As paredes eram escorregadias, como se a umidade fosse muita e a água não parasse de escorrer jamais, o espaço estreito e quase sufocante, não permitia que os dois andasse afastados, estavam tão próximos que o calor dos corpos se misturava.
— Agares, e se ficarmos andando para sempre aqui e não chegarmos a lugar algum?
— Sempre terá um lugar para chegar Nai, em algum momento.
— Está profundo. – Ela brincou.
— Não. – Ele disse sério e sem se virar para trás – Você que ainda não me conhece completamente.
Ela não respondeu, mas com cuidado, soltou os dedos que estavam presos aos dele, com a desculpa que precisavam de luz. Naiara clareou um pouco o caminho, perdida em seus próprios pensamentos. Ainda que a escolha dela fosse Agares, algo havia se quebrado e o medo que nunca mais fosse reparado estava p
As palavras era gritadas em todas as direções e ela parecia um animal encurralado, andando de um lado para outro, preste a atacar.— Posso me aproximar? – Perguntou incerto. Ela respirou fundo e então parou e o olhou.— Sempre. – Tentou desfazer a carranca, mas não obteve sucesso. Agares andou lentamente até ela e com cuidado segurou em suas mãos. – Temos que ter um plano.— Plano?— Sim, ainda temos que encontrar a arvore e levar as folhas para Amarantha. – Só nesse momento ela se lembrou do porque estavam ali.— Yekun. – Disse baixo.— Sim, ele ainda precisa de nós.Eles conversavam baixo, como se qualquer alteração na voz, fosse tirar Naiara do eixo novamente, fazendo sua ira explodir. Os três ainda choravam, mas Gabriel agora estava sentado no chão, ainda preso pelo poder de Naiara, s
— Acha mesmo que foi a melhor escolha? – Azazyel perguntou a ela enquanto andavam.E como se a pergunta fosse o gatilho para suas emoções, ela caiu de joelhos e chorou como jamais havia chorado em sua vida, sentia o corpo se mover com a força dos soluços que rasgavam seu peito, levou as mãos à cabeça e o rosto ao chão. Um grito rompeu de sua garganta e Azazyel correu para conter Naiara que resplandecia parecendo não conseguir controlar a ela mesmo. Braços fortes a envolveram e a menina se permitiu tombar de lado e deitar a cabeça no peito dele.— Chore guerreira, tudo isso passará. – Ele dizia em um tom baixo, como um pai que acalanta um filho – Chore, deixe sair tudo o que está te fazendo mal. Coloque para fora.Ficaram imóveis por minutos que mais pareceram horas, o único barulho que se ouvia, era dos soluços de Naiara e
— Entre. – Yekun disse após ouvir a leve batida.Naiara abriu a porta, colocando somente a parte de cima de seu corpo para dentro. Yekun estava deitado sobre uma cama imensa que ficava abaixo de uma ampla janela. O quarto dele era enorme, um dos maiores da morada, mas todos os moveis eram antigos o que deixava tudo com uma visão quase medieval. Combinava com ele.— Você está bem? – Ela perguntou ainda da porta.— Ficarei melhor quando entrar vida. – Disse a olhando.Naiara entrou, fechando a porta atrás de si, estava constrangida com a situação. Não que nunca tivesse estado a sós com Yekun, até mesmo dormido em seus braços em uma barraca, ela já havia dormido. Mas estar dentro do quarto dele, era intimo demais. Sentou-se em uma poltrona que ficava no canto do quarto e sorrio para ele que a olhava sem entender o que acontecia com a menina.
