WilliamEu adiei o encontro. Na verdade, estou protelando devido a minha consciência e não procurei saber mais a respeito do número que ligou. Havia marcado no dia seguinte de ver o meu filho, já que a alguns dias não nos vemos. Eu sei que estar afastado dele é péssimo, mas tenho ligado todos os dias e intercalo com minhas folgas nas vezes que eu e Amelia não nos vemos. No entanto, hoje, depois da visita que fiz a ele, consegui o que queria; dado também ao motivo de levá-la ao ginecologista. Ela parecia um pouco desconfortável com a ideia novamente, mas eu agiria da melhor forma possível para tranquilizá-la.Esperei-a depois de seu treino Cheerleader. Um pouco longe do trajeto de sua escola, na frente do carro, com as mãos nos bolsos e buscando passar confiança.Ela apareceu me encontrando na rua lateral com um sorriso doce nos lábios, sem se importar com a saída dos alunos da escola que buscavam suas conduções de volta para casa.Quando chegou mais perto de mim, segurei sua cintura co
AMELIA—Você está bem? — William disse assustado ganhando tamanha velocidade que fez meu coração disparar.—Estou. Era ela?—Não importa—foi a resposta seca olhando para o trânsito. Ele dirigia tão rápido que faltava pouco para ser parado pela polícia. Sem dar a mínima com o maxilar duro, mostrava-se totalmente afetado pelo o que aconteceu.Raios atravessaram o céu e a noite já se pronunciava, trazendo a chuva torrente que começou a cair. Decidi me calar durante o percurso. O carro estabilizou a velocidade parando quando o sinal fechou. A grande frustração que reluzia nos olhos dele, deixava-me aflita o que não seria para menos. William parecia uma bomba prestes a explodir.Ele ligou o rádio e o salto Miss Sarajevo na voz de Passenger e Pavarotti encheu o carro. Desviei os olhos dele para a janela vendo a chuva com a grande dúvida que queimava meu cérebro: Ela realmente nos viu?—Eu acho que é melhor você me deixar em casa.Não tive receio de dizer. Pela maneira que ele demonstrava cr
—Está pálido. — Ela tocou meu rosto— Não é nada, estou... bem— relutei com engasgo na tentativa de não demonstrar meu desespero. Mas a mente girava e minha voz parecia ser esmagada pelos batimentos cardíacos.Eu não sei como deveria estar meu rosto ao vê-la examinar-me com preocupação.—Temos que chamar um médico.— Não!— Mas...— NÃO! — bradei com força e estremecimento, não querendo constatar a realidade das palavras que ouvi. Minha vida estaria arruinada se Amelia fosse filha de Edward.–Você está me assustando William.Olhei para ela com a respiração pesada. Seu rosto jovem, quase angelical como se implorasse para esclarecer o que acontecia, doeu meu estômago causando náusea. Subsequente, o cheiro de queimado encheu a cozinha e ela correu para ver a panela. Amelia desligou o fogão para a seguir voltar com um copo de água.Sentia-me apoplético. Com mãos trêmulas, bebi a água toda de uma vez. O que foi inútil para disfarçar minha aflição. Levantei apoiando as mãos na bancada da il
WilliamEla dormiu abraçada em meu peito toda a noite depois de fazermos amor mais uma vez. Menos eu, que não consegui conciliar o sono pensando em cada detalhe sobre o que foi dito. Minha história rodando na cabeça como um filme ruim de lembranças torpes, a briga de nosso pai pela morte de Sara, a caçula. Éramos tão jovens quando ela morreu. Levei a culpa por tudo que houve, incluindo a amargura de Taylor durante todos esses anos. Evitei revelar o sobrenome Taylor por diversos motivos e Patterdale serviu de pseudônimo para alguns livros que escrevi, além de destacar-me na profissão. Eu queria de verdade passar uma borracha no passado, porém ele seguia do mesmo modo, forte, como tatuagem reverberando as mágoas dentro de mim.Quanto a Taylor, talvez sinta o mesmo e as ligações todas que venho recebendo são dele. Nosso pai morreu há um ano e imagino que a herança deva ser discutida. Algo que dou a mínima, pois isso pode servir para ressuscitar coisas que devem permanecer mortas.No enta
