

Alexia não respondeu.

- Desculpe, se você ligar ela pode perceber, se ela já souber vai jogar para cima de mim.

-Ela acha que por ser criança eu sou burra. Mas mamãe me deixou a par da história toda, até que eles querem me vender também. 

-Isso nunca vai acontecer, eu não permitirei. 

- Não me prometa o que não vai poder cumprir.

Carlos ficou calado, realmente não tinha certeza se poderia cumprir tal promessa. Ele esperava que sim.

Chegaram ao banco e foram recebidos por uma bela mulher que os acompanhou até o cofre.

- A mocinha não vai poder entrar senhor.

- Ela e minha filha. 

- São as regras, apenas uma pessoa por vez no cofre.

- Ela é menor de idade!

- Mas não pode entrar. Desculpe.

- Fica sossegado pai, eu sei me cuidar.

Carlos não gostou de ter que deixá-la, mas não tinha outra opção então entrou, ele seria rápido, mas não o suficiente.

Alexia sentou-se e pegou seu celular para ligar para tia. No terceiro toque ela atendeu.

-Alo, tia?

- O que você quer?

- Sabe da minha mãe? Cheguei em casa e ela não estava.

- Você pensa que sou idiota garota? Sei perfeitamente que seu pai tá com você, você pensa que é esperta, mas eu sou mais que você. 

Ooh se é. 

-Alexia desligou ao mesmo tempo que um homem se aproximava. Ela percebeu que ele vinha em sua direção então se levantou e correu. Seu pai a viu e saiu logo atrás, a tempo de vê-la sendo levada para dentro de um carro preto. Não pode fazer nada, apenas observar enquanto ela era levada e gritava pela janela.

-Pai, ela sabe...

O bandido tapou sua boca e o motorista arrancou com o carro saindo em alta velocidade. Carlos ficou sem chão. Primeiro sua amada e agora sua filha. Ambas haviam sido levadas e ele não sabia o que fazer. Ninguém no banco e nem do lado de fora pareceu notar o que acontecia. Mas ainda que tivessem notado, o que fariam?

 No carro, Alexia mordeu a mão do cara, que deu-lhe um tapa. Ele colocou um pano com um produto que a fez desmaiar.

Nessa hora o celular dele tocou.

- Alô senhora...a garota está conosco...sim a pegamos no banco como a senhora disse...já leva então?...certo.

-Mauricio, a senhora disse par a levarmos para o lugar onde será realizado o  leilão. Não vamos perder tempo.

- Essa garota novinha assim e virgem deve valer uma pequena fortuna. 

-Isso não é da nossa conta. Agora vamos.

Alexia estava acordada, mas fingia ainda estar apagada e ouviu tudo. Ela sabia para que esse leilão servia. Para vender as garotas para diferentes lugares do mundo. Ela nunca mais veria sua mãe e muito menos seu pai, que acabara de conhecer.

E agora? Preciso dar um jeito de fugir.

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