AMELIA
A segunda feira iniciou atribulada depois de um domingo cheio de ressaca ao qual ouvi todos os reclames de meu pai e tive de ser legal com as visitas. Como é habitual sempre há uma reunião e outra aos finais de semana, onde acabo vendo hóspedes pela casa e me pergunto o motivo de tantas comemorações inúteis, onde meu pais se mostram como o casal perfeito. Todos sabem que eles mais brigam como cão e gato. Creio que essa é fachada que encontram para fugir de suas frustrações.
Tomei da bicicleta e apesar, de tanta coisa para fazer, senti alívio de ganhar a rua e respirar o cheirinho de café das cafeterias casuais em meio as lojas vintage e livrarias. Andar pelo meu bairro é sentir uma parte do coração de Londres, e o charme do colorido de suas casas estilo vitoriano. Há bastante artesanato, brechós e até Carnaval na temporada de Agosto. Aqui foi produzido o filme Um Lugar chamado Nothing Hill o que tornou mais requisitado em termos de passeios e cheios de turistas. Sempre é comum esbarrar num estrangeiro e trocar ideias.
Virei a esquina depois de passar mais três ruas cheguei ao meu destino—a livraria Nothing Hill BooksShop.
Um lugar com detalhes da fachada azul e sua pequena vitrine recheada de livros no aparador de fora, tendo uma decoração fofa interiorana, atípica para uma livraria tradicional.
Deixei a bicicleta do lado de fora. Costumo fazer o trajeto dessa forma para me exercitar e não ter de pegar ônibus, já que não fica tão longe de onde moro.
Lena é a proprietária, e toda as segundas e quartas apareço por aqui pra dar uma mão para ela com os livros, na parte da tarde. Não é algo que meu pai aprecie muito, mas ao menos tenho uma pequena grana que garante as festas.
—Aí está você. —ela disse ao me ver entrar pela porta e soar a sineta detector de clientes.
—Eu sei que você pensou que eu não viria, mas não sou tão imprestável assim.
Ela riu.
—É claro que não. —gesticulou com desdém —Hoje está muito tranquilo. Eu já cataloguei uma parte dos livros novos, mas recebi uma caixa de doações que eu não esperava, um acervo perfeito contendo até mesmo Shakespeare.
A caixa a frente dela tinha muitos livros, com romances de banca e diversos outros.
—Nossa!— eu disse admirada —Tem muita coisa legal aqui —Peguei um livro de letras douradas e capa vermelha. Judas O obscuro? —Isso parece bom.
—Até parece que você lê essas coisas— brincou com uma risada.
— Sério, eu gosto de uma boa leitura.
—Fanfic dark do w*****d com cenas de sexo depravado?
—É um bom estilo.—Botei a língua com um risinho frouxo.
Alguém entrou na loja e ela foi atender. Era um dos seus clientes antigo e amigo dela. Chamava-se Nelson, tinha cabelos pretos, olhos castanhos e vestia-se casualmente.
—Como estão minhas grandes leitoras?—Acho que só leitora, pode deixar essa parte do grande para Lena. — Aproveitei pra tirar onda. Ela tinha quase dois metros de altura. Ele soltou uma risada.
—Você também Nelson? —ela o repreendeu.
—Nós estamos falando grande nas atitudes, —ele fez uma piada piscando o olho pra mim— sabe, no bom gosto.
—Engraçadinho.
Rimos muito. Ele escolheu dois livros incluindo Judas o Obscuro e logo que saiu, ela pegou uma xícara de café da máquina de expresso e voltou-se para mim.
— Acho que você tem algo para me contar sobre sábado. —Sentou no pequeno sofá da entrada.
Peguei um copo de café também e sentei ao lado dela. Sempre tive bons amigos, mas Lena parecia me entender e sentia confiança para desabafar qualquer coisa.
—Não precisa dizer senão quiser, só acho que algo aconteceu que está te deixando com cara de boba.
—Tá parecendo tanto assim?
—Está —sorriu de canto.
—Eu recebi a ajuda de um anjo.
—Anjo?
—É. Um homem que me deu carona pra casa, mais velho, charmoso, parecia ter saído de uma capa de revista.
Ela soltou uma alta gargalhada.
