Era estranho para ela saber que amanheceu, não conseguia sentir o sol, não que Naiara fosse fã da claridade, ao contrário, desde muito nova ela sempre foi apaixonada pela noite, sentia-se cansada e enfraquecida fisicamente durante o dia. Mas ainda assim, sentir o corpo querer acordar e não encontrar a luz do sol, causava a ela um certo desconforto, sensação que passou rapidamente quando sentiu seu corpo ser envolvido pelos braços de Agares, não conseguiu impedir que o sorriso surgisse em seus lábios, desde o resgate de sua mãe, Agares estava passando tempo demais no quarto de Naiara, não que ela se importasse com isso, mas sabia que os pais não gostavam muito daquela situação. Sentiu o abraço a apertando um pouco mais.
— Sei que está acordada mocinha, sinto sua mente borbulhando – Disse baixo em meio ao sorriso. Não havia como negar, o entrosamento dos dois era latente.
— Você é meu sabe tudo. - Os dois estava começando a se entregar ao momento quando a porta se abriu de uma forma nenhum pouco delicada.
— Vamos, seus pais estão esperando por você para o café da manhã e sinceramente Naiara, não sei se Amarantha iria gostar de ver essa cena a essa hora da manhã. Vista-se antes que não consiga mais conter a ânsia que estou sentindo.
— O que está fazendo aqui Yekun? Virou rotina entrar em meu quarto sem bater?
Sim, havia virado rotina, ao ponto que o casal não mais se importavam com a situação, Agares usava desses encontros para provocar Yekun e deixar claro com quem Naiara estava e ela por sua vez, para deixar claro que não haveria marca poderosa o suficiente que há fizesse ceder a Yekun.
— Recado já foi dado, agora por favor saia, preciso mesmo levantar e me arrumar e não farei isso com você aqui.
— Claro que não fará, até porque eu mesmo não iria permitir isso. Apronte-se rápido e venha, quanto há você Agares, há algo de errado com sua cama?
Ele não esperou por resposta, saiu do quarto da mesma forma impetuosa que entrou, deixando para trás o casal enraivecido.
— Vou acabar matando esse cara, juro.
— Calma Nai é isso que ele quer, não percebeu que quer despertar qualquer sentimento em você?
— Ele desperta Agares, ódio.
— Acho que posso despertar outras coisas em você e tirar da sua mente esses sentimentos ruins. – Ele sabia exatamente o que falar e como agir para acabar com qualquer situação ruim.
Não demorou muito para que a conversa acabasse e ela estivesse presa nos braços do namorado novamente, os dois demoraram um pouco mais do que o esperado para aparecerem na sala onde estavam todos sentados em volta da mesa. A cena ainda surpreendia Naiara, não estava acostumada com tantas pessoas entre ela e a mãe e muito menos tantas pessoas ao redor da mesa, ter uma família tão grande e com aquela demonstração de cuidado em tempo integral, ainda era estranho para ela. Viu a mãe olhando-a e em seu rosto o selo da desaprovação, mas Naiara não iria voltar atrás em sua decisão de assumir sua vida com Agares, mesmo os pais achando cedo demais para isso, ela sabia a quem pertencia.
— Bom dia, posso saber o motivo dessa animação toda?
— Claro que pode meu amor, sente-se, vamos falar sobre seu aniversário! – Exclamou o pai alegremente.
Ela riu, não conseguiu conter a gargalhada, como alguém poderia pensar em comemorar os 18 anos no Sheol, ainda era incabível para ela aquela realidade. Naiara aproximou-se da mesa, beijando o rosto dos pais e sentando-se ao lado deles, Agares sentou-se à sua frente e como se estivessem ligados no automático, começaram a servir-se mutuamente, levando Yekun que estava em uma das extremidades da mesa a revirar os olhos para a cena.
— Vamos fazer uma festa de aniversário? No inferno? E convidaremos todos os demônios da vizinhança?
— Não seja irônica Lala. – A mãe não conseguia se esquecer do apelido carinhoso que se referia a filha desde pequena.
