Capítulo 6

Suicídio ou fuga

Quando eu tinha 16 anos já estava muito triste não mais por perder o namorado e sim por fracassar na minha tentativa de suicídio, sim, por minha única colega não ter acreditado em mim, sim, por um homem safado ter me difamado, sim, por vários motivos, eu já não pensava mais em meu ex, para mim a página dele virara, porém, fiquei com muitas sequelas desse triste fim.

Minha cabeça já não era mais a mesma, eu vivia pelos cantos e na maioria das vezes chorando.

Já não via saída em minha vida, não via motivos para viver. (Clichê)

Às vezes pessoas me diziam “coisas ruins acontecem o tempo todo com muitas pessoas e nem eles decidem morrer, é a vida que segue”. Era chato ouvir isso, já que eu não queria ouvir nada, muito menos sermões que não edificavam em nada. Minha mãe perguntava o tempo.

"O que foi menina?"

Mal sabia ela que tudo aquilo que aconteceu naquele ano tinha abalado demais meus sentimentos e meu psicológico, isto é, se ainda existia algum sentimento em minha vida. Minha alma estava escura e de certa forma morta, eu me sentia gelada por dentro, o amor que um dia eu tive por alguém, não existia mais.

Meus sentimentos estavam totalmente adormecidos.

A paz que um dia eu tive, se é que eu tive, que eu já não me lembro mais, esta já não fazia parte de mim.

Agora eu estava num poço, fundo demais para alcançar a borda, gelado demais para sobreviver, eu já estava me sufocando, não conseguia ver como sair daquela escuridão, onde, não existia luz no fim do túnel, era somente escuridão, eu podia sentir o gelo dentro de mim.

Nos momentos que eram para serem normais, o almoço, o jantar, eu me isolava da família, mesmo esperando aquele apoio de, pelo menos dizer, estamos aqui para te ajudar, eu nunca ouvia.

Meus pais queriam que eu levasse uma vida normal, eles não tinham noção nenhuma do que é, estar no fundo do poço, com a tampa fechada.

Minha alma pedia socorro, e meu corpo pedia a morte, tudo pedia o fim daquela agonia.

As únicas palavras que eu ouvia, quando era encontrada chorando, eram, para de bobagem, vai fazer algo, fica só pelos cantos a chorar.

Mas, essas palavras não me ajudavam, apenas me empurravam para a mais profunda escuridão.

Eu sentia que, definitivamente estava sozinha, não poderia contar com nenhum membro da família, pois ninguém me entendia, ninguém podia sentir o quão frio e agonizante era onde minha alma estava, não conseguiria pegar em minha mão e puxar, pois, não estava ao seu alcance.

Às vezes eu sentava em volta da mesa, na hora do jantar, mas, nada que minha família falava fazia sentido para mim.

Era como estar em outra dimensão de vida, em um mundo paralelo, eu estava ali, mas, não sentia isso, olhava para o rosto do meu pai fazendo fofoca, isso me incomodava, eu tinha nojo dele, ele falava de outras pessoas como se a vida dele fosse um exemplo a se seguir, mas ele estava podre por dentro, não tinha o direito de falar das pessoas.

Olhava para minha mãe, muito inocente de tudo, apenas concordava com o que meu pai dizia, e às vezes o chamava de fofoqueiro, mas sempre o apoiava, eu tinha vontade de contar tudo o que ele fazia, mas minha mãe não acreditaria. Porque eu tenho tanta certeza? Vou dizer:

Um dia meu pai estava na mercearia e adorava brincar passando a mão nas menininhas que estavam começando a crescer seios, mas esse dia ele encontrou uma que não gostou da brincadeira, ela fez um escândalo e chamou a mãe dela, dizendo que meu pai pegara nos seios dela, quando eu ouvi isso pensei, ele teve o que mereceu, é agora que a casa vai cair, mas... Minha mãe acreditou na desculpa que ele armou com tantos detalhes, mas, eu não caia nessa, sabia que ele era capaz, mas vendo minha mãe chorando e dizendo para ele tomar mais cuidado ao brincar com essas menininhas, me esmoreci, e pensei que não seria uma boa ideia falar sobre o que meu pai fez comigo, então continuei calada, continuei no meu submundo onde, só eu vivia, onde só eu me compreendia.