—Ah meu Deus onde estão essas coisas maravilhosas que eu nunca encontro?
—Sei lá. —contraí os ombros —Parece meio maluco, não é? Ele se chama William.
—E você não foi capaz de pegar o telefone dele? Quer dizer, ele aparenta ser muito velho?- tomou um gole de café.
—Acho que deve ter quarenta anos ou menos não sei, mas deve ser casado tem um filho.
—Hum... —ela pensou —É difícil encontrar esses partidos sozinho aqui em Londres. Mas você é jovem, homens mais velhos na sua idade são encrenca. Não invente de se apaixonar por um tipo desses.
— Está desabrochando as manias do velho Taylor?
—Eu conheci seu pai numa boa idade. Ele tem uma cabeça de um homem de cem anos. Por saber exatamente disso, ficaria uma fera se descobrisse.
—Me diga quais coisas o meu pai concorda, nenhuma.
—Não temos culpa dele ser o típico inglês correto. A convivência com o príncipe Charles o deixou pior.
—Um homem medíocre que traiu a esposa e só é salvo por ter sido príncipe, meu pai realmente deve ter tido bons exemplos.
—Não se chateie, no final das contas ele apenas quer o seu bem.
Eu sabia muito bem do temperamento de meu pai. Ele era preconceituoso, cheio de manias e mesmo a vida sendo minha não ia aceitar alguém com diferença de idade. Quanto a minha mãe sempre dava um jeito de sair por ele. Eu poderia dar mais elogios a ela, não fosse tão atrevida e acho que isso venho uma pouco de sua cultura latina. Razão a qual sou um pouco diferente em termos estéticos de uma inglesa, me acho com bunda grande e ás vezes baixa demais tendo um e sessenta e três. Em compensação eu gosto muito da minha aparência e não tenho que reclamar do meu cabelo liso acastanhado com luzes e meu nariz arrebitado.
Logo faria dezoito anos, creio que isso pouco importava para eles.
Quanto ao anjo, nunca iria acontecer e pra ser sincera não teria chance de vê-lo de novo.
Recebi a mensagem na tarde de quarta-feira de Emma quando saía do treino de Cheerleader, porém não retornei.
Eu me via determinada a ensaiar para ganhar a liderança da torcida, mas eu não ia levar a vez, sendo que a competição se tornava muito acirrada. Encontrei a ruiva na lanchonete da escola com o cabelo esvoaçante e seu batom vibrante escarlate.
—Caramba, você não queria mais falar comigo? —Apressou-se em dizer quando nos sentamos. Pedi uma água e ela um milk shake.
—Sinto muito, mas você agiu como amiga da onça. Tínhamos combinado que íamos voltar juntas.
—Desculpa, eu sei, foi péssimo, mas eu não queria dar espaço, para Fill ficar com aquela garota.
—E daí decidiu transar com ele pra não perder o pódio?
—Também, mas você não deve ficar zangada já que saiu com Jones e o amigo dele.
Quando ela queria, sabia destilar seu veneno.
—Sério? Meu final de noite foi horrível, eu fui drogada e ainda por cima um deles me agrediu. Eu só consegui chegar em casa por que uma pessoa me ajudou.— Ela fechou a cara, e eu olhei a hora no celular —Preciso ir, tenho terapia e estou atrasada.
—Beleza. —respondeu ela chupando o canudinho.
Troquei de roupa em menos de cinco minutos. Coloquei jeans e blusa de manga com tênis baixo, peguei a mochila e tomei um táxi na frente da escola. Me vi em menos de trinta minutos na clínica da minha terapeuta Joice. Eu não via a hora de acabar essas sessões, tudo culpa da minha professora e do meu pai, que também caiu na observação dela ao salientar minha desatenção nas aulas dizendo que posso ter autismo. Até agora, nenhum exame detectou nada, mas ela ainda explorava meu caso devido ao fato de eu ser bastante avoada e fazer coisas sem pensar, impulsiva ao limite.
Aguardei na recepção e quando a recepcionista chamou, minha vez, apressei o passo e abri tranquilamente a porta. Mas o que vi fez meu coração disparar —sentado atrás da escrivaninha estava William.
