O táxi parou em frente à uma humilde casa, as paredes que um dia foram de um amarelo vivo, hoje tinham uma cor encardida e com degraus apodrecidos na entrada da varanda.
Ele desceu e olhou fixamente para um mensageiro do vento que pendia de uma das beiradas do telhado da varanda.
Carlos lembrou-se daquele objeto, ele já o havia visto, sim ele o havia dado para Liz. Ele sentiu uma estranha nostalgia e ficou alegre por ela ter guardado seu presente durante tantos anos.
-Ela ainda guarda...
-Sim - disse uma voz atrás dele - Ela ainda guarda.
Ele se virou bruscamente, para encontrar uma versão mais jovem de Liz, com aproximadamente uns onze anos. Ele sabia quem ela era e não concordava com Liz. Ela não se parecia com ele. Era idêntica a mãe. Ao menos a que se lembrava.
-Oi.
- Oi.
- Vai lá, minha mãe tá te esperando.
- Você sabe quem eu sou?
- Sei.
- Você sabe de tudo?
- Sei, minha mãe não me esconde nada. Conheço a história toda, até a parte que você não conhece.
- Seu...nome...eu..não sei.
- Mas é claro que sabe! Mamãe disse que você adorava esse nome desde que se conheceram, disse que se tivesse uma filha, seria esse o nome, por isso amo meu nome, foi meu pai quem escolheu.
Carlos estarreceu. Ele tinha razão. Ela era sua filha.
- A...lexia. Seu nome é Alexia?
-Sim. Agora vá pai, preciso ir para a escola.
Carlos não havia notado a mochila nas costas de Alexia até aquele momento. Ele sorriu para ela.
-Vá então minha...filha?
Alexia riu e subiu na bicicleta.
Carlos a acompanhou com o olhar até ela desaparecer na esquina, após um prédio. Foi em direção ao portão, ele estava aberto e ele entrou. Notou que na varanda o mensageiro do vento tilinitava com o vento. Parou por um momento absorvendo a sensação de estar ali.
- Ela guardou...- falou novamente.
Carlos encaminhou-se para a porta e bateu.
Não demorou para a porta ser aberta.
Liz estava ainda mais linda do que quando eles haviam terminado. A idade havia lhe feito bem.
- Oi.
- Oi.
Ela usava um vestido leve de seda rosa bebê, sandálias rasteiras da mesma cor e tinha seus longos cabelos negros presos em um rabo de cavalo alto. Carlos a olhou dos pés à cabeça e engoliu em seco.
-Err...eu..
-Eu sei, você leu minha carta, do contrário não estaria aqui, entre.
Eles entraram e Liz ficou reparando em como Carlos mudara, parecia mais maduro e estava lindo com sua camisa branca bem cortada e sua calça jeans despojada, bem jovial, porém não demais.
-Aceita uma bebida?
-Sim, o que você tem?
-Tenho vinho, licor e uísque, ou você prefere algo mais suave como um café?
-Uísque. - respondeu mais alto do que pretendia.
Liz foi até o bar e preparou duas doses.
-Com gelo?
-Por favor.
Liz acrescentou gelo e levou o copo até Carlos.
-Aqui.
-Obrigado. Vi a Alexia lá fora.
-Viu? Ela é linda não é?
-Sim, como a mãe.
-Hum...
-Bem o que você tinha a me dizer?
- Tantas coisas...
- Por que não me procurou?
- Era arriscado.
- Você me enviou as cartas, também não era?
- Não tanto quanto pegar um vôo.
- Eu li suas cartas apenas ontem. Elas nunca chegaram até mim. As encontrei por acaso. Bem...não tão por acaso assim.
-Eu esperei que você viesse. E você não veio. Imaginei que as cartas estivessem sendo interceptadas.
- Porque tudo isso?
- Você precisa ajudar as pessoas que eles traficam.
- Vamos a polícia.
- Não é tão simples assim. Você é a fachada que eles usam, você seria o primeiro a ser preso.
- Mais porque eles denunciariam a si próprios?
- Ai Carlos, você sabe como é a justiça aqui no Brasil. Não é tão simples, é peciso reunir provas. Naquele banco que eu te disse na carta, existem algumas, só que uma vez a cada dois meses Tailla visita o banco. Ela visitará daqui a três dias, se você retirar os documentos ela descobrirá.
- Só se eu não retirar.
- Como assim?
- Acha que eles tirariam xerox para mim?
- Sim. Mas xerox não serviria como prova.
- Eu sei, mas só para ver do que se trata, para usar como prova eu retiro a documentação depois que ela for lá. E tem mais uma coisa, na sua carta você me disse para enganar Tailla, mas eu só li quando já estava aqui, e sai com tanto ódio dela que deixei a caixa que ela guardava as coisas aberta.
