Isabela falava com Marcelo de coração aberto. Mesmo que ela tivesse ficado satisfeita com ele no passado, a partir do momento em que soube que o casamento de sua filha não passava de uma transação, nada mais importava. O que ela desejava, acima de tudo, era a felicidade de Esther, e não queria vê-la presa em um casamento sem amor.Marcelo continuou com suas tarefas na cozinha, sem interromper o que estava fazendo. Ele já esperava que Isabela dissesse algo do tipo. Com uma voz grave, respondeu:— Mãe, eu vou te dar uma resposta em breve.Isabela suspirou, sua preocupação era evidente.— Esther também merece ser feliz, e espero que ela não tenha que esperar muito por isso.A mensagem era clara: após o divórcio, Esther, com todas as suas qualidades, não teria dificuldade em encontrar alguém que realmente a amasse. Isabela e Felipe estavam envelhecendo e sabiam que não poderiam estar ao lado da filha para sempre. Eles queriam garantir que Esther encontrasse um bom companheiro, que pudesse
Liliane não conseguia deixar de sentir inveja de Esther por ela ter uma família tão carinhosa e dedicada. Ela sabia que o motivo de estar recebendo tanto afeto era por ser amiga de Esther, e isso a emocionava ainda mais.— Não chore! Lágrimas de uma moça bonita como você valem ouro. — Disse Felipe, visivelmente desconfortável ao ver uma jovem chorar.Por mais que tentasse, Liliane não conseguia parar as lágrimas que deslizavam por seu rosto. Esther, que sempre foi muito empática, entendia os sentimentos de Liliane. Ela sabia que Liliane havia crescido sem os pais, tendo apenas seu avô, Sandro, como figura familiar próxima. Talvez por isso, Esther sentiu que levar Liliane para conhecer seus próprios pais seria uma forma de oferecer a ela um pouco do calor familiar que sempre teve.— Não chore mais, Lili. Já não foi suficiente por hoje? — Esther falou com uma voz suave, tentando acalmá-la. Ela não queria que a amiga ficasse ainda mais triste.Liliane respirou fundo, enxugou as lágrimas e
Luiza estendeu a mão e entregou a bolsa para Liliane, que a pegou com um olhar desconfiado. Havia algo que a incomodava, e então ela perguntou:— Luiza, ontem você não estava bem do meu lado falando ao telefone? Foi só eu me virar e você desapareceu. Tem certeza de que fui eu quem sumiu?Luiza hesitou por um segundo, mas rapidamente compôs um sorriso tranquilo. Ela sabia a verdade: tinha visto Liliane sendo assediada, mas optou por não intervir. Como também era mulher e estava sozinha, se ela se metesse na confusão, poderia acabar se envolvendo em um problema maior do que poderia lidar. Então, preferiu sair de fininho, aproveitando um momento de distração de todos.Ela não podia deixar Liliane descobrir que, mesmo sabendo do perigo que ela corria, não fez nada para ajudá-la.— Ah, sim! Eu estava em uma ligação super importante, tratando de um negócio sério. Fiquei falando por mais de meia hora. Quando terminei, você já não estava mais lá. Achei que você tinha se cansado de esperar e vo
As palavras de Liliane deixaram Luiza sem reação, com o rosto pálido e os pensamentos em um turbilhão. Por alguns instantes, ela simplesmente não sabia como responder. Conhecendo Liliane como conhecia, sempre a viu como uma garota simples e pura, que retribuía qualquer gesto de bondade com uma generosidade multiplicada. Jamais esperaria que Liliane questionasse suas intenções.Contudo, o que Liliane disse não era completamente sem fundamento. Durante os anos que passaram no exterior, Luiza não fazia ideia de que Liliane era neta de Sandro. Liliane era ainda muito jovem e estava enfrentando uma série de desafios pela primeira vez. Desde as diferenças culturais até a solidão de estar em um país estrangeiro sem amigos ou qualquer familiar por perto. Ela se isolava, raramente conversava com alguém, e todos sabiam que, desde pequena, não tinha mais os pais. Frágil e desamparada, sua história era de uma tristeza que poucos podiam compreender.Luiza, por outro lado, sempre teve uma vida de pr
