A claridade alcançou seus olhos, uma luz forte invadiu-o, fazendo com que retomasse os sentidos de imediato. Gabriel colocou-se em pé tão rápido que sentiu o mundo rodar, tudo ainda estava girando quando uma mão grande e quente tocou o seu ombro segurando-o com uma força desnecessária. Ele não pôde acreditar no que viu quando virou-se, a sua frente um homem alto com um pouco mais que dois metros, sobre o peito nu duas tiras grossas e largas de couro cruzada, a calça branca sem uma única mancha era de um tecido grosso e largo e os pés tocavam o chão que estava completamente coberto por uma fumaça espessa. Tudo era extremamente branco naquele lugar, mas não foi a brancura ao seu redor ou o tamanho do homem a sua frente, muito menos as vestes que pareciam uniforme de uma guerra bíblica que despertou a atenção de Gabriel, mas sim as duas imensas asas brancas que se abriam nas costas do homem que o olhava com uma certa severidade.
— Mas que diabos está acontecendo aqui? – A pergunta explodiu dos lábio de Gabriel.
— Atente-se para seus modos criança.
O som da voz invadiu todo o ser de Gabriel, o fazendo arrepiar completamente. Seus pés se moveram levemente o levando dois passos para trás, fazendo assim com o que homem andasse dois passos à frente, quase uma dança perfeita.
— Acalme-se criança, não lhe farei mal.
Novamente a mão do homem foi ao ombro de Gabriel detendo assim qualquer movimento do menino.
— Estou calmo, eu acho, mas quem é você? Aliás o que estou fazendo aqui? Na verdade, onde é “aqui? – Questionou em meio à confusão de pensamentos.
— Me chamo Miguel, general da guarda celestial.
Gabriel explodiu em risos. Ria de tal maneira que lagrimas escapavam de seus olhos e sua reação fez com que o homem a sua frente se afastasse um pouco e sua face demonstrava todas as dúvidas que aquela reação inesperada causou.
— Não creio que essa seja a reação certa para este momento criança.
— Acordo no meio do nada, cheio de gelo seco ao meu redor, um cara imenso e pelado na minha frente, fantasiado de cupido e não quer que eu dê risada?
As palavras saíram rápidas demais, ainda em meio ao riso que teimava em escapar.
— Realmente não se lembra de nada não é? – Quis saber Miguel.
— Não me lembro do que? Estava em casa, jogando vídeo game no meu quarto há dois minutos atrás...
Não precisou ser dito mais nada, Miguel aproximou-se de Gabriel, enquanto ele ainda falava e tocou a testa do rapaz por apenas dois segundos, foi o suficiente para que o corpo dele caísse ao chão e um grito alto, misturado ao choro, saísse de sua garganta. Toda a sua memória foi devolvida de uma só vez, Gabriel não aguentou a dor da traição da amiga, saber por tudo o que havia passado, que havia sido esquecido e o pior, saber que ela simplesmente apagou Gabriel de sua vida. Miguel abaixou-se ao lado do rapaz e o ajudou a colocar-se em pé, segurando-o com firmeza, com receio de que voltasse a cair.
— Isso é somente o começo criança!
Era estranho para ela saber que amanheceu, não conseguia sentir o sol, não que Naiara fosse fã da claridade, ao contrário, desde muito nova ela sempre foi apaixonada pela noite, sentia-se cansada e enfraquecida fisicamente durante o dia. Mas ainda assim, sentir o corpo querer acordar e não encontrar a luz do sol, causava a ela um certo desconforto, sensação que passou rapidamente quando sentiu seu corpo ser envolvido pelos braços de Agares, não conseguiu impedir que o sorriso surgisse em seus lábios, desde o resgate de sua mãe, Agares estava passando tempo demais no quarto de Naiara, não que ela se importasse com isso, mas sabia que os pais não gostavam muito daquela situação. Sentiu o abraço a apertando um pouco mais.— Sei que está acordada mocinha, sinto sua mente borbulhando – Disse baixo em meio ao sorriso. Não havia como negar, o entr
Seus pés descalços estavam enterrados na areia quente o que de uma certa forma ajudava, mesmo que levemente, a relaxar seu corpo, os joelhos levados ao peito e a cabeça apoiada neles, de todas as formas Naiara queria somente esquecer de tudo o que havia vivido nos últimos meses e voltar a ser a menina com problemas de maquiagem e nada mais. Sabia que o surto na sala com as pessoas que amava era algo desnecessário, mas não estava conseguindo lidar mais com algumas coisas, não entendia como todos a olhavam, esperando que ela fosse somente a filha do anjo caído, esqueciam que afinal, em um passado não muito distante, ela era somente a filha problemática de um pastor e nada mais, agora além de tudo o que precisava digerir dentro de si, ainda havia Élida, irmã do tal coven de sua mãe. Quando os parentes iriam parar de chegar?Uma sombra cobriu seu corpo e mesmo sem olhar, ela sabia qu