AmeliaMeu corpo todo estremeceu num fluxo crescente de choque. O pior choque que já experimentei estilhaçando meu coração sem conseguir acreditar.William é meu tio? Como? Como pode ser?Tentei articular qualquer palavra vendo a esposa dele encontrar meus olhos como se fosse me perfurar por dentro. Já William ficou imóvel, lábios apertados numa carranca profunda sem esboçar reação.—Sejam Bem Vindo! —disse meu pai atrás de mim exultante—Há tanto tempo queria esse reencontro.E eles começaram a se abraçar como velhos conhecidos enquanto eu, só queria que o chão se abrisse no meio para desaparecer e baixei o rosto. A decepção tirou todas as minhas capacidades de agir, sentindo-me devastada por dentro.Isso só podia ser uma piada de mau gosto, mas infelizmente não, quando ouvi a revelação certeira.—Vamos Amelia. Cumprimente seu tio. —Meu pai disse com insistência—Na verdade, seu novo tio, afinal de contas.Minha boca se abriu quase sem sair o som.—Olá.—Oi...—William disse piscando as
Junho/2015 Westminster- Londres AMELIAEu e Emma há três dias estamos envolvidas com a roupa que vamos usar na festa de Fill, já que ele vai completar vinte anos e não quer passar em branco. Eu imaginei que sua casa seria o local escolhido para a celebração de aniversário, mas seus pais não haviam ido viajar como ele acreditou, e por ter alguns contatos conseguiu o espaço do Cirque Le Soir. Onde sempre são exibidos dançarinos, e até cantores famosos numa temática burlesca e distinta de outras baladas de Londres. Praticamente um circo, cheia de figurinos, espetáculos pirótécnicos fazendo jus a seu nome, Cirque. Uma das coisas que mais adoro é me acabar numa festa e já fazia um tempo que não as prestigiava. O motivo é por estar no último semestre da escola, tendo obrigação de concentrar-me nas notas, para garantir a faculdade e menos insultos dos meus pais que estão em pé de guerra por separar-se, e de olho em mim, para que não reprove mais um ano letivo. Fiquei pronta antes de Emma
WILLIAMO que ela quis dizer com ajudar um demônio? Óbvio, que não sairia nada coerente de sua boca. Olhei para o rosto dela, analisando-a e a forma como ela agia de uma garota rebelde. Ela não ia soar confiável ainda mais em seu estado. Podia estar envolvida em algo ilegal e meu cérebro passou a varrer as inúmeras possibilidades de ajudar um estranho e acabar numa tremenda encrenca. Não importa o quanto ela estivesse vulnerável. Eu poderia ser abordado pela polícia com uma menor drogada.—Então, você vai me dar a carona ou não? — perguntou tentando abotoar a sandália e como não teve paciência a tirou deixando os pés descalços e largou ali mesmo.—Seria irresponsável da minha parte deixá-la sozinha. —Concluí. Ela hesitou olhando-me firmemente. —Vamos, entre, eu levo você.Abri a porta de trás. Não quis que ela fosse na frente por segurança e para não chamar tanto atenção. Quando ela sentou no banco do passageiro, e a vi confortável, assumi o volante.— Se importa se eu ligar o rádio?—p
AMELIAA segunda feira iniciou atribulada depois de um domingo cheio de ressaca ao qual ouvi todos os reclames de meu pai e tive de ser legal com as visitas. Como é habitual sempre há uma reunião e outra aos finais de semana, onde acabo vendo hóspedes pela casa e me pergunto o motivo de tantas comemorações inúteis, onde meu pais se mostram como o casal perfeito. Todos sabem que eles mais brigam como cão e gato. Creio que essa é fachada que encontram para fugir de suas frustrações.Tomei da bicicleta e apesar, de tanta coisa para fazer, senti alívio de ganhar a rua e respirar o cheirinho de café das cafeterias casuais em meio as lojas vintage e livrarias. Andar pelo meu bairro é sentir uma parte do coração de Londres, e o charme do colorido de suas casas estilo vitoriano. Há bastante artesanato, brechós e até Carnaval na temporada de Agosto. Aqui foi produzido o filme Um Lugar chamado Nothing Hill o que tornou mais requisitado em termos de passeios e cheios de turistas. Sempre é comum