-Dá uma de louco, finja que não sabe de nada.
-E...Liz,?
-Sim?
-Ela me disse que está grávida.
-Grávida? A Tailla não po...
-Eu sei. Luiz já me contou tudo.
-E então?
-Por isso que acreditei no Luiz dessa vez, ouvi uma conversa dela e da mãe.
- Finja, ligue para ela, pergunte pelo bebê, seja igual a ela e quanto as provas de sua descoberta, não deixe ela notar que foi você.
-Como acha que posso ajudar as pessoas traficadas?
-Temos que reunir provas e e entregar para policia,vamos nos unir a eles. Almoça conosco?
-Será um prazer. Só não entendi uma coisa.
- O que?
- Como ela vinha a cada dois meses para São Paulo e eu nunca notei?
- Ela vinha e voltava no mesmo dia. Nosso pai tem um helicóptero e pousava no heliporto do banco.
- Esperta ela.
- Mais do que você pode imaginar. Alexia chega daqui a pouco da escola. Ela só almoça e sai para a aula de dança.
-Ela faz aula de dança?
-E de karatê também.
-Nossa!
A porta se abriu e ambos viram Alexia adentrando a cozinha.
-Oi mãe. Oi pai.
Alexia disse como se todos os dias ela chegasse em casa e encontrasse sua mãe e seu pai conversado na cozinha.
-Vá se lavar que já vou servir o almoço.
-Tá legal mamãe.
Alexia subiu para se arrumar, após alguns minutos todos já estavam sentados a mesa almoçando. Conversaram sobre a vida das duas e sobre a dele também. Liz queria saber tudo o que pudesse sobre Carlos e ele se sentia da mesma forma sobre ela e a filha.
Alexia terminou de comer e pediu licença para sair, colocou seu prato na pia e foi para a aula.
Liz pegou os pratos e colocou na pia para lavá-los.
-Quer ajuda?
-Não, isso aqui é bem rápido. -riu.
-Vai ser mais rápido se eu ajudar, vamos diga onde tem pano, para eu secar.
-Já que você insiste, ali naquela gaveta tem pano. - disse apontando para o armário próximo ao fogão. - Os pratos são nesse armário aí, e os talheres aqui nessa gaveta, os copos eu não gosto de secar, deixo aqui no suporte para escorrer.
Carlos secou os pratos e guardou, depois foi a vez dos talheres. Aproximou-se da gaveta da pia, onde estava Liz, quando ela virou de repente e seus olhares se cruzaram, ficaram numa distancia curta demais, conectados. Carlos não tirava os olhos dos lábios de Liz, queria beijá-los e não pensou duas vezes, largou os talheres no chão e beijou.
Liz correspondeu ao beijo, mas não com doçura e sim com urgência, uma urgência de quem esperou onze anos. Carlos afastou-se dela envergonhado.
-Desculpa, o que eu achei que estava fazendo? Me perdoa Liz.
Liz não respondeu, agora foi a vez dela beijá-lo. Carlos não reagiu, apenas correspondeu e pegou-a no colo subindo a escada. Liz indicou a porta correta e ele entrou colocando - a na cama. Beijou - lhe o pescoço e foi desfazendo os botões de seu vestido.
Beijou-lhe os seios e acariciou a pele de sua barriga. Tirou a calcinha dela e jogou de lado, olhou fixamente para Liz, ela era linda com uma bela barriga lisa, corpo esguio pernas bem torneadas. Ele pensou que talvez ela se exercitasse.
Para ele, a única coisa que maculava a sua beleza, era uma grande mancha roxa na região do quadril, mas ele perguntaria a ela depois, não estragaria o clima com perguntas. Acariciou a pele da região intima de Liz e se deliciou com a avalanche de sensações que isso causava nos dois. Liz arqueou as costas deleitando-se de prazer e amor. Ele a invadiu e ela achou bem vinda a sensação de tê-lo por inteiro.
A conexão que tinha era imensa, parecia que não haviam passado um dia sequer longe um do oiutro. Se amaram por muito tempo, não sabiam dizer o quanto.
Algum tempo depois, Liz estava deitada com a cabeça no peito de Carlos acariciando seus poucos pêlos.
- O que foi?
- Eu esperei tantos anos por isso, aquela hora que você desistiu do beijo achei que fosse parar.
- Eu ia, mas porque achei que havia passado dos limites.
Liz riu.
- Eu te amo Carlos, sempre amei, acha mesmo que passou dos limites? Fico feliz por saber que respeita as minhas vontades, fora a nossa filha, você é o único que faz isso.
-Por que você diz isso?
-Porque tenho que me submeter as vontades de Tailla e meu pai. Eu ouvi por acaso uma conversa dos dois e os ouvi dizer que quando Alexia tornar-se moça vão vendê-la também. A minha filha vendida para se prostituir...
