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Dormindo com inimigo

Carlos não sabia o que fazer. Queria comprar uma passagem para a manhã seguinte, mas para onde?

Precisava de uma pista.

Tinha que procurar pela casa, encontrar alguma coisa.

Ele começou pelo quarto do casal, olhou nos guarda roupas, baú, tudo. Até embaixo da cama. Nada. Procurou nos outros quartos, na sala, na cozinha e até no banheiro, na garagem, mas não encontrou nada.

- Como eu posso ser tão estúpido? Se fosse eu, guardaria tão óbvio assim? Vamos Carlos use a cabeça, pense, pense, onde eu não procurei?...O sótão...é claro o sótão.

Não foi difícil encontrar a chave, ele achou que ela teria escondido, mas ela simplesmente a deixou na gaveta do criado mudo. Claro, ela achou que ele nunca precisaria entrar ali, mesmo porque, ele sempre detestou entrar lá, quando compraram a casa ele queria tirar, mas, com sempre Tailla não permitiu e ele fez o que ela queria.

Por que será que ela não permitiu, né?

O sótão era escuro, suas janelas haviam sido pintadas com uma tinta escura. Com a ajuda de uma lanterna, Carlos vasculha o lugar na penumbra, não demora muito para encontrar uma caixa de madeira, com um cadeado grande pendendo dela. A caixa era de tamanho médio e lembrava muito esses baús de pirata, o que Carlos achou muito bizarro.

 Ele se afasta a procura de uma forma de abrir o baú, logo encontra um pé de cabra.

- Isso deve servir.

Ele coloca a ponta do equipamento e força para abrir o cadeado, sem muito esforço.

Dentro dela há um monte de coisas.

Fotos, cartas e documentos.

Ele começa a revirar as coisas.

Ele encontra uma foto de Tailla com Luiz, outra dela criança, parecendo ter uns dez anos, com uma garota que aparenta ter uns quatro anos, que não lhe é estranha. A foto é antiga e Carlos olha a data que está atrás:

12/06/1991.

Ele faz as contas e deduz que a menina deve ter uns vinte e nove anos hoje, se sua suposição estiver correta.

Ele encontra também uma foto mais recente ,Tailla está com uma garota...Liz...

- O que Tailla está fazendo em uma foto com Liz?

Ele coloca a adoro de lado e pega outra dentro da caixa. É  a foto de uma menina de meses. Ele pega novamente a foto de Liz.

Carlos namorou com ela antes de conhecer Tailla, eles ficaram juntos por nove meses ele estava apaixonado por ela. Só que de repente ela começou a ficar distante e  terminou com ele sem dar explicações.

Na época, Carlos não entendeu, mas preferiu deixar que ela decidisse, ela não parecia apta a negociações, agora, porém, ela posava em uma foto ao lado de sua esposa, que ele julgava que nem a conhecia. Carlos estava confuso. Cada vez mais confuso.

Na caixa havia também uma certidão de nascimento. Ele leu e descobriu que era de Liz.

-Tailla e Liz são...irmãs?

Ele pega a foto e a certidão e coloca no bolso do casaco.

Há também dados de uma conta em um banco em São Paulo, dessas que a pessoa tem o direito à um cofre individual para jóias ou documentos. Há também varias cartas de Liz para Carlos, com remetente de São Paulo.

- Eu nunca recebi essas cartas...

Carlos pega o maço de cartas e também coloca no bolso. Um carro se aproxima, fazendo com que Carlos saia do sótão trancando a porta rapidamente, sem se preocupar com a caixa.  Quando Tailla notar, Carlos já estará longe, a caminho de São Paulo.

Ele nem se importou em fazer as malas, lá ele compraria roupas e o que precisasse. Não tinha cabeça para isso.

[...]

Agora ele sabia para onde tinha que ir.

Para São Paulo. E foi o que fez.

- Obrigado Sr. Carlos Henrique, seu vôo saíra em meia hora no portão seis - disse o jovem entediado que fez seu check'in.

- Obrigado. 

Ele foi direto para o portão de embarque e logo ouviu o chamado de seu vôo.

Já no avião, ele conseguiu relaxar.

-Bebida senhor? - perguntou uma belíssima e maquiada aeromoça.

-Uísque...duplo sem gelo.

