Aldora sente-se nervosa diante do semblante divertido do homem a sua frente, enquanto o irmão se aproxima ferozmente.
— O que pensa que está fazendo? — Perguntou o rapaz, soltando fogo pelas ventas, ao vê-la conversando com o estranho engomadinho.
— O que pensa que estou fazendo? — Olhou para o irmão, visivelmente enfurecido, deixando-o desconcertado e fazendo Ângelo erguer a sobrancelha, admirado.
— Por que tá conversando com esse estranho?
— Porque, diferente de você, sou uma pessoa educada.
— Deixa o pai saber dessa sua educação toda. Anda, pega as roupas e vamos embora daqui.
— Se você não percebeu, ainda não terminei. E o cavalheiro já está de saída.
— Não quero ser o motivo de discórdia entre irmãos. Peço que me perdoem...
— An
E como imaginei, a explosão veio por parte de Marina:— Mas esse cara é um cretino, mesmo! — disse, ruborizando — Sabe, eu até que estava quase me simpatizando com ele. Parecia ser divertido, mas... Acho que era mesmo um cafajeste. É exatamente como eu pensava. Esse tipo acha que pode tudo só por ser belo. Idiota.— Acho que ele apenas estava tentando despertar um ciúme em Augusto. Parece que Glória estava apaixonada por seu patrão e não era correspondida.— Mas isso não é maneira de se tratar uma mulher!— Ele a beijou Marina. Não vá me dizer que uma mulher não gosta de ter um beijo roubado?— É claro que não! Quer dizer... Só se ela estiver afim do cara. Mas não foi o caso de Glória.— Como você pode saber? De repente ela até que gostou de despertar
Gloria apertava a mão em punho, segurando-se.— Ora, cala a boca Ângelo. — reagiu, sentindo-se enfurecida com ele. Se ele não a deixasse em paz, seria capaz de agredi-lo ali mesmo.— Vejo que não. Sinto muito, querida. Eu estava enganado.— Não se meta mais comigo, Ângelo.— Só queria ajudá-la. — disse, sentindo-se incomodado pela primeira vez. Talvez tivesse ido longe demais.— Você acabou de chegar aqui e não faz ideia de que como nos tratamos. Não pode simplesmente mudar algo da noite para o dia. Não pode brincar com as pessoas como se elas não fossem nada. Talvez seja melhor aceitar o conselho de seu irmão e nos deixar em paz.— Acontece que tudo isso aqui também é meu, Glorinha — respondeu, voltando ao sarcasmo — Meu pai me queria aqui e não vou decepcioná-
Ângelo encarava Aldora com um misto de diversão e contemplação.— Está me dizendo que sabe quando estou chegando? Talvez acelere a motocicleta, como um canto, para chamá-la.— Normalmente ainda estou dormindo. Não o ouço.— Isso parte meu coração.— Como se fosse possível! Pelo que comentam é o senhor o autor de corações partidos na cidade.— Sinto-me lisonjeado pelo seu interesse, mas posso lhe dizer que não é bem assim. As mulheres não me levam a sério, senhorita.— Na verdade não tenho interesse algum em saber sobre seus passos mas, aparentemente, todos os homens da fazenda sim. Estão escondendo suas mulheres e filhas do senhor.— Santo Deus! Minha fama me precede. Sou um homem incompreendido, pequena Aldora. E por que ainda não fugi
Encarei Marina, flertando com seus olhos tristes, antes de continuar:— Entendo! Você o via dentro de si, mas ele não. Ele tinha necessidades que você não entendia.— Por que isso acontece, Alberto? Por que um homem não pode se contentar apenas com uma mulher? Por que dessa necessidade de pular de cama em cama quando se tem alguém que o ama esperando em casa, abdicando de coisas importantes por ele?— Não tenho resposta para isso, Marina. O que posso te assegurar é que nem todos são assim. Há aqueles que simplesmente amam uma mulher com toda sua alma. Que sentem orgulho, que querem estar com ela em todos os momentos do dia, que espera a noite chegar apenas para vê-la entrar pela porta e sorrir rasgado, perguntando como foi seu dia. Fazendo pequenas coisinhas sem importância pelo simples prazer de estarem juntos.Ela me encarou e pude ver a dúvida em se
Augusto acordou pela manhã com um ligeiro tremor. Sentiu um breve mal estar, talvez associado à noite agitada por sonhos confusos. Resolveu ficar na casa da mãe. Fazia alguns dias que não a visitava. Uma decisão acertada, já que ela não se encontrava bem. A recente morte do pai havia deixado a velha exaurida. — Como se sente, mamãe? Está um pouco pálida.— Um pouco cansada, filho.— Acho que é mais que isso, mamãe — Disse ele, enfrentado seu olhar.— Ando um pouco preocupada. Seu irmão andou trazendo notícias da América.— Não precisa se preocupar, mamãe. Ângelo não entende nada de negócios. Deveria se dedicar àquilo que aprendeu e deixar tudo em minhas mãos. Estou pensando em utilizar algum imóvel e montar um escritório para ele fazer seus p
Glória entra no escritório assim que Augusto retorna da conversa com dona Helena e o encara pensativa.— Marquei a consulta para sua mãe com o Dr. Inácio Duarte dos Reis, para segunda feira às quinze horas.— Obrigado, Glória.— O que ela tem?— Não sei exatamente. A morte de papai a abalou muito. Talvez seja só tristeza.— Espero que sim.— Augusto! – chamou Ângelo porta adentro — Trago uma surpresa para você. Veja quem encontrei perdida por essas bandas.— Como vai, Augusto?Mercedes adentra altiva no escritório, sorrindo, enquanto retira as luvas de renda das mãos delgadas. Encara Glória com um olhar petulante, deixando-a corada.— Que grande surpresa! — disse Augusto, encarando-a estupefato — Não imaginava que a veria tão cedo.— Pa
Ângelo sentia-se exultante com a súbita demonstração de interesse de Mercedes por Augusto. A recíproca sendo verdadeira, terá nela uma grande aliada para seus propósitos, uma vez que tentara com Glória e essa se mostrou arredia. Mercedes, além de bela, tinha dinheiro. Talvez pudesse convencer o irmão a se casar com a filha ilustre de um Coronel. Arranjos seriam acertados, bens seriam unidos, já que a beldade é filha única. Com esse dote Augusto não o impediria de investir em seus sonhos, contudo, precisaria ser feito de uma forma que ele não desconfiasse de sua artimanha. Sonhando, Ângelo segue à casa do Coronel.— Ângelo! Que ventos o trazem? — indaga o Coronel, desconfiado — Esperava que seu irmão fosse me procurar.— Lamento decepcioná-lo, Coronel. O que exatamente deseja com Augusto? Espero não ser o
Marina suspirou fundo na poltrona. Fingi que não ouvi. Não queria interromper a leitura. Sabia bem o que ela tinha a dizer a respeito de Ângelo. Confesso que compartilhava com ela suas reações sobre ele, mas não iria admitir. Não ainda.Enquanto Ângelo coloca os seus planos em andamento, aproveitando-se da ausência do irmão, Augusto segue para a Capital, preocupado com a mãe. Na última semana ela parecia ainda mais frágil. Instalaram-se no Hotel Terminus e depois seguiram de taxi para a Irmandade Santa Casa de Misericórdia, onde se daria a consulta de Dona Afonsina.— Como ela está, doutor Reis? — Perguntou, enquanto a enfermeira ajudava a mãe a se trocar na sala de exames.— Vou pedir mais alguns exames, mas tudo leva a crer que o coração dela está um pouco fraco. Normal para a idade, contudo, recomend