O nascer da primeira vampira

    Raquel olhava para a casa dos pais aflitos e a discutir por causa da rebeldia da filha de fugir para ir ver a cena grotesca de queimarem alguém vivo e em plena praça pública. De repente a porta fora aberta e ao brilho do luar uma Raquel enlameada e de feições distorcidas adentrou a sala.

–Filha, por onde você andou?-a mãe nem sabia o que fazer: brigar, abraçar ou secar a filha que nada falava ou fazia diante de seu desespero.

–Fale algo menina-exigiu o pai que se levantou do sofá simples e olhou para a filha muda e paralisada.

    Os pais se olharam sem entender o que se passava com a filha, sua expressão desnorteada fora que estava gelada por fora, mas por dentro sentia um calor infernal como se estivesse com uma febre de quarenta graus e uma sede que não sabia dizer do quê , mas que também lhe queimava garganta abaixo.

     Raquel dera ás costas para os pais ao rumar para o quarto perdida da vida que já nem sentia fluir em suas veias que ardiam.. Sua pobre mãe estava á beira das lágrimas ,e isso afirmava, pois podia ouvir nitidamente o inchar de seus olhos para formarem as lágrimas. De seu pai sentia o inflar das veias cheias de sangue a correr veloz por seu corpo.

   Raquel nunca fora de sentir ou mesmo demonstrar medo, mas o que estava sentindo lhe dava arrepios pelo corpo que tremia de frio e calor, fora tudo o quê sentia em seu corpo de diferente.

     Praticamente se arrastando entrara em seu quarto e jogou-se de braços abertos sobre a cama .Todos os seus ossos pareciam se quebrar pedaço por pedaço, seu corpo ardia em fogo por dentro, mas por fora o gelo que percorria sua pele era congelante .Seus olhos lacrimejavam num ardor sem explicação como ter pimenta dentro destes.

Deus, o que esta acontecendo comigo?

    A  garganta de Raquel virou brasas vivas como se o fogo dentro de seu corpo quisesse sair; sua respiração fiou presa e começou a lhe sufocar. Sua vontade era gritar por socorro mais as palavras não saiam ,e no instinto levou as mãos ao pescoço e começou a esfrega-lo como se o ato fosse libertar sua respiração.

    O pânico invadiu Raquel que no desespero por ar jogou-se no chão e começou a rolar, a sensação que tinha é que seu corpo estava envolto num lençol de chamas. Lágrimas rolaram por seu rosto e sua boca aberta queria gritar - eu estou morrendo!- mas palavras não saiam.

Preciso de ar - esse era seu pensamento e num tentativa louca de consegui-lo ,levantou-se trôpega do chão e seus olhos foram atraídos para a janela á sua frente.

     Raquel estendeu sua mão para frente como se fosse agarrar a brisa que vinha pela janela aberta, chamou o ar, mas somente um chiado rouco saiu de seus lábios de repente secos e rachados. Se fosse outra pessoa já estaria morta, sufocada por sua própria respiração, mas Raquel continuava viva apesar das circunstâncias.

    Exausta e cambaleante, Raquel tomou o rumo da janela e com a mão estendida fora derrubando alguns objetos pelo caminho.

     Da cozinha e da sala respectivamente seus pais ouviram os barulhos estranhos de algo a cair e ,sem pensar, correram para o quarto da filha, e ao abrir a porta...

     Raquel estava parada no peitoril da janela com o vento a balançar raivosamente seus longos cabelos negros.

–Raquel?

     A mãe lhe chamou com certo tremor não só na voz, mas também nas mãos, que até queriam tocar a filha, mas tinham receio.

–Raquel ,filha, ao menos olhe para nós-pediu o pai. Então, lentamente

     Raquel virou-se mas quisera seus pais que ela não o tivesse feito. Pois sua expressão estava distorcida, seus olhos estavam tomados por uma fumaça negra e ate seus cabelos pareciam serpentes a dançarem sob sua cabeça, e o que ela disse fez sua mãe agarrar-se ao marido.

–Esqueçam sua filha, pois eu sou o que sobrou dela-então abriu os braços e, de costas, jogou-se pela janela om um sorriso nos lábios.

–Não!!!

    O que já era de se esperar, aconteceu. Raquel estava morta. Ao menos foi o que aconteceu com o seu corpo, pois sua alma estava prestes a nascer e condenar não só o vilarejo, mas o mundo. Pobres pais choravam em desconsolo com os corações partidos pelo ocorrido com a filha que fora chamado de ato de loucura. Nem fazem ideia...

     A maldição esta por começar e ,infelizmente nem Deus pode recuperar um alma que já caiu na perdição.

    Raquel não estava entendendo nada do que estava a acontecer consigo, nem agora e nem antes de morrer.Sim, sabia que morrerá, não sabia por quais causas, mas...

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