RUBY PORTMANApós a audiência, conversei brevemente com o Sr. Martinez. Ele explicou quais seriam os próximos passos, como o Ministério Público trabalharia agora para apresentar mais elementos, e que o juiz, pelo que deu a entender, já estava parcialmente convencido da culpa do réu.Despedimo-nos e Harry me levou de volta para casa e quando ele estacionou em frente ao meu prédio, desci e apenas murmurei:— Obrigada por tudo, Harry.Ele apenas assentiu com a cabeça, sem palavras, como se não fosse necessário dizer nada.Subi e, em casa, comecei a organizar algumas coisas. O lugar ainda estava em ordem, mas havia algo inquieto em mim. Meu querido e adorado irmão estava vindo. E ele vinha furioso. Descobrira tudo apenas agora, quer dizer, um dia antes do julgamento, por Milena, e me mandou uma sequência de áudios inflamados exigindo explicações.E Milena com certeza viria junto para tentar equilibrar os ânimos. os dele, especialmente. E como ela havia prometido cozinhar, me propus a orga
RUBY PORTMANO restaurante inteiro parecia se esvair ao meu redor quando Harry pousou a caixa do anel sobre a mesa com a mesma frieza com que fazia qualquer movimento. O diamante ali dentro brilhava sob a luz difusa do aquário panorâmico ao nosso redor, mas minha atenção estava completamente fixada nele. Não no anel. Nele.Eu estava em choque. Mas não era o tipo de choque encantado que ele provavelmente esperava. Era um silêncio repleto de memórias, de perguntas, de cicatrizes não curadas. Um pedido de casamento vindo de Harry Radcliffe era o equivalente a uma tempestade em pleno deserto. Raro, inesperado, perigoso.Harry não pareceu se incomodar com o meu silêncio. Pegou a sua taça de vinho, tomou um gole e apoiou-a novamente sobre a mesa com calma estudada. Depois cruzou os braços, me observando por um instante longo demais.— Eu devia começar explicando por que você. — ele disse, com a voz baixa, densa, como se cada palavra fosse tirada a força do fundo do peito. — Mas acho que voc
RUBY PORTMANO caminho de volta para casa foi silencioso, mas não desconfortável. Era como se tudo o que precisava ser dito já tivesse sido. As luzes da cidade refletiam no para-brisa do carro, criando padrões dourados e cintilantes que dançavam sobre o painel. Eu observava aquelas luzes, tentando me agarrar a elas como quem tenta se apegar a algo que ainda faz sentido.O meu coração ainda pesava. Não de dor, mas de um peso diferente, mais denso. Eu tentava assimilar a noite, a conversa, a história dele. O anel. Aquilo tudo parecia um mundo novo que eu ainda não sabia se queria adentrar ou apenas observar de longe.Harry dirigia em silêncio, a mão firme sobre o volante, os olhos atentos à estrada, mesmo que os pensamentos estivessem visivelmente em outro lugar. Ele não era do tipo que pedia, que se explicava. Então o simples fato de ter se despido emocionalmente daquela forma me fazia entender o quão longe ele já havia ido. Por mim.Quando o carro parou em frente ao meu prédio, um sil
RUBY PORTMANDesliguei o tablet e o deixei de lado, pousando-o sobre o sofá. Peguei a minha taça de vinho branco, girando o líquido suavemente antes de levar a taça aos lábios. Três anos. Três longos anos haviam se passado desde o desaparecimento de Harry e da sua família. Eu estava prestes a completar 30 anos, uma nova década de vida se aproximando, mas minha mente ainda insistia em voltar ao que aconteceu, ou ao que deixou de acontecer. Três anos de ausência, de silêncio, de especulações e de um vazio que, por mais que eu tentasse, nunca conseguia preencher completamente.Durante esse tempo, eu havia tentado de tudo para esquecer, para seguir em frente. Queria sentir raiva de Harry, nutrir um ressentimento profundo por ele, por ter me deixado sem respostas, sem um adeus. Queria odiá-lo, desejar que ele pagasse por tudo de ruim que significou na minha vida. No entanto, a cada semana, sem falhar, eu pegava-me lendo tabloides, procurando por qualquer sinal, qualquer notícia que dissess
