—Está pálido. — Ela tocou meu rosto— Não é nada, estou... bem— relutei com engasgo na tentativa de não demonstrar meu desespero. Mas a mente girava e minha voz parecia ser esmagada pelos batimentos cardíacos.Eu não sei como deveria estar meu rosto ao vê-la examinar-me com preocupação.—Temos que chamar um médico.— Não!— Mas...— NÃO! — bradei com força e estremecimento, não querendo constatar a realidade das palavras que ouvi. Minha vida estaria arruinada se Amelia fosse filha de Edward.–Você está me assustando William.Olhei para ela com a respiração pesada. Seu rosto jovem, quase angelical como se implorasse para esclarecer o que acontecia, doeu meu estômago causando náusea. Subsequente, o cheiro de queimado encheu a cozinha e ela correu para ver a panela. Amelia desligou o fogão para a seguir voltar com um copo de água.Sentia-me apoplético. Com mãos trêmulas, bebi a água toda de uma vez. O que foi inútil para disfarçar minha aflição. Levantei apoiando as mãos na bancada da il
WilliamEla dormiu abraçada em meu peito toda a noite depois de fazermos amor mais uma vez. Menos eu, que não consegui conciliar o sono pensando em cada detalhe sobre o que foi dito. Minha história rodando na cabeça como um filme ruim de lembranças torpes, a briga de nosso pai pela morte de Sara, a caçula. Éramos tão jovens quando ela morreu. Levei a culpa por tudo que houve, incluindo a amargura de Taylor durante todos esses anos. Evitei revelar o sobrenome Taylor por diversos motivos e Patterdale serviu de pseudônimo para alguns livros que escrevi, além de destacar-me na profissão. Eu queria de verdade passar uma borracha no passado, porém ele seguia do mesmo modo, forte, como tatuagem reverberando as mágoas dentro de mim.Quanto a Taylor, talvez sinta o mesmo e as ligações todas que venho recebendo são dele. Nosso pai morreu há um ano e imagino que a herança deva ser discutida. Algo que dou a mínima, pois isso pode servir para ressuscitar coisas que devem permanecer mortas.No enta
AmeliaMeu corpo todo estremeceu num fluxo crescente de choque. O pior choque que já experimentei estilhaçando meu coração sem conseguir acreditar.William é meu tio? Como? Como pode ser?Tentei articular qualquer palavra vendo a esposa dele encontrar meus olhos como se fosse me perfurar por dentro. Já William ficou imóvel, lábios apertados numa carranca profunda sem esboçar reação.—Sejam Bem Vindo! —disse meu pai atrás de mim exultante—Há tanto tempo queria esse reencontro.E eles começaram a se abraçar como velhos conhecidos enquanto eu, só queria que o chão se abrisse no meio para desaparecer e baixei o rosto. A decepção tirou todas as minhas capacidades de agir, sentindo-me devastada por dentro.Isso só podia ser uma piada de mau gosto, mas infelizmente não, quando ouvi a revelação certeira.—Vamos Amelia. Cumprimente seu tio. —Meu pai disse com insistência—Na verdade, seu novo tio, afinal de contas.Minha boca se abriu quase sem sair o som.—Olá.—Oi...—William disse piscando as
Junho/2015 Westminster- Londres AMELIAEu e Emma há três dias estamos envolvidas com a roupa que vamos usar na festa de Fill, já que ele vai completar vinte anos e não quer passar em branco. Eu imaginei que sua casa seria o local escolhido para a celebração de aniversário, mas seus pais não haviam ido viajar como ele acreditou, e por ter alguns contatos conseguiu o espaço do Cirque Le Soir. Onde sempre são exibidos dançarinos, e até cantores famosos numa temática burlesca e distinta de outras baladas de Londres. Praticamente um circo, cheia de figurinos, espetáculos pirótécnicos fazendo jus a seu nome, Cirque. Uma das coisas que mais adoro é me acabar numa festa e já fazia um tempo que não as prestigiava. O motivo é por estar no último semestre da escola, tendo obrigação de concentrar-me nas notas, para garantir a faculdade e menos insultos dos meus pais que estão em pé de guerra por separar-se, e de olho em mim, para que não reprove mais um ano letivo. Fiquei pronta antes de Emma