— Não é ironia mãe, mas céus, como podem pensar em festa, olhem onde vivemos e outra, como podemos pensar em celebrar alguma coisa quando ainda estamos vivendo sob ameaça de Belial e o pior de tudo, como iremos comemorar algo, sem o Gabriel mãe, como?
A ausência do amigo não era dita em voz alta com frequência, mas ela não conseguia evitar a tristeza que a invadia, momentos em que algo acontecia e automaticamente se virava para compartilhar com o amigo que não estava mais ali. Para todos, Gabriel era somente o “humano amigo”, para ela foi sua base de sustentação por 17 anos e sua mãe entendia bem isso.
— Nós sabemos querida e sabe também que procuramos por ele diariamente e em momento algum esquecemos Gabriel, tenho usado toda a minha magia para encontra-lo.
— Eu sei mãe – realmente sabia, cansou de ver a mãe passar a noite com a cabeça enfiada em grimorios - ... mas é tão... frustrante!
— Ah minha menina, sabemos o quanto sente a falta de seu amigo e iremos encontra-lo, não se preocupe com isso. Quanto a Belial, esqueça, sei que está armando alguma coisa, jamais teria deixado com que saíssemos de lá sem lutar, se o fez é porque tem planos maiores, mas estaremos preparados quando esse dia chegar. Mas para o nosso fim de semana, estaremos sim focados em seu aniversário, não irá me negar o prazer de lhe presentear Naiara, demorei 17 anos para enfim lhe encontrar minha pequena guerreira, permita-me festejar.
Não havia como negar nada ao pai, ele sabia exatamente como dobrar a filha e sempre usava as palavras certas com ela.
Não precisou passar muito tempo para que tudo estivesse armado, Naiara permaneceu sentada a mesa, quando os criados retiraram tudo, deixando somente o grande tampo de madeira e muitos papeis, o pai e a mãe estavam debruçados sobre eles e conversavam animados sobre decoração, músicas, comidas e convites, a cena era surreal. Os lábios da menina estava sorrindo, mas seu coração doía com a saudade que sentia, não conseguia deixar de pensar em Gabriel e nas frases engraçadas que ele diria daquela situação, sim, ela sentia muita falta de seu amigo e só conseguiu se dar conta daquele sentimento, quando toda a tensão da briga cessou e a calmaria de uma vida quase normal a atingiu. Ele se encaixaria perfeitamente naquele lugar.
Um longo e pesaroso suspiro escapou de seus lábios.
— O que foi Nai? Tudo está sendo demais para você... – Sentiu a mão carinhosa de Agares lhe tocar o ombro direito e o peso do corpo do menino ao seu lado quando sentou-se. Aninhou-se nos braços do namorado, seus olhos ainda focados nos pais.
— Acho que seria muito para qualquer um, não acredito que comemorar dezoito anos ao lado do seu pai diabo, sua mãe bruxa e seu namorado demônio no inferno, seja o sonho de consumo de muitas meninas. – Ela sorrio, mas o sorriso não chegou aos olhos.
— Claro que não, afinal de contas, nem todas as meninas são tão sortudas quanto você, quem mais com dezoito anos tem o demônio que todas as “demônias” desejam? – Sabia que estava provocando não somente o ciúmes da namorada, mas também a lembrança da forma como ela se referia as fêmeas do Sheol.
— Sabe Agares, as vezes penso que você não valoriza muito a sua existência.
A voz de Naiara saiu baixa, pausada e mortal, mas despertou a reação contraria no namorado, que gargalhou chamando a atenção de todos que estavam ao redor.
— Comporte-se! – O aviso paterno estremeceu a sala. E como dois adolescentes muito normais, riram tentando se esconder um no outro.
— Mas se Naiara está lhe contando algo tão bom, dívida conosco Agares! – Quis saber Yekun, que não tirou os olhos do casal em momento algum.
