— O que você quer dizer com isso? Está me insultando? — A mulher ficou visivelmente ofendida, revirando os olhos. — Eu, pelo menos, tenho noção do meu lugar!Sorri friamente e respondi:— De fato, a família Auth não é uma casa que qualquer ricaço pode alcançar. E você… bem, claramente não está à altura.Deixei essas palavras no ar e me virei para sair, mas ouvi seus passos nervosos me seguindo.Ela me alcançou no corredor e, cheia de raiva, bloqueou meu caminho:— Kiara, o que você quis dizer com isso? Você não tem noção? Sabe muito bem quem você é, e ainda tem coragem de me menosprezar?Suspirei, tentando manter a calma.— Foi você quem começou, tentando me provocar. Mas não aguenta ouvir a verdade? Qual é o sentido disso? — Falei em um tom frio. — E sobre quem eu sou ou não sou, não cabe a você julgar. Além do mais, mesmo que eu não fosse uma pessoa exemplar, pelo menos tive algo com o Jean. E você? Alguma vez teve?— Você… — Ela ficou vermelha de raiva, mas não encontrou palavras.F
A outra mulher imediatamente deu um passo à frente, apressando-se em se desculpar:— Sr. Jean, desculpe-nos… Estávamos apenas brincando, mas passamos do limite. Perdão!Jean lançou um olhar indiferente na minha direção, apontando levemente com o queixo:— Peçam desculpas a ela.A mulher se virou rapidamente para mim, curvando-se ligeiramente:— Srta. Kiara, desculpe-nos. Foi tudo um mal-entendido.Ela então cutucou sua amiga ao lado, incentivando-a a fazer o mesmo. A outra mulher, ainda relutante, engoliu seu orgulho e murmurou:— Srta. Kiara, desculpe-me.Jean finalmente soltou o pulso da mulher, e as duas saíram correndo, tão rápido quanto podiam, quase tropeçando uma na outra.Agora, sozinha com Jean, fiquei paralisada. Meu coração disparou, e minha mente ficou em branco, cheia de um zumbido constante. Não sabia o que dizer ou como reagir.Demorei alguns segundos para recuperar a clareza dos pensamentos. Quando finalmente consegui juntar palavras, olhei para ele e comecei a falar:—
— Não bebeu nada hoje à noite? — Jean perguntou.— Não...Eu respondi, mas logo fiquei paralisada. Em questão de segundos, entendi o motivo da pergunta.— Você veio aqui porque estava preocupado que eu tivesse bebido demais e ficado bêbada, não é? Por isso apareceu de madrugada?Se não fosse isso, ele não teria feito essa pergunta. Isso também significava que ele não tinha ficado muito tempo no restaurante. Ou, se ficou, não se deu ao trabalho de perguntar sobre mim. Talvez tenha sido apenas uma coincidência.Mas o fato de ele ter aparecido aqui, tão tarde, não deixava dúvidas:Ele estava preocupado comigo. Ele não conseguia me tirar da cabeça.Nós dois ficamos nos olhando em silêncio. Eu esperava por uma resposta, mas Jean permaneceu calado.A noite estava fria, e eu não tinha vestido o suficiente. Comecei a tremer levemente. Pensei em sugerir que subíssemos para conversar, mas antes que eu dissesse qualquer coisa, ele repentinamente se virou e começou a caminhar em direção ao carro q
Assim que atendi a ligação, ouvi a voz de Isabela do outro lado, tomada pelo desespero e pela súplica.No meu coração, desconfiança. Sem demonstrar muita emoção, perguntei:— Onde vocês estão? Ele não foi levado pela polícia de novo para ser interrogado sobre o caso da família Castro?— Ele está muito doente. A polícia só o interrogou e deixou ele voltar pra casa. — Respondeu Isabela, com a voz trêmula.— E como ele foi parar na UTI se já estava no hospital?— Ah... — Isabela deixou escapar um soluço, quase choramingando. — Foi por causa do Tiago! Davi, aquele desgraçado, armou pra cima do Tiago, destruiu a vida dele...Eu entendi na hora. Tiago tinha sido preso, acusado de espionagem. Não era um caso qualquer. Carlos, com seu único filho nessa situação, certamente estava tentando de tudo para encontrar alguém que pudesse ajudá-lo. Mas a família Mendes estava falida e desacreditada. Quem ainda daria atenção a eles?Provavelmente, depois de tantas portas fechadas e rejeições, ele tinha