Antes, Luiza sempre acreditou que Liliane era uma pessoa dócil, alguém que seguia suas orientações sem questionar. Mas desde que Liliane voltou para a família Costa, tudo mudou. O olhar de Luiza se tornou frio enquanto sua mente se enchia de pensamentos amargos. Depois de descarregar suas frustrações em Liliane, sua raiva se voltou para Esther. Para Luiza, se não fosse por Esther, Liliane ainda seria aquela garota obediente, uma coelhinha que fazia tudo o que ela mandava. Esther havia estragado tudo, interferindo em seus planos....Enquanto Marcelo estava ocupado na biblioteca, Esther aproveitava a tranquilidade para fazer algumas compras online. Com o celular em mãos, ela procurava livros sobre maternidade. Embora sua barriga ainda não estivesse muito evidente, ela já sentia um peso emocional, uma sensação de plenitude ao saber que estava grávida. O bebê dentro dela trazia uma paz que ela nunca havia experimentado antes.Ao finalizar a compra, Esther se deu conta de que não podia r
Quanto mais Marcelo demonstrava suas suspeitas, mais Esther sentia o coração acelerar, como se cada batida estivesse denunciando seu nervosismo. Ela respondeu com uma voz firme, mas não desprovida de cautela:— Meus pais sabem que eu adoro caranguejo, então sempre fazem quando eu volto para casa. Acho que de tanto comer, acabei enjoando. Hoje, simplesmente não estava com vontade. Por que essa preocupação repentina com o que eu como?Marcelo ergueu os olhos na direção dela, o olhar intenso, mas agora suavizado por um toque de carinho. Com um gesto lento e terno, ele afastou uma mecha solta dos cabelos de Esther, ajeitando-a delicadamente atrás da orelha. — Não é nada demais, só notei que você tem mudado bastante ultimamente. — Ele fez uma pausa, a voz baixa. — Contanto que esteja tudo bem, não tem problema. Mas, Esther... Só quero te pedir uma coisa: não esconda nada de mim.Esther olhou para a mão dele, ainda próxima, sentindo o conflito entre a ternura de Marcelo e a sombra de descon
Esther olhou para a chave do carro em sua mão, um tanto desconfortável com a situação. Com um gesto decidido, estendeu a mão de volta para Gilberto, tentando devolver a chave.— Diz ao Marcelo que não precisa. Eu estou bem com o carro que já tenho.Gilberto, claramente estava em uma posição complicada. Ele insistiu, tentando colocar a chave de volta na mão dela.— Senhora, por favor, aceite. O Sr. Marcelo já transferiu o carro para o seu nome. Se a senhora não aceitar, vai ser muito difícil para mim. Eu realmente não vou saber como justificar isso para ele.Era evidente que Marcelo havia dado instruções claras a Gilberto: Esther deveria, de qualquer jeito, começar a usar aquele carro. Se ela se recusasse, a culpa recairia sobre ele, e isso seria, no mínimo, problemático.Esther apertou os lábios, ainda ponderando. Seu olhar se fixou novamente no carro brilhante à sua frente. Por que Marcelo estava fazendo isso? Ela não precisava de um carro tão extravagante. Se aparecesse no trabalho c
O tom de urgência na voz de Fernanda chamou a atenção de Esther. Fernanda parecia ansiosa, seus olhos constantemente se desviando na direção do escritório de Marcelo, como se esperasse que Esther fosse até lá a qualquer momento. Aquela situação era bastante incomum. Em outras ocasiões, Fernanda jamais insistiria para que ela se preocupasse com o que acontecia no escritório de Marcelo. A não ser, claro, que os rumores que circulavam pela empresa fossem sérios o suficiente para que ela desse atenção a eles. Ou que realmente estivesse acontecendo algo por lá.Se ela simplesmente ignorasse as fofocas e não alimentasse sua imaginação, tudo poderia seguir como sempre. Mas antes que a dúvida pudesse se instalar, Esther decidiu cortar o assunto.— Pra que eu iria ao escritório? — Perguntou Esther, com calma, seus dedos ainda batendo nas teclas. — Você acha que eu tenho alguma coisa a ver com os assuntos do Sr. Marcelo?Enquanto falava, Esther esperava que Fernanda entendesse a mensagem implí