— Sim Yekun, Naiara tem um senso de humor fantástico, mas isso ela reversa somente para aqueles que ela gosta, se não me engano você ainda não viu esse lado dela né? – Ele sabia como irritar Yekun, que se levantou e nada respondeu, passando por eles rapidamente ao se retirar da sala.
— Você ainda vai começar uma guerra dentro desta casa Agares, dê paz a Yekun. – Determinou Heylel, ainda de cabeça baixa anotando tudo o que Amarantha lhe dizia.
— Desculpa chefe, mas ele teima em se meter onde não tem espaço para ele. – Simplesmente deu de ombros, abraçando Naiara com mais força que se entregou ao abraço.
Heylel somente sorrio com a afirmação que ouviu e voltou toda a sua atenção para a esposa ao seu lado, ainda parecia um sonho, ele a olhava e era nítido o seu amor e admiração, a forma como tudo parecia perfeito e completo, por um instante ele chegou a pensar que o perdão de seu criador, atravessou os céus, rasgou Sheol e o alcançou de alguma forma, esperança essa que se desfez em segundos, ele conhecia o peso de seu castigo e sabia que não teria o perdão, não sem merecer e lutar por ele.
Naiara e Agares estavam presos em sua bolha particular, tinham a mania de se perder um no outro com muita facilidade e a habilidade de se esquecerem de tudo ao redor. Heylel e Amarantha ainda discutiam sobre os preparativos e travavam uma batalha árdua sobre a data da festa. Todos dentro da morada se faziam ocupados com seus afazeres, quando uma explosão rosa invadiu o lugar, colocando assim os quatro que estavam no mesmo ambiente em pé e em posição de defesa, Yekun correu pelos corredores quando ouviu o som da explosão, encontrando o grande Abigor pelo caminho, chegando a sala ao mesmo tempo em que uma risada melodiosa invadiu o ambiente.
— É sério mesmo Élida, quase nos matou do coração. – Gritou Naiara para a fumaça rosa que cobria a visão de todos ali.
— Ai ai ai não sei como consegue ser tão dramática, muitos aqui nem podem morrer, ainda mais com um sustinho de nada.
A fumaça aos poucos foi se dissipando e a imagem de uma pequena e loira menina foi ganhando vida no meio da sala, ela estava como sempre linda, com um belo vestido branco, deixando-a parecida com uma pequena noivinha. Ela saltitou pela sala parando de frente a Amarantha e Heylel, sorrio de forma larga para os dois.
— Ah minha irmã, porque demorou tanto a voltar?
Um leve sorriso foi tomando os lábios de Amarantha, que circulava a mesa se afastando de Heylel, indo ao encontro da pequena a sua frente. Todos os olhos da sala estavam focados na cena que começava a desenrolar, não havia como esconder a curiosidade que exalava de todos.
— Élida? – A voz baixa de Amarantha ecoou no ar
— E quem mais iria esperar por você por todos esses anos? – A menina sorrio abrindo os braços e correndo para Amarantha como uma criança correndo para os braços de sua mãe.
As duas se abraçaram e as lagrimas não foram contidas, riram e choraram ao mesmo tempo e todos ainda as olhavam, parados no mesmo lugar.
— Mas o que está acontecendo aqui? – Foi a voz de Naiara que quebrou a magia do momento. Amarantha afastou-se da pequena, entrelaçando seus dedos aos dela sem querer solta-la.
— Eu apresento a vocês, Élida, minha irmã. – O espanto na face de todos os presentes estava evidente.
— Élida é sua irmã? Tipo... minha tia? – A incerteza na voz de Naiara revelava o sentimento de todos ali.
— Hum, não sei se quero que me chame de tia, afinal, sou nova demais para isso. – Élida estava visivelmente chateada com tal parentesco e a ideia de ser tia de alguém, ainda que esse alguém fosse Naiara, não lhe agradava muito.
— Na verdade minha querida, tem idade para ser tataravó de Naiara.