WILLIAMO que ela quis dizer com ajudar um demônio? Óbvio, que não sairia nada coerente de sua boca. Olhei para o rosto dela, analisando-a e a forma como ela agia de uma garota rebelde. Ela não ia soar confiável ainda mais em seu estado. Podia estar envolvida em algo ilegal e meu cérebro passou a varrer as inúmeras possibilidades de ajudar um estranho e acabar numa tremenda encrenca. Não importa o quanto ela estivesse vulnerável. Eu poderia ser abordado pela polícia com uma menor drogada.—Então, você vai me dar a carona ou não? — perguntou tentando abotoar a sandália e como não teve paciência a tirou deixando os pés descalços e largou ali mesmo.—Seria irresponsável da minha parte deixá-la sozinha. —Concluí. Ela hesitou olhando-me firmemente. —Vamos, entre, eu levo você.Abri a porta de trás. Não quis que ela fosse na frente por segurança e para não chamar tanto atenção. Quando ela sentou no banco do passageiro, e a vi confortável, assumi o volante.— Se importa se eu ligar o rádio?—p
AMELIAA segunda feira iniciou atribulada depois de um domingo cheio de ressaca ao qual ouvi todos os reclames de meu pai e tive de ser legal com as visitas. Como é habitual sempre há uma reunião e outra aos finais de semana, onde acabo vendo hóspedes pela casa e me pergunto o motivo de tantas comemorações inúteis, onde meu pais se mostram como o casal perfeito. Todos sabem que eles mais brigam como cão e gato. Creio que essa é fachada que encontram para fugir de suas frustrações.Tomei da bicicleta e apesar, de tanta coisa para fazer, senti alívio de ganhar a rua e respirar o cheirinho de café das cafeterias casuais em meio as lojas vintage e livrarias. Andar pelo meu bairro é sentir uma parte do coração de Londres, e o charme do colorido de suas casas estilo vitoriano. Há bastante artesanato, brechós e até Carnaval na temporada de Agosto. Aqui foi produzido o filme Um Lugar chamado Nothing Hill o que tornou mais requisitado em termos de passeios e cheios de turistas. Sempre é comum
AMELIA Meu coração acelerou. Não havia necessidade de tanta intimidação, porém não sabia se falava, ou dava meia volta e saía pela porta. Era muita coincidência vê-lo de novo. —Olá, como vai? —Sorriu, curvando os lábios deixando as linhas de expressão mais evidentes por baixo dos óculos. Usava um terno impecável azul, a barba levemente crescida e o cabelo bem cuidado. —É... você... —Estou substituindo sua psicóloga. Ela não avisou você? Pensei um pouco meio atordoada, não recebi nenhuma mensagem. —Na verdade não. — Ela enviou e-mail para todos seus pacientes, sua mãe está muito doente em Nova Jersey. Ela viajou e não tivemos outro substituto além de mim. Merda! Pensei comigo, eu mal checava meus e-mails nem parecia ter celular. —Claro. — sorri, mostrando compreensão e com alguns passos hesitantes me coloquei no assento diante dele. A lembrança da noite que me ajudou, venho com força e esbocei um sorriso apertado tentando aparentar calma; quando a curiosidade tomava partido de
AMELIAQuente e fria. A definição dele sobre mim, combinava comigo, mas diante dele eu queria ser quente. O que é mesmo que acabou de acontecer? Eu reencontrei o anjo como meu psicólogo? Joice me paga. Com tantas formas de mandar recado, ao menos podia me ligar, nem todos podem ver e-mails. Se rolei meus olhos em alguma mensagem, não lembro exclusivamente de ver qualquer texto dela.Voltei para casa, risonha e distraída mais que o normal. Não podia dar na telha com esse comportamento na frente dos meus pais, eles sempre achavam um forma de fazer uma observação, por mais ridícula que fosse. Entrei em casa e Bob me saudou como de hábito, batendo o rabo e fazendo barulho pelo colar de metal, grafado seu nome. Ele era meu companheiro de sempre.Não vi meu pai, mas minha mãe, senhora Margareth Taylor munida do avental de oncinha e suas incontáveis mancha de tinta, seguia focada na pintura. Dei um oi rápido subindo as escadas e joguei-me na cama, porque minha cabeça só sabia repetir como ma