Embora eu soubesse que ele estava certo e que o erro era meu, por que eu chorava como se tivesse sido injustiçada?George voltou, deu meia-volta e me viu chorando descontroladamente. Sem dizer nada, ele me envolveu em seus braços novamente.— Foi culpa minha. Falei de um jeito pesado. Eu... prometo que não vou dizer essas coisas de novo.Quanto mais ele dizia isso, mais o meu coração se apertava. Levantei a mão e comecei a bater nele, uma, duas vezes.— Não foi culpa sua! Por que você está dizendo isso? Foi minha culpa, está tudo errado comigo!— Não, minha Carina nunca está errada. Eu é que... fui tomado por pensamentos ruins, me deixei levar pela insatisfação e disse besteiras. — George, como sempre, assumiu toda a culpa.Isso só me fazia sentir ainda pior. Continuei batendo nele, mas os tapas estavam cada vez mais fracos. Por fim, comecei a chorar ainda mais alto e, num ímpeto, mordi ele.— Ai, isso dói. — Essa é a primeira vez que George diz que está sentindo dor.Soltei a mordida
— Benedita pode fazer a cirurgia! Pode ser nos próximos dias! — A voz animada de Luana ecoou pelo viva voz do celular.George imediatamente voltou seu olhar para mim, e eu assenti para confirmar a boa notícia.— Conseguiram o doador? — George perguntou.Luana pareceu surpresa por um instante, mas logo voltou ao seu tom brincalhão:— A essa hora, Sr. George, ainda está na casa da minha Carina?Ela estava provocando, mas aquele não era o momento. Interrompi rapidamente:— Pare com isso, fale sério.Luana soltou uma risada antes de explicar:— Não encontramos um novo doador, mas os familiares do doador anterior mudaram de ideia e decidiram autorizar.— E o que o Prof. Gilberto disse? — George continuou a perguntar, sério.— Ele disse que os resultados dos exames de Benedita estão ótimos. Se não houver nenhuma complicação, como gripe ou infecção, a cirurgia pode ser feita em até três dias. — Era evidente que Luana já havia discutido tudo com Gilberto antes de nos ligar.George parecia aliv
George olhou na direção de Vinicius e perguntou: — Você quer ir até ele?Balancei a cabeça negativamente. Naquele momento, o que Vinicius precisava era de solitude.George não insistiu. Após alguns segundos de silêncio, desviei o olhar e disse:— Vamos.Enquanto o carro avançava, pelo retrovisor, eu ainda podia ver Vinicius, parado na mesma posição, olhando para o céu. Sua dor parecia tangível, uma escultura de tristeza moldada naquele gesto estático.O clima pesado me acompanhou até o quarto de Benedita. George percebeu meu estado, mas nada comentou. No entanto, ao entrarmos, ele segurou minha mão, seus dedos entrelaçando-se aos meus.No instante em que senti o calor de sua mão, entendi seu gesto. Sorri para ele: — Não se preocupe, não deixarei que isso afete Benedita.— Eu não queria estragar seu apetite. — Ele apertou suavemente minha mão. — Cada um carrega sua dor, mas há feridas que só se curam por si mesmas.— Sim. — Respondi, respirando fundo antes de abrir a porta do quarto.
