Carlos chega em casa, ela está nervoso com tudo o que aconteceu, fica apenas um minuto parado na porta, segurando a maçaneta. Suspira.
O homem ainda não acredita que seu melhor amigo foi capaz de dizer aquilo de sua amada esposa. Ele revidou, mas não pode negar que ficou com a pulga atrás da orelha. Por que Luiz tinha dito aquilo?
- Não! Não vou ficar desconfiando dela! Luiz só pode estar interessado nela para insinuar tamanha ofensa. Deixa ele...já deixei bem claro para ele ficar longe da minha mulher - pensou com seus botões.
"-Você não deveria confiar tanto na Tailla...
-Por que?- Carlos interrompe seu amigo com raiva-Lave sua maldita boca para falar da minha esposa!
- É só que ela...
- Ela o que? Já te falei para não falar dela!
Carlos não mede as consequências e desfere um soco na face de Luiz, que não revida.
-Qual é Carlão, para que isso?
-Nunca mais fale dela!
- Tá bom, você é que sabe. Não está mais aqui quem falou.
- Tá Luiz...olha é melhor eu ir embora...
Um barulho tira Carlos de seus devaneios. Ele abre a porta e chama por Tailla, que não responde:
-Amor? Tailla? Onde está você?
Carlos procura por toda a casa e não a encontra, ao abrir a porta do quarto ele depara com Tailla próximo da janela. Ela puxa a cortina quando o vê. A pulga que seu amigo havia deixado atrás de sua orelha dá sinal e ele olha para ela desconfiado.
-Por que não me respondeu quando chamei?
-Oh...é que...você me assusta entrando assim no quarto. Eu não ouvi.
- Achei que o quarto também fosse meu.
- E é.
-Porque estava na janela?
-Eu...não por nada.
-Deixe-me ver.
Ele abre as cortinas, mas não vê nada.
-Viu. Eu não estava fazendo nada, só fui fechar a janela para eu me vestir.
- E por que puxou a cortina quando me viu?
- Porque eu estava indo fazer exatamente isso, mas aí vi seu carro lá embaixo mas não te vi.
Carlos fica meio cabreiro com sua resposta, mas prefere se calar. Não podia deixar que os outros colocassem minhocas na sua cabeça.
-Tá certo. Me desculpe, estava com umas coisas na cabeça e...
- Que coisas?
- Nada de mais, esquece.
-Ah... sim...claro. Com fome?
-Er...não, não eu vou para o escritório, tenho trabalho a fazer.
Carlos desceu para o escritório e pegou seu notebook, mas não conseguiu se concentrar no trabalho. Os pensamentos iam sempre para as coisas que ouvira de Luiz.
"Será que ela era mesmo confiável? Será que Luiz estava certo? Se ele dizia a verdade, por que só agora, depois de tantos anos?"
Eram muitas dúvidas. Mas precisava esquecer todas elas, ou iria enlouquecer.
Não sabia porquê, mas algo dizia a ele que não. Ela estava tão estranha de uns tempos para cá. Bom ela nunca foi muito normal, como as esposas de seus amigos, mas ultimamente ela estava se superando. Sempre misteriosa, sempre parecendo esconder algo.
Ele se perguntava se estava sendo tão cego ao ponto de não perceber que a mulher que achava ter se casado, na verdade não existia.
Ele tomou uma decisão.
Não iria ficar perturbado com isso. Iria esquecer o que Luiz havia dito. E foi o que fez. Enfiou a cabeça no trabalho e esqueceu.
Ao menos por um tempo.
(...)
Já passava das sete da noite, o trabalho já estava até que adiantado, levando em conta a confusão que estava a cabeça de Carlos. Uma batida na porta o fez levantar os olhos.
- Entre.
- Oi amor. O jantar está pronto.
- Não estou com fome querida.
Tailla fechou a cara e Carlos se levantou.
- Mas vou jantar mesmo assim, você fez com tanto carinho...
Ela sorriu e ele a acompanhou.
Os dois se sentaram à mesa e se serviram. Comeram conversando amenidades.
Depois do jantar Carlos ficou com a louça.
Eles subiram para o quarto e ele foi tomar um banho. Quando saiu do banheiro, encontrou Tailla dormindo.
Se deitou ao lado dela e acariciou seu corpo. Ela se remexeu e se afastou. Ele voltou a se aproximar e tocar seu corpo.
- Aí Carlos! Estou cansada. Me deixe dormir, sim?
- Quero fazer amor.
- Estou cansada, amanhã está bem?
- Tudo bem. - disse o homem contrariado.
Já faziam dias que não tinham nada, ela sempre tinha uma desculpa.