AMELIA Meu coração acelerou. Não havia necessidade de tanta intimidação, porém não sabia se falava, ou dava meia volta e saía pela porta. Era muita coincidência vê-lo de novo. —Olá, como vai? —Sorriu, curvando os lábios deixando as linhas de expressão mais evidentes por baixo dos óculos. Usava um terno impecável azul, a barba levemente crescida e o cabelo bem cuidado. —É... você... —Estou substituindo sua psicóloga. Ela não avisou você? Pensei um pouco meio atordoada, não recebi nenhuma mensagem. —Na verdade não. — Ela enviou e-mail para todos seus pacientes, sua mãe está muito doente em Nova Jersey. Ela viajou e não tivemos outro substituto além de mim. Merda! Pensei comigo, eu mal checava meus e-mails nem parecia ter celular. —Claro. — sorri, mostrando compreensão e com alguns passos hesitantes me coloquei no assento diante dele. A lembrança da noite que me ajudou, venho com força e esbocei um sorriso apertado tentando aparentar calma; quando a curiosidade tomava partido de
AMELIAQuente e fria. A definição dele sobre mim, combinava comigo, mas diante dele eu queria ser quente. O que é mesmo que acabou de acontecer? Eu reencontrei o anjo como meu psicólogo? Joice me paga. Com tantas formas de mandar recado, ao menos podia me ligar, nem todos podem ver e-mails. Se rolei meus olhos em alguma mensagem, não lembro exclusivamente de ver qualquer texto dela.Voltei para casa, risonha e distraída mais que o normal. Não podia dar na telha com esse comportamento na frente dos meus pais, eles sempre achavam um forma de fazer uma observação, por mais ridícula que fosse. Entrei em casa e Bob me saudou como de hábito, batendo o rabo e fazendo barulho pelo colar de metal, grafado seu nome. Ele era meu companheiro de sempre.Não vi meu pai, mas minha mãe, senhora Margareth Taylor munida do avental de oncinha e suas incontáveis mancha de tinta, seguia focada na pintura. Dei um oi rápido subindo as escadas e joguei-me na cama, porque minha cabeça só sabia repetir como ma
WILLIAMPeguei meu casaco, junto da maleta de couro e passei pela recepção. O expediente havia acabado.— O senhor quer que desmarque a sessão do meio dia de sábado? —Ane, a moça loura de cabelos ondulados, minha secretária perguntou.— Não. Aquele rapaz, não tem outro horário, se possível antecipe a consulta de Julia Mackenzie para quinta.Dizendo isso, me despedi e deixei a clínica um pouco apressado chegando o estacionamento. Abri a porta do carro, jogueu os pertences no carona e tomei assento ao volante.Ganhei as ruas, com a cabeça fervendo a pensamentos junto de um cataclisma de emoções emergendo dentro de mim. Não posso descrever a antecipação que formiga meu estômago ao estar perto de Amelia. É como se não fosse suportar, mais um minuto sem vê-la. Tudo está acontecendo tão rápido, que nem consigo raciocinar direito.A certeza definitiva que trago comigo é que meu casamento foi um erro. Tento agradar minha esposa, mas vivo mesmo para meu filho. Ela não é mais amorosa como antes
AMELIA A forma como ele me beija é quente fechando completamente o espaço entre nós. Eu podia empurrá-lo, não dar abertura, mas provoquei uma parte disso e não quero parar, não importa se me arrependa. Um pequeno gemido saltou de meu lábios quando a mão dele envolveu minha bunda e invadiu entre minhas pernas. Joguei a cabeça para trás, senti o calor de seus lábios descer meu pescoço e mordiscá-lo de modo torturante. Eu não conseguia pensar na chuva ou nos arredores. Como se estivéssemos numa pequena bolha de desejo, o resto do mundo virou apenas uma memória distante. E tive que admitir que gostei e sabia que ia gostar muito mais, principalmente quando ele puxou minha mão de encontro a sua virilha dura. — Você vai cuidar disso... sei que vai — gemeu com desejo entre meus lábios. O telefone vibrou na bolsa e fingi não ouvir. Sentia ele pressionar minha boca e fundir sua língua mais e mais, mas o toque persistente, quebrou o nosso momento perfeito. Afastei dele nossas respirações pesa