O silêncio era minha dor, eu me torturava, me esmagava por dentro, eu sentia dor, mas não era dor de estômago, não era dor na coluna, era uma dor que jamais eu poderia explicar, uma dor que não constaria em exame nenhum, então eu não poderia provar. Ninguém acreditaria em mim.

Minha alma vazia queria paz, e eu, imaginava que a paz só seria possível quando eu passasse para o outro plano, quando eu morresse, só assim eu descansaria, na época eu não acreditava em vida após a morte, hoje eu repenso sobre isso, nem sei no que acredito.

Um dia eu pensei em uma forma de pôr um ponto final nessa tormenta, pensei em algo que poderia enfim me socorrer, mas, eu queria deixar algo feito que minha mãe pudesse sentir minha falta, então comecei a costurar, na máquina de costura antiga que minha mãe tinha, costurei várias peças de roupas que minha mãe colocara lá para arrumar depois, quando estava faltando três peças, então decidi que seria a hora.

Com muita atitude e decisão, acreditando mesmo que estava fazendo a coisa certa, peguei duas cartelas de Dramin que estava na gaveta do armário velho azul, enchi um copo com água e fui tomando aos poucos, tomava a metade da cartela de cada vez, para que eu não sentisse vômito e isso implicasse em colocar tudo para fora.

Após tomar as duas cartelas de vinte e oito comprimidos cada, voltei a costurar, faltavam poucas peças para terminar, demorei meia hora para acabar tudo, então comecei a sentir tontura e minhas pernas começaram a aquecer como se tivesse adormecendo, minhas mãos começaram a ficar trêmulas, nessa hora decidi levantar e despedir de quem eu acreditava que realmente importava.

Meus pais não estavam em casa, então fui até a casa da minha irmã, que era vizinha da nossa, agarrei o pescoço dela.

Depoimento da minha irmã:

— Ela dizia coisas sem sentido, e dizia que ninguém a amava, por isso estava colocando um fim em tudo, que iria morrer em instantes, eu sem entender nada, deixei que me abraçasse, e perguntei o que estava acontecendo, mas ela começou a enrolar a língua, sentou no sofá e desmaiou, eu já não sabia o que fazer, entrei em desespero, porém quando ela desmaiou a deixei e esperei que voltasse.

Meus pais chegaram, eu não sabia que horas era, mas sei que quando tomei os remédios era dezesseis horas, comecei a ter uns flashes de consciência, não sabia onde estava ou o que estava acontecendo, lembro pouca coisa desse dia.

O que eu me lembro é que quando tive um flash de consciência, eu já estava no meu quarto, na minha cama, mas comecei a sentir formigamento e quando olhei meu lençol, ele estava cheio de bichinhos minúsculos, tipo aqueles que ficam na água parada, aí comecei a gritar, mãe olha quantos bichos em minha cama, eu falava com a voz pesada e enrolada.

Minha mãe passou a noite toda do meu lado, me acalmando, de repente eu vi, uma aranha gigante, tipo caranguejeira, descendo num fio, em cima da minha cabeça, eu gritava, tinha pavor de aranhas, minha mãe dizia, não tem nada aqui, feche os olhos e se acalme.

Fiquei calma por alguns instantes, mas o formigamento no meu corpo me incomodava, abri os olhos novamente e olhando para o teto vi: uma fileira de ratos passando no telhado, eles passavam e sumiam no final da madeira.

Eu senti muito medo, pois o que eu pretendia era morrer, mas parece que o máximo que consegui foi ficar louca, e se eu ficasse para sempre assim, eu não morri, mas iria ficar inválida?

Entrei em desespero, agarrei o pescoço da minha mãe chorando e dizendo, mãe, me ajuda, eu quero morrer, eu quero morrer... Só ouvia a voz baixa da minha mãe dizendo, pare de bobagem, não diga besteiras.

Enfim, muito tarde da madrugada eu peguei no sono mesmo, tranquilo, sem aranhas, cabeças de pregos ou ratos, dormi até tarde, depois que eu acordei não lembrava mais de nada, somente que eu tomei os Dramin...

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