Christine
Quando cheguei à casa de Júlia, fui apresentada ao marido dela. Era um homem gentil e parecia ter a nossa idade, além disso, estava embalando a menininha que parecia sonolenta. Sorri para ela enquanto me aproximava e ergui a mão, tocando suas bochechas macias.
Nesse momento, sua mãozinha agarrou meu dedo indicador e eu caí de amores na hora, ela era linda e sorria bastante, mostrando seus únicos dois dentinhos. Então meus olhos começaram a marejar quando lembrei que um anjinho como aquele estava se formando dentro do meu útero, e por todo aquele tempo, eu estava apenas ignorando sua existência. Nem eu podia acreditar em como estava sendo desumana, e pensar nisso fez eu me sentir um lixo.
Por algum motivo, depois de me mudar para a casa da minha infância, tenho tido pesadelos todas as noites. Na maioria das vezes não lembro dos detalhes, somente de pequenos recortes em flashbacks, e, de alguma forma, eu sentia que não eram apenas sonhos, mas sim, lembranças que esqueci com o passar do tempo. Tive certeza disso quando relembrei de algumas coisas que aconteceram durante o acidente de carro, mais especificamente, os sapatos de couro masculinos da pessoa que pareceu vir verificar se eu ainda estava viva.Tudo ainda parecia muito obscuro e, além disso, as outras lembranças pareciam mais antigas, da minha adolescência talvez.Naquela noite, eu tive mais um daqueles sonhos. Nele, eu estava deitada na grama junto a mais duas garotas adolescentes, uma delas era Júli
No dia seguinte, acordei com vontade de fazer uma corrida matinal pela trilha da montanha, era relaxante e poderia usar aquele tempo para refletir, então, coloquei roupas confortáveis, calcei meus tênis esportivos e sai porta a fora. Nesse meio tempo, enquanto seguia no "pique", percebi que havia algumas poucas casas praticamente escondidas por entre o ambiente arborizado, uma delas me chamou a atenção, parecia muito familiar, e tive quase certeza de que já havia estado ali.Uma senhorinha passou por mim, de cabeça baixa, distraída em seus próprios pensamentos, e em suas mãos, carregava grandes sacolas de supermercado que pareciam pesadas. Cortei rapidamente a distância entre nós, e murmurou um "bom dia", perguntando em seguida se poderia ajudá-la. Ela, ao me ouvir, ergueu a cabeça e se
Carlota estava certa: ambas obras de arte eram de fato pertencentes a Giovanni Diono, e, de repente, foi como se uma bolsa cheia de moedas de ouro tivesse caído sobre meu colo. Ainda não havia uma explicação coerente para aquelas pinturas estarem escondidas numa cidadezinha do interior, mas os compradores também não pareciam se importar o suficiente para tentar descobrir, No fim, elas foram vendidas rapidamente, nem tive tempo para pensar no apego emocional que minha avó poderia ter por elas, e da noite para o dia, havia dinheiro em minha conta suficiente para comprar uma mansão.Era uma situação tão atordoante que eu não soube o que fazer de imediato, contudo, de uma coisa eu tinha certeza: era suficiente para construir um império para o bebê que crescia em meu ventre, de modo que jam
Em um tempo recorde de quatro meses, recomecei do zero, minha linha de cosméticos voltados à cultura naturalista – ideia que tive enquanto caminhava por entre as montanhas –, os batons veganos eram nosso maior destaque, e como eu tinha apenas mulheres trabalhando na linha de produção, a fofoca corria solta, mas era útil no momento. Encarei meu reflexo no espelho, satisfeita com o vestido preto de ombros nus que deixava minha barriga de sete meses discreta, e completei o visual com uma gargantilha cravejada de diamantes e bolsa schutz. Era noite, e eu estava participando de um evento privado apenas para a comemoração do aniversário de Richard, o que seria um momento interessante para formar fortes alianças, além de rever meus antigos amigos do meio. Caminhei a passos lentos pelo salão ricamente decorado e observei os outros convidados, reconhecendo alguns políticos influentes, vez ou outra, eu lhes lançava um sorriso educado que era retribuído, principalmente pelos homens. Por mais
Provavelmente William teria terminado a noite em um necrotério, à espera de uma autópsia, se eu não tivesse parado Wolfgang, que estava furioso. E quando finalmente meu ex-marido se acalmou, seus olhos voltaram-se novamente a mim e sua expressão ganhou ares de surpresa ao notar minha barriga.Seu sorriso era enorme, e sua boca se movia fazendo perguntas, mas nenhum som chegou aos meus ouvidos pois, eu só conseguia pensar na dor insuportável que eu comecei a sentir. Meu corpo foi amparado abruptamente quando perdi as forças, me agarrei aos braços fortes de Wolfgang, respirando com dificuldade e ficando desesperada ao perceber que estava perdendo líquidos.– Oh, Meu Deus! Arfei.Depois disso tudo virou uma bagunça de vozes.