— O que foi que você fez? – Miguel gritou.— O que eu fiz? O que você fez? – Heylel gritava em resposta – Achou mesmo que iria continuar agindo da forma que agia e nosso Pai não o disciplinaria?— Meu Pai!— Cresce Miguel.— O único que precisa ser castigado aqui é você, traidor.Miguel esbravejava e gritava como um insano, andando de um lado para outro, sem saber o que fazer. Ele parou de súbito, iria abrir suas asas e somente voar para o mais longe possível de Heylel e daquele lugar, voltaria para casa e iria ter com o Pai. Mas nada aconteceu. Forçou o pensamento novamente, esperando sentir a expansão em sua omoplata e então a gloria de suas asas abertas. Nada.— O que a bruxa da sua cria fez comigo?— Se falar novamente da minha filha dessa forma Miguel vou matar você e deixar seu corpo aqui me
A claridade alcançou seus olhos, uma luz forte invadiu-o, fazendo com que retomasse os sentidos de imediato. Gabriel colocou-se em pé tão rápido que sentiu o mundo rodar, tudo ainda estava girando quando uma mão grande e quente tocou o seu ombro segurando-o com uma força desnecessária. Ele não pôde acreditar no que viu quando virou-se, a sua frente um homem alto com um pouco mais que dois metros, sobre o peito nu duas tiras grossas e largas de couro cruzada, a calça branca sem uma única mancha era de um tecido grosso e largo e os pés tocavam o chão que estava completamente coberto por uma fumaça espessa. Tudo era extremamente branco naquele lugar, mas não foi a brancura ao seu redor ou o tamanho do homem a sua frente, muito menos as vestes que pareciam uniforme de uma guerra bíblica que despertou a atenção de Gabriel, mas sim as duas imensas asas brancas que s
Era estranho para ela saber que amanheceu, não conseguia sentir o sol, não que Naiara fosse fã da claridade, ao contrário, desde muito nova ela sempre foi apaixonada pela noite, sentia-se cansada e enfraquecida fisicamente durante o dia. Mas ainda assim, sentir o corpo querer acordar e não encontrar a luz do sol, causava a ela um certo desconforto, sensação que passou rapidamente quando sentiu seu corpo ser envolvido pelos braços de Agares, não conseguiu impedir que o sorriso surgisse em seus lábios, desde o resgate de sua mãe, Agares estava passando tempo demais no quarto de Naiara, não que ela se importasse com isso, mas sabia que os pais não gostavam muito daquela situação. Sentiu o abraço a apertando um pouco mais.— Sei que está acordada mocinha, sinto sua mente borbulhando – Disse baixo em meio ao sorriso. Não havia como negar, o entr
Seus pés descalços estavam enterrados na areia quente o que de uma certa forma ajudava, mesmo que levemente, a relaxar seu corpo, os joelhos levados ao peito e a cabeça apoiada neles, de todas as formas Naiara queria somente esquecer de tudo o que havia vivido nos últimos meses e voltar a ser a menina com problemas de maquiagem e nada mais. Sabia que o surto na sala com as pessoas que amava era algo desnecessário, mas não estava conseguindo lidar mais com algumas coisas, não entendia como todos a olhavam, esperando que ela fosse somente a filha do anjo caído, esqueciam que afinal, em um passado não muito distante, ela era somente a filha problemática de um pastor e nada mais, agora além de tudo o que precisava digerir dentro de si, ainda havia Élida, irmã do tal coven de sua mãe. Quando os parentes iriam parar de chegar?Uma sombra cobriu seu corpo e mesmo sem olhar, ela sabia qu
Triunfante ele deixou seus dedos entrelaçarem aos de Naiara e passaram a caminhar pela orla, os pés sendo banhados pelas aguas mornas e a ponta de suas asas se arrastando na areia, deixando um rastro para trás. As horas passavam rápido demais, eles conversaram e riram e Naiara teve a certeza que há muito tempo ele não ria daquela forma, pois no começo sentiu Yekun tenso ao seu lado e aos poucos passou a ser tomado por uma sensação que parecia ser desconhecida para ele, felicidade. Sentimento que deixou Naiara realizada, de alguma forma vê-lo bem e feliz, a fazia feliz também.— Agora pode me contar o que a perturba? – Quis saber ele enquanto a levava para a proteção da sombra de um grande coqueiro, sentando e puxando a menina com ele. Naiara acomodou-se ao seu lado, deixando a lateral de seu corpo apoiada ao dele.— Acha mesmo que preciso dizer? Olhe ao meu redor