Senti-me queimada sob aquele olhar intenso, como se uma febre abrasadora tivesse tomado conta de mim.A lembrança da última vez que o provoquei voltou à mente, e ao encarar aquele rosto carregado de uma austera contenção, recordei as palavras de Luana.— George, você já dormiu com outra mulher? — Mesmo ele tendo dito que nunca teve sequer uma namorada, quis confirmar novamente.Os olhos de George se aprofundaram, como se estivessem sondando minha alma.— Nunca...A simplicidade dessa palavra fez meu coração estremecer:— E você gostaria?Sua mandíbula ficou tensa. Um instante depois, a luz ao meu redor pareceu desaparecer, dando lugar à pressão firme dos seus lábios sobre os meus.Enquanto sua respiração tornava-se mais pesada, eu já tinha minha resposta. Porém, ele não foi adiante imediatamente. Com a testa encostada na minha, murmurou:— Quanto tempo você pretende me testar? Ou será que quer apenas me torturar?Olhei para ele, tão contido e, ao mesmo tempo, dominado por um desejo qu
Sebastião... o que aconteceu com ele?Por que estava coberto de sangue?Será que ele se machucou?Esses sonhos sempre me parecem avisos. Lembro-me da noite anterior ao acidente de carro dos meus pais. Sonhei que meus dois dentes da frente caíam, com sangue jorrando, e acordei chorando de tanto medo. No dia seguinte, meus pais sofreram o acidente e partiram para sempre.Um calafrio percorreu meu corpo enquanto uma inquietação crescia no meu coração. Nem percebi o olhar atento de George sobre mim até sentir sua mão tocando minha testa, limpando o suor frio que brotara.— Foi um pesadelo? — Sua voz me trouxe de volta à realidade.De imediato, me dei conta de que ele tinha ouvido quando chamei por Sebastião no sonho. Para evitar qualquer mal-entendido, expliquei:— Sonhei com Sebastião. Ele estava todo ensanguentado, parado ao lado da cama. Perguntei o que tinha acontecido, mas ele não respondeu.— Não se preocupe. Dizem que os sonhos são o contrário da realidade. Mas, se isso te incomoda
O parque de diversões em si não tinha problema algum; então o problema era mesmo o Sebastião.Ao lembrar da cena do sonho e do motivo pelo qual eu fiz aquela ligação, perguntei a Miguel:— É algo com Sebastião? O que aconteceu com ele?Miguel não respondeu imediatamente. Depois de um momento de silêncio, disse:— Na verdade, se você quiser saber algo, pode perguntar diretamente a ele.Não subestime os outros; era isso mesmo. No fundo, ninguém é ingênuo.Aquela resposta me deixou sem saber o que dizer. Miguel, que sempre teve o cuidado de não me colocar em situações desconfortáveis, tentou aliviar meu constrangimento com um comentário:— Quero dizer, mesmo que vocês não sejam mais namorados, depois de tantos anos, vocês já são praticamente famílias.— Haha. — Dei uma risadinha leve. — Tenho receio de procurá-lo e acabar deixando a atual namorada dele com ciúmes, só isso.Miguel também riu.— Carol, quando tiver um tempo, vamos marcar um almoço juntos. — Convidou ele.Como ele já havia
— Oi, Carolina!Augusto acenou para mim com um sorriso travesso no rosto.— Esperei por você quase uma hora! Carolina, hoje você se atrasou. — Ele balançava o pulso para me mostrar o relógio.Eu respirei fundo, tentando suprimir a irritação que fervia no meu peito, e me aproximei dele com passos firmes. Hoje, troquei os saltos altos por sapatos baixos; minhas pernas estavam fracas demais para suportar o cansaço.— Carolina, você não está se sentindo bem? — O pirralho tinha olhos aguçados e percebeu algo estranho no meu jeito de andar.Minhas passadas hesitaram por um segundo, denunciando a minha insegurança.Não era algo que eu pudesse admitir, então simplesmente me sentei de forma firme e resoluta diante dele:— Vamos direto ao ponto, Augusto. O que você quer?Ele ignorou minha pergunta e continuou provocando:— Carolina, não dormiu bem ontem?O pirralho parecia ser mais direto , como se ele soubesse de algo. Endireitei-me na cadeira, tentando parecer confiante.— Diga logo o que te