Sorrindo, Amarantha puxou a pequena para seus braços novamente enquanto Élida permitia-se fazer um bico infantil, claramente contrariada com a ideia de ter sua real idade revelada.
— Alguém vai explicar o que está acontecendo aqui?
Heylel levantou-se indo em direção a filha, que ainda olhava para a cena no meio da sala sem entender nada. Estava claro que durante os meses em que foi revelado a sua verdadeira identidade, todas as lutas, sua mãe raptada, Gabriel sendo levado e depois desaparecendo, Agares em sua vida e a construção de um relacionamento com o pai, foi conduzido por ação e reação para Naiara e nada mais, ela sabia que naqueles momentos precisava ser forte e não poderia se dar ao luxo de parar para pensar, não quando a vida das pessoas que amava, estava em perigo. Mas agora, com a aparente calmaria, com a quase solução de todos os problemas, ela se permitiu ter 17 anos novamente e ter um ataque adolescente, não havia conseguindo ainda digerir a ideia de ter um pai diabo e uma mãe bruxa, como iria lidar com uma possível tia?
— É simples meus amores – Começou Amarantha, tirando a filha de seu devaneio – Éramos em grande número, uma família unida e feliz, isso era o que eu acreditava...- As palavras foram perdendo força enquanto ela caminhava em direção a sala ao lado, levando consigo Élida e os demais, que agora estavam, acima de tudo, curiosos – Após anos adorando aos deuses e buscando em meio a natureza forças para sermos melhores de alguma forma, nossas irmãs passaram a ter atitudes ruins, desagradando não somente a nossa crença, mas minando a fé que havia em mim. Para piorar todas as coisas o Clã de Brothera Ellis nos alcançou, aniquilando quase que por completo as minhas irmãs.
Amarantha explicava e a tristeza em sua voz ganhava espaço, como se as imagens de um passado triste, invadisse sua mente. Elida, agora deitada em seu colo e sem perceber os dedos de Amarantha descia sobre os fios loiros da menina, despertando muito mais que confusão em Naiara. Como uma roda de pessoas ao redor de uma fogueira, esperando uma história de terror ser contada com riqueza de detalhes, assim estavam todos ali, alguns sentados, outros encostado na parede, Heylel em pé ao lado de Naiara, tendo Agares do outro lado e Yekun com as grandes asas negras abertas de uma forma protetora e exagerada atrás de todo o grupo.
— Quando decidi esvaziar tudo o que havia em mim e enterrar a bruxa que sou, abandonei a todas e parti...
O silencio tomou o local por alguns segundos que parecia uma eternidade e foi Élida que o quebrou.
— Mas agora você está de volta e tudo está perfeito não é mesmo? Olhe ao seu redor, estamos no inferno com uma bruxa e seu marido diabo que por alegria do destino, geraram uma filha.
O entusiasmo de Élida era contagiante, batia palmas e quicava no sofá extremamente empolgada com a verdade em suas palavras, seu riso ecoava e como sempre a melodia invadiu o lugar, despertando assim o sorriso em alguns ali, mas os que estavam em pé de frente a Amarantha, ainda a olhava questionadores.
— Ok, cansou de ser bruxa, deixou a todas, saiu pelo mundo, entendemos isso, mas em que momento foi de um extremo ao outro mãe? Onde meu pai e Robert entram nessa história louca? Estou confusa mãe, confusa de verdade, pode parecer que estou lidando bem com toda essa situação, mas olhe ao seu redor, escute o que Élida acabou de dizer, até alguns dias atrás, meu maior problema era não conseguir acordar no horário, será que tudo isso é loucura somente para mim? E bruxa? Élida é uma bruxa? Ela é uma fada oras, toda rosa e cheia de flores e floresta, como assim bruxa... – Virou-se para Élida que a olhava incrédula – Fala, você disse que era uma fada, como pode todo mundo ficar mudando assim o tempo todo??? Fada, bruxa, anjo, demônio...
— Nunca disse que era uma fada e qual o problema com rosas e flores? Eu fico ótima de rosa oras – Dizia dando de ombros, levando Naiara ao extremo.