RUBY PORTMANDespedindo-me de Johnny com um aceno rápido, deixei-o na cozinha e me dirigi à porta. Ele estava ocupado com algo, talvez preparando um jantar, ou procurando alguma bebida, como de costume, não questionou a minha saída repentina. Eu sabia que assim que eu chegasse não o encontraria mais, já que nos víamos apenas aos finais de semana, e, muito raramente nos dias úteis, já que eu trabalhava mais do que devia, ele também. E a nossa relação funcionava assim, ninguém se aborrecia com ninguém e tínhamos cada um o seu espaço, embora eu sempre soube que ele quer algo, além disso, já que ultimamente o tema casamento não tem saído da sua boca.Saí do apartamento e entrei no elevador, pressionando o botão para o piso térreo. Enquanto descia, a minha mente vagava, como sempre fazia nessas horas. As paredes do elevador refletiam uma versão minha que parecia diferente da jovem que havia começado a trabalhar na Radcliffe’s tantos anos atrás. Havia uma maturidade que o tempo e as experiê
RUBY PORTMANSophia estava na cozinha, movimentando-se com a familiaridade de quem já considerava meu apartamento quase uma extensão de sua própria casa. O cheiro do café fresco e do pão torrado enchia o ar, criando uma atmosfera aconchegante que contrastava com o som constante das teclas do meu laptop enquanto eu trabalhava no relatório do trabalho. Tinha um prazo apertado para entregar, e a manhã parecia ser o único momento em que eu conseguia encontrar um pouco de paz para me concentrar.Enquanto eu digitava, Sophia começou a puxar assunto, algo que ela sempre fazia para quebrar o silêncio, especialmente quando percebia que eu estava mergulhada demais em meus pensamentos. Ela mexia na frigideira, preparando algo que eu ainda não conseguia identificar, mas que certamente seria delicioso, como sempre.— E então, Ruby? — Começou, sem olhar para mim. — Como vai seu relacionamento com o Johnny? Ainda não tivemos a chance de conversar sobre ele direito.Suspirei, interrompendo a escrita
RUBY PORTMANAcordei com uma decisão clara na mente: não mais permitir que Harry Radcliffe, o seu passado ou a sua família ocupassem qualquer espaço na minha vida. Três anos já haviam se passado, e a cada semana que se iniciava, eu me encontrava repetindo os mesmos padrões. Lendo tabloides, comprando flores para o túmulo da irmã dele… Isso precisava acabar. Eu queria seguir em frente, e para isso, era necessário encerrar esses rituais que só me mantinham presa ao que já devia ter sido superado.Levantei da cama com uma energia diferente, disposta a aproveitar o dia. Johnny vinha sendo paciente comigo, sempre compreensivo, mesmo quando eu guardava para mim certas dúvidas e ressentimentos que ainda nutria por Harry. Talvez tivesse chegado a hora de reconsiderar a proposta de Johnny de vivermos juntos. Era uma decisão que eu vinha adiando, mas se eu realmente queria seguir em frente, talvez fosse a hora de dar esse passo.Depois de um banho rápido, vesti-me com algo confortável e fui até
RUBY PORTMANDecidi comprar o vestido sem hesitação. Enquanto a vendedora fazia os ajustes finais na embalagem, Sophia e eu continuamos a conversar sobre a viagem dela e os planos.— E então, Ruby, o que você acha que vai acontecer hoje à noite? — Sophia perguntou, enquanto esperávamos no caixa. — Não sei, Sophia. Acho que hoje à noite é mais sobre deixar o Johnny brilhar, e também mostrar a ele que estou pronta para seguir em frente. Quero sentir-me no controle de novo. Quero me sentir bem comigo mesma, sem pensar no passado. Acho que já enrolei muito ele, está na hora de dar uma oportunidade de tentar, e tentar melhor.Sophia acenou com a cabeça, compreendendo perfeitamente o que eu queria dizer.— E você está fazendo isso, Ruby. Tenho orgulho de ver como você está lidando com tudo isso. Não precisa tentar atropelar isso, vai com calma, eu não o conheço, mas parece ser um bom cara.— Bem, de bons caras o inferno também está cheio. — Respondi já segurando as sacolas com as compras e