— O que foi que você fez? – Miguel gritou.
— O que eu fiz? O que você fez? – Heylel gritava em resposta – Achou mesmo que iria continuar agindo da forma que agia e nosso Pai não o disciplinaria?
— Meu Pai!
— Cresce Miguel.
— O único que precisa ser castigado aqui é você, traidor.
Miguel esbravejava e gritava como um insano, andando de um lado para outro, sem saber o que fazer. Ele parou de súbito, iria abrir suas asas e somente voar para o mais longe possível de Heylel e daquele lugar, voltaria para casa e iria ter com o Pai. Mas nada aconteceu. Forçou o pensamento novamente, esperando sentir a expansão em sua omoplata e então a gloria de suas asas abertas. Nada.
— O que a bruxa da sua cria fez comigo?
— Se falar novamente da minha filha dessa forma Miguel vou matar você e deixar seu corpo aqui me
A claridade alcançou seus olhos, uma luz forte invadiu-o, fazendo com que retomasse os sentidos de imediato. Gabriel colocou-se em pé tão rápido que sentiu o mundo rodar, tudo ainda estava girando quando uma mão grande e quente tocou o seu ombro segurando-o com uma força desnecessária. Ele não pôde acreditar no que viu quando virou-se, a sua frente um homem alto com um pouco mais que dois metros, sobre o peito nu duas tiras grossas e largas de couro cruzada, a calça branca sem uma única mancha era de um tecido grosso e largo e os pés tocavam o chão que estava completamente coberto por uma fumaça espessa. Tudo era extremamente branco naquele lugar, mas não foi a brancura ao seu redor ou o tamanho do homem a sua frente, muito menos as vestes que pareciam uniforme de uma guerra bíblica que despertou a atenção de Gabriel, mas sim as duas imensas asas brancas que s
Era estranho para ela saber que amanheceu, não conseguia sentir o sol, não que Naiara fosse fã da claridade, ao contrário, desde muito nova ela sempre foi apaixonada pela noite, sentia-se cansada e enfraquecida fisicamente durante o dia. Mas ainda assim, sentir o corpo querer acordar e não encontrar a luz do sol, causava a ela um certo desconforto, sensação que passou rapidamente quando sentiu seu corpo ser envolvido pelos braços de Agares, não conseguiu impedir que o sorriso surgisse em seus lábios, desde o resgate de sua mãe, Agares estava passando tempo demais no quarto de Naiara, não que ela se importasse com isso, mas sabia que os pais não gostavam muito daquela situação. Sentiu o abraço a apertando um pouco mais.— Sei que está acordada mocinha, sinto sua mente borbulhando – Disse baixo em meio ao sorriso. Não havia como negar, o entr
Seus pés descalços estavam enterrados na areia quente o que de uma certa forma ajudava, mesmo que levemente, a relaxar seu corpo, os joelhos levados ao peito e a cabeça apoiada neles, de todas as formas Naiara queria somente esquecer de tudo o que havia vivido nos últimos meses e voltar a ser a menina com problemas de maquiagem e nada mais. Sabia que o surto na sala com as pessoas que amava era algo desnecessário, mas não estava conseguindo lidar mais com algumas coisas, não entendia como todos a olhavam, esperando que ela fosse somente a filha do anjo caído, esqueciam que afinal, em um passado não muito distante, ela era somente a filha problemática de um pastor e nada mais, agora além de tudo o que precisava digerir dentro de si, ainda havia Élida, irmã do tal coven de sua mãe. Quando os parentes iriam parar de chegar?Uma sombra cobriu seu corpo e mesmo sem olhar, ela sabia qu
Triunfante ele deixou seus dedos entrelaçarem aos de Naiara e passaram a caminhar pela orla, os pés sendo banhados pelas aguas mornas e a ponta de suas asas se arrastando na areia, deixando um rastro para trás. As horas passavam rápido demais, eles conversaram e riram e Naiara teve a certeza que há muito tempo ele não ria daquela forma, pois no começo sentiu Yekun tenso ao seu lado e aos poucos passou a ser tomado por uma sensação que parecia ser desconhecida para ele, felicidade. Sentimento que deixou Naiara realizada, de alguma forma vê-lo bem e feliz, a fazia feliz também.— Agora pode me contar o que a perturba? – Quis saber ele enquanto a levava para a proteção da sombra de um grande coqueiro, sentando e puxando a menina com ele. Naiara acomodou-se ao seu lado, deixando a lateral de seu corpo apoiada ao dele.— Acha mesmo que preciso dizer? Olhe ao meu redor