Triunfante ele deixou seus dedos entrelaçarem aos de Naiara e passaram a caminhar pela orla, os pés sendo banhados pelas aguas mornas e a ponta de suas asas se arrastando na areia, deixando um rastro para trás. As horas passavam rápido demais, eles conversaram e riram e Naiara teve a certeza que há muito tempo ele não ria daquela forma, pois no começo sentiu Yekun tenso ao seu lado e aos poucos passou a ser tomado por uma sensação que parecia ser desconhecida para ele, felicidade. Sentimento que deixou Naiara realizada, de alguma forma vê-lo bem e feliz, a fazia feliz também.— Agora pode me contar o que a perturba? – Quis saber ele enquanto a levava para a proteção da sombra de um grande coqueiro, sentando e puxando a menina com ele. Naiara acomodou-se ao seu lado, deixando a lateral de seu corpo apoiada ao dele.— Acha mesmo que preciso dizer? Olhe ao meu redor
Naiara estava largada sobre a cama, sozinha e irritada, naquele momento só queria partir Yekun ao meio e dar um chute na canela de Agares, não entendia como ele a deixou daquela forma, como pôde pensar que ele não era o suficiente para ela, quando tudo o que havia se tornado e tudo o que gostaria de ser, estava eternamente ligado a ele, ela suspirou alto quando a certeza dos seus atos caíram em seu entendimento, claro que ela sabia o porquê Agares estava daquela forma, morreria se soubesse que ele havia passado uma manhã nos braços de qualquer outra demônia daquele lugar, pensar então que ele pudesse se sentir como ela se sentiu, ela morreria ou mataria com certeza. A respiração acelerada e o travesseiro sobre a cabeça, não estava deixando com que se acalmasse ou pensasse direito, acreditava que com a chegada da mãe, todos seriam uma grande família endemoniada feliz e nada ma
Gabriel começava a se cansar de toda aquela situação, ainda deitado sobre a cama de seu novo quarto, cômodo esse que parecia mudar, não somente de lugar, mas os moveis e a disposição deles no espaço, constantemente, era também tão branco quanto a espada que Miguel usava, cegando o menino todas as manhãs. Não havia entendido ainda como as coisas funcionavam naquele lugar, mesmo Diego com toda a paciência que era possível ser destinada à um ser, explicar que estavam somente em um plano inferior da eterna morada e que portanto não havia algo fixo, solido ou constante, estavam somente de passagem, dizendo que era por isso que a cada dia não somente os moveis, mas os cômodos da morada, como a paisagem em volta deles, alteravam de forma. Tudo isso era confuso demais para Gabriel. Esticou o corpo sobre os lençóis extremamente brancos e macios, sentindo a
E pela terceira vez naquela manhã Diego riu.— Irmão, vou me divertir muito com você. Venha, vamos tomar um banho – Gabriel parou onde estava e o desespero estampou sua face – Separados Gabriel, cada um em seu quarto, oras irmão, pelo Pai, acha que somos assim? – Gabriel respirou aliviado, aceitando a ajuda de Diego para se levantar, quando estava ao lado dele, Diego aproximou-se e falou baixo em seu ouvido – Darei banho em você, somente quando me pedir – Fazendo Gabriel pular metros para longe dele.— Por Deus!!! Cadê a ordem e a decência que teria que existir nesse lugar??? Claro que não vou pedir nada, não rola um castigo, umas broncas para quem faz essas coisas aqui não? Sou novo aqui, convidado do Pai, mereço ser tratado com mais respeito – Ele ainda falava por sobre o ombro enquanto voava de volta para seu quarto, deixando Diego para trá
E por mais que Heylel quisesse fazer o anjo engolir sua soberba e cada palavra dita até aquele momento, reconhecia que uma guerra não seria algo bom para seu domínio. Posicionou o corpo um passo à frente, detendo Amarantha que ainda brincava com a chama azul em suas mãos.— Fale. E. Suma. Daqui.O anjo deixou um sorriso carregado de sarcasmos estampar seus lábios e notou o olhar de Heylel em suas asas, graça aquela que ele não alcançaria novamente. Assim que caiu, recebendo seu castigo, não foi deixado nenhuma marca celestial nos que se rebelaram contra Deus, muitos não aguentaram a queda e suas asas queimaram por completo e os que conseguiram resistir, elas se tornaram negras como a noite mais escura, mas ninguém soube em qual das duas situações Heylel se encaixava, ele jamais revelou sua situação, nem mesmo em seus anos mais sombrios.— S
Estava acontecendo, o tão esperado dia chegou, enfim os 18 anos. Naiara levantou-se naquela manhã e não teve a presença de Agares ao seu lado, ele ainda estava chateado com ela por causa do quase-não-beijo de Yekun e ela entendia, afinal, ela mesmo mataria se alguma daquelas demônias chegasse perto de Agares, mas dizia a ela mesmo que não teve culpa, não conseguiu evitar e essa mentira a tranquilizava. Acordou como todos os outros dias, tomou banho e comeu seu café da manhã ainda em seu quarto, os pais haviam saído na noite anterior para irem buscar o presente dela em outro território e ainda não haviam voltado, para Naiara, aquilo foi somente uma desculpa para ficarem sozinhos. Mas nada mais estava diferente, não acordou em chamas, aos berros, levitando ou vomitando verde pela casa, era somente ela e nada mais.— Sem poderes descontrolados.Dizia enquanto comia seu c