-Sim...aqui está.

-Obrigado.

Carlos tomou num único gole a aeromoça arqueou uma sobrancelha, mas não disse nada.

Chegando em São Paulo, se hospedou em um hotel na Av. Paulista.

A fachada do prédio imponente, demonstrava o luxo que seus hóspedes encontrariam em suas acomodações. Ele não era ligado a essas coisas, mas naquele dia se sentia impelido a aproveitar o que ele havia conquistado. Passou anos trabalhando e só o que fazia, era atender aos caprichos da esposa, que agora descobrira, era uma mentirosa. Agora iria atender aos seus próprios caprichos. Pediu a melhor suite do hotel.

-Suite 1306 senhor.

-Obrigado.

-Tem bagagem?

-Não. Resolvi aproveitar a vinda a São Paulo para ir as compras no tão conhecido centro da cidade.

Carlos subiu para sua suite. O cartão de entrada abriu passagem para a cobertura. No andar haviam apenas duas suítes e a que ele ocupava era a melhor delas. Havia uma sala espaçosa e uma cozinha, com frigobar. Uma porta ao canto, revelava a suíte.

A cama era redonda e exibia um lençol de linho vermelho. Seria um ótimo ambiente para um casal, mas ele não tinha mais uma esposa.

Abriu a porta lateral e viu o imenso banheiro com banheira. Era tudo muito glamuroso. Apesar de sua situação financeira ser boa, nunca havia se dado a oportunidade de usufruir de tanto luxo. Sempre guardou isso para Tailla. E ela não merecia.

Voltou para o quarto, e sentado na cama, começou a analisar as cartas. Não estava com coragem para lê-las, mas se obrigou a fazê-lo.

Abriu a que parecia ser a mais antiga, de uma data próxima a quando Liz terminou com ele.

 Liz se despedia, pedia perdão por tê-lo magoado e diz que foi obrigada a deixa-lo.

- Obrigada?

Pegou outra, e mais outra, e quase todas diziam a mesma coisa, a não ser pelo fato, de que a partir da segunda, sempre perguntar por que não respondeu a anterior.

Na última carta, ela dizia que não escreveria mais e conta muita coisa que quase fez Carlos cair da cadeira.

A carta dizia assim:

"São Paulo, 14 de abril de 2013

Carlos...

Essa é a última carta que te escreverei, pois imagino o motivo por você não me responder, acho que minhas cartas sequer chegam às suas mãos, mais ainda assim algo me diz para te escrever essa última.

Carlos, a mulher com quem você se casou não é quem você pensa. Ela destruiu a minha vida porque ela queria você para ela . Preste bem atenção ao que vai ler, e depois venha até mim,  que eu te ajudarei. Ela não pode me machucar, pois sou sua irmã e ela depende de mim para algo muito importante. Tailla não te ama, nunca amou. Ela se casou com você porque o nosso pai assim quis, ela ama o Luiz até hoje, mas foi capaz de deixar o amor de lado por nosso pai. Nós somos filhas do mesmo pai, só que com mães diferentes. Ela faz parte de um submundo que você desconhece. Nosso pai faz parte de uma organização que trafica pessoas, e eles usam o nome da sua empresa como fachada. Carlos, se algo der errado, quem será preso é você. Eu ainda te amo Carlos. Me perdoe por ter ido embora, eu não pude enfrentá-los porque alguém que eu gostaria que você conhece corria perigo. Hoje ela tem nove anos. Sua filha é linda e se parece com você. Na última carta que enviei havia uma foto dela quando bebê.

Carlos há um cofre no banco no nome de Tailla, mas com a senha qualquer pessoa pode acessá-lo a senha é 423552. O banco fica na Av. Paulista,1305. Vá até lá e retire os documentos que ela esconde lá. Ela os pegou de um amigo de Luiz. Ela o matou para conseguir. Ela me obrigou a terminar com você, tenha cuidado, ela não hesitará em matar você. Eu ela não pode, mas você ela pode, engane-a, assim como ela faz com você.

Com amor...

Liz...

-Filha? Eu tenho uma filha?

Carlos olha o endereço que está na carta, algum lugar na Penha. Ele sai do hotel apressado para encontrar o endereço. Para um táxi e pede para que ele o deixe lá.

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