Como empresária, eu basicamente era um fantasma. Não, minha empresa não era ilícita. O que quero dizer é que, devido à distância que tomei do meio empresarial, porque desejava manter meu filho afastado de tudo aquilo, eu acabei me tornando uma incógnita misteriosa aos olhos dos outros empresários. Meu rosto era desconhecido, e como estava usando meu sobrenome de solteira, nem meus antigos sócios puderam me "encontrar ``. Eu queria recomeçar, ficar distante o máximo possível de minha antiga vida, e claro, de Wolfgang também. O parto prematuro desalinhou um pouco dos meus planos, me obrigando a ficar pelo menos um mês em repouso, era complicado e problemático, porém, em momento nenhum, pensei em meu bebê com um empecilho. Contudo, somente precisei de uma semana de reflexão para chegar à conclusão de quais seriam meus próximos passos. Comecei intentando um
Entrei no colégio e a primeira coisa que vi foi a grande imagem de Madre Paulina, que dava o nome ao local, caminhei pelos corredores, procurando por rostos conhecidos e assim que os encontrei, percebi que algo estava muito errado, pois, me encaravam como se estivessem vendo um fantasma. – Está perdida? Aparecida, a antiga professora de literatura, questionou ao me ver, deu a volta no balcão de madeira e me abraçou, logo, voltando seus olhos para o menininho em meus braços. – E essa coisinha linda? É seu filho? – Sim. Se chama Ellie! Respondi sorrindo de canto. Ela o cumprimentou com um “olá” e sorriu quando, em resposta, recebeu um sorrisinho sem dentes, depois disso, ergueu a cabeça para me encarar. – Já faz um tempo… – Murmurou e apontou para as cadeiras para que nos sentássemos. – Está de férias? Expliquei sem muitos detalhes que havia perdido contato com minhas antigas amizades, mas que estava tentando reencontrá-las, e como ela apenas balançava a cabeça, continuei meu monól
Retornei para São Paulo na segunda-feira. Júlia chorou o tempo inteiro enquanto me olhava colocar as malas dentro do carro, era o mesmo semblante que ela me lançou quando fui embora pela primeira vez, um olhar que dizia “tenho medo do que acontecerá com você”. Suspirei, puxando-a para perto e a abracei, sussurrando que sabia cuidar de mim mesma. E minutos depois, Ellie e eu estávamos na estrada, prontos para recomeçar nossa vida, em nossa casa nova. Nosso novo lar era bem espaçoso, um duplex na verdade, as paredes eram pintadas de brancas, detalhes em vidro, e uma luminosidade satisfatória, principalmente, nos pontos onde havia plantas. A tutora, Vivian, chegou pontualmente às 10h. Foi a primeira vez que ela se encontrou com meu filho, de inicio, ele pareceu um pouco relutante com a aproximação, talvez por, durante todo aquele tempo, ter convivido apenas comigo e a família de Júlia, porém, depois de um tempo, já estava sorrindo para ela com seus dentinhos à mostra. Fiquei satisfeita