Benedita era a irmã dele, ou melhor, poderia ser chamada de sua filha adotiva, pois foi ele quem a criou. Esse vínculo era tão profundo que deveria ser o que fez o geralmente implacável George agir com tanto cuidado e cautela.Benedita me contou várias histórias engraçadas sobre ela e George, e também falou sobre esse pequeno quintal, que George construiu com suas próprias mãos, tijolo por tijolo.Ela disse que quando George estava por lá, ele pescava para ela e fazia peixe assado, que ele cozinhava muito deliciosa, uma habilidade que ele aperfeiçoou só para alimentá-la.Através das histórias que Benedita compartilhou, comecei a entender melhor George, e isso fez meu coração se apertar.Na verdade, todo seu comportamento peculiar e independente foi forjado pela responsabilidade e solidão.Benedita adormeceu enquanto falava, e eu olhei para seu rosto tranquilo, de repente senti uma vontade imensa de ligar para George, para contar a ele que eu iria cuidar dele, e não o deixaria sempre a
Benedita estava tão solitária que parecia querer me prender ali para sempre.Eu só tinha dois dias de folga, mas, para ficar com ela, acabei pedindo mais dois dias de folga para Edgar.Mas, como diz o ditado, "não há festa que nunca acabe". Eu sabia que, eventualmente, teria que partir.Ela me preparou chá de flores, feito com orvalho, e também me fez alguns pratos cozidos no vapor com pólen e pétalas, como se quisesse me dar tudo o que havia de melhor nela.Eu sabia o quanto ela gostava de mim, e essa afeição me trouxe uma responsabilidade que eu não sabia como lidar.— Cunhada, quando você tiver tempo, venha me ver. — Disse Benedita, sem me olhar.Era claro que ela estava segurando as lágrimas, não querendo que eu visse.Era o tipo de garota frágil por fora, mas forte por dentro.— Tá bom. — Respondi, também não conseguindo dizer mais nada, porque minha própria garganta estava apertada.Eu sentia o narizinho ardendo, e sabia que, se começasse a falar, as lágrimas viriam antes de eu c
Eu não fazia ideia do que ele queria que eu fizesse. Fiquei em silêncio, sem responder, mas ele continuou:— Meus pais não conseguem aceitar a Lídia agora, principalmente minha mãe. Será que você poderia falar algumas palavras boas sobre ela na frente da minha mãe?Essas palavras foram um golpe no meu coração!Eu realmente achava que Sebastião estava sendo mal-intencionado.Ele queria que eu defendesse Lídia? Se ele estivesse em pleno juízo, então estava achando que sou fácil de manipular.— Sr. Sebastião, se você quer que eu falo por ela, então posso garantir que não serão boas palavras. — Respondi, sem tentar ser bondade.— Carol...— Sebastião, eu não sou um anjo, não sou tão magnânima assim. E, além disso, eu não tenho nenhum vínculo com Lídia. Por que eu deveria falar bem dela? — Perguntei, com firmeza.Na hora, ele me perguntou:— Você está assim por causa de ciúmes?— Ha! — Dei uma risada seca, cheia de ironia. — Ah, então você queria saber se estou com ciúmes? Pois saiba que vo
Luana sempre foi a mais lúcida, mas também a mais cabeça-dura. Em algumas situações, ela parecia fazer julgamentos sem sequer tentar entender todas as possibilidades.Eu, por outro lado, sempre acreditei que cada pessoa tem seu próprio tempo e forma de lidar com as coisas. E, por mais que nossa amizade fosse profunda, eu sabia que não podia interferir em suas escolhas.Cada um tem seu próprio caminho, suas próprias conclusões. Mesmo que nos conhecêssemos tão bem, ainda éramos indivíduos com experiências e pensamentos distintos.Passei a noite na casa de Luana e só voltei para casa no dia seguinte, sem ter visto George.Quando a empregada lá de casa perguntou se eu tinha ido viajar com o meu namorado, pois já fazia alguns dias que não o via, foi que eu percebi que George ainda não tinha voltado.Apesar de Ana ter dito que ele estava ocupado, eu já sabia o suficiente para entender que George só ficava naquela casa porque eu estava lá.Quando eu estava presente, ele voltava todos os dias;
