Augusto o encara ressabiado. Deveria acreditar num moleque que até então só sabia gastar o dinheiro do pai com mulheres e viagens? Estava cansado de ouvir reclamações sobre seu comportamento. Contudo, soubera que se saíra muito bem com alguns investimentos, apesar dele nem desconfiar que tudo acontecia com o seu consentimento.
— O que o faz ter tanta certeza de que perderemos a colheita? E por que está se mostrando tão preocupado somente agora?
— Já lhe disse. Acabei de chegar de Nova York e tudo o que temos também me pertence. Nada mais justo que me preocupe e não queira perder dinheiro.
— Tem algo mais, Ângelo. Sei que tem. Diga agora ou não te ouvirei mais.
— Está bem. Investi em ações na América e, por causa da crise que estão vivendo, perdi tudo da noite para o dia.
— Quanto?
—
De repente, a fazenda nunca fora tão interessante quanto naquele momento. Ângelo saiu por detrás do grande tronco e se pôs a caminhar mansamente. Ainda não era o momento de se denunciar. Espera ansiosamente a reação da galega ao vê-lo surgir com seus imensos olhos azuis e depois atacá-la com seu sorriso mortal.— Ora, ora. Não pensei que nesse riacho houvessem sereias. — Disse, assustando a pobre menina, que se mantem paralisada por um instante, antes de se virar para o dono da voz.Foi um giro lento e assustado. Não estava acostumada a ter seu ritual interrompido naquelas horas da manhã. Todos os homens estavam nos campos de café. Então quem seria aquele que lhe atormentava, roubando-lhe a paz?— Quem é o senhor e o que faz aqui? — Perguntou desconfiada.— Ninguém que vá lhe fazer mal.— P
Aldora sente-se nervosa diante do semblante divertido do homem a sua frente, enquanto o irmão se aproxima ferozmente.— O que pensa que está fazendo? — Perguntou o rapaz, soltando fogo pelas ventas, ao vê-la conversando com o estranho engomadinho.— O que pensa que estou fazendo? — Olhou para o irmão, visivelmente enfurecido, deixando-o desconcertado e fazendo Ângelo erguer a sobrancelha, admirado.— Por que tá conversando com esse estranho?— Porque, diferente de você, sou uma pessoa educada.— Deixa o pai saber dessa sua educação toda. Anda, pega as roupas e vamos embora daqui.— Se você não percebeu, ainda não terminei. E o cavalheiro já está de saída.— Não quero ser o motivo de discórdia entre irmãos. Peço que me perdoem...— An
E como imaginei, a explosão veio por parte de Marina:— Mas esse cara é um cretino, mesmo! — disse, ruborizando — Sabe, eu até que estava quase me simpatizando com ele. Parecia ser divertido, mas... Acho que era mesmo um cafajeste. É exatamente como eu pensava. Esse tipo acha que pode tudo só por ser belo. Idiota.— Acho que ele apenas estava tentando despertar um ciúme em Augusto. Parece que Glória estava apaixonada por seu patrão e não era correspondida.— Mas isso não é maneira de se tratar uma mulher!— Ele a beijou Marina. Não vá me dizer que uma mulher não gosta de ter um beijo roubado?— É claro que não! Quer dizer... Só se ela estiver afim do cara. Mas não foi o caso de Glória.— Como você pode saber? De repente ela até que gostou de despertar
Gloria apertava a mão em punho, segurando-se.— Ora, cala a boca Ângelo. — reagiu, sentindo-se enfurecida com ele. Se ele não a deixasse em paz, seria capaz de agredi-lo ali mesmo.— Vejo que não. Sinto muito, querida. Eu estava enganado.— Não se meta mais comigo, Ângelo.— Só queria ajudá-la. — disse, sentindo-se incomodado pela primeira vez. Talvez tivesse ido longe demais.— Você acabou de chegar aqui e não faz ideia de que como nos tratamos. Não pode simplesmente mudar algo da noite para o dia. Não pode brincar com as pessoas como se elas não fossem nada. Talvez seja melhor aceitar o conselho de seu irmão e nos deixar em paz.— Acontece que tudo isso aqui também é meu, Glorinha — respondeu, voltando ao sarcasmo — Meu pai me queria aqui e não vou decepcioná-
Ângelo encarava Aldora com um misto de diversão e contemplação.— Está me dizendo que sabe quando estou chegando? Talvez acelere a motocicleta, como um canto, para chamá-la.— Normalmente ainda estou dormindo. Não o ouço.— Isso parte meu coração.— Como se fosse possível! Pelo que comentam é o senhor o autor de corações partidos na cidade.— Sinto-me lisonjeado pelo seu interesse, mas posso lhe dizer que não é bem assim. As mulheres não me levam a sério, senhorita.— Na verdade não tenho interesse algum em saber sobre seus passos mas, aparentemente, todos os homens da fazenda sim. Estão escondendo suas mulheres e filhas do senhor.— Santo Deus! Minha fama me precede. Sou um homem incompreendido, pequena Aldora. E por que ainda não fugi
Encarei Marina, flertando com seus olhos tristes, antes de continuar:— Entendo! Você o via dentro de si, mas ele não. Ele tinha necessidades que você não entendia.— Por que isso acontece, Alberto? Por que um homem não pode se contentar apenas com uma mulher? Por que dessa necessidade de pular de cama em cama quando se tem alguém que o ama esperando em casa, abdicando de coisas importantes por ele?— Não tenho resposta para isso, Marina. O que posso te assegurar é que nem todos são assim. Há aqueles que simplesmente amam uma mulher com toda sua alma. Que sentem orgulho, que querem estar com ela em todos os momentos do dia, que espera a noite chegar apenas para vê-la entrar pela porta e sorrir rasgado, perguntando como foi seu dia. Fazendo pequenas coisinhas sem importância pelo simples prazer de estarem juntos.Ela me encarou e pude ver a dúvida em se
Augusto acordou pela manhã com um ligeiro tremor. Sentiu um breve mal estar, talvez associado à noite agitada por sonhos confusos. Resolveu ficar na casa da mãe. Fazia alguns dias que não a visitava. Uma decisão acertada, já que ela não se encontrava bem. A recente morte do pai havia deixado a velha exaurida. — Como se sente, mamãe? Está um pouco pálida.— Um pouco cansada, filho.— Acho que é mais que isso, mamãe — Disse ele, enfrentado seu olhar.— Ando um pouco preocupada. Seu irmão andou trazendo notícias da América.— Não precisa se preocupar, mamãe. Ângelo não entende nada de negócios. Deveria se dedicar àquilo que aprendeu e deixar tudo em minhas mãos. Estou pensando em utilizar algum imóvel e montar um escritório para ele fazer seus p
Glória entra no escritório assim que Augusto retorna da conversa com dona Helena e o encara pensativa.— Marquei a consulta para sua mãe com o Dr. Inácio Duarte dos Reis, para segunda feira às quinze horas.— Obrigado, Glória.— O que ela tem?— Não sei exatamente. A morte de papai a abalou muito. Talvez seja só tristeza.— Espero que sim.— Augusto! – chamou Ângelo porta adentro — Trago uma surpresa para você. Veja quem encontrei perdida por essas bandas.— Como vai, Augusto?Mercedes adentra altiva no escritório, sorrindo, enquanto retira as luvas de renda das mãos delgadas. Encara Glória com um olhar petulante, deixando-a corada.— Que grande surpresa! — disse Augusto, encarando-a estupefato — Não imaginava que a veria tão cedo.— Pa