WILLIAMO som de nossas respirações e olhares entrelaçados só me faziam querer beijá-la e carimbei meus lábios nos dela onde enfiei a língua em sua boca. Ela devia estar assustada, seu corpo tremia enquanto minhas mãos, desciam pelas curvas do corpo dela, mas retribuiu o beijo com desejo e apertei o bumbum arrebitado, escondido numa saia xadrez medíocre, que fez meu pau ficar duro em segundos.Invadi seu paraíso escondido, com uma das mãos e o atrevimento abafou um gemido dela em minha boca, enquanto sentia sua umidade. Agia como inconsequente, sabendo que do lado de fora, poderiam ouvir qualquer ruído nosso. Alisei seu cabelo, trazendo o lábio inferior entre meus dentes. Ela envolveu os braços a volta do meu pescoço, na tentativa de alinhar-se a minha altura e a tirei do chão intensificando o beijo. Esfreguei meu corpo no dela, fazendo-a sentir com vontade minha ereção, louca por alívio.Amaria que ela me prendesse e faria gozar tanto e gritar meu nome até perder a voz.Algo vibrou n
WILLIAM Se há uma coisa que não tenho feito tão bem, é mentir. Tenho me denunciado eventualmente e isso é um problema ao esconder Amelia. A fachada que construí ao longo dos anos entre meu casamento, minha carreira está cedendo. Sou um homem com ânsia de viver, independente, reconhecendo o quanto é preciosa a liberdade e querendo sentir esse sabor. Não devo nada a ninguém e meus amigos com seus conselhos depravados, entendem minha frustração. Nelson manteve um casamento de quinze anos e a esposa o traiu com seu melhor amigo, Spike vive como um moleque e só quer curtir a vida. O problema é meu, e apesar da forma como eles continuam a insistir, torna forte a vontade de desabafar, no entanto. —Pelo seu silêncio acertamos em cheio. —A frase de Nelson me fez voltar ao planeta terra. —De fato existe e não é algo que está ao meu alcance. — Como é? —Spike e ele se olharam reciprocamente — Então, você tem uma amante? —Não. A conheci por acaso, ajudei ela num momento complicado. Senti uma
AMELIAEmma não sabe nada sobre o que aconteceu com meu psicólogo quente. Devo chamá-lo assim, depois da forma descarada com que me tratou na última sessão. Ele conseguiu me assustar um pouco, mas não tirou a vontade de dar pra ele. E só tenho pensado em nós juntos não importa que seja casado. Meus lábios se separam ligeiramente ao vê-lo tão elegante. Um belo terno sob medida verde musgo e uma camisa grafite estilo Tommy deram a ele um visual descontraído e infinitamente sexy, dando a ligeira lembrança do ator Tom Hiddleston em seus trajes finos nos jogos de Wimbledon.Com uma das mãos joguei o cabelo para trás inalando o ar. Poucos metros nos separam. Seus olhos cintilam me atingindo em cheio que balanço a cabeça sem conseguir sair da mesma posição.—Eu quero ir no fliper—Emma toca no meu braço, e nem espera eu responder me levando em frente.Ao passar nas proximidades do bar, localizamos os amigos dela e junto deles, seguimos para ala dos jogos. Quando fizemos a curva de um dos corre
AMELIACheguei em casa assada, pelas investidas grosseiras de Jean ao transar comigo numa cabine privada e a consciência reclamar por minha atitude. Por estar sob pressão e a frente de um dos caras influentes de uma das maiores baladas de Londres, não tive chance de recusar. O plano sórdido de Emma funcionou para conseguir a noitada no Le Cirque que custou meu corpo. Justo no meu aniversário o momento que acreditei desfrutar de alegria e sem encrencas.Com vontade de chorar, me tranquei no quarto. Me sentia mal pela atitude impensada. Eu queria o meu anjo, passar a noite com ele. Meu corpo doía, pelo aperto das mãos de Jean nos quadris que ficaram marcas. Havia um pequeno chupão no pescoço ao ver no espelho e tive de esconder com uma blusa de gola.Passei a semana sob o efeito da noite promíscua com os pensamentos em William. A noite teria sido outra se tivesse ficado com ele. Queria vê-lo, falar, mas não ousei mandar qualquer mensagem. Certo que não responderia.Ainda prosseguia nas