O estranho, era que antes de ouvir o que Luiz havia dito, ele não pensara assim.
Ele estava pirado. Só podia ser.
Mas ele não podia evitar. Com o que ele disse, simplesmente seu subconsciente começou a ver as coisas de um outro ângulo.
Aos poucos notou a respiração da esposa se acalmar e ficar mais regular. Ela estava dormindo novamente.
Ele se revirou na cama por alguns minutos, e temendo acordá-la, se levantou e foi até a varanda.
Olhou para o horizonte, sua casa era bem localizada, e ali, podia ver a cidade toda iluminada. Era uma bela vista. Ele comprara a casa apenas por conta dela.
Se segurou no parapeito e apoiou a perna, se sentando ali. Não era perigoso, havia um beiral.
Ficou ali por alguns minutos, então ouviu um barulho e desviou o olhar das luzes da cidade. Olhou para baixo e viu apenas um gato correndo. Quando ia voltar o olhar para as luzes, ele viu.
Um pouco abaixo do parapeito. Havia um pedaço de tecido, como se alguém tivesse prendido a roupa ali e puxado.
Ele desceu no beiral e puxou. Era um tecido que no geral, se usava em calças sociais. Tanto masculinas, como femininas. Colocou o tecido no bolso e voltou para o quarto.
Não demorou a dormir, mas não conseguiu não pensar que havia algo errado. Muito errado.
-Acorda amor.Carlos abre os olhos sonolento, então percebe que sua esposa segura uma bandeja.-Bom dia! Olha o que eu trouxe para você.-Ah, café na cama!Carlos observa a esposa e não pode deixar de pensar que ela está agindo como se nada estivesse acontecendo.- Que foi? Não gostou da surpresa?-Obrigado querida. Claro que gostei.- Então, coma.Ela deposita um beijo nos lábios dele e sai do quarto.Carlos deixa a bandeja de lado e vai atrás de Tailla. Ele desce as escadas e para no terceiro degrau, observando a casa como se fosse a primeira vez.A parede de vidro que percorre parte da lateral da sala, e se mescla com a parede de tijolos da cozinha em uma forma graciosa, dando vista ao jardim e a piscina, que Tailla insistiu em construir. Ele não via necessidade de uma piscina, mas se deu por vencido quando a esposa insistiu.Passou a olhar, agora para a cozinha de móveis rústic
Luiz desce do carro e se dirige ao café no qual faz o desjejum todos os dias na companhia do amigo, antes de irem para o trabalho. Ele abre a porta e é recebido pelo cheiro de café, o deixando com água na boca. Ele pediu um café e se dirigiu para a mesa de Carlos, que se levantou para cumprimentá-lo.-Fala Carlos, o que é tão urgente?-Se você disser eu te avisei acaba a amizade.-Ein?-Você tinha razão. Ela não presta, não vale nada. Ela não está grávida.-Eu sei . Eu tentei te dizer mas...-Tá, já sei. Diga-me,o que você sabe?-Ela não pode ter filhos.-Isso eu já sei. Quero saber por que e como, sei que é porque fez um aborto mas é só. Quero saber o motivo do aborto e por que ele causou a esterilidade dela, e algo me diz que você sabe.-E sei mesmo.-Então fala.-Ela namorava comigo...-Com você?- diz Carlos embasbacado. - Como você pôde?-Vai me deixar falar ou não?-Sim...<
Carlos não sabia o que fazer. Queria comprar uma passagem para a manhã seguinte, mas para onde?Precisava de uma pista.Tinha que procurar pela casa, encontrar alguma coisa.Ele começou pelo quarto do casal, olhou nos guarda roupas, baú, tudo. Até embaixo da cama. Nada. Procurou nos outros quartos, na sala, na cozinha e até no banheiro, na garagem, mas não encontrou nada.- Como eu posso ser tão estúpido? Se fosse eu, guardaria tão óbvio assim? Vamos Carlos use a cabeça, pense, pense, onde eu não procurei?...O sótão...é claro o sótão. Não foi difícil encontrar a chave, ele achou que ela teria escondido, mas ela simplesmente a deixou na gaveta do criado mudo. Claro, ela achou que ele nunca precisaria entrar ali, mesmo porque, ele sempre detestou entrar lá, quando compraram a casa ele queria tirar, mas, com sempre Tailla não permitiu e ele fez o que ela queria.Por que será que ela não permitiu, né?