Liz começou a chorar.
-Calma meu amor, isso não vai acontecer, eu não permitirei.
-Por isso te peço que tenha cuidado, se eles descobrirem que você sabe, ela é quem sofrerá as consequências, eles nunca fizeram nada com ela, porque com ela por perto conseguiram me manter quieta, mais depois de ouvir essa conversa me desesperei.
-Por que?
-Receio que eu não seja mais útil para eles Carlos.
- Como assim?
Liz indicou a mancha roxa no quadril.
- Você vê essa mancha?
-Sim, eu ia te perguntar a respeito.
-Ela e por onde eles tiram líquido da minha medula, Tailla tem uma grave doença degenerativa está a matando aos poucos e como sou a unica irmã dela, eles estão me usando para encontrar uma cura.
-Como eu nunca notei?
-Acho que ela disfarça bem . Não sei como, mas ela não parece nunca estar doente. Acho que eles já encontraram a cura ou estão perto, porque sabem que sem a Alexia eu os denunciaria. Eles vão se livrar dela e de mim.
-Não se eu puder impedir. Eu tenho que ir agora, mas eu volto.
Beijou-lhe e se levantou, pegando suas roupas que estavam no chão. Ligou pedindo um táxi.
Liz também se levantou e se vestiu para acompanhar Carlos até a porta.
-Tchau.
-Tchau e não se esqueça de ligar para ela e bancar o preocupado.
-Tá bom, vou ligar assim que chegar ao hotel.
Carlos entrou no táxi e foi embora, mas seu coração ficava com Liz.
O coração dela também ficava com ele.
Ao fechar a porta ela não sabia nem o que pensar. Achou que ele a encheria de perguntas, que teria que se explicar e pedir perdão. Achou que teria que reconquistar o amor dele, mas ao que parece esse amor ainda estava lá adormecido e agora acordara. Ela estava radiante.Ela achou que ele nunca fosse a perdoar e ele sequer a questionou. Carlos era o mesmo homem que ela havia abandonado. Tinha um bom coração. Muito mais bem sucedido hoje, do que naquela época, não perdeu o que tinha de melhor. Sua essência. O dinheiro não lhe subiu a cabeça, como havia subido a da irmã.A irmã.Liz tentou tantas vezes fazer Tailla entender que o que ela fazia era errado. Mas ela nunca ouviu. Sempre tratou Liz como louca.Ela dizia sempre que sabia que era errado. Mas que ela não seria pega. Que quem seria preso caso alguém descobrisse seria Carlos. Seu querido Carlos, ela dizia. A irmã fazia questão de fazê-la sentir medo. Ela temia por sua filha, por Carlos e
Liz estava atordoada, variava entre a consciência e a inconsciência, mas ela pôde ouvir partes de conversas. Ela estava assustada. Esperava uma oportunidade para se levantar e sair correndo, mas ela sabia que não seria fácil.-Sim senhora...ela está conosco...não a garota... não a encontramos...sim...claro senhora...me desculpe...sim vamos pegá-la...até mais senhora, qualquer informação ligarei.O homem colocou o aparelho no bolso.-Cleiton?-Sim?-Vamos deixá-la e voltar para pegar a garota.Garota...que garota?...Alexia...minha...filha...meu Deus eles vão pegá-la.Era só isso que Liz conseguia pensar. Que sua filha seria pega e provávelmente elas nunca mais se veriam.Enquanto isso Alexia ainda tentava ligar para Carlos. Mas depois de muitas tentativas, finalmente ela obteve sucesso.-Alo, pai?-Alexia?-Eles a levaram, levaram a mamãe e agora o que eu...-Calma. - cortou - assim v
E agora? Preciso dar um jeito de fugir. Era só nisso que Alexia pensava. Não sabia o que fazer, mas não desistiria.Quando sua mãe lhe disse que sua tia pretendia fazer isso, ela ficou assustada, mas não imaginou que ela pudesse chegar a tanto. No entanto agora aqui estava ela a caminho sabe-se lá de onde, para ser vendida.O caminho foi longo, o carro foi guiado por uma estrada que Alexia não conseguia enxergar. Haviam grossas cortinas nas janelas e eles viajaram pelo que pareceram horas. Ela ainda fingia estar apagada. Mas em algum momento o homem a chamou e ela abriu os olhos.Rodaram por mais algum tempo, até chegarem a uma grande mansão com grandes muros e um belo jardim. Passaram pela portaria, na qual uns dois ou três brutamontes montavam guarda e chegaram à frente da casa após alguns minutos. Alexia estava com medo, não sabia o que esperar. Isso não tem cara