Parei e me virei, e tentei acertar sua cabeça.Mas, antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, George já falou com uma frieza cortante, sem nem se mover:— Sai daqui.— E você quem é, pra me mandar embora? — Augusto é realmente um jovem destemido, parece que não tem medo de ninguém.George, com uma voz tão clara quanto um golpe certeiro, respondeu:— Eu sou a pessoa que não vai deixar você se aproximar dela.Eu olhei para o rosto de George. As linhas de seu rosto eram tão bem definidas que pareciam lâminas afiadas, e cada ângulo exalava uma força intimidante.Era a primeira vez que o via assim, com um olhar tão penetrante, e um arrepio percorreu minha espinha. Meu coração apertou, como se uma pressão repentina tivesse se instalado ali.Augusto também ficou atônito por alguns segundos com as palavras dele, mas logo voltou com aquele sorriso debochado de sempre:— E aí, véio, você também está na corrida pela Carolina?Pfff!Agora foi a minha vez de ficar chocada.Esse Augusto realmente n
A frase foi bastante educada, até usou as palavras “por favor”.Mas, para mim, soou como uma ordem vinda de um superior.E ele com certeza não está aqui por motivos de trabalho. Ontem mesmo, já tinha me questionado sobre o episódio das flores que recebi. Hoje, dá de cara com essa cena pessoalmente.Será que vai continuar me interrogando?Nesse momento, percebi que arrumar um namorado era, na verdade, buscar problemas.Se eu não tivesse nada com o George, seria simples: Augusto me perseguiria, eu o afastaria e pronto, sem desdobramentos.Mas agora, não tem jeito. Ainda preciso encarar o George.Ah, como esperado, nenhum homem é realmente generoso.Os colegas que estavam por perto observavam tudo. Não havia nada que eu pudesse dizer, então, só me restou seguir o George até o escritório dele.Ficava bem perto do meu. A decoração era simples, mas o espaço estava repleto de coisas. Além de uma mesa, uma cadeira e um computador, o restante era composto por diversos equipamentos eletrônicos.
Fitei o rosto sério de George, analisando seus traços maduros e bem definidos. Sua aparência transmitia uma mistura irresistível de estabilidade e charme.Homens da idade dele não são do mesmo tipo que garotos como Augusto, não dá para comparar. Agora, chamar alguém de véio podia até ser um elogio, sinônimo de maturidade e apelo irresistível. Não é à toa que o "fascínio por tios" virou moda. Desde mulheres mais jovens até aquelas mais experientes, todas pareciam atraídas por homens do tipo de George.Mas, pelo visto, ele não fazia ideia de que o apelido “véio” podia ter tanto valor.Dei um passo à frente e comentei:— A verdade é que você já está nos trinta e tantos, não é mais nenhum garoto. Principalmente se comparado com aquele moleque atual há pouco, que nem dezoito tem. Ele te chamar de tio ou véio não tem nada de...— Você também acha que estou velho? — George me interrompeu, seu tom um tanto baixo e claramente irritado.Ah, que surpresa! Não imaginei que ele fosse tão sensível
Eu não fui almoçar porque a Luana me chamou.Ela disse que o senior estava vindo para a clínica como professor visitante e já tinha conversado com ele, sugerindo que eu fosse também para discutir os detalhes do tratamento da Benedita.— Então, vou levar o George junto. — Falei, já que ele é irmão dela, seria melhor ele ouvir tudo de perto. Além disso, a decisão sobre a cirurgia deve ser tomada por ele, pois é quem tem autoridade.Luana hesitou por um momento, o que me deixou um pouco preocupada.— O que aconteceu? Não está conveniente? — Perguntei, tentando entender o motivo da hesitação.— Melhor você vir sozinha. O tempo é bem curto. Só conseguiremos conversar com ele rapidamente enquanto ele tiver um intervalo — ela explicou, com uma leve tensão na voz.Com a ficha médica de Benedita em mãos, fui sozinha até o hospital. Luana me esperava na entrada. Ela deu uma olhada rápida nos papéis que eu estava trazendo e me conduziu até o auditório acadêmico.— Ele está muito ocupado. — Disse