O táxi parou em frente à uma humilde casa, as paredes que um dia foram de um amarelo vivo, hoje tinham uma cor encardida e com degraus apodrecidos na entrada da varanda.Ele desceu e olhou fixamente para um mensageiro do vento que pendia de uma das beiradas do telhado da varanda.Carlos lembrou-se daquele objeto, ele já o havia visto, sim ele o havia dado para Liz. Ele sentiu uma estranha nostalgia e ficou alegre por ela ter guardado seu presente durante tantos anos.-Ela ainda guarda...-Sim - disse uma voz atrás dele - Ela ainda guarda.Ele se virou bruscamente, para encontrar uma versão mais jovem de Liz, com aproximadamente uns onze anos. Ele sabia quem ela era e não concordava com Liz. Ela não se parecia com ele. Era idêntica a mãe. Ao menos a que se lembrava.-Oi.- Oi.- Vai lá, minha mãe tá te esperando.- Voc&eci
Ao fechar a porta ela não sabia nem o que pensar. Achou que ele a encheria de perguntas, que teria que se explicar e pedir perdão. Achou que teria que reconquistar o amor dele, mas ao que parece esse amor ainda estava lá adormecido e agora acordara. Ela estava radiante.Ela achou que ele nunca fosse a perdoar e ele sequer a questionou. Carlos era o mesmo homem que ela havia abandonado. Tinha um bom coração. Muito mais bem sucedido hoje, do que naquela época, não perdeu o que tinha de melhor. Sua essência. O dinheiro não lhe subiu a cabeça, como havia subido a da irmã.A irmã.Liz tentou tantas vezes fazer Tailla entender que o que ela fazia era errado. Mas ela nunca ouviu. Sempre tratou Liz como louca.Ela dizia sempre que sabia que era errado. Mas que ela não seria pega. Que quem seria preso caso alguém descobrisse seria Carlos. Seu querido Carlos, ela dizia. A irmã fazia questão de fazê-la sentir medo. Ela temia por sua filha, por Carlos e
Liz estava atordoada, variava entre a consciência e a inconsciência, mas ela pôde ouvir partes de conversas. Ela estava assustada. Esperava uma oportunidade para se levantar e sair correndo, mas ela sabia que não seria fácil.-Sim senhora...ela está conosco...não a garota... não a encontramos...sim...claro senhora...me desculpe...sim vamos pegá-la...até mais senhora, qualquer informação ligarei.O homem colocou o aparelho no bolso.-Cleiton?-Sim?-Vamos deixá-la e voltar para pegar a garota.Garota...que garota?...Alexia...minha...filha...meu Deus eles vão pegá-la.Era só isso que Liz conseguia pensar. Que sua filha seria pega e provávelmente elas nunca mais se veriam.Enquanto isso Alexia ainda tentava ligar para Carlos. Mas depois de muitas tentativas, finalmente ela obteve sucesso.-Alo, pai?-Alexia?-Eles a levaram, levaram a mamãe e agora o que eu...-Calma. - cortou - assim v
E agora? Preciso dar um jeito de fugir. Era só nisso que Alexia pensava. Não sabia o que fazer, mas não desistiria.Quando sua mãe lhe disse que sua tia pretendia fazer isso, ela ficou assustada, mas não imaginou que ela pudesse chegar a tanto. No entanto agora aqui estava ela a caminho sabe-se lá de onde, para ser vendida.O caminho foi longo, o carro foi guiado por uma estrada que Alexia não conseguia enxergar. Haviam grossas cortinas nas janelas e eles viajaram pelo que pareceram horas. Ela ainda fingia estar apagada. Mas em algum momento o homem a chamou e ela abriu os olhos.Rodaram por mais algum tempo, até chegarem a uma grande mansão com grandes muros e um belo jardim. Passaram pela portaria, na qual uns dois ou três brutamontes montavam guarda e chegaram à frente da casa após alguns minutos. Alexia estava com medo, não sabia o que esperar. Isso não tem cara
Minha filha...Como isso pode acontecer? Ele acabara de conhecê-la e ela fora levada e ele não pode fazer nada.Alexia disse que ela sabia, o brutamontes tapou sua boca, mas ele entendeu o recado, provavelmente Tailla já sabia de sua descoberta e o cerco estava se fechando. Tinha pouco tempo, precisava encontrar Liz e sua filha, , que era tão jovem e já estava nessa situação.Enquanto isso Liz estava desacordada, jogada em um colchão velho em um quarto escuro.Que lugar é esse?Foi a primeira coisa que ela pensou ao acordar e deparar-se com a escuridão do cômodo onde se encontrava.- Alexia, filha...minha filha...onde está...Sua lamúria foi interrompida por alguém que adentrou o cômodo escuro.Ao ouvir uma voz feminina teve certeza daquilo que já sabia. - Liz? A que devo a honra de sua visita? -disse em tom de deboche.- Cadê