Marcelo respirou fundo, tentando controlar a dor que sentia no peito. Sua mão acariciava o rosto de Esther com um cuidado misturado a um sofrimento quase insuportável.— Esther, eu sei que você não é uma pessoa qualquer. Mas as coisas mudam, nada é definitivo. Você ainda tem uma longa vida pela frente, sabia? O Gilberto será o seu maior aliado.Ele sabia que, com Gilberto e Rita ao lado dela, Esther estaria protegida. Mesmo assim, não conseguia deixar de pensar em como seria a vida dela sem ter ido para Iurani.Se tivesse ficado na capital, tudo seria mais seguro e mais confortável. Mas, ao mesmo tempo, sua vida seria vazia. Sem ele, sem filhos. Sem respostas para tantas coisas que só descobriu ali. E, pior, ela passaria a vida inteira carregando a culpa por Luiz.— Esther, eu te amo. Se pudesse, desejaria nunca ter te conhecido. — Marcelo segurou a mão dela com força, antes de beijar sua testa.As palavras eram doces, mas ao mesmo tempo cruéis. Ele não queria colocá-la em perigo, e er
Esther franziu a testa. O semblante de Marcelo não estava muito melhor.Naquele momento, a tensão em seus olhos era evidente. Ele encarava Bernardo com um olhar tão cortante quanto uma lâmina.Mas Bernardo, aparentemente imune à hostilidade, manteve o sorriso.— Lá fora, o caos reina. E vocês dois, aqui, trocando promessas eternas? Que desperdício de tempo. Por que não me contam logo onde está Geraldo?Ao mencionar Geraldo, o tom leve de Bernardo desapareceu. Sua expressão ficou fria como gelo, e um fogo parecia arder por trás de seus olhos. Bernardo podia ter um jeito cordial e refinado, mas, quando queria, sabia ser tão cruel quanto qualquer outro.Ele precisava encontrar Geraldo. Precisava entender o motivo daquela pulseira ter chegado às mãos de Esther. Precisava descobrir a verdade.Bernardo já havia passado pela esperança, mas agora... Agora parecia movido apenas por desconfiança e raiva.Esther se lembrou do momento em que Vasco a havia nocauteado. Provavelmente, durante esse te
Esther era a peça-chave. Ela não apenas tinha influência sobre Marcelo, mas também podia ser usada para atrair Geraldo.Bernardo, embora não quisesse diretamente confrontar Marcelo, sabia que seria prudente manter certa distância. Eles não eram amigos, mas também não eram inimigos. Manter uma desconfiança estratégica não faria mal.Esther analisou a situação. Seus dedos apertaram levemente. Ela não disse nada, mas seu gesto falava mais do que palavras.— Se você insiste tanto no contato dele, eu fico. Mas eles precisam sair daqui. — Marcelo colocou Esther atrás de si, como um escudo, deixando claro que não a deixaria sozinha.Bernardo, porém, não se dirigiu a Marcelo. Ele lançou um olhar direto para Esther.— Não foi você que estava perguntando sobre ele? Você não se importa com a saúde de Marcelo?Era um acordo tentador. Se Esther ficasse, Rita e Luiz poderiam ir embora. Marcelo, além de ficar em segurança, poderia até receber o antídoto para o veneno em seu corpo. Era uma troca difíc
A arma na mão de Esther não abalou Bernardo. Com um movimento rápido, ele agarrou o pulso dela e aplicou força. A pistola preta caiu no chão com um som seco.— Marcelo, sei que seus homens estão por perto. Vou deixar você sair, mas, se quiser Esther de volta, traga Geraldo em troca. — Bernardo apertou o pescoço de Esther, olhando diretamente para Marcelo.Era uma escolha difícil, mas manter Esther como refém era mais vantajoso do que manter todos ali.— Marcelo, vai embora! — Esther gritou, com todas as forças.Os olhos de Marcelo estavam fixos nela. A dor, o pesar e a resistência eram evidentes em sua expressão. Mas o som das explosões estava cada vez mais próximo, e um grande número de soldados irrompeu no local.Durval e André apareceram ao lado de Marcelo.— Capitão Marcelo, recebemos ordens superiores. Não podemos entrar em conflito direto com o Faraó.— Vai logo, Marcelo! — Esther gritou novamente, com ainda mais intensidade.Marcelo foi puxado pelos dois companheiros e forçado a
