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4 Precisando aceitar a verdade

Acordei sentindo uma mão calorosa segurando a minha, e me deparei com Carlota dormindo na cadeira ao lado do meu leito numa posição que parecia muito desconfortável enquanto se reclinava sobre o meu leito. Nos conhecemos na faculdade, e como tínhamos muito em comum, nos tornamos grandes amigas.

Depois de um tempo, seus olhos se abriram e quando me encarou, lágrimas começaram a escorrer enquanto me olhava com surpresa, e então, me abraçou.

– Espera... tá me sufocando! Reclamei com minha voz rouca.

– Como está se sentindo? Ela perguntou quando se afastou um pouco.

– Desorientada, eu acho... - Murmurei olhando para as minhas próprias mãos, notando que um dos meus braços estava enfaixado. – Eu tive tanto medo de morrer.

– Consegue se lembrar do que aconteceu? Carlota questionou surpresa, seus olhos chegaram a arregalar levemente.

– Acho que alguém tentou me matar... – Murmurei sentindo meus olhos marejarem somente em lembrar daquele momento horrível. – Eu perdi o controle porque estava tentando fugir de um carro que me perseguia.

– Tem certeza do que está me dizendo? Ela questionou franzindo as sobrancelhas. – Não está confusa por causa da concussão?

– Não foi só um acidente! Eu exclamei exasperada, me defendendo. – Depois que meu carro capotou, um homem se aproximou do carro e tirou uma foto, mas não prestou socorro.

Carlota pareceu concordar, murmurando um: "entendo", em seguida, suspirou, explicando que iria avisar aos médicos que eu havia acordado. Sozinha, fiquei observando ao redor do quarto, minha mente estava enevoada na verdade, porém, quando vi uma jaqueta de Wolfgang deixada sobre uma cadeira ao lado, lembrei de flashes do que havia acontecido no momento do meu atendimento.

Eu não havia sonhado, ele realmente esteve ali comigo.

Uma dupla de médicos chegou ao quarto cerca de dez minutos depois, alguns exames foram feitos, e quando se certificaram que não parecia haver sequelas muito sérias, explicaram que eu poderia ter alta ainda naquele dia.

– Porque você estava sozinha no momento do acidente? Carlota questionou de repente, enquanto descascava algumas maçãs.

– Estamos separados... – Respondi, sentindo um nó se formando em minha garganta, era muito difícil assumir isso.

– Como assim ? Ela perguntou erguendo uma sobrancelha, como se achasse um absurdo o que havia acabado de ouvir. – Ainda mais agora com a gestação.

Não respondi. Até algum tempo atrás, nem eu sabia que uma vida estava se formando dentro de mim, e não era uma notícia feliz, por mais que antes, ouvir isso fosse tudo o que eu mais desejava. Eu sequer queria pensar sobre aquele bebê pois, teria que lembrar do pai dele, e de que não estávamos mais juntos.

Por um milésimo de segundo, pensei que o bebê poderia nos manter juntos, meu coração quase se encheu de esperança, porém, logo, meu cérebro destruiu minha fantasia, me lembrando que com certeza seria tratada como alguém dando o golpe da barriga pela família dele.

O que seria dessa criança sem um pai?

– Não me pergunte... – Respondi num murmuro, tentando segurar o choro. – Eu já não sei de mais nada, você não sabe a zona que a minha vida se transformou.

Logo, as lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto e solucei, me permitindo chorar quando encontrei conforto em seu abraço carinhoso. Carlota apesar de ser uma mulher de personalidade forte, não me afastou, pelo contrário, ficou todo o tempo que precisei acariciando minhas costas e sussurrando que tudo ficaria bem, que me ajudaria com o bebê.

No fim, foi ela quem me levou para casa naquele dia. Cozinhou para nós duas enquanto eu permanecia inerte no sofá – eu nem sabia que ela cozinhava – e quando terminou, veio até a sala me chamar.

– Não 'tô' com fome... – Murmurei enfiando o rosto no travesseiro.

– Coma mesmo sem fome! Carlota praticamente mandou.

Ergui meus olhos para ela, abrindo a boca para rebater, nem sabia o que iria dizer, mas me calei quando encarei seu rosto sério, e acabei fazendo o que ela mandava. No fim, ainda tínhamos aquela distância, ela faria o impossível para proteger as pessoas com quem se importava, mas não aturava drama, e nunca aceitou me ver chorando por um namorado.

– O que você faria no meu lugar? Perguntei entre uma mordida e outra, mesmo que a comida não parecesse ter gosto algum.

– Começaria secando as lágrimas... – Ela respondeu sincera, e fez uma pausa, talvez procurando as palavras certas. – Então, seguiria com a minha vida, porque um divórcio não é o fim do mundo.

– Diz isso porque não amava o seu ex-marido... – Resmunguei, me sentindo ofendida. – Não pode entender esse sentimento.

– Tem certeza? Ela perguntou, e vi um brilho estranho em seu olhar.

Enquanto dizia isso, procurava por algo em seu celular, e quando achou, o entregou para mim. Observei a tela e vi que era uma foto dela junto a um homem que eu não conhecia, ergui a cabeça confusa e então, esperei que ela continuasse.

– O nome dele é Lorenzo... – Murmurou com um sorriso doce, pela primeira vez, demonstrando alguma emoção. – Nem todas as almas gêmeas estão destinadas a ficar juntas.

– Você nunca me falou sobre ele... – Respondi em minha defesa, mas me encolhi ao pensar na possibilidade dele ter morrido.

– Que diferença faria? Ela perguntou de volta, e soltou um suspiro enquanto erguia-se, pegou os pratos e os levou para a cozinha. – E não, ele não morreu.

Antes que eu pudesse perguntar o porquê de não terem levado o relacionamento adiante, ela simplesmente, virou-se em minha direção e fixou os olhos em mim, com muita seriedade.

– Descanse, eu voltarei à noite! Exclamou checando seu relógio de pulso, deu alguns passos, encurtando a distância e me segurou pelos ombros. – Não pense bobagem, durma o quanto puder e se realmente precisar, me ligue.

Depois disso ela foi embora, talvez não quisesse continuar aquela conversa, ou apenas tivesse compromissos naquele momento. Qualquer que fosse o caso, acabei ficando sozinha novamente, tentei ao máximo não pensar naquele estranho quebra-cabeças, ou no bebê que se desenvolvia em meu ventre, e tentei dormir como ela havia sugerido, mas como já esperava, meus olhos estavam secos.

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