Minha filha...Como isso pode acontecer? Ele acabara de conhecê-la e ela fora levada e ele não pode fazer nada.Alexia disse que ela sabia, o brutamontes tapou sua boca, mas ele entendeu o recado, provavelmente Tailla já sabia de sua descoberta e o cerco estava se fechando. Tinha pouco tempo, precisava encontrar Liz e sua filha, , que era tão jovem e já estava nessa situação.Enquanto isso Liz estava desacordada, jogada em um colchão velho em um quarto escuro.Que lugar é esse?Foi a primeira coisa que ela pensou ao acordar e deparar-se com a escuridão do cômodo onde se encontrava.- Alexia, filha...minha filha...onde está...Sua lamúria foi interrompida por alguém que adentrou o cômodo escuro.Ao ouvir uma voz feminina teve certeza daquilo que já sabia. - Liz? A que devo a honra de sua visita? -disse em tom de deboche.- Cadê
" Atenção senhoras e senhores. Vamos iniciar o leilão. Tenham a bondade de tomar os seus lugares. A fichas com os valores dos lances se encontram sobre os assentos.As regras são simples: cada garota será apresentada com um valor inicial, de acordo com a idade, tipo físico, ou qualquer outro critério. Os interessados deverão dar seus lances a partir desse valor, fazendo uso das fichas. Quem der o maior lance leva a garota. Lembrando que todas são virgens. Os interessados poderão ter acesso aos laudos dados por ginecologistas na recepção e no caso de dúvida, podem pedir um novo laudo a um médico de sua confiança antes do pagamento. Obrigado."Alexia ouvia sem acreditar.- Estão leiloando pessoas como se fossem vasos. Nunca estaria preparada para uma coisa dessas!- Para eles é isso que somos. Coisas que viram grana. Eu prefiro morrer a perder a minha virgindade com algum velho sujo.- disse Vanessa aos prantos.- Calma Vanessa, ficar assim é pior. Não adi
Carlos dormia ao lado de Liz. Ela esperou tantos anos por isso, mas essa tinha que ser a situação? Por que sua felicidade nunca era completa? Quando teve sua filha, ficou sem ele e agora que tinha, estava sem a filha.Ela parou um minuto para apreciar a beleza do homem que ela amava. Cada traço dele estava gravado em sua memória, como um arquivo que não pode ser corrompido nem pelo pior tipo de vírus. Eles haviam se reencontrado há menos de vinte e quatro horas, mas já era possível ver que o que os unia era realmente amor. Ela acariciou a pele macia de seu rosto, ele se mexeu e abriu os olhos, então sorriu para ela sonolento, seu sorriso iluminou dia dela.-Oi-Oi, já acordou?- Sim, estou muito preocupado, e você? Parece cansada.- Não consegui dormir, aí aproveitei para ficar te olhando dormir.- Tem graça me olhar dormir?- É o que me mantém em pé.- Liz, você precisa descansar, a nossa jornada não
Alexia olhou em volta, queria encontrar uma forma de fugir dali, abandonar aquele pesadelo. Mas como? Ela não conseguia raciocinar direito.- O que foi? - perguntou Vanessa.- Não é nada.- Como alguém fica assim por nada?- Precisamos sair daqui. Estava pensando nisso.- Eu também quero, mas é impossível.- Nada é impossível. Podemos fazer algo, só preciso descobrir o que.- O que pretende fazer?- Ainda não sei.Vanessa ficou em silêncio e Alexia permanecia olhando em volta. Ela estava elaborando um plano.- Vê aquela janela? Ela não é alta, dá para pular. Podemos sair por lá.- É mesmo? E quanto aos seguranças lá fora?- Tem pontos cegos para eles, lugares onde não podem nos ver. Isso vai nos ajudar. Quando notarem nossa ausê
A primeira a acordar foi Vanessa, seu corpo todo doía, ela estava tonta e trêmula. Notou que não estava no quarto de antes, o cômodo cheirava a mofo e parecia pequeno, não havia camas e o vaso sanitário era no canto esquerdo. Percebeu que estava nua.Ela se levantou e olhou em volta, a procura das outras garotas, todas estavam nuas também. A iluminação era mínima e ela viu apenas silhuetas. Uma delas estava se debatendo..Se aproximou, era Noemi. Ela estava tendo...UM ATAQUE...- Noemi!Noemi, acorda!A garota não parava de se debater e babar.Alexia acordou atordoada.- O que...foi.?-Ela tá...Noemi...- Ai meu Deus! Alguém ajude!Elas começaram a bater na porta. Mas ninguém veio. Noemi se contorcia no chão. Elas podiam ver a babá saindo pelo nariz. Então ela parou. Alexia tocou seu pescoço.- Ele está morta. Com certeza drogaram ela de novo no caminho para cá.Noemi morreu ali, muito provavelmente de overdose e as gar