— Acha mesmo que foi a melhor escolha? – Azazyel perguntou a ela enquanto andavam.
E como se a pergunta fosse o gatilho para suas emoções, ela caiu de joelhos e chorou como jamais havia chorado em sua vida, sentia o corpo se mover com a força dos soluços que rasgavam seu peito, levou as mãos à cabeça e o rosto ao chão. Um grito rompeu de sua garganta e Azazyel correu para conter Naiara que resplandecia parecendo não conseguir controlar a ela mesmo. Braços fortes a envolveram e a menina se permitiu tombar de lado e deitar a cabeça no peito dele.
— Chore guerreira, tudo isso passará. – Ele dizia em um tom baixo, como um pai que acalanta um filho – Chore, deixe sair tudo o que está te fazendo mal. Coloque para fora.
Ficaram imóveis por minutos que mais pareceram horas, o único barulho que se ouvia, era dos soluços de Naiara e
— Entre. – Yekun disse após ouvir a leve batida.Naiara abriu a porta, colocando somente a parte de cima de seu corpo para dentro. Yekun estava deitado sobre uma cama imensa que ficava abaixo de uma ampla janela. O quarto dele era enorme, um dos maiores da morada, mas todos os moveis eram antigos o que deixava tudo com uma visão quase medieval. Combinava com ele.— Você está bem? – Ela perguntou ainda da porta.— Ficarei melhor quando entrar vida. – Disse a olhando.Naiara entrou, fechando a porta atrás de si, estava constrangida com a situação. Não que nunca tivesse estado a sós com Yekun, até mesmo dormido em seus braços em uma barraca, ela já havia dormido. Mas estar dentro do quarto dele, era intimo demais. Sentou-se em uma poltrona que ficava no canto do quarto e sorrio para ele que a olhava sem entender o que acontecia com a menina.
— O que foi que você fez? – Miguel gritou.— O que eu fiz? O que você fez? – Heylel gritava em resposta – Achou mesmo que iria continuar agindo da forma que agia e nosso Pai não o disciplinaria?— Meu Pai!— Cresce Miguel.— O único que precisa ser castigado aqui é você, traidor.Miguel esbravejava e gritava como um insano, andando de um lado para outro, sem saber o que fazer. Ele parou de súbito, iria abrir suas asas e somente voar para o mais longe possível de Heylel e daquele lugar, voltaria para casa e iria ter com o Pai. Mas nada aconteceu. Forçou o pensamento novamente, esperando sentir a expansão em sua omoplata e então a gloria de suas asas abertas. Nada.— O que a bruxa da sua cria fez comigo?— Se falar novamente da minha filha dessa forma Miguel vou matar você e deixar seu corpo aqui me
A claridade alcançou seus olhos, uma luz forte invadiu-o, fazendo com que retomasse os sentidos de imediato. Gabriel colocou-se em pé tão rápido que sentiu o mundo rodar, tudo ainda estava girando quando uma mão grande e quente tocou o seu ombro segurando-o com uma força desnecessária. Ele não pôde acreditar no que viu quando virou-se, a sua frente um homem alto com um pouco mais que dois metros, sobre o peito nu duas tiras grossas e largas de couro cruzada, a calça branca sem uma única mancha era de um tecido grosso e largo e os pés tocavam o chão que estava completamente coberto por uma fumaça espessa. Tudo era extremamente branco naquele lugar, mas não foi a brancura ao seu redor ou o tamanho do homem a sua frente, muito menos as vestes que pareciam uniforme de uma guerra bíblica que despertou a atenção de Gabriel, mas sim as duas imensas asas brancas que s
Era estranho para ela saber que amanheceu, não conseguia sentir o sol, não que Naiara fosse fã da claridade, ao contrário, desde muito nova ela sempre foi apaixonada pela noite, sentia-se cansada e enfraquecida fisicamente durante o dia. Mas ainda assim, sentir o corpo querer acordar e não encontrar a luz do sol, causava a ela um certo desconforto, sensação que passou rapidamente quando sentiu seu corpo ser envolvido pelos braços de Agares, não conseguiu impedir que o sorriso surgisse em seus lábios, desde o resgate de sua mãe, Agares estava passando tempo demais no quarto de Naiara, não que ela se importasse com isso, mas sabia que os pais não gostavam muito daquela situação. Sentiu o abraço a apertando um pouco mais.— Sei que está acordada mocinha, sinto sua mente borbulhando – Disse baixo em meio ao sorriso. Não havia como negar, o entr