Naiara estava largada sobre a cama, sozinha e irritada, naquele momento só queria partir Yekun ao meio e dar um chute na canela de Agares, não entendia como ele a deixou daquela forma, como pôde pensar que ele não era o suficiente para ela, quando tudo o que havia se tornado e tudo o que gostaria de ser, estava eternamente ligado a ele, ela suspirou alto quando a certeza dos seus atos caíram em seu entendimento, claro que ela sabia o porquê Agares estava daquela forma, morreria se soubesse que ele havia passado uma manhã nos braços de qualquer outra demônia daquele lugar, pensar então que ele pudesse se sentir como ela se sentiu, ela morreria ou mataria com certeza. A respiração acelerada e o travesseiro sobre a cabeça, não estava deixando com que se acalmasse ou pensasse direito, acreditava que com a chegada da mãe, todos seriam uma grande família endemoniada feliz e nada ma
Gabriel começava a se cansar de toda aquela situação, ainda deitado sobre a cama de seu novo quarto, cômodo esse que parecia mudar, não somente de lugar, mas os moveis e a disposição deles no espaço, constantemente, era também tão branco quanto a espada que Miguel usava, cegando o menino todas as manhãs. Não havia entendido ainda como as coisas funcionavam naquele lugar, mesmo Diego com toda a paciência que era possível ser destinada à um ser, explicar que estavam somente em um plano inferior da eterna morada e que portanto não havia algo fixo, solido ou constante, estavam somente de passagem, dizendo que era por isso que a cada dia não somente os moveis, mas os cômodos da morada, como a paisagem em volta deles, alteravam de forma. Tudo isso era confuso demais para Gabriel. Esticou o corpo sobre os lençóis extremamente brancos e macios, sentindo a
E pela terceira vez naquela manhã Diego riu.— Irmão, vou me divertir muito com você. Venha, vamos tomar um banho – Gabriel parou onde estava e o desespero estampou sua face – Separados Gabriel, cada um em seu quarto, oras irmão, pelo Pai, acha que somos assim? – Gabriel respirou aliviado, aceitando a ajuda de Diego para se levantar, quando estava ao lado dele, Diego aproximou-se e falou baixo em seu ouvido – Darei banho em você, somente quando me pedir – Fazendo Gabriel pular metros para longe dele.— Por Deus!!! Cadê a ordem e a decência que teria que existir nesse lugar??? Claro que não vou pedir nada, não rola um castigo, umas broncas para quem faz essas coisas aqui não? Sou novo aqui, convidado do Pai, mereço ser tratado com mais respeito – Ele ainda falava por sobre o ombro enquanto voava de volta para seu quarto, deixando Diego para trá
E por mais que Heylel quisesse fazer o anjo engolir sua soberba e cada palavra dita até aquele momento, reconhecia que uma guerra não seria algo bom para seu domínio. Posicionou o corpo um passo à frente, detendo Amarantha que ainda brincava com a chama azul em suas mãos.— Fale. E. Suma. Daqui.O anjo deixou um sorriso carregado de sarcasmos estampar seus lábios e notou o olhar de Heylel em suas asas, graça aquela que ele não alcançaria novamente. Assim que caiu, recebendo seu castigo, não foi deixado nenhuma marca celestial nos que se rebelaram contra Deus, muitos não aguentaram a queda e suas asas queimaram por completo e os que conseguiram resistir, elas se tornaram negras como a noite mais escura, mas ninguém soube em qual das duas situações Heylel se encaixava, ele jamais revelou sua situação, nem mesmo em seus anos mais sombrios.— S