Isso?O que isso significa?Refere-se a desistir de Ivone?Do corredor, observei Vinicius. Seu rosto estava pálido, quase sem vida, e sua expressão era tensa, com as mãos cerradas em punhos ao lado do corpo.— Vinicius, você não entende o que eu estou dizendo? Saia daqui, vá embora... — A mulher de meia-idade, claramente descontrolada, começou a empurrá-lo enquanto gritava.Ele cambaleou para trás, os ombros magros pareciam ainda mais frágeis sob a luz fria da enfermaria. Apesar disso, endireitou-se, lutando para manter a compostura.— Sra. Cíntia, deixe-me ficar ao lado dela até o final, por favor.A mulher explodiu em lágrimas, cada palavra carregada de dor e rancor:— Minha Ivoninha está assim por sua causa! Se não fosse por você, ela nunca estaria nesse estado! Me devolva a minha filha! Devolva a minha Ivoninha! — E com os punhos, começou a bater nele.A cena diante de mim apertou meu coração, um instinto automático me levou a querer intervir. Mas antes que eu pudesse dar um passo
Será que é sobre o enterro de Ivone depois que ela partiu?Não pude evitar pensar em várias possibilidades, mas a verdadeira resposta só Vinícius conhece.Parece que terei que esperar por uma oportunidade no futuro para perguntar.Porém, talvez nem sequer haja uma chance no futuro.Embora eu tenha tido duas interações com Vinícius, sei que foi apenas aqui no hospital. Quando Ivone partir, Vinícius talvez nunca mais apareça por aqui, e entre tantas pessoas, não nos cruzaremos novamente.Olhei mais uma vez para a cama cercada de pessoas e, silenciosamente, disse em meu coração: Ivone, que você vá em paz.Saí e fui procurar Luana, mas, infelizmente, ela estava novamente em uma cirurgia. Não voltei imediatamente para o quarto, mas fui até o jardim lá fora.— Srta. Carolina. — Ouvi uma voz me chamar.Virei-me e vi Danilo, sozinho, parecendo ter corrido até ali, ofegante.Não fiquei surpresa de ele vir até mim.— Sr. Danilo.— Desculpe, Srta. Carolina, a Cíntia... ela ficou muito abalada. —
Ao ouvir as palavras de Edgar, minha primeira reação foi que eu estava tirando férias demais.Antes de ontem à noite, eu pensava que Edgar me deixava ficar tão à vontade no trabalho porque George era o grande chefe invisível por trás dele. Agora...Fiquei um pouco envergonhada por dentro, e respondi:— É uma cliente? Eu posso ir agora...— Não é cliente, é uma mulher, vestida como uma fada, com uma postura bem agressiva, parece até uma esposa legítima indo atrás de uma amante. — Edgar sempre fala de forma direta, sem rodeios, e disse exatamente o que estava pensando.Mas depois ele continuou explicando:— Carolina, eu sei da sua relação com o Sr. George, não queria dizer nada demais, só queria te avisar, será que você andou provocando alguém?Eu fiquei um pouco confusa, mas não entrei em pânico:— E o nome dessa mulher?— Não sei o nome, só sei que ela tem o sobrenome, Ávila. Não faço ideia de qual Ávila seja, mas ela parece muito arrogante. — Edgar parecia realmente impressionado por
Sorrindo para mim mesma, percebi que era ela.Quando Elisa chegou, eu estava no jardim, tomando sol. Ela apareceu na minha frente, toda vestida como uma dama de classe alta, com uma postura altiva e disse:— Carolina, você tem mesmo a ousadia de me fazer vir até aqui procurar por você.— Você está enganada, foi você quem quis vir me procurar. — Respondi, sem me dar por satisfeita com sua atitude.O rosto impecavelmente maquiado de Elisa ficou instantaneamente feio.— Então você deve saber o motivo de eu estar aqui, não? — Ela se postou diante de mim com um olhar desafiador.Ela ficou parada, e uma sombra que ela projetou bloqueou a luz do sol para mim. Não pude deixar de notar o quanto o corpo dela, com suas curvas perfeitas, era chamativo de onde eu estava.Não precisava ser um homem como Felipe para perceber o quanto ela era atraente, até mesmo para uma mulher como eu, ela exalava uma combinação de beleza e praticidade.Sorri, mantendo a calma:— Não sei, será que sua filha quer brin
Ela disse isso com sinceridade.E, pelo jeito, era evidente que ela se sentia muito sozinha.Caso contrário, não teria desafiado-me no momento anterior e no segundo seguinte, já queria ser minha amiga.— Eu não tenho muitos amigos, o Felipe não me deixa fazer amizades. Mas consigo perceber que ele te trata de maneira diferente, então... se eu for amiga sua, acho que ele vai concordar. — Elisa se aproximou de mim.Não respondi.— Carolina, eu não tenho más intenções, realmente só quero ser sua amiga. E a Talita gosta muito de você, já me falou várias vezes de você. — Elisa mencionou a filha dela.— Eu sei que você deve achar que não tenho perfil para ser sua amiga, mas pense que seria como fazer uma amizade com a Talita, que tal? — Elisa não tinha mais a arrogância de antes, agora parecia até um pouco vulnerável, como se estivesse me implorando.— Eu estou muito ocupada, não tenho tempo para fazer amizades. — Respondi, mantendo a negativa.Não é que eu não fosse uma pessoa de dar valor