Seus pés descalços estavam enterrados na areia quente o que de uma certa forma ajudava, mesmo que levemente, a relaxar seu corpo, os joelhos levados ao peito e a cabeça apoiada neles, de todas as formas Naiara queria somente esquecer de tudo o que havia vivido nos últimos meses e voltar a ser a menina com problemas de maquiagem e nada mais. Sabia que o surto na sala com as pessoas que amava era algo desnecessário, mas não estava conseguindo lidar mais com algumas coisas, não entendia como todos a olhavam, esperando que ela fosse somente a filha do anjo caído, esqueciam que afinal, em um passado não muito distante, ela era somente a filha problemática de um pastor e nada mais, agora além de tudo o que precisava digerir dentro de si, ainda havia Élida, irmã do tal coven de sua mãe. Quando os parentes iriam parar de chegar?Uma sombra cobriu seu corpo e mesmo sem olhar, ela sabia qu
Triunfante ele deixou seus dedos entrelaçarem aos de Naiara e passaram a caminhar pela orla, os pés sendo banhados pelas aguas mornas e a ponta de suas asas se arrastando na areia, deixando um rastro para trás. As horas passavam rápido demais, eles conversaram e riram e Naiara teve a certeza que há muito tempo ele não ria daquela forma, pois no começo sentiu Yekun tenso ao seu lado e aos poucos passou a ser tomado por uma sensação que parecia ser desconhecida para ele, felicidade. Sentimento que deixou Naiara realizada, de alguma forma vê-lo bem e feliz, a fazia feliz também.— Agora pode me contar o que a perturba? – Quis saber ele enquanto a levava para a proteção da sombra de um grande coqueiro, sentando e puxando a menina com ele. Naiara acomodou-se ao seu lado, deixando a lateral de seu corpo apoiada ao dele.— Acha mesmo que preciso dizer? Olhe ao meu redor
Naiara estava largada sobre a cama, sozinha e irritada, naquele momento só queria partir Yekun ao meio e dar um chute na canela de Agares, não entendia como ele a deixou daquela forma, como pôde pensar que ele não era o suficiente para ela, quando tudo o que havia se tornado e tudo o que gostaria de ser, estava eternamente ligado a ele, ela suspirou alto quando a certeza dos seus atos caíram em seu entendimento, claro que ela sabia o porquê Agares estava daquela forma, morreria se soubesse que ele havia passado uma manhã nos braços de qualquer outra demônia daquele lugar, pensar então que ele pudesse se sentir como ela se sentiu, ela morreria ou mataria com certeza. A respiração acelerada e o travesseiro sobre a cabeça, não estava deixando com que se acalmasse ou pensasse direito, acreditava que com a chegada da mãe, todos seriam uma grande família endemoniada feliz e nada ma
Gabriel começava a se cansar de toda aquela situação, ainda deitado sobre a cama de seu novo quarto, cômodo esse que parecia mudar, não somente de lugar, mas os moveis e a disposição deles no espaço, constantemente, era também tão branco quanto a espada que Miguel usava, cegando o menino todas as manhãs. Não havia entendido ainda como as coisas funcionavam naquele lugar, mesmo Diego com toda a paciência que era possível ser destinada à um ser, explicar que estavam somente em um plano inferior da eterna morada e que portanto não havia algo fixo, solido ou constante, estavam somente de passagem, dizendo que era por isso que a cada dia não somente os moveis, mas os cômodos da morada, como a paisagem em volta deles, alteravam de forma. Tudo isso era confuso demais para Gabriel. Esticou o corpo sobre os lençóis extremamente brancos e macios, sentindo a