O telefone tocou por um bom tempo antes que Geraldo atendesse.— O que foi? — Ele respondeu com uma voz visivelmente fraca.— Esther está presa com o Faraó.Mal Marcelo terminou de falar, a voz de Geraldo se elevou bruscamente, soando quase estridente:— O quê?Logo em seguida, Geraldo parecia tomado pela raiva.— Marcelo, você não prometeu que protegeria Esther?Ele não mencionou, mas era óbvio que Rita também deveria estar com Esther.Marcelo não respondeu. Permaneceu em silêncio, com o rosto sério. Era como se um nó tivesse se formado em sua garganta, tornando impossível expressar o que sentia.Era verdade. Esther só estava naquela situação por sua incapacidade. Se ele fosse mais eficiente, Esther não teria sido envenenada, e o filho deles não estaria separado dela.— Bernardo disse que quer ver você.— Entendido. — Foi tudo o que Geraldo respondeu antes de desligar abruptamente. Ele não deu mais explicações, mas uma coisa era certa. Geraldo faria qualquer coisa para garantir a segu
Ela não era como eles, não podia saber o que se passava em suas mentes. Mas Esther tinha certeza de que essa situação estava longe de ser simples.Enquanto isso, Estrella apareceu na casa de Bernardo com algumas coisas em mãos.— Eu não preciso disso. — Bernardo disse, frio, ao notar o que ela tinha em mãos. — Pode levar de volta. Estrella, no entanto, continuou insistindo, com uma expressão quase esperançosa.— Bernardo, eu trouxe isso para Esther. Eu gostaria de vê-la.— Ela não precisa dessas coisas. — Bernardo respondeu com a mesma frieza.Ele sabia que, se Estrella realmente quisesse fazer amizade com Esther, nunca teria levado ela para lá. A intenção verdadeira de Estrella era outra. Por trás de suas ações, Bernardo via falsidade.— Bernardo, você não é ela. Eu sei o que está pensando, mas aqui, sob seu olhar, como eu poderia machucar ela? Não tem como. — Estrella tentou argumentar.Bernardo lançou um olhar gelado para ela, sem dizer mais nada. Em seguida, ele se virou e saiu, a
— Chame o médico militar. Quero que ele faça exames no meu corpo. — Disse Marcelo, com determinação.Se seus rins fossem compatíveis com os de Luiz, ele não hesitaria em doar um para salvar o amigo. Era sua forma de pagar a Luiz tudo o que ele havia feito por Esther.André olhou para ele, incrédulo.— Capitão Marcelo, tem certeza disso? O seu corpo...— Tenho. — Respondeu Marcelo, firme, sem dar espaço para discussão.O médico militar chegou rapidamente, mas explicou que, sem os equipamentos avançados de um hospital, seria impossível verificar a compatibilidade entre os dois.— Capitão Marcelo, com todo o respeito, no contexto atual, um sacrifício como esse pode ser desastroso. — Disse o médico, num tom sério. — Estamos em um momento crítico. Se você fizer isso agora, as nações menores aliadas de Iurani podem aproveitar a oportunidade para atacar. Isso colocaria nosso país numa posição delicada, ou reagimos e entramos em guerra, ou não fazemos nada e nos tornamos motivo de piada.Marce
Depois de um breve silêncio, Marcelo respondeu, com a voz rouca:— Esther é minha esposa.Não havia ali nenhuma intenção de marcar território. Era apenas uma declaração simples.Luiz havia perdido a memória, mas a única coisa que parecia estar gravada na mente dele era o nome de Esther. Marcelo já havia pensado no pior cenário. Se ele morresse, ele queria deixar Luiz e Esther juntos.No entanto, ele amava Esther profundamente. A ideia de entregá-la a Luiz o destruía por dentro.Luiz permaneceu calado, tentando em vão agarrar as lembranças que passavam rapidamente por sua mente. Tudo era um borrão. Ele não se lembrava de Esther, muito menos de Marcelo.As palavras de Marcelo o deixaram sem reação. Ele percebeu algo inquietante. Ele estava apaixonado por uma mulher casada. E, o mais impressionante, Marcelo não havia demonstrado nenhum sinal de raiva ou hostilidade.— Sei que você está confuso, mas não precisa ficar. Você conheceu Esther antes de mim. Era o vizinho dela, quase como um irm