— Será que sou a única com uma gota de sanidade neste lugar? – Ela gritava como criança quando contrariada pelos pais – Por Deus!!! Olhem a nossa volta, veja essa situação e saia do lado da minha mãe agora. – Naiara rosnou para Élida que imediatamente pulou para a outra ponta do sofá.
Tudo em seguida aconteceu muito rápido, em um piscar, Naiara não estava mais na sala, Yekun, como um anjo negro saiu batendo suas asas gerando uma corrente de vento, Agares sentiu sua conexão com a namorada sendo rompida e seus joelhos cederam levando-o ao chão, tendo Heylel e Amarantha o amparando.
Seus pés descalços estavam enterrados na areia quente o que de uma certa forma ajudava, mesmo que levemente, a relaxar seu corpo, os joelhos levados ao peito e a cabeça apoiada neles, de todas as formas Naiara queria somente esquecer de tudo o que havia vivido nos últimos meses e voltar a ser a menina com problemas de maquiagem e nada mais. Sabia que o surto na sala com as pessoas que amava era algo desnecessário, mas não estava conseguindo lidar mais com algumas coisas, não entendia como todos a olhavam, esperando que ela fosse somente a filha do anjo caído, esqueciam que afinal, em um passado não muito distante, ela era somente a filha problemática de um pastor e nada mais, agora além de tudo o que precisava digerir dentro de si, ainda havia Élida, irmã do tal coven de sua mãe. Quando os parentes iriam parar de chegar?Uma sombra cobriu seu corpo e mesmo sem olhar, ela sabia qu
Triunfante ele deixou seus dedos entrelaçarem aos de Naiara e passaram a caminhar pela orla, os pés sendo banhados pelas aguas mornas e a ponta de suas asas se arrastando na areia, deixando um rastro para trás. As horas passavam rápido demais, eles conversaram e riram e Naiara teve a certeza que há muito tempo ele não ria daquela forma, pois no começo sentiu Yekun tenso ao seu lado e aos poucos passou a ser tomado por uma sensação que parecia ser desconhecida para ele, felicidade. Sentimento que deixou Naiara realizada, de alguma forma vê-lo bem e feliz, a fazia feliz também.— Agora pode me contar o que a perturba? – Quis saber ele enquanto a levava para a proteção da sombra de um grande coqueiro, sentando e puxando a menina com ele. Naiara acomodou-se ao seu lado, deixando a lateral de seu corpo apoiada ao dele.— Acha mesmo que preciso dizer? Olhe ao meu redor
Naiara estava largada sobre a cama, sozinha e irritada, naquele momento só queria partir Yekun ao meio e dar um chute na canela de Agares, não entendia como ele a deixou daquela forma, como pôde pensar que ele não era o suficiente para ela, quando tudo o que havia se tornado e tudo o que gostaria de ser, estava eternamente ligado a ele, ela suspirou alto quando a certeza dos seus atos caíram em seu entendimento, claro que ela sabia o porquê Agares estava daquela forma, morreria se soubesse que ele havia passado uma manhã nos braços de qualquer outra demônia daquele lugar, pensar então que ele pudesse se sentir como ela se sentiu, ela morreria ou mataria com certeza. A respiração acelerada e o travesseiro sobre a cabeça, não estava deixando com que se acalmasse ou pensasse direito, acreditava que com a chegada da mãe, todos seriam uma grande família endemoniada feliz e nada ma
Gabriel começava a se cansar de toda aquela situação, ainda deitado sobre a cama de seu novo quarto, cômodo esse que parecia mudar, não somente de lugar, mas os moveis e a disposição deles no espaço, constantemente, era também tão branco quanto a espada que Miguel usava, cegando o menino todas as manhãs. Não havia entendido ainda como as coisas funcionavam naquele lugar, mesmo Diego com toda a paciência que era possível ser destinada à um ser, explicar que estavam somente em um plano inferior da eterna morada e que portanto não havia algo fixo, solido ou constante, estavam somente de passagem, dizendo que era por isso que a cada dia não somente os moveis, mas os cômodos da morada, como a paisagem em volta deles, alteravam de forma. Tudo isso era confuso demais para Gabriel. Esticou o corpo sobre os lençóis extremamente brancos e macios, sentindo a