— Sr. Lucas, não sei se estou entendendo errado, mas a sua preocupação comigo parece ir além de uma relação comum entre colegas de trabalho. — Eu o encarei com um olhar educado e formal.Lucas ficou surpreso, claramente desconcertado. Depois de alguns segundos, ele levou a mão ao nariz, um gesto que não deixava dúvidas de seu nervosismo.— Eu realmente admiro você. — Ele respondeu, após uma breve pausa. — E você sabe que eu não sou preso a esses conceitos tradicionais. Não me importo com o fato de você já ter sido casada ou de ter namorado antes.Por dentro, senti uma pontada desconfortável. Não esperava que ele fosse tão direto.— Agradeço pela sua admiração, mas, depois de tudo o que passei, realmente não tenho mais expectativas em relação a relacionamentos. — Sorri, mas foi um sorriso amargo. Eu queria deixar claro para ele, sem dar margem para mal-entendidos.— Kiara, eu não sou como eles. Meus pais vivem no exterior, estão divorciados há anos e cada um segue sua vida, sem nunca in
— Como assim? Você vem pra cá a trabalho? — Perguntei.— Não, eu pedi demissão! — Nina soltou a bomba, mas logo anunciou com empolgação. — Vou voltar pra Saurimo pra trabalhar. Agora a gente vai poder se ver sempre!— Pediu demissão? Por quê? Tem a ver com aquela vez que você veio aqui conversar com o headhunter ano passado?— Sim, exatamente. Fechamos tudo. O salário é melhor, e claro que eu ia aceitar. Além disso, ficar aqui na minha cidade natal, sendo obrigada pela minha família a ir em encontros arranjados, estava me enlouquecendo!Eu entendi bem o que ela queria dizer. Muitas pessoas deixam suas cidades natais justamente para escapar dos parentes e daquela rede social sufocante onde todo mundo conhece todo mundo. A vida já é difícil o bastante sem precisar lidar com as cobranças e expectativas da família.— Parabéns! Quem busca o melhor sempre avança. Eu apoio você. Quando você vem? — Perguntei, já animada com a ideia de ter uma amiga por perto novamente.— Semana que vem! E eu t
Meu estômago revirava de um jeito estranho, e eu achei que fosse só fome. Pensei comigo mesma que, assim que a reunião terminasse, eu precisava comer algo urgentemente. Mas quando o encontro chegou ao fim e eu me levantei, mal consegui dar dois passos. Uma tontura repentina tomou conta de mim. Minha visão ficou turva, minha cabeça parecia pesar uma tonelada e minhas pernas fraquejaram.Antes que eu pudesse entender o que estava acontecendo, desabei. A última coisa que ouvi antes de perder completamente a consciência foram os gritos de Lucas e Tatiana, que correram na minha direção.Depois disso, tudo ficou em branco. Quando abri os olhos novamente, eu já estava deitada em uma cama de hospital.— Kiara, você acordou! — Tatiana exclamou, aliviada, enquanto se aproximava de mim com um sorriso. — Você nos deu um baita susto! Do nada, simplesmente desmaiou. Se não fosse o Sr. Lucas te segurar a tempo, você teria batido a cabeça na porta de vidro.Eu ainda estava meio atordoada. Minha mente
Lucas e Tatiana me levaram até o quarto. Era uma suíte espaçosa e confortável, digna de um hospital de alto padrão.— Kiara, eu posso ficar com você essa noite. — Tatiana disse rapidamente, ao notar a cama de acompanhante ao lado.Franzi a testa e recusei prontamente:— Não precisa. Eu não estou tão mal assim. Consigo me virar sozinha. E, com sorte, talvez até receba alta hoje mesmo, à tarde.No fundo, eu não queria ficar internada, de jeito nenhum. Ainda mais depois de ter encontrado Jean no corredor. Aquele lugar começou a me sufocar.Eu temia que, se continuasse ali, acabasse esbarrando nele de novo. E, se isso acontecesse, e ele continuasse com aquela frieza, como se eu fosse uma desconhecida, meu coração provavelmente não aguentaria mais um golpe.Ainda pior seria se, fragilizada pela doença, eu não conseguisse me segurar e acabasse dando o primeiro passo, tentando conversar, tentando segurá-lo mais uma vez. Se isso acontecesse, eu sabia que a relação entre nós, que já estava comp