Sabia que, nessa visita à casa dele, Benedita certamente havia revelado tudo o que estava acontecendo.— Se você gostar desse lugar, quem sabe... — Ele começou, mas parou sem continuar a frase.Levantei uma sobrancelha, desconfiada, e perguntei:— Quem sabe o quê?A garganta de George se moveu, engolindo em seco, e então ele disse, com um tom mais baixo:— Quem sabe... talvez possa ir lá descansar, quando for mais velha.— Sozinha? — Não consegui evitar a resposta rápida, antes de refletir.Ele olhou para mim com um sorriso leve e respondeu sem hesitar:— Eu posso te acompanhar, se você quiser. — E, como sempre, George era direto e sem rodeios.Mas, nesse momento, eu me recuei. O futuro era imprevisível, e nem pensar em algo tão distante como a velhice. Quem poderia garantir o que viria?— Eu procurei especialistas para Benedita nessa área, me passe os registros médicos dela. — Mudei de assunto, de forma direta.Na noite anterior, eu ainda estava pensando que Luana era uma covarde. Mas
O meu abraço repentino fez o corpo de George se tensar Depois de um momento, ouvi sua voz baixa perguntando:— Me acha um coitado?— Sinto doloroso de você! — Corrigi sua expressão.George não disse mais nada, nem me abraçou de volta, o que me deixou um pouco constrangida. Eu estava prestes a soltá-lo, quando, de repente, levantei a cabeça e vi Sebastião parado não muito longe.Ele também veio hoje?E Ana, essa fofoqueira, não me contou nada.Eu quase soltei a mão de George, mas então a apertei com mais força. Ele tentou se afastar, mas eu segurei sua mão com firmeza.— Não se mexa.Ele ficou imóvel, e eu continuei abraçando-o, perguntando em seguida.— Vai trabalhar até mais tarde hoje?— Hm? — Respondeu George, sem mudar de postura. Fiquei na ponta dos pés, me aproximando do ouvido dele, e sussurrei:— Quero comer a comida que você faz.Senti o som da engolida de George, a adiada vibração na sua garganta, seguida de um simples “hm” que me fez estremecer. Meu olhar, sem querer, se
Ana acenou com a cabeça:— Tenho, sim. Tenho esse parque de diversões, com todas essas luzes bonitas.Ela riu, e então me abraçou um pouco mais forte.— E tenho você, minha Carina.Essa boca pequena sabia como conquistar a gente.Chegamos à área onde o incidente ocorreu. George subiu para fazer a inspeção, enquanto anotava tudo em seu caderno.— O prejuízo total foi de duas seções, com 22 lâmpadas pequenas em cada uma, com 13 cores diferentes. — Disse George, enquanto olhava para as luzes danificadas e também para o guindaste trabalhando não muito longe dali.Ele então olhou para Ana:— Você pode chamar o Sr. Miguel para vir aqui? Precisamos atribuir responsabilidade e calcular o prejuízo.Ana respondeu com um simples "ah" e rapidamente pegou o celular para ligar para Miguel. Em pouco tempo, ele chegou, e quando me viu, parou por um segundo.Parece que ele não esperava me ver aqui. Depois de um breve momento de surpresa, sorriu:— Carol, veio fazer uma inspeção antecipada?Eu já não er
Minha mão foi agarrada com força.Quando virei a cabeça, encontrei os olhos de George. Ele me lançou um olhar suave, como se quisesse me tranquilizar, antes de virar-se para Sebastião. Sua voz, profunda e agradável, foi firme:— Antes de a inspeção ser concluída, não vou sair daqui.Esse era o temperamento dele.Quanto mais alguém queria que ele saísse, mais ele se agarrava ao seu lugar, como sempre fez. Eu estava prestes a ouvir a resposta de Sebastião quando senti a mão de George apertar a minha. Ele acrescentou:— Isso é o que prometi à Carina.A menção ao meu nome, seguida da frase sobre ele ter feito uma promessa a mim, fez meu coração disparar. E, ao mesmo tempo, a expressão de Sebastião mudou instantaneamente, ficando mais escura, enquanto o rosto de Miguel também mostrava sinais claros de desconforto.O silêncio caiu sobre todos, e a tensão no ar estava quase palpável.Eu respirei fundo e decidi falar, quebrando o silêncio pesado:— Sr. Sebastião, Sr. Miguel, embora eu já não