E pela terceira vez naquela manhã Diego riu.— Irmão, vou me divertir muito com você. Venha, vamos tomar um banho – Gabriel parou onde estava e o desespero estampou sua face – Separados Gabriel, cada um em seu quarto, oras irmão, pelo Pai, acha que somos assim? – Gabriel respirou aliviado, aceitando a ajuda de Diego para se levantar, quando estava ao lado dele, Diego aproximou-se e falou baixo em seu ouvido – Darei banho em você, somente quando me pedir – Fazendo Gabriel pular metros para longe dele.— Por Deus!!! Cadê a ordem e a decência que teria que existir nesse lugar??? Claro que não vou pedir nada, não rola um castigo, umas broncas para quem faz essas coisas aqui não? Sou novo aqui, convidado do Pai, mereço ser tratado com mais respeito – Ele ainda falava por sobre o ombro enquanto voava de volta para seu quarto, deixando Diego para trá
E por mais que Heylel quisesse fazer o anjo engolir sua soberba e cada palavra dita até aquele momento, reconhecia que uma guerra não seria algo bom para seu domínio. Posicionou o corpo um passo à frente, detendo Amarantha que ainda brincava com a chama azul em suas mãos.— Fale. E. Suma. Daqui.O anjo deixou um sorriso carregado de sarcasmos estampar seus lábios e notou o olhar de Heylel em suas asas, graça aquela que ele não alcançaria novamente. Assim que caiu, recebendo seu castigo, não foi deixado nenhuma marca celestial nos que se rebelaram contra Deus, muitos não aguentaram a queda e suas asas queimaram por completo e os que conseguiram resistir, elas se tornaram negras como a noite mais escura, mas ninguém soube em qual das duas situações Heylel se encaixava, ele jamais revelou sua situação, nem mesmo em seus anos mais sombrios.— S
Estava acontecendo, o tão esperado dia chegou, enfim os 18 anos. Naiara levantou-se naquela manhã e não teve a presença de Agares ao seu lado, ele ainda estava chateado com ela por causa do quase-não-beijo de Yekun e ela entendia, afinal, ela mesmo mataria se alguma daquelas demônias chegasse perto de Agares, mas dizia a ela mesmo que não teve culpa, não conseguiu evitar e essa mentira a tranquilizava. Acordou como todos os outros dias, tomou banho e comeu seu café da manhã ainda em seu quarto, os pais haviam saído na noite anterior para irem buscar o presente dela em outro território e ainda não haviam voltado, para Naiara, aquilo foi somente uma desculpa para ficarem sozinhos. Mas nada mais estava diferente, não acordou em chamas, aos berros, levitando ou vomitando verde pela casa, era somente ela e nada mais.— Sem poderes descontrolados.Dizia enquanto comia seu c
Agares deixou claro a que roupa ele se referia, todos estavam usando de algum poder para camuflar sua real forma e aquilo de alguma maneira, teve reação contraria em Naiara, claro que ela ficou grata pela preocupação que todos tiveram com ela, mas não era isso que queria, não queria comandar um reino onde não conhecia realmente as pessoas ao lado dela.O barulho abafado de um microfone, trouxe à tona todos os temores de Naiara, alguém iria falar sobre a sua chegada e matá-la de total vergonha, Agares sentiu a tensão se apoderando dela e puxou-a para mais perto, deixando a lateral de seus corpos colados.— Meus caros – a voz alta e bem colocada de seu pai invadiu todo o ambiente, ele estava ao microfone e sua mãe ao lado dele, com o rosto bondoso, mas o queixo erguido. Naiara não conseguiu saber se de orgulho ou impondo sua presença – Por séculos va